Para a Psicologia Analítica, o arquétipo da Anima (termo em
latim para alma), constitui o lado feminino no homem, e o arquétipo do Animus
(termo em latim para mente ou espírito), constitui o lado masculino na psique
da mulher. Ambos os sexos possuem aspectos do sexo oposto, não só
biologicamente, através dos hormônios e genes, como também, psicologicamente
através de sentimentos e atitudes. Sendo a persona a face externa da psique, a
face interna, a formar o equilíbrio são os arquétipos da anima e animus. O
homem traz consigo, como herança, a imagem de mulher. Não a imagem de uma ou de
outra mulher especificamente, mas sim uma imagem arquetípica, ou seja, formada
ao longo da existência humana e sedimentada através das experiências masculinas
com o sexo oposto. Cada mulher, por sua vez, desenvolveu seu arquétipo de
animus através das experiências com o homem durante toda a evolução da
humanidade. Embora, anima e animus desempenhem função semelhante no homem e na
mulher, não são, entretanto, o oposto exato. Segundo Humbert, “Anima e animus
não são simétricos, têm seus efeitos próprios: possessão pelos humores para a
anima inconsciente, pelas opiniões para o animus inconsciente.” A anima, quando
em estado inconsciente pode fazer com que o homem, numa possessão extrema,
tenha comportamento tipicamente feminino, como alterações repentinas de humor,
falta de controle emocional. Em seu aspecto positivo a anima, quando
reconhecida e integrada à consciência, servirá como guia e despertará, no homem
o desejo de união e de vínculo com o feminino e com a vida. A anima será a
“mensageira do inconsciente” tal como o deus Hermes da mitologia Grega. A
valorização social do comportamento viril no homem, desde criança, e o
desencorajamento do comportamento mais agressivo nas mulheres, poderá provocar
uma anima ou animus subdesenvolvidos e potencialmente carregados de energia,
atuando no inconsciente. Um animus atuando totalmente inconsciente poderá se
manifestar de maneira também negativa, provocando alterações no comportamento e
sentimentos da mulher. Segundo Jung: “em sua primeira forma inconsciente o
animus é uma instância que engendra opiniões espontâneas, não premeditadas;
exerce influência dominante sobre a vida emocional da mulher.” O animus e a
anima devidamente reconhecidos e integrados ao ego, contribuirão para a
maturidade do psiquismo. Jung salienta que o trabalho de integração da anima é
tarefa difícil. Diz ele: “Se o confronto com a sombra é obra do aprendiz, o
confronto com a anima é obra-prima. A relação com a anima é outro teste de
coragem, uma prova de fogo para as forças espirituais e morais do homem. Jamais
devemos esquecer que, em se tratando da anima, estamos lidando com realidades
psíquicas, as quais até então nunca foram apropriadas pelo homem, uma vez que
se mantinham foram de seu âmbito psíquico, sob a forma de projeções.” Anima e
animus são responsáveis pelas qualidades das relações com pessoas do sexo
oposto. Enquanto inconscientes, o contato com estes arquétipos são feitos em
forma de projeções. O homem, quando se apaixona por uma mulher, está projetando
a imagem da mulher que ele tem internalizada. É fato que a pessoa que recebe a
projeção é portadora, como dizia Jung, de um “gancho” que a aceita
perfeitamente. O ato de apaixonar-se e decepcionar-se, nada mais é do que
projeção e retirada da projeção do objeto externo. Geralmente o que se ouve é
que a pessoa amada deixou de ser aquela por quem ele se apaixonou, quando na
verdade ela nunca foi, só serviu como suporte da projeção de seus próprios
conteúdos internos. Para o homem a mãe é o primeiro “gancho” a receber a
projeção da anima, ainda quando menino, o que se dá inconscientemente. Depois,
com o crescimento e sua saída do ninho, o filho vai, aos poucos, retirando esta
projeção e lançando-a a outras mulheres que continua sendo um processo
inconsciente. A qualidade, do relacionamento mãe-filho, será essencial e
determinará a qualidade dos próximos relacionamentos, com outras mulheres.
Salienta Jung: “Para o filho, a anima oculta-se no poder dominador da mãe e a
ligação sentimental com ela dura às vezes a vida inteira, prejudicando
gravemente o destino do homem ou, inversamente, animando a sua coragem para os
atos mais arrojados.” Jung define projeção da seguinte forma: “um processo
inconsciente automático, através do qual um conteúdo inconsciente para o
sujeito é transferido para um objeto, fazendo com que este conteúdo pareça
pertencer ao objeto. A projeção cessa no momento em que se torna consciente,
isto é, ao ser constatado que o conteúdo pertence ao sujeito.”
Vanilde Gerolim Portillo
Psicóloga Clínica – Pós-Graduada e Especialista Junguiana
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