terça-feira, 12 de junho de 2012

Árvores Sagradas...


Olavo Solera
Em busca  de imagens que simbolizasse os aspectos relativos e absolutos, monistas e panteístas, pessoais e impessoais, lineares e cíclicos, deparei-me com a imagem da "Arvore da Vida",e em especial aqui, neste trabalho, nas religiões afro brasileiras e na religião judaica. A simbologia das mesmas, atendiam ao estudos pretendidos e mais ainda, constatei que esta simbologia da Arvore existe na maioria das religiões dos livros e nas religiões de tradição oral.
Vários estudiosos do homem como um  todo, seja ele espiritual, social, político  e cultural, notaram que existia uma ponte entre o imaterial (céu) e o material (terra),e que agia como eixo do homem, ora separando, ora juntando estes seus aspectos. Mircea Eliade vai chamá-la de "Árvore do Mundo", "Axis Mundi", "Árvore Cósmica", cuja função é a de elidir as diversas regiões do cosmo.
Para boa parte das tradições místicas e religiosas, os "mundos" dividem-se nos espaços inferiores ou infernais, intermediários ou terrestres e superiores ou celestes.
Em todas elas,  o aspecto Absoluto e dividido e manifesta-se, ora como um atributo, ora como um arquétipo, sempre demonstrando aspectos Cósmicos, do Homem e da Divindade.
Existe simbolicamente relações entre raiz, tronco,frutos e folhas, e em todas as situações existe dualidade, no gênero (feminino e masculino), no Caos e Ordem e no som; tensão e relaxamento.

A Árvore da Vida Judaica
Árvore da Vida judaica é um diagrama extremamente conhecido no estudo da Cabala. A Árvore da Vida é uma entre muitas ferramentas utilizadas pela Cabala para a correta compreensão das forças que regem o universo. 
É um mapa para entendermos a manifestação de Deus. O Deus que saiu de si, se desdobrou para criar o universo onde a realidade se apresenta em 10 dimensões - representada pelas 10 esferas (sefiras). Elas funcionam como canais através dos quais a Luz do Mundo Infinito chega ao Mundo Físico, alimentando tudo o que existe, incluindo as nossas almas. 
No esquema da árvore da vida também existe a representação de uma 11° esfera chamada DAAT, porém pouco se fala dela e em muitos relatos literários é ignorada. 
Cada sefira, tal qual um filtro, reduz sucessivamente a emanação da Luz, diminuindo gradativamente o seu brilho para um nível quase imperceptível no mundo físico. 
Cada sefira por onde passa a Luz se manifesta de forma diferente, sem perder em momento algum a sua essência. No estudo das sefiras, encontraremos diferentes associações, como atributos divinos e partes do corpo, entre tantas outras referências, de modo a estabelecer uma relação de interdependência entre todos estes elementos. 
Cada sefira é um aspecto da natureza de Deus. Elas nos ajudam a entender o mapa de como Deus atua no universo e no homem. O micro imita o macro. Através da compreensão das sefirot, podemos entender as características humanas nos relacionamentos inter pessoais e como esses aspectos influenciam nossas interações com o outro.  

A Árvore da Vida em Detalhes
 A fonte motriz de toda criação vem do mundo das infinidades que, em conjunto a criação, representa a totalidade de DEUS. Porém pouco se sabe sobre esta força motriz, para a cabala este mundo se divide em três partes AIN (DEUS), AIN SOPH (infinidade) e AIN SOPH AUR (luz sem limite).
Portanto DEUS (AIN SOPH) em sua infinidade cria, alimenta e se transforma sucessivamente como um relâmpago de Kether (primeira esfera) até chegar à última esfera chamada Malkut (Reino).  
Conforme a energia desce como um raio, 4 mundos ou planos hierárquicos  são formados e considerado pela Cabala como “universos particulares”.
Portando percebemos que cada mundo é formado pelo relacionamento das emanações das esferas que as compõem e que por sua vez os mundos se relacionam entre si considerando as hierarquias. Desta forma chegamos ao modelo clássico da Árvore da Vida que é composta por 10 ou 11 sefiras (manifestações) e 22 caminhos (palavras).
 É importante frisar que este esquema representa o entendimento de como DEUS atua no universo, mas principalmente de como DEUS atua no homem, seu principio imanifesto, manifesta-se através de seus frutos...



A Arvore da Vida das religiões afro brasileiras
A árvore é um dos símbolos fundamentais das culturas africanas tradicionais. Os velhos baobás africanos de troncos enormes suscitam a impressão de serem testemunhas dos tempos imemoriais. Os mitos e o pensamento mágico-religioso yoruba têm na simbologia da árvore um de seus temas recorrentes. Na sua cosmogonia, a árvore surge como o princípio da conexão entre o mundo sobrenatural e o mundo material. As árvores "(...) estão associadas a ìgbá ì wà ñû – o tempo quando a existência sobreveio – e numerosos mitos começam pela fórmula 'numa época em que o homem adorava árvores'...".

Uma das versões do mito cosmogônico relata que foi através do Òpó-orun-oún-àiyé – o pilar que une o mundo transcendente ao imanente – que os deuses primordiais chegaram ao local aonde deveriam proceder o início do processo de criação do espaço material. Este pilar  muitas vezes simbolizado pela árvore ou por seu tronco é uma figura de origem, é um signo do fundamento, do princípio de todas as coisas, elemento de conexão entre a multiplicidade dos "mundos".
A tradição yorubá fala na existência de nove espaços – orun mýsûûsán -, estando quatro deles localizados sob a superfície da Terra – îrun isalû mýrûûrin. Uma das divindades de origem yorubá de culto amplamente disseminado no Brasil – Oya Ìgbàlû, mais conhecida como Yánsan, cujo nome deriva da contração da expressão ì yá-mesan-orun, a mãe dos nove orun – possui forte relação com a origem do orun e com a árvore que liga os "mundos". Esta deusa num de seus epítetos é chamada de Alákòko, a senhora do òpákòko, demonstrando a sua relação com a árvore-mundo yorubá.

Um dos mitos da criação conta que para cada ser humano modelado (a matéria primordial era o barro) por Orisala criava-se simultaneamente uma árvore. Òrì ñàlá é o grande pai da criação yorubá. Como divindade primordial, está ligada a cor branca, e por isso é conhecido como um òrì ñà-funfun (literalmente òrì ñà do branco).
Um outro mito relata a origem das árvores sagradas, especialmente o Iròkò. O Iròkò é uma das espécies vegetais mais imponentes da terra yorubá. O ì tan coloca uma interessante questão ontológica, propondo igualmente a possibilidade de se pensar numa ontologia do sagrado na perspectiva das expressões religiosas arcaicas. O mito, ao afirmar que "na mais velha das árvores de Iroco, morava seu espírito", coloca uma nítida distinção entre ser e ente.
Finalizando...
Entre uma essência transcendente do sagrado e a sua presença material no mundo, na mesma medida em que na mais antigas das árvores moram o espírito da Divindade, em toda a descendência destas velhas árvores habitam o princípio dela mesma: não só geneticamente, mas principalmente a sua sacralidade.
Seu simbolismo de ancestralidade, de permanência, de troca com o meio, nos leva contemplativamente a rever conceitos, a exercer a reflexão, sobre nós e o outro, sobre nós e o meio que vivemos e desejar melhorias internas e externas para todos.