sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Trabalho desenvolvido para atender ao meu mestrado...



Resenha
Postura corporal, estética emocional e
memória na religiosidade cristã
por OSVALDO OLAVO ORTIZ SOLERA
Introdução
Nesta resenha será feito um recorte da dissertação de mestrado de Max Ruben Tavares de Pina Ramos -  Postura corporal, estética emocional e memória na religiosidade cristã de 2008, onde o autor introduz a abordagem da “antropologia do cristianismo” partindo das seguintes considerações:
“A produção antropológica tem correlação com o processo de conhecimento científico” ( p.4).
A pesquisa etnográfica pode “inventariar um conjunto de temáticas, que mostram ser pertinentes na compreensão da transmissão e aprendizagem religiosa” (p.6).
Temática
Para identificar as causas da expansão, no mundo, de um tipo de religiosidade, o autor passa a investigar as “posturas corporais” e uma específica “estética emocional”, na transmissão e aprendizado do cristianismo, no culto evangélico pentecostal. Além disso, ele pretende desvelar o efeito mnemônico, que penetra mais profundamente na “memória implícita”. Isso acontece especialmente, nas experiências ritualísticas, com maior intensidade emocional (p.18). E coloca a seguinte questão: É defensável falar em termos de uma epidemiologia das posturas corporais? Sem responder de imediato, o autor inicia a abordagem da emoção colocando-a no centro da religiosidade.
Recorte da dissertação
Para tanto, o autor baseia-se nos “modos de religiosidade” da teoria cognitiva do antropólogo Harvey Whitehouse (2004) que destaca dois aspectos da intensidade emocional:
O aspecto referente a uma forte intensidade emocional observável como predominante no “modo imagético”, no qual a prática religiosa pode suscitar estados alterados de consciência ou em certos casos propicia terríveis torturas. Neste “modo de religiosidade” os cultos e tradições são praticados regionalmente e por pequenos agrupamentos humanos.
A prática e a transmissão religiosa são feitas por meio de uma ação coletiva esporádica com certas coreografias, nas quais se destacam evocações de uma variedade de imagens, símbolos e sons, que provocam uma intensa estimulação das emoções e sensações. A participação desse intenso estado emocional pode despertar emoções, que produzem fortes laços de união entre os participantes atuantes desse pequeno grupo (p.11).

Outro aspecto de menor intensidade emocional é encontrado no “modo doutrinal” de transmissão nas “religiões oficiais” dispersas no mundo.  Nesse caso, Whitehouse considera que as emoções são afetadas por um modelo repetitivo, frequente, rotinizado de culto, acompanhado de complexa teologia. Esse modelo doutrinal atinge amplas comunidades. (p.12).

Nota-se a não separação entre a emoção e a razão na prática religiosa, afinal toda ritualização faz com que se atualize o mito ou o momento histórico/sagrado a ser relembrado. Todo este processo, que possui início, meio e fim, favorece a coletividade abrangida e suas crenças. Este vasto campo simbólico é desta forma mantido vivo pelos adeptos. No caso das religiões do livro, existe uma entrega, uma submissão ao Deus evocado.
Esta forma de louvação ou atos de contrição, vai desde o ajoelhar do crente, o levantar dos braços pedindo bênçãos, chegando até a auto flagelação.
Os leitores e leitoras interessadas em ampliar essa discussão transferindo-a para o Brasil poderão encontrar bons argumentos em duas obras:
DEL PRIORE, Mary. Religião e Religiosidade no Brasil Colonial. São Paulo: Ática, 1997.    Nesta obra a autora trata da fusão das normas oficiais ditadas pela igreja católica com as crenças e práticas populares, que resultou num movimento de recriação cultural com marcas permanentes na vida do povo brasileiro.

2-      GRUZINSKI, Serge. O Pensamento Mestiço. São Paulo: Companhia das Letras, 2001. Trata-se de uma obra de caráter multidisciplinar lançada na França em 2000. Há duas citações, entre outras, que podem despertar a curiosidade do leitor: “um homem distinto é um homem misturado” de Montaigne, e outra “sou um tupi tangendo um alaúde”, frase dita por Macunaíma, o herói de Mario de Andrade.

Na abordagem de seu assunto central, postura corporal e estética emocional, o autor  questiona conforme proposto por Whitehouse: “O que as religiões têm de fazer ou ser para sobreviverem ou se perpetuarem”? (p.13). E passa a abordar a oração no âmbito do culto evangélico, no qual, segundo ele, a oração, enquanto ritual, está além de ser um canal de acesso a Deus, é um desempenho, “que segundo os fieis, os conduz a uma via transformativa e redentora” (p.29).
O autor questiona: Será esta condição de elevar o fiel a uma via transformativa e redentora é o que está produzindo o encantamento religioso e o respectivo crescimento do cristianismo pentecostal no mundo?
Pode-se considerar que a proposta teórica do autor concebe que as emoções vivenciadas nos momentos de oração para conversão e “renovação espiritual”, tornam-se um impulso que leva à real vivencia espiritual cristã.
Na oração comunicacional, o deslocamento num mesmo e preciso momento para a postura corporal de genuflexão acompanhado da estética emocional com a expressão de contrição são imprescindíveis, pois sem este meio poderoso de humilhar-se o poder da oração não adquire a força suficiente para que Deus ouça o suplicante e o “salve” ou “cure”. Também o poder de “transformar o mundo” não consegue seu efeito.
O autor percebeu bem esta necessidade e foi além, abordou com clareza a “virtude cristã axial” – o espírito quebrantado, em prostração com o afastamento da consciência objetiva, totalmente submissa à vontade divina na oração comunicacional ou individual. Este espírito subjugado é antônimo de elevar ou exaltar com louvor, é assim que há um movimento que percorre o caminho da prostração extrema para a exaltação eufórica, criando nesses dois momentos um ambiente de alta intensidade emocional.  
Este movimento de reevangelização, que com discursos inflamados privilegia a transmissão dos ensinamentos baseada no poder da oração, tem introduzido um novo modelo explicativo, para os acontecimentos mundiais. E vem transformar a “visão do mundo” tornando-a mais emotiva, em substituição da “visão do mundo” mais racional.
O autor, com o intuito de construir um modelo coerente e operativo para o estudo da religiosidade, com foco na aquisição, transmissão e contexto do conteúdo religioso lança-se na “antropologia da aprendizagem” e questiona-se “por que é que certas posturas corporais e estéticas emocionais específicas tiveram mais sucesso e foram mais contagiosas, mais atrativas que outras, e consequentemente, tiveram uma maior transmissão?”         

Finalização
A ação transformadora nos ritos que o autor disserta, prende-se ao "quebranto" do ser perante a divindade, acreditam eles que se mostrando submissos, alcançam as benesses das mesmas. A forte carga emocional que existe nestes momentos com certeza alteram o estado de consciência dos praticantes levando-os a atingirem os objetivos por eles almejados, estas posturas fazem parte de um conjunto de aspectos emocionais e cognitivos que levam o "fiel"  a um estado de euforia perante sua fé.
Partindo da premissa que o signo/símbolo fixa a ideia, a palavra determina e o gestual atrai, as formas utilizadas em conjunto ou não, com certeza atingem os objetivos de transmissão dos dirigentes e seus seguidores.
A palavra diálogo deriva de duas palavras gregas: dia, que significa por meio de, e logos que significa palavra. Portanto, diálogo quer dizer comunicação/transmissão por meio de palavras, posturas, expressões, atitudes. A comunicação/transmissão entre seres humanos é reconhecidamente difícil, quem dirá então com a Divindade[...].
Comunicar-se ou transmitir não é apenas dizer coisas, mas dizer-se. Ao comunicar partilha-se alguma coisa. Para realizar a comunicação é preciso entregar-se. É preciso dizer ao outro quem se é, para que realmente se possa saber quem se está sendo. A comunicação é o único caminho para a comunhão. Esta entrega testemunhada é o ápice da submissão ao Deus evocado.

terça-feira, 16 de outubro de 2012

Quem tem pai, tem avô...Tem raiz!


W. W. da Mata e Silva
Nascido em Garanhuns, Pernambuco, em 28.06.1917, talvez tenha sido o médium que maiores serviços prestou ao Movimento Umbandista, durante seus 50 anos de mediunismo. Não há dúvidas hoje, após 7 anos de sua passagem para outras dimensões da vida, que suas 9 obras escritas constituem as bases e os fundamentos mais avançados do puro e real Umbandismo.
Sua tarefa na literatura Umbandista, que fez milhares de simpatizantes e seguidores, iniciou-se no ano de 1956. Sua primeira obra foi Umbanda de Todos Nós – considerada por todos a Bíblia da Umbanda, pois transcendentais e avançados eram e são seus ensinamentos.

A 1ª Edição veio à luz através da Gráfica e Editora Esperanto, a qual situava-se, na época, à rua General Argôlo 230, Rio de Janeiro. O volume nº 1 dessa fabulosa e portentosa obra encontra-se em nosso poder, presenteados que fomos pelo insigne Mestre. Em sua dedicatória consta:
Rivas, esse exemplar é o nº 1. Te dou como prova do grande apreço que tenho por você, Verdadeiro Filho de Fé do meu Santuário – do Pai Matta – Itacurussá, 30.07.86
Dessa mesma obra temos em mãos as promissórias que foram pagas, por Ele, à Gráfica Esperanto, que facilitou o pagamento dos 3.500 exemplares em 180 dias ou 6 parcelas.
Vimos, pois, que a 1ª edição de Umbanda de Todos Nós, para ser editada, teve seu autor de pagá-la. A partir da 2ª edição a obra foi lançada pela Livraria Freitas Bastos. Atualmente a Editora Ícone é quem vem editando as obras de Matta e Silva.
Como não poderia deixar de ser, a Livraria Freitas Bastos teve a sensibilidade de perceber que estava de posse de um valioso tesouro e, como tal, valorizou-o e deu ao seu autor o respaldo necessário.
Umbanda de Todos nós agradou a milhares de Umbandistas, que encontraram nela os reais fundamentos em que poderiam se escudar, mormente nos aspectos mais puros e límpidos da Doutrina Umbandista. Mas, se para muitos foi um impulso renovador de fé e convicção, para outros, os interessados em iludir, em fantasiar e vender ilusões, foi um verdadeiro obstáculo às suas funestas pretensões, tanto que começaram a combatê-la por todos os meios possíveis e até à socapa. Quando perceberam que, ao combatê-la, estavam fazendo sua apologia e a maior das propagandas, enfureceram-se… Iniciaram o ataque contundente, através da baixa-magia… e, mais uma vez, sem sucesso!
Soubemos por ele que, realmente, foi uma briga astral, feroz… Além de ter contrariado interesses mesquinhos de determinados pseudos líderes umbandistas da época, também desagradou a um Astral inferior e todo um séquito de entidades atrasadas, as quais perceberam que com o lançamento e a aceitação da obra, seu império de ações negras e nefastas ficou seriamente ameaçado. Perceberam que, com a Luz do esclarecimento se manifestando, não haveria mais lugar para a ignorância, faltando, pois, substrato às Sombras, fonte primária e primeira de suas ações funestas.
Realmente, foi uma luta Astral, uma demanda, em que as Sombras e as Trevas utilizaram-se de todos os meios agressivos e contundentes que possuíam, arrebanhando para as suas fileiras do ódio e da discórdia tudo o que de mais nefando e trevoso encontrassem, quer fosse encarnado ou desencarnado.
Momentos difíceis assoberbaram a rígida postura do Mestre, que muitas vezes, segundo ele, sentiu-se balançar. Mas não caiu!… E os outros? Ah! os outros…
Na época, alguns arrivistas incapazes e despeitados, aproveitando-se de uma palestra pública, preferida austeramente pelo Mestre Matta, fotografaram-no centenas de vezes, com a vil, baixa e torpe intenção de poder atingi-lo através de rituais inferiores que, é claro, só têm aceite para os Magos Negros e seus Planos e Sub-Planos afins. Não tiveram os mínimos escrúpulos, atacaram-no de todas as formas, queriam matá-lo, eliminá-lo, somente por ele ter alertado a grande massa popular que campeava por esses ditos terreiros. Tais indivíduos queriam se beneficiar de todas as formas, para conseguir isto ou aquilo, precisando usar o povo como massa de manobra, a fim de levá-los a cargos, a situações para as quais não detinham merecimento ou capacidade.
Decepcionado com a recepção desses verdadeiros opositores, renhidos e fanáticos, à sua obra, Matta e Silva resolveu cruzar suas armas, que eram sua intuição, sua visão astral, calcada na lógica e na razão, e sua máquina de escrever… Embora confiasse no Astral, que o escolhera para a árdua e penosa tarefa, por intermédio desse mesmo Astral obteve Agô para um pequeno recesso, onde encontraria mais forças e alguns raros e fiéis aliados que o seguiriam no desempenho da missão que ainda o aguardava.
Na época, não fosse por seu Astral, Matta e Silva teria desencarnado…Várias vezes, disse-nos, só não tombou porque Oxalá não quis… Muitas vezes precisou dormir com sua gira firmada, pois ameaçavam-no de levá-lo durante o sono… Imaginem os leitores amigos os assaltos que devem ter assoberbado o nobre Mestre Matta e Silva…
Seus 2 filhos, Ubiratan e Eluá, também sofreram, embora de forma leve, as rebarbas dos entrechoques de ordem astral que, em avalanche, desceram e atingiram a família do ilustre Mestre. A demanda foi feroz, sendo que, de seus perseguidores, a maioria recebeu segundo a Lei…
Pai Cândido, que logo a seguir denominou-se como Pai Guiné, assumiu toda a responsabilidade pela manutenção e reequilibro astrofísico de seu Filho, para em seguida orientá-lo na escrita de mais um livro. Sim, aí lançou-se, através da Editora Esperanto, Umbanda – Sua Eterna Doutrina, obra de profunda filosofia transcendental. Até então, jamais haviam sido escritos os conceitos esotéricos e metafísicos expostos. Brilhavam, como ponto alto em sua doutrina, os conceitos sobre o Cosmo Espiritual ou Reino Virginal, as origens dos Seres Espirituais, etc… Os Seres Espirituais foram ditos como sendo incriados e, como tal, eternos.
Devido a ser muito técnica, Umbanda – Sua Eterna Doutrina agradou aos estudiosos de todas as Correntes. Os intelectuais sentiram peso em seus conceitos, sendo que, para dizer a verdade, passou até certo ponto desapercebida pela grande massa de crentes e mesmo pelos ditos dirigentes umbandistas da época.
Ainda não se esgotara a primeira edição de Sua Eterna Doutrina e Pai Matta já lançava outra obra clássica, que viria a enriquecer ainda mais a Doutrina do Movimento Umbandista. Complemento e ampliação dos conceitos herméticos esposados por Sua Eterna Doutrina, o novo livro, Doutrina Secreta de Umbanda, agradou mais uma vez a milhares de pessoas.
Não obstante suas obras serem lidas não só por adeptos umbandistas, mas também por simpatizantes e mesmo estudiosos das ditas Ciências Ocultas, seu Santuário, em Itacurussá, era freqüentado pelos simples, pelos humildes, que sequer desconfiavam ser o velho Matta um escritor conceituado no meio umbandista. Em seu Santuário, Pai Matta guardou o anonimato, vários e vários anos, em contato com a natureza e com a pureza de sentimentos dos simples e humildes. Ele merecera essa dádiva, e nessa doce Paz de seu terreirinho escreveria mais outra obra, também possante em conceitos.
Assim nasceu Lições de Umbanda e Quimbanda na Palavra de um Preto-Velho, obra mediúnica que apresenta um diálogo edificante entre um Filho-de-Fé (Zi-Cerô) e a Entidade Espiritual que se diz Preto-Velho. Obra de nível, mas de fácil entendimento, sem dúvida foi um marco para a Doutrina do Movimento Umbandista.
Após 4 obras, Matta e Silva tornou-se por demais conhecido, sendo procurado por simpatizantes de todo o Brasil. Embora atendesse a milhares de casos, como em geral são atendidos em tantos e tantos terreiros por este Brasil afora, havia em seu atendimento uma diferença fundamental: as dores e mazelas que as humanas criaturas carregam eram retiradas, seus dramas equacionados à luz da Razão e da Caridade, fazendo com que a Choupana do Velho Guiné quase todos os dias estivesse lotada.
Atendia também aos oriundos de Itacurussá – na ocasião uma cidade sem recursos – que, ao necessitarem de médico, e não havendo nenhum na cidade, recorriam ao Velho Matta.
Este, com sua bondade e caridade, a todos ministrava medicamentos da flora local, e mesmo alopatias simples, que ele mesmo comprava quando ia à cidade do Rio de Janeiro. Ficou conhecido como curandeiro, e sua fama ultrapassou os limites citadinos, chegando às ilhas próximas, de onde acorriam centenas de sofredores de vários matizes. Durante exatos 10 anos Matta e Silva cumpriu essa tarefa, que transcendia a suas funções sacerdotais…
Como se vê, é total iniquidade e falta de conhecimento atribuir a Matta e Silva e pecha de elitista. Suas obras são honestas, sinceras, reais, e revelam em suas causas o hermetismo desta Umbanda de Todos Nós. Segundo sapientíssimos mentores de nossa corrente, seus livros levarão mais de 50 anos para serem completamente assimilados e colocados em prática. É necessário que nos preparemos para esse Evento de Luz Redentora da Nova Era do 3º milênio. As obras de W.W. da Matta e Silva preparam, ajustam e apontam para a Umbanda do 3º milênio. Preparemo-nos, caso contrário…
Continuando a seguir a jornada missionária de Pai Matta, vamos encontrá-lo escrevendo mais uma obra: Mistérios e Práticas da Lei de Umbanda. Logo a seguir, viria Segredos da Magia de Umbanda e Quimbanda. A primeira ressalta de forma bem simples e objetiva as raízes míticas e místicas da Umbanda. Aprofunda-se no sincretismo dos Cultos Afro-Brasileiros, descortinando o panorama do atual Movimento Umbandista. A segunda aborda a Magia Etéreo-Física, revela e ensina de maneira simples e prática certos rituais seletos da Magia de Umbanda. Constitui obra de cunho essencialmente prático e muito eficiente.
Nesse instante de nossa descrição, pedimos tolerância e paciência ao prezado leitor, pois queremos dar ao mesmo uma real noção da cronologia das obras do grande Mestre. Acreditamos que, assim fazendo, estaremos sintonizando-nos ainda mais, permitindo ao caro leitor penetrar no âmago de nossa mensagem.
Prosseguindo, chegamos a Umbanda e o Poder da Mediunidade. Nessa obra entenderemos como e porque ressurgiu a Umbanda no Brasil. Ela aponta as verdadeiras origens da Umbanda. Fala-nos da magia e do médium-magista. Conta-nos, em detalhes, ângulos importantíssimos da magia sexual. Há nesse livro uma descrição dantesca sobre as zonas cavernosas do baixo astral, revelando covas com seus magos negros que, insistentemente, são alimentados em suas forças por pensamentos, atos e até por oferendas grosseiras das humanas criaturas.
Após 7 obras, atendendo a numerosos pedidos de simpatizantes, resolveu o Mestre, em conjunto com a Editora Freitas Bastos, lançar um trabalho que sintetizasse e simplificasse todas as outras já escritas. Assim surgiu Umbanda do Brasil, seu oitavo livro. Agradou a todos e, em 6 meses, esgotou-se. Em 1975 lançaria o Mestre sua última obra: Macumbas e Candomblés na Umbanda. Esse livro é um registro fidedigno de vivências místicas e religiosas dos chamados Cultos Afro-Brasileiros. Constitui um apanhado geral das várias unidades-terreiros, as quais refletem os graus consciencionais de seus adeptos e praticantes. Ilustrado com dezenas de fotografias explicativas, define de maneira clara e insofismável a Umbanda popular, as Macumbas, os Candomblés de Caboclo e dá noções sobre Culto de Nação Africana, etc.
O leitor atento deve ter percebido que, durante nossos dezoito anos de convivência iniciática, e mesmo de relacionamento Pai-Filho com o Pai Matta, algumas das fases que citamos nós a presenciamos in loco…
Conhecemo-lo em 1971 quando, após ler Umbanda de Todos Nós, tivemos forte impulso de procurá-lo. Na ocasião morávamos em São Paulo. Fomos procurá-lo em virtude de nosso Astral casar-se profundamente com o que estava escrito naquele livro, principalmente sobre os conceitos relativos às 7 linhas, modelo de ritual e a tão famosa Lei de Pemba. Assim é que nos dirigimos ao Rio de Janeiro, sem saber se o encontraríamos. Para nosso regozijo, encontramo-lo na Livraria Freitas Bastos da rua 7 de Setembro.
Quando nos viu, disse que já nos aguardava, e porque tínhamos demorado tanto?!
Realmente ficamos perplexo, deslumbrado… parecia que já o conhecíamos há milênios… e, segundo Ele, conhecíamo-nos mesmo, há várias reencarnações…
A partir dessa data, mantivemos um contato estreito, freqüentando, uma vez por mês, a famosíssima Gira de Pai Guiné em Itacurussá – verdadeira Terra da Cruz Sagrada, onde Pai Guiné firmou suas Raízes, que iriam espalhar-se, difundindo-se por todo o Brasil. Mas, voltando, falemos de nosso convívio com o insigne Mestre.
Conhecer Matta e Silva foi realmente um privilégio, uma dádiva dos Orixás, que guardo como sagrado no âmago de meu Ser. Nesta hora, muitos podem estar perguntando:
- Mas, como era esse tal de Matta e Silva?
Primeiramente, muito humano, fazendo questão de ressaltar esse fato. Aliás, era avesso ao endeusamento, mais ainda à mitificação de sua pessoa. Como humano, era muito sensível e de personalidade firme, acostumado que estava a enfrentar os embates da própria vida… Era inteligentíssimo!
Tinha os sentidos aguçadíssimos… Mas era um profundo solitário, apesar de cercarem-no centenas de pessoas. Seu Espírito voava, interpenetrando e interpretando em causas o motivo das dores, sofrimentos e mazelas várias…
A todos tinha uma palavra amiga e individualizada. Pai Matta não tratava casos, tratava Almas… e, como tal, tinha para cada pessoa uma forma de agir, segundo o seu grau consciencional próprio!
Sua cultura era exuberante, mas sem perder a simplicidade e originalidade. De tudo falava, era atualizadíssimo nos mínimos detalhe.  Discutia ciência, política, filosofia, arte, ciências sociais, com tal naturalidade que parecia ser Mestre em cada disciplina. E era!…
Quantas e quantas vezes discutíamos medicina e eu, como médico, confesso, tinha de me curvar aos seus conceitos, simples mas avançados…
No mediunismo era portentoso. Seu pequeno copo da vidência parecia uma televisão tridimensional!  Sua percepção transcendia! Na mecânica da incorporação, era singular seu desempenho! Em conjunto simbiótico com Pai Guiné ou Caboclo Juremá, trazia-nos mensagens relevantes, edificantes e reveladoras, além de certos fenômenos magistícos, que não devemos citar.
Assim, caro leitor, centenas de vezes participamos como médium atuante da Tenda de Umbanda Oriental, verdadeira Escola de Iniciação à Umbanda Esotérica de Itacurussá, na Rua Boa Vista, 157, no bairro de Brasilinha.
A Tenda de Umbanda Oriental (T.U.O.) era um humilde prédio de 50 m . Sua construção, simples e pobre, era limpa – e rica em Assistência Astral. Era a verdadeira Tenda dos Orixás… Foi aí, nesse recinto sagrado, onde se respirava a doce Paz da Umbanda, que, em 1978, fomos coroado como Mestre de Iniciação de 7º grau e considerado representante direto da Raiz de Pai Guiné, em São Paulo. Antes de sermos coroado é claro que já havíamos passado por rituais que antecedem a “Coroação Iniciática”.
É necessário frisar que, desde 1969, tínhamos nossa humilde choupana de trabalhos umbandísticos, em São Paulo, onde atendíamos centenas de pessoas, muitas das quais enviadas por Pai Matta. Muitos deles, os que vieram, tornaram-se médiuns de nossa choupana, a Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino.
Muitas e muitas vezes tivemos a felicidade e a oportunidade ímpares de contarmos com a presença de Pai Matta em nossa choupana, seja em rituais seletos ou públicos e mesmo em memoráveis e inesquecíveis palestras e cursos. Uma delas, aliás, constitui acervo do arquivo da Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino: uma fita de videocassete em que seus “netos de Santé” fazem-lhe perguntas sobre sua vida, doutrina e mediunismo… Constam ainda de nossos arquivos centenas e centenas de fotos, tiradas em São Paulo, Rio de Janeiro e em outros e vários locais…
Para encerrar esta longa conversa com o prezado leitor, pois se continuarmos um livro de mil páginas não seria suficiente, relatemos a última vez que Pai Matta esteve em São Paulo, isto em dezembro de 1987.
Em novembro de 1987 estivemos em Itacurussá, pois nosso Astral já vinha nos alertando que a pesada e nobre tarefa do Velho Mestre estava chegando ao fim… Surpreendeu-nos, quando lá chegamos, que ele nos chamou e, a sós e em tom grave, disse-nos:
- Rivas, minha tarefa está chegando ao fim, o Pai Guiné já me avisou… Pediu-me que eu vá a São Paulo e lá, no seu terreiro, ele baixará para promover, em singelo ritual, a passagem, a transmissão do Comando Vibratório de nossa Raiz…
Bem, caro leitor, no dia 2 de Dezembro, um domingo, nosso querido Mestre chegava do Rio de Janeiro. Hospedando-se em nossa residência, assim como fazia sempre que vinha a São Paulo, pediu-nos que o levássemos a um oftalmologista de nossa confiança, já que havia se submetido sem sucesso a 3 cirurgias paliativas no controle do glaucoma (interessante é que desde muito cedo começou a ter esses problemas, devido a…).
Antes disso, submetemo-lo a rigoroso exame clínico cardiológico, onde diagnosticamos uma hipertensão arterial acompanhada de uma angina de peito, estável. Tratamo-lo e levamo-lo ao colega oftalmologista. Sentíamos que ele estava algo ansioso, e na ocasião disse-nos que Pai Guiné queria fazer o mais rápido possível o ritual. Disse-nos também que a responsabilidade da literatura ficaria ao nosso cargo, já que lera Umbanda – A Proto-Síntese Cósmica e Umbanda – Luz na Eternidade, vindo a prefaciar as duas obras. Pediu-nos que fizéssemos o que o Sr. 7 Espadas havia nos orientado, isto é, que lançássemos primeiro Umbanda – A Proto Síntese Cósmica. Segundo Pai Matta, esse livro viria a revolucionar o meio Umbandista e os que andavam em paralelo, mormente os ditos estudiosos das ciências esotéricas ou ocultas. Mas, para não divagarmos ainda mais, cheguemos já ao dia 7 de dezembro de 1987.
A Ordem Iniciática do Cruzeiro Divino, com todo seu corpo mediúnico presente, se engalanava, vibratoriamente falando, para receber nosso querido Mestre e, muito especialmente, Pai Guiné
Às 20 horas em ponto adentramos o recinto sagrado de nosso Santuário Esotérico. Pai Matta fez exortação, dizendo-se feliz de estar mais uma vez em nosso humilde terreiro, e abriu a gira. Embora felizes, sentíamos em nosso Eu que aquela seria a última vez que, como encarnado, nosso Mestre pisaria a areia de nosso Congá. Bem…Pai Guiné, ao baixar, saudou a todos e promoveu um ritual simples, mas profundamente vibrado e significativo.
Num determinado instante do ritual, na apoteose do mesmo, em tom baixo, sussurrando ao nosso ouvido, disse-nos:
- Arapiaga, meu Filho, sempre fostes fiel ao meu cavalo e ao Astral, mas sabeis também que a tarefa de meu cavalo não foi fácil, e a vossa também não será… Não vos deixeis impressionar por aqueles que querem usurpar e só sabem trair… lembrai-vos de que Oxalá, o Mestre dos Mestres, foi coroado com uma coroa de espinhos… Que Oxalá abençoe vossa jornada, estarei sempre convosco…
Em uma madeira de cedro, deu-nos um Ponto Riscado, cravou um ponteiro e, ao beber o vinho da Taça Sagrada, disse-nos:
- Podes beber da Taça que dei ao meu Cavalo – ao beberes, seguirás o determinado… que Oxalá te abençoe sempre!
A seguir, em voz alta, transmitiu-nos o comando magístico vibratório de nossa Raiz…
Caro leitor, em poucas palavras, foi assim o ritual de transmissão de comando, que, com a aquiescência de Pai Guiné, temos gravado em videocassete em várias fotografias.
Alguns dias após o ritual, Pai Matta mostrou-nos um documento com firma reconhecida, no qual declarava que nós éramos seu representante direto, em âmbito nacional e internacional (?!) Sinceramente, ficamos perplexo!…
Na ocasião não entendíamos o porquê de tal precaução, mesmo porque queríamos e queremos ser apenas nós mesmos, ou seja, não ser sucessor de ninguém, quanto mais de nosso Mestre. Talvez, por circunstância Astral, Ele e Pai Guiné não pudessem deixar um hiato, onde usurpadores vários poderiam, como aventureiros, aproveitar-se para destruir o que Eles haviam construído! Sabiam que, como sucessor do grande Mestre, eu não seria nada mais que um fiel depositário de seus mananciais doutrinários!
Quem nos conhece a fundo sabe que somos desimbuídos da tola vaidade! Podemos ter milhares de defeitos, e realmente os temos, mas a vaidade não é um deles, mormente nas coisas do Espiritual. Não estaríamos de pé, durante 33 anos de lutas e batalhas, se o Astral não estivesse conosco… Assim, queremos deixar claro a todos que, nem ao Pai Guiné ou ao Pai Matta, em momento algum, solicitamos isto ou aquilo referente a nossa Iniciação e muito menos à sua sucessão… Foi o Astral quem nos pediu (o videocassete mostra) e, como sempre o fizemos, a Ele obedecemos… Mas o que queremos, em verdade, é ser aquilo que sempre fomos: nós mesmos. Não estamos atrás de status; queremos servir… Queremos ajudar, como outros, a semeadura, pois quem tem um pingo de esclarecimento sabe que amanhã…
Texto retirado do Livro Fundamentos Herméticos de Umbanda . (Mestre Arhapiagha - Pai Rivas – Editora Ícone – 1996)