Os conceitos de ânimus e de ânima emergem da Psicologia Analítica de Carl Gustav Jung, como decorrência da estruturação psíquica baseada em arquétipos primordiais e traz importantes conseqüências para a compreensão de nossa individualidade, bem como da cultura social em que nos inserimos.
Inicialmente é necessário definirmos o inconsciente coletivo como um repositório de conteúdos simbólicos que existem fora da própria individualidade, mas que por ela são absorvidos quando da sua concepção, dando orientação à construção de seu inconsciente pessoal e de sua futura personalidade. Esses conteúdos psíquicos, em forma de símbolos, são as estruturas que Jung denominou arquétipos.
Os termos ânimus e ânima vão representar os arquétipos masculino e feminino, respectivamente, que se inserem no indivíduo em formação, dando-lhe as características da sua sexualidade afetiva e não necessariamente a biológica. Dessa forma, todos temos aspectos ânimus e ânima em nossa personalidade, havendo uma tendência para os homens serem mais ânimus e para as mulheres mais ânima. Mas é justamente no dinamismo dessas forças psíquicas que na maioria das vezes se estabelecem os comportamentos homossexuais, quando não há uma relação direta entre o ser psíquico e o ser biológico. Mas não é nossa intenção analisar a questão da homossexualidade; deixemos para outra oportunidade.
Podemos definir algumas características ânimus como ser ativo, rígido, cobrador, ligado à razão, à lógica, usar mais o amor condicional, buscar o conflito, a agressividade e a destruição. Já a personalidade ânima é passiva, flexível, tolerante, ligada ao sentimento, à intuição, usa mais o amor incondicional, evita o conflito, é protetora do mundo afetivo e ligada à criação. Claro que, só para reforçar a idéia, não são os homens personalidades ânimus e as mulheres ânima. Em cada um interagem aspectos de ambos os pólos, havendo predominância de um sobre o outro.
A polarização da individualidade humana em masculino e feminino, homem e mulher, é uma necessidade ao processo de evolução anímica, contudo tende à individuação, ou seja, à composição de um todo único e harmonioso, onde não haverá mais arquétipos independentes ou complexos criando conflitos afetivos, mas um ser para onde convergirão todas as tendências anteriores que o compunham e outras mais, tornando-o, assim, completo e feliz.
O alcance deste objetivo se dá justamente através das vivências que se repetem, onde o ser experimenta as angústias dos conflitos de suas próprias disputas afetivas internas. Por isso, cada um de nós precisa estar atento à parte que nos falta a alcançar, percebendo no outro, não um alvo às nossas críticas, mas um espelho que nos sirva de referencial de auto-observação. Ao estabelecer uma relação conjugal, homens e mulheres se associam com personalidades que lhes são diferentes e ao mesmo tempo lhes completam. Integrar o que há de bom no outro como um conteúdo pessoal é ampliar o patrimônio próprio de conteúdos psíquicos e tornar-se mais próximo da individuação. Nós homens precisamos aprender e apreender o lado bom de ânima, e as mulheres o lado bom de ânimus.
Entretanto, ao observarmos nossa cultura social, percebemos o quanto ela foi e ainda é caracterizada por ânimus devido a razões que se estruturam na própria mente humana, como o chamado complexo de castração, mas que não teremos espaço para discutir aqui. O que vale salientar é que os aspectos masculinos marcam o comportamento social, o que explica sermos uma civilização tão voltada ao conflito, às guerras, à lógica da ciência cartesiana, à insensibilidade. Mas, da mesma forma que as individualidades caminham para a integração dos conteúdos divergentes, também a humanidade, como somatório das individualidades que a compõem, caminha para a superação de sua tendência ânimus e o crescimento de sua ânima. Já podemos assistir a esta movimentação naquilo que vamos chamar de a “personalidade da Terra”. A cultura machista vai cedendo espaço à presença da mulher que tanto cresce também na absorção do que lhe falta de ânimus, quanto influencia o todo com o que tem de ânima.
Talvez o maior desafio agora seja o nosso, dos homens que habitam a Terra. Isto porque as mulheres, na busca da superação da sociedade machista, tiveram que lutar contra as forças culturais externas, operando uma revolução de hábitos e costumes que, pouco a pouco, vai se consolidando. Mas nós, homens, temos uma luta muito mais difícil, que é aquela contra o machismo introjetado em nossas mentes pela tal sociedade ânimus. Ou seja, os homens, neste empreendimento, não têm que lutar para mudar o meio social, mas lutar contra suas próprias tendências internas que são, na verdade, reforçadas pelo meio social, o que torna o trabalho bastante complexo.
Assim, acredito em uma humanidade futura mais ânima, mais feminina, mais flexível, tolerante, ligada ao sentimento, à intuição, mais capaz de amar incondicionalmente, evitando os conflitos, protegendo o mundo afetivo e criando.... criando um mundo melhor para se viver.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
Inicialmente é necessário definirmos o inconsciente coletivo como um repositório de conteúdos simbólicos que existem fora da própria individualidade, mas que por ela são absorvidos quando da sua concepção, dando orientação à construção de seu inconsciente pessoal e de sua futura personalidade. Esses conteúdos psíquicos, em forma de símbolos, são as estruturas que Jung denominou arquétipos.
Os termos ânimus e ânima vão representar os arquétipos masculino e feminino, respectivamente, que se inserem no indivíduo em formação, dando-lhe as características da sua sexualidade afetiva e não necessariamente a biológica. Dessa forma, todos temos aspectos ânimus e ânima em nossa personalidade, havendo uma tendência para os homens serem mais ânimus e para as mulheres mais ânima. Mas é justamente no dinamismo dessas forças psíquicas que na maioria das vezes se estabelecem os comportamentos homossexuais, quando não há uma relação direta entre o ser psíquico e o ser biológico. Mas não é nossa intenção analisar a questão da homossexualidade; deixemos para outra oportunidade.
Podemos definir algumas características ânimus como ser ativo, rígido, cobrador, ligado à razão, à lógica, usar mais o amor condicional, buscar o conflito, a agressividade e a destruição. Já a personalidade ânima é passiva, flexível, tolerante, ligada ao sentimento, à intuição, usa mais o amor incondicional, evita o conflito, é protetora do mundo afetivo e ligada à criação. Claro que, só para reforçar a idéia, não são os homens personalidades ânimus e as mulheres ânima. Em cada um interagem aspectos de ambos os pólos, havendo predominância de um sobre o outro.
A polarização da individualidade humana em masculino e feminino, homem e mulher, é uma necessidade ao processo de evolução anímica, contudo tende à individuação, ou seja, à composição de um todo único e harmonioso, onde não haverá mais arquétipos independentes ou complexos criando conflitos afetivos, mas um ser para onde convergirão todas as tendências anteriores que o compunham e outras mais, tornando-o, assim, completo e feliz.
O alcance deste objetivo se dá justamente através das vivências que se repetem, onde o ser experimenta as angústias dos conflitos de suas próprias disputas afetivas internas. Por isso, cada um de nós precisa estar atento à parte que nos falta a alcançar, percebendo no outro, não um alvo às nossas críticas, mas um espelho que nos sirva de referencial de auto-observação. Ao estabelecer uma relação conjugal, homens e mulheres se associam com personalidades que lhes são diferentes e ao mesmo tempo lhes completam. Integrar o que há de bom no outro como um conteúdo pessoal é ampliar o patrimônio próprio de conteúdos psíquicos e tornar-se mais próximo da individuação. Nós homens precisamos aprender e apreender o lado bom de ânima, e as mulheres o lado bom de ânimus.
Entretanto, ao observarmos nossa cultura social, percebemos o quanto ela foi e ainda é caracterizada por ânimus devido a razões que se estruturam na própria mente humana, como o chamado complexo de castração, mas que não teremos espaço para discutir aqui. O que vale salientar é que os aspectos masculinos marcam o comportamento social, o que explica sermos uma civilização tão voltada ao conflito, às guerras, à lógica da ciência cartesiana, à insensibilidade. Mas, da mesma forma que as individualidades caminham para a integração dos conteúdos divergentes, também a humanidade, como somatório das individualidades que a compõem, caminha para a superação de sua tendência ânimus e o crescimento de sua ânima. Já podemos assistir a esta movimentação naquilo que vamos chamar de a “personalidade da Terra”. A cultura machista vai cedendo espaço à presença da mulher que tanto cresce também na absorção do que lhe falta de ânimus, quanto influencia o todo com o que tem de ânima.
Talvez o maior desafio agora seja o nosso, dos homens que habitam a Terra. Isto porque as mulheres, na busca da superação da sociedade machista, tiveram que lutar contra as forças culturais externas, operando uma revolução de hábitos e costumes que, pouco a pouco, vai se consolidando. Mas nós, homens, temos uma luta muito mais difícil, que é aquela contra o machismo introjetado em nossas mentes pela tal sociedade ânimus. Ou seja, os homens, neste empreendimento, não têm que lutar para mudar o meio social, mas lutar contra suas próprias tendências internas que são, na verdade, reforçadas pelo meio social, o que torna o trabalho bastante complexo.
Assim, acredito em uma humanidade futura mais ânima, mais feminina, mais flexível, tolerante, ligada ao sentimento, à intuição, mais capaz de amar incondicionalmente, evitando os conflitos, protegendo o mundo afetivo e criando.... criando um mundo melhor para se viver.
João Carvalho Neto
Psicanalista, autor do livro “Psicanálise da alma”
Que texto ótimo!!!
ResponderExcluirParabéns pela escolha. Continue nos alegrando com estes textos maravilhosos!