sábado, 1 de abril de 2017

MITO, MITOLOGIA E FILOSOFIA AFRICANA




Banza Mwepu Mulundwe & Muhota Tshahwa
Assistentes na Universidade de Lubumbashi
MULUNDWE, Banza Mwepu; TSHAHWA, Muhota. Mito, Mitologia e Filosofia Africana.
Tradução para uso didático de MULUNDWE, Banza Mwepu; TSHAHWA, Muhota. Mythe, mythologie et philosophie africaine. Mitunda. Revue des Cultures Africaines. Volume 4, Numéro spécial, octobre 2007, p. 17-24 por Kathya Barbosa Fernandes e Aurélio Oliveira Marques.

Introdução
De forma alternada, ora elogiada e ora criticada, a mitologia teve, desde a Antiguidade clássica, até nossa época atual, tanto defensores convictos, quanto adversários ferozes.
Essas duas atitudes diametralmente opostas anunciam o lugar do mito e da mitologia grega em geral, e a africana em particular, nos fazem tentar decifrar nas linhas que se seguem.
Para chegarmos lá, procederemos em função das etapas seguintes:
1 – Uma definição aproximada a qual iremos apresentar ao leitor é a de que mito e logos significam aos olhos dos Gregos por eles mesmos. Nós sabemos, evidentemente, que não há unanimidade em torno destas duas concepções.
2 – Na seção intitulada “Hermenêutica e mitologia”, nós afirmaremos que toda a filosofia, independentemente de qual seja, nasce do mito graças à hermenêutica, ao método semiológico. E assim é o mesmo com a filosofia africana.
3 – A seção, que tem por título “Hermenêutica e história, visa nos fazer ver que a filosofia banto de Placide Tempels nasceu na esteira de Maurice Leenhart, da prática de resoluções da l’Ecole de Mons, que é inspirada por Heródoto, Berose e Tácito, no sentido em que combina todas as fontes potenciais, as ciências auxiliares da história sem omitir nenhuma, seja discurso, seja esoterismo.

Abordagem conceitual
Na época clássica grega, a mitologia teve tantos defensores (Homero, Hesíodo, Hecate, Parmênides, Empédocles, Theágenes...) quanto críticos (Píndaro, Anacreonte, Aristóteles e, principalmente, Tucídides, bem como, os antropólogos do século XIX e seus discípulos africanos) sem esquecer da Igreja católica romana e os teólogos liberais protestantes.
Mas a mitologia clássica grega teve também hesitantes, incialmente contra e depois pela pessoa de Platão.
Para os Gregos da época clássica, de fato, a mitologia, do grego mûthos, discurso e lógos, vieram primeiro como sinônimos, retornando todos os direitos à palavra do sábio, como um discurso livre de erro. É neste sentido que, para Hesíodo (-1000/-900), estes dois termos se valem na medida onde um designa uma relação entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico e outro um discurso sobre o pensamento mítico. Assim, para ele existe uma identidade perfeita entre o pensamento mítico (religioso) e o pensamento racional (filosófico), desde que provenientes dos sábios. Donde, mitos e logos não se opõem a “doxa”, a opinião comum, vulgar. Ainda assim isso não impediu ao mito de ter seus críticos.
A concepção negativa do mito
Entre os adversários da mitologia, temos alguns grandes nomes:
1- Xenófanes de Cólofon (-565/-478), conhecido como "Crítico das mentiras de Homero", célebre rapsodo, contador de histórias, recitador dos poemas de Homero e Hesíodo.
Depois disso, ele se rendeu às inadequações das teogonias. Então depois disso ele começou a se envolver em duras críticas contra o antropomorfismo e os vícios dos deuses gregos. É, portanto, o primeiro caso de "desmitologização" no pensamento grego. Ele teve como adversário imediato Théagene de Régium (-530/-410), seu contemporâneo, que reabilitou a mitologia grega graças à interpretação, e à exegese alegórica desse mesmo pensamento mítico grego. Tornando-o o fundador do método simbólico, a semiótica na época grega clássica.
2 - Anacreonte (-560/-478) considera o mito como um discurso subversivo. Também em sua época, deu o nome de mûthietaï aos insurgentes que assassinaram Polícrates, tirano de Samos, em -522. E seus líderes foram chamados de mûtharchoï, os mytharques ou líderes.O mito é também sinônimo de grito de revolta, clamor de insurgentes em cólera, porque privados do discurso, não são considerados cidadãos completos.
3 - Píndaro (-5118/-438), a propósito de Xenófone, aprecia o logos, o qual qualifica o discurso, o canto elogioso à glória dos vencedores com vários jogos em detrimento do mito, que é considerado como um discurso enganador dos Antigos.
4 - Platão (-429/-349) distingue entre mito (simples discurso, exposição narrativa), logos (palavra, pensamento discursivo e argumentativo) e mitologia (discurso, reflexão sobre a tradição oral antiga).
5 - Aristóteles (-384/-322) afirma que o mito é uma narrativa estúpida, absurda.
- Epícuro de Samos (-341/-270) pretende que o mito é o recurso da superstição. Donde, deve ser impiedosamente combatido, já que é prejudicial à saúde mental e física do homem. E, nestes rastros, Hegel captou o mito como simples quimera, uma marca de impotência de parte do pensamento primitivo e uma manifestação da barbárie dos povos sem escrita.
6 - Tucídides (-471/-402) se erige contra a tradição oral em proveito da escrita.

A concepção positiva do mito
Em oposição aos inimigos (archanés) do mito e da mitologia, também são encontrados ardentes defensores na Grécia.
1 - Homero (-1000/-900) opôs mito (narrativa eloquente de sabedoria) à destreza manual (arte e artesanato).
2 - Pitágoras de Samos (-580/-500) e Ferécides de Siros, seu contemporâneo, discípulos de Homero e Hesíodo (-1000/-900), constituem um avanço entre o pensamento mítico (nomológico e descritivo) e o pensamento propriamente racional (crítico, filosófico). Eles se situam então no ponto de junção de dois modos de pensar, no ponto de passagem entre o mito e a filosofia.
3 - Heródoto (-484/-420) concebeu o mito como um discurso da verdade. Donde, através de suas Histórias, ele é convencido de que não há contradição entre mito e razão, discursos sagrados, narrativas veneráveis de sabedoria.

Segundo ele, há uma identidade perfeita entre mito e logos, discurso mítico e pensamento racional. Está é também a visão de um grande mitólogo atual.
Efetivamente, para Heródoto, Esopo e Hecate de Mileto, seus precursores, são os logopoioi, os fabricantes de narrativas, das histórias e das fábulas para seus povos. E, por sua vez, Ésquilo captou o logos por uma narrativa verdadeira (mitos) veiculada pelos mûtoï, as Fábulas de Esopo.

4 - Esopo (-620/-560) contou através da escrita de narrativas didáticas onde os animais passam lições aos humanos. Essas narrativas não são, contudo, criadas por ele, mas sim tiradas da tradição oral, da palavra antiga. A razão está em somente o povo grego do século VI a.C, ser analfabeto, mandando ele registrá-las através da escrita como forma de resguardar a obra. Consagrada pelos anciãos (quer sejam gregos ou africanos), a importância do mito e da mitologia. Constitui-se assim uma urgência e uma interpelação endereçada aos intelectuais africanos em face das tradições ameaçadas de seus povos.
- Platão, às vezes adversário, às vezes parceiro, contrariamente a Tucídides, não era livre para passar a tradição antiga de seu povo, ao contrário ele devia dizer e redizer não importando o custo fundar validamente seu discurso na razão. Vindo daí seu papel inovador ao período clássico.
Sem ser grego, B. Malinowski (1884-1942) afirma que o mito transcende a história, perscruta o passado, justifica presente e prefigura o devir do homem e seu próprio destino. Ele convida o homem a se preparar para assumir o comando.
Então, o mito não é apenas pura e simples ficção.
Elemento essencial de todas as civilizações, o mito é, portanto, um signo, ele traz uma explicação total do mundo e do homem. Ele constitui-se de um modo de pensar universal comum a todos os povos do mundo, civilizados e bárbaros.
E por que nós devemos daqui em diante rever todas as atitudes hostis ao direito do mito e da mitologia. Porque isto nos leva a tese de J.P. Mayele Ilo 13 que considera o mito como uma linguagem, linguagem fundamental de toda cultura. Pois há uma certa estrutura mesclada acerca dos mundos: o visível e o invisível. Ele convida então o homem a se situar em relação a seu lugar de verdade no mundo entre a materialidade e a espiritualidade, enquanto um animal espiritual ou espírito encarnado.
Hermenêutica e mitologia
A filosofia africana, diremos nós, como é em toda outra filosofia, não pode partir senão da tradição oral africana, dos mitos dos nossos ancestrais. Para que seja feito, ela deve se utilizar necessariamente da hermenêutica, do método semiótico.
Mas, o que é a hermenêutica? O que é a semiologia?
A hermenêutica é uma pesquisa do sentido, uma missão de releitura, uma busca pelo novo, pode-se dizer uma decodificação do significado oculto do signo e do símbolo. A filosofia de Paul Ricoeur trouxe também um problema de semiologia, da ciência do signo e do símbolo. E então, um problema de releitura das ciências humanas (história, linguística, sociologia, teologia, psicologia, psicanálise, direito, economia...) então ele deve reinterpretar o sentido em uma nova perspectiva propriamente africana. A perspectiva vista, em última análise, a explicar o homem em geral e o homem africano em particular através dos valores, das figuras do Espírito de Hegel, constituídos pelo crescimento da produção cultural do gênio humano sem exclusividade. É a hermenêutica do objeto cultural.
Enfim, a semiologia, ciência que se faz pelo objeto da interpretação, pela apreensão do sentido profundo da natureza, do homem individual e coletivo (social), é a única ciência capaz de nos fazer revelar, de nos devolver os sentidos ocultos (esotéricos) das mensagens, dos signos e dos enunciados orais e escritos. Pode-se dizer também documentos figurados: diversas obras de arte e seus representantes. A semiologia se aplica também à narrativa e à escrita.
Principal razão pela qual, a semiologia parece ser uma passagem obrigatória para a emergência da filosofia africana contemporânea, que como a filosofia grega, deve se compor com os mitos de seu povo.
Nós nos encontramos então obrigados, pela força das coisas, de constituir do interior, nossa própria hermenêutica africana, aquela que nos permitirá compreender validamente nossas realidades socioculturais africanas sem depender de fora. Pois já sabemos cada discurso, seja ele qual for, depois da Grécia clássica, merece seu lugar na escolha do concerto das ciências, desde que seja o produto de uma sociedade nacional ou etnicamente constituída. Assim, seja ela da filosofia africana e afro-americana e seus métodos.
A filosofia acadêmica afro-americana, dirão, vê-se uma hermenêutica, uma revelação total da vida do povo negro afro-americano. Nessa hermenêutica reside através de uma apropriação crítica de diversas tradições de seu povo, como forma de manter viva sua memória coletiva, única condição para o surgimento de uma vida de felicidade através da liberação mental.
É de certa maneira dizer que a filosofia acadêmica africana não será outra coisa que:
1 - Uma filosofia social crítica que pelo despertar da Escola de Frankfurt, esforça-se por compreender e afirmar uma identidade étnica e histórica.
2 - Uma filosofia orientada pela liberação da ciência da tirania cultura capitalista.
3 - Uma busca do sentido da consciência e do ser, bem como de sua própria ação dentro de sua comunidade. Assim, filosofar para o negro afro-americano torna-se uma lição de antropologia cultural, ou seja, buscar sua identidade não apenas individual, mas também coletiva. Ela deve então daqui em diante ser orientada em direção à história como forma de permitir ao negro de se descobrir através de sua curva histórica e suas facetas: socioculturais e econômico-política.

Hermenêutica e história
A filosofia, como acabamos de ver, nasceu da hermenêutica, portanto da interpretação e da releitura dos signos: mitos e diversos símbolos.
Os mitos históricos, que nasceram junto da Escola de Mons (na Bélgica), surgiram do Movimento Etnográfico e Sociológico criado para o Congresso Nacional de Mons (1905) que defende os seguintes objetivos:
1. Constituir uma documentação científica completa sobre o estado social dos povos exóticos: seus hábitos, usos, costumes, ritos e práticas.
2. Publicar todas as investigações etnográficas (sociológicas) coletadas nas monografias apropriadas.
Em suma, escrever um Repertório geográfico (país por país) e etnográfico (povo por povo) dos povos negros que foram colonizados em todo o mundo. O repertório de qualquer monografia deve ser realizado baseando-se unicamente na investigação oral realizada no território dos povos interessados em outros métodos que sejam 18. De qualquer maneira, a investigação judicial - ela mesma - não procede sob reserva de agrupamento dos dados assim obtidos. Isto está presente na Escola etnológica mitológica e religiosa inspirada em Heródoto (487 a.C – 420 a.C) e depois por Tácito (55 – 120), que hoje é representado por Maurice Leenhardt (1878 – 1954) e seus sucessores. A referência a Heródoto e a Tácito, na origem da etnologia (e até mesmo da antropologia), se explica pelo interessante estudo descritivo dos povos que considerava, então, como simples bárbaros. Vale ressaltar ainda que nas Histórias - obra que Tácito estrutura mais sistematicamente seu método etnológico - derivou-se em boa parte de uma anterior, Germanie. A Escola etnológica mitológica e religiosa é destinada a conduzir os estudos científicos sobre os mitos dos povos sem escrituras tendo em vista sua revalorização.
Um pastor da Igreja Protestante - em Nouméa (Nova Caledônia) - durante 25 anos, Leenhardt se consagrou de uma maneira científica aprofundando-se em conhecer as civilizações (mitos, usos, ritos, costumes e práticas) dos povos polinésios em vista da evangelização deles. Placide Tempels, um missionário católico belgo, chegou à Baluba, em Katanga (Congo Belgo), no entanto, não deu procedência aos seus estudos. Esta é a mesma fonte da Filosofia banto. Nós vemos, portanto, que o estudo científico dos nossos mitos não é sem importância. Os estudos de Leenhardt, por sua vez, tiveram por consequência demonstrar que o pensamento mítico constituía somente uma racionalidade à parte, diferente daquela produzida no ocidente, sem por isso desembocar num irracionalismo.
É fácil considerar a grande influência exercida pela Escola de Mons sobre os esforços implantados pelos ocidentais no início do século XX pelo conhecimento dos povos colonizados e suas culturas. O que conduz o mesmo reconhecimento do seu legítimo direito para desenvolver sua própria filosofia que se liga, curiosamente, àqueles povos mais antigos do oriente clássico, notavelmente da Grécia. É, portanto, neste mesmo acordo da Escola de Mons e do Movimento Etnográfico e Sociológico Internacional - presentes na obra de Marcel Griaule (1856 – 1898) - que se realizaram os estudos acerca dos mitos e das lendas dos povos africanos sob dominação francesa à luz da arqueologia contemporânea:
1. Marcel Griaule, um etnólogo francês que se apaixonou pelas pesquisas de campo, começou muitas viagens de estudos na África ocidental, no Tchad, na República Centro-africana e na Etiópia - principalmente no caso da missão Dakar-Djibouti (1931 – 1933). Deste modo, ele foi considerado o descobridor de um novo método de investigação, criado sobre a observação de um determinado povo. Ele é o autor do Método de Etnologia. (Paris, 1957).
2. Encarregado da Missão Sahara-Camarões (1936-1937) - destinada a coletar uma vasta documentação indispensável na confecção das monografias sobre os povos daquela região (Chade, Nigéria e Camarões), atualmente chamada de Kotoko e que tinham por ancestrais o povoado de São, Marcel Griaule efetuou uma sondagem arqueológica e trouxe suas pesquisas (orais) sociológicas coletando ainda as primeiras informações sobre as tradições do Sao.

Tal empresa trata de duas disciplinas científicas diferentes: a etnografia e a arqueologia. O que lhe permite explorar os ditos e os testemunhos das pesquisas, que se deram sob a caneta dos documentos escritos com finalidade científica. Em suma, Marcel Griaule acha apropriado dar mais crédito aos mitos retirados da tradição oral africana, que contém os dados histórico-culturais (resultado das escavações arqueológicas) e contém, também, um método do trabalho científico clássico de tipo imperialista que, ainda hoje, possui valor nas universidades africanas meio século depois das independências.
O mito, para Marcel Griaule, ocupa um lugar privilegiado. Roger May, seu discípulo, formula a tese da Anterioridade das civilizações negras segundo o mesmo método que inspira igualmente C.A.DIOP. Jan VANSINA, por sua vez, fez da tradição oral africana uma fonte segura da nossa história.
De fato, J. Cuvelier afirma (muito tempo antes de VANSINA) que a tradição oral africana esclarece e completa os dados dos nossos povos acerca da história escrita. Até mesmo porque a história começa com a lenda: por exemplo, a gênese da história de Roma. Com efeito, como bem disse a Bíblia: “No princípio era Palavra (verbum)”. É neste mesmo sentido, da revalorização do negro africano e da sua cultura, que Théophile OBENGA nos convida a utilizar todos os tipos de métodos capazes de nos apropriarmos da história (aprofundada) da África, uma história diferente daquela ideologia inventada a partir do zero para o obscurantismo ocidental objetivando a dominação e a exploração capitalista dos nossos povos indefesos. Este método ideal tão procurado por Th. OBENGA é o método sociológico; ou seja, a hermenêutica de Paul RICOEUR e a arqueologia do saber de Michel FOUCAULT.
Em suma, é no século XIX sob a influência de HUME (1711-1776), HEGEL (1770-1831) e GOBINEAU (1816-1882), instigadores do racismo e do colonialismo, que nasceu o espírito positivista caracterizado por uma atitude negativa no lugar do pensamento mítico. No entanto, atualmente, se edifica toda uma escola que considera o pensamento mítico como parte integrante do pensamento filosófico. Tal escola (representada hoje por L. COULOUBARITSIS e J.P. MAYELE) e uma atitude positiva no lugar do mito e da mitologia foram hoje em dia, felizmente, adaptadas para a Igreja Católica.
Por isso, a tradição oral africana não pode, hoje, ser proscrita. Porque ela constitui um documento (sonoro) dentre tantos outros. É nesta mesma ordem de ideias que Marcel GRIAUOLE, C. A. DIOP (1923-1986), em sua Teoria Camítica, revaloriza a lenda bíblica, muitas vezes desprezada por Th. OBENGA, como uma fonte autêntica da história africana.
Portanto, na Grécia arcaica clássica, mûthos e logos chamados hiéros (palavra sagrada dos antigos, transmitida de boca à orelha de uma geração a outra, antes de ser fixada na escrita) não se opõem e nem se excluem mutuamente. Daí cada escola de pensamento, cada santuário de mistério desempenhava - como suas doutrinas – seus próprios mitos e seu patrimônio inalienável (no caso das Casas de vida no Egito faraônico). Estes mitos estavam cuidadosamente conservados por algumas grandes famílias sacerdotais (no caso dos Eumolpides ou Cérycides em Eleusis, perto de Atenas). Razão pela qual, estes Mistérios, grandes depósitos dos mitos antigos, dominaram a vida sociocultural da Grécia antiga durante um milênio.
Em suma, o mito era considerado como uma verdadeira linguagem (discurso racional). Neste caso, ao versar acerca da existência do homem no mundo, tinha por objetivo transmitir uma mensagem séria. O que nos convida a respeitar os mitos de todos os povos do mundo; como foram, também, aqueles da Grécia antiga, que regeram o nascimento da filosofia, fonte do conhecimento. Portanto, até mesmo a significação e a verdade (científica) são derivadas dos mitos: por exemplo, os mitos modernos, notavelmente todos os gêneros literários (contos, poesia, teatro, religião, política, filosofia e ideologia). Portanto, todos os feitos da cultura, toda a união coerente do conhecimento e as figuras do Espírito de Hegel.

Conclusão
Tendo em vista tudo o que acaba de ser dito, nós devemos, necessariamente, saber que a filosofia africana nasce desde o dia em que os africanos como todos os homens e todas as raças do mundo começaram a falar, perguntar sobre as questões acerca da condição humana e a encontrar as respostas sob várias formas e modos de expressão que diversificam os mitos, os ritos, as crenças (ideias) e as práticas (instituições, usos, costumes e técnicas). No entanto, o mito sempre existiu; ele continua e continuará sempre a existir. Portanto, ele não falhou em conhecer nenhum dos problemas, sejam eles grandes ou pequenos. Não obstante, o mito não perde sua força nem menos sua importância. Sua grande chance de sobreviver reside, sobretudo, no fato de que o mito contém e veicula um determinado conhecimento e uma concepção de mundo e de ser humano, isto é, uma cosmologia, uma cosmogonia e uma antropologia.
É de sua essência, portanto, ser uma religião, uma ideologia e uma crença. Impõe ao homem uma fé cega acerca dos objetivos que ele lhe atribui. O que foi a base das revoluções sociais, políticas e das guerras no caso dos conflitos de opiniões. Por isso, cada sociedade desenvolve suas crenças: seus mitos, suas religiões, suas ideologias e sua própria cultura. Ocorre, portanto, o mesmo em toda África, com seus mitos e sua filosofia.

BIBLIOGRAFIA
1. A. Lebeuf, Les Principautés Kotoko, Essai sur le caractère sacré de l’autorité, C. N.R.S., Paris, 1969,
2. A. Michel, « Tacite », in Idem, Corpus 17, Paris, 1988, p.644.
3. C. Ramnoux, « Mythe, B-Mythos et logos », in Encyclopaedia Universalis, Corpus 12, Paris, 1988.
4. C. Van Overbergh, Les Nègres d’Afrique, Dewit, Bruxelles, 1913, pp.1et 12. Collectif, ncyclopaedia Universalis, Thesaurus, Corpus 2, Paris, 1988.
5. Cuvelier, « Traditions Congolaises », in Congo, Revue générale de la Colonie belge,Tome II, Bruxelles, 1930.
6. E. Coupez-Rougier, « Anthropologie », in Encyclopaedia Universalis, Corpus 2, Paris, 1988.
7. Encyclopaedia Universalis, Thesaurus, Index, Corpus 1, Encyclopaedia Universalis Editeurs, Paris, 1988.
8. G. Zaïnaty, Cours de Lecture et explication des Textes philosophiques contemporains,
9. G. Zaïnaty, Cours de lecture et explication des textes philosophiques contemporains, UNAZA, Lubumbashi, 1976-1977 : notes manuscrites.
10. H. D. Saffrey, « Eléates », in Encyclopaedia Universalis, Corpus 6, Encyclopaedia
11. J. Dubois et L. Van den Wyngaert, L’initiation philosophique, C.R.P., Kinshasa, 1997.
12. J. Ilondo Kweto, Le mythe chez Mayele, Mémoire, Unilu, Lubumbashi, 2000-2003.
13. J.P. Mayele Ilo, Mythe et mythologie reprensé et redéfinis, Séminaire post-licence, UNILU/Lubumbashi, 1998-1999. Voir aussi P. Mayele Ilo, Statut mythique et sciencitifique de la gémellité, Ousia, Bruxelles, 2000.
14. Kankwenda Odia, Cours de Philosophie africaine et afro-américain, G2 Philosophie, UNILU, Lubumbashi, 1999-2000.
15. M. Detienne, Homère, Hésiode et Pythagore, Latomus, Bruxelles, 1962.
16. M. Detienne, L’Invention de la mythologie, Paris, 1981.
17. M. N. Likombo, De la démystification et de la démythification chez Epicure, Mémoire de
18. Ngoma-Binda, « Pour une orientation authentiques de la philosophie africaine : l’herméneutique », in Zaïre-
19. R. Bastide, « Anthropologie religieuse », in Ibidem, Corpus 2.
20. R. May, 5000 Siècles de Mystères, La Palatine, Paris-Genève, s.d., 1961.
21. Th. Obenga, Le Zaïre, Civilisation traditionnelle et culture modernes, Présence Africaine, Paris, 1977.
22. Vansina, De la tradition orale, Essaie de méthode historique, Musée Royal de l’Afrique
Centrale, Tervuren,

23. Y.- E . Dogbé, Négritude, culture et civilisation, Akpagnon, Le Mée-sur-Oise, 1980.

Nenhum comentário:

Postar um comentário