Banza
Mwepu Mulundwe & Muhota Tshahwa
Assistentes
na Universidade de Lubumbashi
MULUNDWE,
Banza Mwepu; TSHAHWA, Muhota. Mito, Mitologia e Filosofia Africana.
Tradução
para uso didático de MULUNDWE, Banza Mwepu; TSHAHWA, Muhota. Mythe, mythologie
et philosophie africaine. Mitunda. Revue des Cultures Africaines. Volume
4, Numéro spécial, octobre 2007, p. 17-24 por Kathya Barbosa Fernandes e
Aurélio Oliveira Marques.
Introdução
De
forma alternada, ora elogiada e ora criticada, a mitologia teve, desde a
Antiguidade clássica, até nossa época atual, tanto defensores convictos, quanto
adversários ferozes.
Essas
duas atitudes diametralmente opostas anunciam o lugar do mito e da mitologia
grega em geral, e a africana em particular, nos fazem tentar decifrar nas
linhas que se seguem.
Para
chegarmos lá, procederemos em função das etapas seguintes:
1 –
Uma definição aproximada a qual iremos apresentar ao leitor é a de que mito e
logos significam aos olhos dos Gregos por eles mesmos. Nós sabemos,
evidentemente, que não há unanimidade em torno destas duas concepções.
2 –
Na seção intitulada “Hermenêutica e mitologia”, nós afirmaremos que toda a
filosofia, independentemente de qual seja, nasce do mito graças à hermenêutica,
ao método semiológico. E assim é o mesmo com a filosofia africana.
3 –
A seção, que tem por título “Hermenêutica e história, visa nos fazer ver que a
filosofia banto de Placide Tempels nasceu na esteira de Maurice Leenhart, da
prática de resoluções da l’Ecole de Mons, que é inspirada por Heródoto,
Berose e Tácito, no sentido em que combina todas as fontes potenciais, as
ciências auxiliares da história sem omitir nenhuma, seja discurso, seja esoterismo.
Abordagem
conceitual
Na
época clássica grega, a mitologia teve tantos defensores (Homero, Hesíodo,
Hecate, Parmênides, Empédocles, Theágenes...) quanto críticos (Píndaro,
Anacreonte, Aristóteles e, principalmente, Tucídides, bem como, os antropólogos
do século XIX e seus discípulos africanos) sem esquecer da Igreja católica
romana e os teólogos liberais protestantes.
Mas
a mitologia clássica grega teve também hesitantes, incialmente contra e depois
pela pessoa de Platão.
Para
os Gregos da época clássica, de fato, a mitologia, do grego mûthos,
discurso e lógos, vieram primeiro como sinônimos, retornando todos os
direitos à palavra do sábio, como um discurso livre de erro. É neste sentido
que, para Hesíodo (-1000/-900), estes dois termos se valem na medida onde um
designa uma relação entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico e outro
um discurso sobre o pensamento mítico. Assim, para ele existe uma identidade
perfeita entre o pensamento mítico (religioso) e o pensamento racional
(filosófico), desde que provenientes dos sábios. Donde, mitos e logos não se
opõem a “doxa”, a opinião comum, vulgar. Ainda assim isso não impediu ao mito
de ter seus críticos.
A concepção negativa do mito
Entre
os adversários da mitologia, temos alguns grandes nomes:
1-
Xenófanes de Cólofon (-565/-478), conhecido como "Crítico das mentiras de
Homero", célebre rapsodo, contador de histórias, recitador dos poemas de
Homero e Hesíodo.
Depois
disso, ele se rendeu às inadequações das teogonias. Então depois disso ele começou
a se envolver em duras críticas contra o antropomorfismo e os vícios dos deuses
gregos. É, portanto, o primeiro caso de "desmitologização" no
pensamento grego. Ele teve como adversário imediato Théagene de Régium
(-530/-410), seu contemporâneo, que reabilitou a mitologia grega graças à
interpretação, e à exegese alegórica desse mesmo pensamento mítico grego.
Tornando-o o fundador do método simbólico, a semiótica na época grega clássica.
2 -
Anacreonte (-560/-478) considera o mito como um discurso subversivo. Também em
sua época, deu o nome de mûthietaï aos insurgentes que assassinaram Polícrates,
tirano de Samos, em -522. E seus líderes foram chamados de mûtharchoï,
os mytharques ou líderes.O mito é também sinônimo de grito de revolta,
clamor de insurgentes em cólera, porque privados do discurso, não são
considerados cidadãos completos.
3 -
Píndaro (-5118/-438), a propósito de Xenófone, aprecia o logos, o qual
qualifica o discurso, o canto elogioso à glória dos vencedores com vários jogos
em detrimento do mito, que é considerado como um discurso enganador dos
Antigos.
4 -
Platão (-429/-349) distingue entre mito (simples discurso, exposição
narrativa), logos (palavra, pensamento discursivo e argumentativo) e mitologia
(discurso, reflexão sobre a tradição oral antiga).
5 -
Aristóteles (-384/-322) afirma que o mito é uma narrativa estúpida, absurda.
-
Epícuro de Samos (-341/-270) pretende que o mito é o recurso da superstição.
Donde, deve ser impiedosamente combatido, já que é prejudicial à saúde mental e
física do homem. E, nestes rastros, Hegel captou o mito como simples quimera,
uma marca de impotência de parte do pensamento primitivo e uma manifestação da
barbárie dos povos sem escrita.
6 -
Tucídides (-471/-402) se erige contra a tradição oral em proveito da escrita.
A concepção positiva do mito
Em
oposição aos inimigos (archanés) do mito e da mitologia, também são
encontrados ardentes defensores na Grécia.
1 -
Homero (-1000/-900) opôs mito (narrativa eloquente de sabedoria) à destreza
manual (arte e artesanato).
2 -
Pitágoras de Samos (-580/-500) e Ferécides de Siros, seu contemporâneo,
discípulos de Homero e Hesíodo (-1000/-900), constituem um avanço entre o
pensamento mítico (nomológico e descritivo) e o pensamento propriamente
racional (crítico, filosófico). Eles se situam então no ponto de junção de dois
modos de pensar, no ponto de passagem entre o mito e a filosofia.
3 -
Heródoto (-484/-420) concebeu o mito como um discurso da verdade. Donde,
através de suas Histórias, ele é convencido de que não há contradição entre
mito e razão, discursos sagrados, narrativas veneráveis de sabedoria.
Segundo
ele, há uma identidade perfeita entre mito e logos, discurso mítico e pensamento
racional. Está é também a visão de um grande mitólogo atual.
Efetivamente,
para Heródoto, Esopo e Hecate de Mileto, seus precursores, são os logopoioi,
os fabricantes de narrativas, das histórias e das fábulas para seus povos. E,
por sua vez, Ésquilo captou o logos por uma narrativa verdadeira (mitos)
veiculada pelos mûtoï, as Fábulas de Esopo.
4 -
Esopo (-620/-560) contou através da escrita de narrativas didáticas onde os
animais passam lições aos humanos. Essas narrativas não são, contudo, criadas
por ele, mas sim tiradas da tradição oral, da palavra antiga. A razão está em
somente o povo grego do século VI a.C, ser analfabeto, mandando ele
registrá-las através da escrita como forma de resguardar a obra. Consagrada
pelos anciãos (quer sejam gregos ou africanos), a importância do mito e da
mitologia. Constitui-se assim uma urgência e uma interpelação endereçada aos
intelectuais africanos em face das tradições ameaçadas de seus povos.
-
Platão, às vezes adversário, às vezes parceiro, contrariamente a Tucídides, não
era livre para passar a tradição antiga de seu povo, ao contrário ele devia
dizer e redizer não importando o custo fundar validamente seu discurso na
razão. Vindo daí seu papel inovador ao período clássico.
Sem
ser grego, B. Malinowski (1884-1942) afirma que o mito transcende a história,
perscruta o passado, justifica presente e prefigura o devir do homem e seu
próprio destino. Ele convida o homem a se preparar para assumir o comando.
Então,
o mito não é apenas pura e simples ficção.
Elemento
essencial de todas as civilizações, o mito é, portanto, um signo, ele traz uma
explicação total do mundo e do homem. Ele constitui-se de um modo de pensar
universal comum a todos os povos do mundo, civilizados e bárbaros.
E
por que nós devemos daqui em diante rever todas as atitudes hostis ao direito
do mito e da mitologia. Porque isto nos leva a tese de J.P. Mayele Ilo 13 que
considera o mito como uma linguagem, linguagem fundamental de toda cultura.
Pois há uma certa estrutura mesclada acerca dos mundos: o visível e o
invisível. Ele convida então o homem a se situar em relação a seu lugar de
verdade no mundo entre a materialidade e a espiritualidade, enquanto um animal
espiritual ou espírito encarnado.
Hermenêutica e mitologia
A
filosofia africana, diremos nós, como é em toda outra filosofia, não pode
partir senão da tradição oral africana, dos mitos dos nossos ancestrais. Para
que seja feito, ela deve se utilizar necessariamente da hermenêutica, do método
semiótico.
Mas,
o que é a hermenêutica? O que é a semiologia?
A
hermenêutica é uma pesquisa do sentido, uma missão de releitura, uma busca pelo
novo, pode-se dizer uma decodificação do significado oculto do signo e do
símbolo. A filosofia de Paul Ricoeur trouxe também um problema de semiologia,
da ciência do signo e do símbolo. E então, um problema de releitura das
ciências humanas (história, linguística, sociologia, teologia, psicologia,
psicanálise, direito, economia...) então ele deve reinterpretar o sentido em
uma nova perspectiva propriamente africana. A perspectiva vista, em última
análise, a explicar o homem em geral e o homem africano em particular através
dos valores, das figuras do Espírito de Hegel, constituídos pelo crescimento da
produção cultural do gênio humano sem exclusividade. É a hermenêutica do objeto
cultural.
Enfim,
a semiologia, ciência que se faz pelo objeto da interpretação, pela apreensão
do sentido profundo da natureza, do homem individual e coletivo (social), é a
única ciência capaz de nos fazer revelar, de nos devolver os sentidos ocultos
(esotéricos) das mensagens, dos signos e dos enunciados orais e escritos.
Pode-se dizer também documentos figurados: diversas obras de arte e seus
representantes. A semiologia se aplica também à narrativa e à escrita.
Principal
razão pela qual, a semiologia parece ser uma passagem obrigatória para a
emergência da filosofia africana contemporânea, que como a filosofia grega,
deve se compor com os mitos de seu povo.
Nós
nos encontramos então obrigados, pela força das coisas, de constituir do
interior, nossa própria hermenêutica africana, aquela que nos permitirá
compreender validamente nossas realidades socioculturais africanas sem depender
de fora. Pois já sabemos cada discurso, seja ele qual for, depois da Grécia
clássica, merece seu lugar na escolha do concerto das ciências, desde que seja
o produto de uma sociedade nacional ou etnicamente constituída. Assim, seja ela
da filosofia africana e afro-americana e seus métodos.
A
filosofia acadêmica afro-americana, dirão, vê-se uma hermenêutica, uma
revelação total da vida do povo negro afro-americano. Nessa hermenêutica reside
através de uma apropriação crítica de diversas tradições de seu povo, como
forma de manter viva sua memória coletiva, única condição para o surgimento de
uma vida de felicidade através da liberação mental.
É
de certa maneira dizer que a filosofia acadêmica africana não será outra coisa
que:
1 -
Uma filosofia social crítica que pelo despertar da Escola de Frankfurt,
esforça-se por compreender e afirmar uma identidade étnica e histórica.
2 -
Uma filosofia orientada pela liberação da ciência da tirania cultura
capitalista.
3 -
Uma busca do sentido da consciência e do ser, bem como de sua própria ação
dentro de sua comunidade. Assim, filosofar para o negro afro-americano torna-se
uma lição de antropologia cultural, ou seja, buscar sua identidade não apenas
individual, mas também coletiva. Ela deve então daqui em diante ser orientada
em direção à história como forma de permitir ao negro de se descobrir através
de sua curva histórica e suas facetas: socioculturais e econômico-política.
Hermenêutica e história
A
filosofia, como acabamos de ver, nasceu da hermenêutica, portanto da
interpretação e da releitura dos signos: mitos e diversos símbolos.
Os
mitos históricos, que nasceram junto da Escola de Mons (na Bélgica),
surgiram do Movimento Etnográfico e Sociológico criado para o Congresso
Nacional de Mons (1905) que defende os seguintes objetivos:
1. Constituir
uma documentação científica completa sobre o estado social dos povos exóticos:
seus hábitos, usos, costumes, ritos e práticas.
2. Publicar
todas as investigações etnográficas (sociológicas) coletadas nas monografias
apropriadas.
Em
suma, escrever um Repertório geográfico (país por país) e etnográfico
(povo por povo) dos povos negros que foram colonizados em todo o mundo. O
repertório de qualquer monografia deve ser realizado baseando-se unicamente na
investigação oral realizada no território dos povos interessados em outros
métodos que sejam 18. De qualquer maneira, a investigação judicial - ela mesma
- não procede sob reserva de agrupamento dos dados assim obtidos. Isto está
presente na Escola etnológica mitológica e religiosa inspirada em
Heródoto (487 a.C – 420 a.C) e depois por Tácito (55 – 120), que hoje é
representado por Maurice Leenhardt (1878 – 1954) e seus sucessores. A
referência a Heródoto e a Tácito, na origem da etnologia (e até mesmo da
antropologia), se explica pelo interessante estudo descritivo dos povos que
considerava, então, como simples bárbaros. Vale ressaltar ainda que nas Histórias
- obra que Tácito estrutura mais sistematicamente seu método etnológico -
derivou-se em boa parte de uma anterior, Germanie. A Escola
etnológica mitológica e religiosa é destinada a conduzir os estudos
científicos sobre os mitos dos povos sem escrituras tendo em vista sua
revalorização.
Um
pastor da Igreja Protestante - em Nouméa (Nova Caledônia) - durante 25 anos,
Leenhardt se consagrou de uma maneira científica aprofundando-se em conhecer as
civilizações (mitos, usos, ritos, costumes e práticas) dos povos polinésios em
vista da evangelização deles. Placide Tempels, um missionário católico belgo,
chegou à Baluba, em Katanga (Congo Belgo), no entanto, não deu procedência aos
seus estudos. Esta é a mesma fonte da Filosofia banto. Nós vemos,
portanto, que o estudo científico dos nossos mitos não é sem importância. Os
estudos de Leenhardt, por sua vez, tiveram por consequência demonstrar que o
pensamento mítico constituía somente uma racionalidade à parte, diferente
daquela produzida no ocidente, sem por isso desembocar num irracionalismo.
É
fácil considerar a grande influência exercida pela Escola de Mons sobre
os esforços implantados pelos ocidentais no início do século XX pelo
conhecimento dos povos colonizados e suas culturas. O que conduz o mesmo
reconhecimento do seu legítimo direito para desenvolver sua própria filosofia
que se liga, curiosamente, àqueles povos mais antigos do oriente clássico,
notavelmente da Grécia. É, portanto, neste mesmo acordo da Escola de Mons e
do Movimento Etnográfico e Sociológico Internacional - presentes na obra
de Marcel Griaule (1856 – 1898) - que se realizaram os estudos acerca dos mitos
e das lendas dos povos africanos sob dominação francesa à luz da arqueologia
contemporânea:
1. Marcel Griaule, um etnólogo francês que se apaixonou
pelas pesquisas de campo, começou muitas viagens de estudos na África
ocidental, no Tchad, na República Centro-africana e na Etiópia - principalmente
no caso da missão Dakar-Djibouti (1931 – 1933). Deste modo, ele foi considerado
o descobridor de um novo método de investigação, criado sobre a observação de
um determinado povo. Ele é o autor do Método de Etnologia. (Paris,
1957).
2. Encarregado da Missão Sahara-Camarões (1936-1937) -
destinada a coletar uma vasta documentação indispensável na confecção das
monografias sobre os povos daquela região (Chade, Nigéria e Camarões),
atualmente chamada de Kotoko e que tinham por ancestrais o povoado de São,
Marcel Griaule efetuou uma sondagem arqueológica e trouxe suas pesquisas
(orais) sociológicas coletando ainda as primeiras informações sobre as
tradições do Sao.
Tal
empresa trata de duas disciplinas científicas diferentes: a etnografia e a
arqueologia. O que lhe permite explorar os ditos e os testemunhos das
pesquisas, que se deram sob a caneta dos documentos escritos com finalidade
científica. Em suma, Marcel Griaule acha apropriado dar mais crédito aos mitos
retirados da tradição oral africana, que contém os dados histórico-culturais
(resultado das escavações arqueológicas) e contém, também, um método do
trabalho científico clássico de tipo imperialista que, ainda hoje, possui valor
nas universidades africanas meio século depois das independências.
O
mito, para Marcel Griaule, ocupa um lugar privilegiado. Roger May, seu
discípulo, formula a tese da Anterioridade das civilizações negras segundo o
mesmo método que inspira igualmente C.A.DIOP. Jan VANSINA, por sua vez, fez da
tradição oral africana uma fonte segura da nossa história.
De
fato, J. Cuvelier afirma (muito tempo antes de VANSINA) que a tradição oral
africana esclarece e completa os dados dos nossos povos acerca da história
escrita. Até mesmo porque a história começa com a lenda: por exemplo, a gênese
da história de Roma. Com efeito, como bem disse a Bíblia: “No princípio era
Palavra (verbum)”. É neste mesmo sentido, da revalorização do negro
africano e da sua cultura, que Théophile OBENGA nos convida a utilizar todos os
tipos de métodos capazes de nos apropriarmos da história (aprofundada) da
África, uma história diferente daquela ideologia inventada a partir do zero
para o obscurantismo ocidental objetivando a dominação e a exploração
capitalista dos nossos povos indefesos. Este método ideal tão procurado por Th.
OBENGA é o método sociológico; ou seja, a hermenêutica de Paul RICOEUR e
a arqueologia do saber de Michel FOUCAULT.
Em
suma, é no século XIX sob a influência de HUME (1711-1776), HEGEL (1770-1831) e
GOBINEAU (1816-1882), instigadores do racismo e do colonialismo, que nasceu o espírito
positivista caracterizado por uma atitude negativa no lugar do pensamento
mítico. No entanto, atualmente, se edifica toda uma escola que considera o pensamento
mítico como parte integrante do pensamento filosófico. Tal escola
(representada hoje por L. COULOUBARITSIS e J.P. MAYELE) e uma atitude positiva
no lugar do mito e da mitologia foram hoje em dia, felizmente,
adaptadas para a Igreja Católica.
Por isso, a tradição oral africana não
pode, hoje, ser proscrita. Porque ela constitui um documento (sonoro) dentre
tantos outros. É nesta mesma ordem de ideias que Marcel GRIAUOLE, C. A. DIOP
(1923-1986), em sua Teoria Camítica, revaloriza a lenda bíblica, muitas
vezes desprezada por Th. OBENGA, como uma fonte autêntica da história africana.
Portanto,
na Grécia arcaica clássica, mûthos e logos chamados hiéros (palavra
sagrada dos antigos, transmitida de boca à orelha de uma geração a outra, antes
de ser fixada na escrita) não se opõem e nem se excluem mutuamente. Daí cada
escola de pensamento, cada santuário de mistério desempenhava - como suas
doutrinas – seus próprios mitos e seu patrimônio inalienável (no caso das Casas
de vida no Egito faraônico). Estes mitos estavam cuidadosamente conservados
por algumas grandes famílias sacerdotais (no caso dos Eumolpides ou Cérycides
em Eleusis, perto de Atenas). Razão pela qual, estes Mistérios, grandes
depósitos dos mitos antigos, dominaram a vida sociocultural da Grécia
antiga durante um milênio.
Em
suma, o mito era considerado como uma verdadeira linguagem (discurso
racional). Neste caso, ao versar acerca da existência do homem no mundo, tinha
por objetivo transmitir uma mensagem séria. O que nos convida a respeitar os
mitos de todos os povos do mundo; como foram, também, aqueles da Grécia antiga,
que regeram o nascimento da filosofia, fonte do conhecimento.
Portanto, até mesmo a significação e a verdade (científica) são derivadas dos
mitos: por exemplo, os mitos modernos, notavelmente todos os gêneros literários
(contos, poesia, teatro, religião, política, filosofia e ideologia). Portanto,
todos os feitos da cultura, toda a união coerente do conhecimento e as figuras
do Espírito de Hegel.
Conclusão
Tendo
em vista tudo o que acaba de ser dito, nós devemos, necessariamente, saber que
a filosofia africana nasce desde o dia em que os africanos como todos os homens
e todas as raças do mundo começaram a falar, perguntar sobre as questões acerca
da condição humana e a encontrar as respostas sob várias formas e modos de
expressão que diversificam os mitos, os ritos, as crenças (ideias) e as
práticas (instituições, usos, costumes e técnicas). No entanto, o mito sempre
existiu; ele continua e continuará sempre a existir. Portanto, ele não falhou
em conhecer nenhum dos problemas, sejam eles grandes ou pequenos. Não obstante,
o mito não perde sua força nem menos sua importância. Sua grande chance de
sobreviver reside, sobretudo, no fato de que o mito contém e veicula um determinado
conhecimento e uma concepção de mundo e de ser humano, isto é, uma cosmologia,
uma cosmogonia e uma antropologia.
É
de sua essência, portanto, ser uma religião, uma ideologia e uma crença. Impõe
ao homem uma fé cega acerca dos objetivos que ele lhe atribui. O que foi a base
das revoluções sociais, políticas e das guerras no caso dos conflitos de
opiniões. Por isso, cada sociedade desenvolve suas crenças: seus mitos, suas
religiões, suas ideologias e sua própria cultura. Ocorre, portanto, o mesmo em
toda África, com seus mitos e sua filosofia.
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