“A Vidente”
por Sir Edward John Poynter(1839-1919)
Não é por acaso que os 22 Arcanos Maiores do Tarô
acham-se numerados. Suas cartas, perfiladas tal qual os capítulos de uma
novela, retratam uma história verdadeira, a do ser humano em sua senda
iniciática, repleta de experiências transcendentes e desafios que se nos
apresentam como oportunidades para o autoconhecimento.
Desde a antigüidade, espalhados por distintas
culturas, incontáveis são os mitos que abordam a imagem do homem colocado à
prova, chamado a enfrentar perigos e resolver enigmas, a ultrapassar seus
próprios limites e escolher o rumo certo nas encruzilhadas do caminho.
Foi o médico psiquiatra suíço Carl G. Jung
(1875-1961), inicialmente seguidor de Freud, e que desenvolveu sua própria
teoria para a compreensão do psiquismo, a psicologia analítica, quem cunhou o
nome de “individuação” para esse processo ininterrupto de aprimoramento
pessoal, destinado a orientar a personalidade para algo maior e transcendente,
a cumprir psicologicamente o mesmo papel a que se destinavam os rituais de
iniciação dos povos antigos.
A questão fulcral da psicologia junguiana esbarra
num dos principais mistérios da existência, o da consciência em busca da fonte
primordial, inconsciente em sua essência, de onde se desprendeu originalmente.
Para Jung, o ego poderia ser comparado ao inconsciente na mesma proporção que
uma ilha estaria para o oceano à sua volta. Outra analogia seria a do planeta
Terra, pequenina morada da civilização humana (a consciência), comparado ao
universo desconhecido no qual estamos inseridos (o inconsciente).
Jung chamou de ego o núcleo da consciência, sendo a
individuação toda a busca empreendida por esta diminuta instância em direção ao
presumido centro da totalidade psíquica, a abranger obviamente o mundo
inconsciente. Ao ponto de fusão entre consciência e inconsciente, núcleo da
personalidade total e ao mesmo tempo passagem para uma dimensão transcendente e
coletiva, espécie de porta para o psiquismo universal, Jung denominou de
Selbst, em inglês self, que em português melhor ainda se traduz por “si mesmo”.
O si mesmo seria o órgão regulador de todo o
psiquismo, dotado de qualidades abissais que ultrapassam as dimensões do
simples ego. Paradoxalmente, o si mesmo, ponto central da psique, preenche toda
a sua circunferência, abarcando todos os fenômenos anímicos possíveis, a
incluir portanto, os do próprio ego. Nicolau de Cusa, monge filósofo do século
XV, já usara imagem semelhante ao referir-se à onisciência divina: “Deus é uma
esfera cujo centro está em toda parte e cuja circunferência não se delimita em
parte alguma”.
Como veremos, as alegorias dos 22 Arcanos Maiores,
ainda que veladas por intrincado hermetismo, de caráter particularmente
medieval no baralho de Marselha, representam nada mais que as situações comuns,
reservadas a todos aqueles que se dediquem a explorar seu mundo psicológico
mais profundo. Os que partem em busca de si mesmos em geral abrem suas vidas
para o amadurecimento pessoal, e sofrem experiências consideradas arquetípicas,
de cunho propriamente iniciático.
Aqui convém explicar, arquétipo é palavra de origem
grega, primeiramente usada por Platão, a significar “padrões arcaicos” (arqui =
antigo, arcaico + typos = padrão, matriz), e Jung se valeu do termo para
denominar certos padrões registrados no comportamento da humanidade, que vêm
sendo manifestos ao longo de sua história pelas mais diversas culturas. Embora
semelhantes entre si, expressam-se pela variedade dos mitos, religiões, lendas
ou folclore; e através de padrões também identificáveis em nosso mundo onírico,
quer no cerne de nossos sonhos, quer sob a forma das fantasias.
O arquétipo serve, portanto, como matriz
comportamental herdada por todo ser humano, como arcabouço capaz de selecionar
nas experiências da vida os elementos significativos que estejam em sintonia
com o processo inato da individuação. Os arquétipos, verdadeiras potências
imateriais, surgem como entidades impalpáveis e incognoscíveis, mas se
manifestam por meio de idéias e imagens, e vestem-se com as mais distintas
roupagens de acordo com as culturas que os representam.
Neste sentido, o Tarô os simboliza amplamente, e um
mergulho no mundo dos Arcanos permite-nos espelhar nossa alma. Por isso a
“leitura” das cartas, quando contemplativa e dinâmica, bem pode transportar-nos
para um mundo psicológico mais profundo. Percorramos juntos então, passo a
passo, esta estrada pictográfica da individuação.
Comecemos pela especial figura do
Louco que, exceção à regra, não se mostra numerada. O
Louco, por não ter um número que lhe determine a posição, acha-se livre para
ser notado em qualquer parte da jornada, podendo assumir diferentes valores em
nossa vida; daí talvez ter sido preservado sob a efígie do curinga nos baralhos
mais comuns. Preferencialmente o colocamos entre o tudo e o nada de Pascal,
isto é, simultaneamente ocupando o início e o fim da jornada. Feito Jano dos
romanos (a divindade de dois rostos que nunca se olham, voltados que estão para
lados opostos), é O Louco quem sabe do porvir tão bem quanto do passado, já que
se acha situado antes do primeiro Arcano, O Mago, ao mesmo que ocupa tempo
posição após o último, O Mundo. O Louco confere assim ao conjunto um caráter
rotativo e perene. Ao assumir duplo papel de fechar e (re)abrir o ciclo,
promete a continuidade da individuação. Representa ainda uma força inconsciente,
não personificada, por isso sem número, e a figura de bobo da corte expressa a
ambivalência de sua função, já que os tais bobos medievais, antes de idiotas,
eram sábios, quiçá os únicos capazes de falar verdades ao rei sem o risco de
perder a cabeça.
O Louco nos prende assim em sua
mágica, na paradoxal leitura de seu
sentido. Se pode ser visto como um bobo que nada sabe sobre si, caminhando a
esmo, por outro lado é ele o sábio que, tendo mergulhado no abismo de si mesmo,
ressurge renascido, disposto a retomar sua senda. E não há monotonia nem
repetição nesse processo; embora as experiências mais fortes sejam
arquetípicas, elas são inusitadas no modo como acontecem e nos propiciam
leituras sempre novas do livro da vida. Também os passos do Louco nunca são
lineares, pois a individuação pressupõe voltas e rodeios até que nos
aproximemos do si mesmo, ou até que tropecemos em algo e caiamos dentro dele.
A carta seguinte, O Mago, é a
consciência personificada. Resulta da transformação do impulso inconsciente do
Louco, agora direcionado conscientemente para o trabalho da individuação.
Decididamente, O Mago é o grande herói desta jornada (ele é cada um de nós),
pois a cada passo nos transformamos, conforme desfilamos pela “estrada real”
dos Arcanos. Ele está em pé, é portanto ativo; e, feito aprendiz de feiticeiro
opera na mesa à sua frente. Um de seus braços aponta para cima, o outro para
baixo, como se nos lembrasse da primeira máxima de Hermes Trimegistrus, a
ensinar que o nível humano da existência apenas reproduz o plano cósmico da
vida; que somos sim manifestação da divindade, mas nem por isso privilégio
algum da natureza. O homem precisa trabalhar com o que tem às suas mãos e
intuir acerca do universo à sua volta para que venha a compreender-se.
Consoante os preceitos básicos da magia, O Mago
posiciona-se como elo entre os planos humano e divino, surge como centro e
medida de todas as coisas. Quatro objetos, dentre outros, despertam-nos a
atenção. São eles a moeda e a baqueta que traz em suas mãos, além dos copos e
da adaga postos sobre a mesa. Aludem claramente aos quatro naipes do baralho,
ouros, paus, copas e espadas, que representam a inteireza do caminho ora
descortinado. Isto porque o 4, assim como o 12, são números que por excelência
expressam a totalidade, haja vista serem quatro as estações do ano e doze o
número de seus meses, também as constelações do zodíaco por onde o sol passeia
ao longo de um ciclo. Quatro e doze sempre nos dão a idéia de algo completo.
Jung escolheu as mandalas (nome sânscrito a
designar “círculo mágico”) como símbolos da integridade psíquica, visto que são
geralmente representadas por formas circulares (ou outras que insinuem a
presença de um centro); de mesmo modo podemos perceber em cada um dos 22
Arcanos uma mandala oculta. No Mago ela se mostra tanto pelos instrumentos dos
quatro naipes citados como pela mesa de três pés e quatro cantos, números estes
cujo produto nos leva ao 12. É como se O Mago já tivesse diante de si o tesouro
que deseja encontrar pelo caminho, o que, aliás, lhe permite seguir viagem
mesmo que não saia do lugar onde se encontra, até porque a individuação é
processo essencialmente espontâneo de nosso psiquismo.
Pois bem, tendo à frente uma senda que se desdobra
em quatro caminhos, O Mago, resoluto, entende que precisa percorrer
simultaneamente todos eles, sob pena de nunca alcançar a transcendência, razão
pela qual se divide ele próprio no quatérnio que lhe sucede, formado pelos
próximos quatro Arcanos, A Papisa, A Imperatriz, O Imperador e O Papa.
Estes representam uma diferenciação a mais da
“ciência dos opostos”, já insinuada pelos braços do Mago que ligavam o em cima
ao embaixo. Observemos que as quatro cartas se casam muito bem, são duas
figuras femininas e duas masculinas; há da mesma forma uma dupla de imperadores
e outra de sacerdotes; e é no equilíbrio de cores de suas vestes que o baralho
de Marselha oculta outros mistérios. O detalhe mostra que as mulheres vestem
mantos azuis sobre os vermelhos, ao passo que os homens trazem a composição contrária,
com vestes vermelhas por cima das azuis. Aqui as cores também têm significado;
o vermelho associa-se ao lado consciente, ao aspecto racional do psiquismo. O
azul representa o inconsciente, a irracionalidade, os processos intuitivos de
percepção.
Nas personagens femininas (A Papisa e
A Imperatriz), a intuição prevalece sobre a razão; já na dupla masculina (O Imperador e O Papa), são
os processos racionais que estão por cima. A psicologia analítica identifica,
além disso, tanto o aspecto feminino no interior do psiquismo masculino, ao
qual Jung batizou de anima (no caso, definido pela Papisa), bem como a relação
contrária, a essência masculina no psiquismo feminino, denominada animus, no
Tarô, melhor representado pelo Papa.
A Papisa é antes de tudo o complemento do Mago.
Guarda tudo aquilo que lhe falta, sendo portanto o verdadeiro moto de sua
busca. Se o mago é movimento, ela é repouso; se ele é ativo, ela é a
receptividade em pessoa. Ele é ação; ela, reflexão. Em suma, todo o desenrolar
do baralho a partir do Mago é a Papisa, pois tudo aquilo que estiver em seu
caminho servir-lhe-á como complemento. A relação Mago-Papisa no Tarô é
correlata do binômio Yang-Yin dos chineses; aliás não poderia faltar no
esoterismo do Ocidente o arquétipo da “ciência dos opostos”.
Havendo o Mago experimentado das diferentes
maneiras de perceber o mundo, e consciente da natureza interminável de seu
caminho, pela primeira vez tem nítida noção das dificuldades que ainda
enfrentará. Sua determinação estará sempre à prova.
Na situação arquetípica sucedânea, o
herói depara-se com a encruzilhada do Enamorado, quando se encontra dividido entre duas mulheres
que cobram dele uma escolha. A que está à sua direita, para a qual ele volta
sua face, toca-lhe o ombro, e veste roupas predominantemente vermelhas.
Representa a via racional. A outra moça, aparentemente mais jovem, vestindo
principalmente o azul, toca-lhe o coração, como se quisesse despertar suas
emoções, seu lado intuitivo. No alto, acima da cabeça do herói, em instância que
transcende sua consciência, um anjo direciona sua seta para a via intuitiva,
como se quisesse orientá-lo em sua escolha. Enfim, aí está representado o drama
do livre arbítrio, capaz de atormentar a consciência com o conflito da eterna
dúvida. O personagem acha-se cruelmente dividido entre o racional e o
intuitivo, observe-se suas roupas listradas de azul e vermelho, além do
amarelo, seu aspecto pessoal. Mas pouco importa por onde seguirá nosso herói,
até porque razão e intuição encontram-se mescladas em todas as experiências da
vida, apenas predominando ora esta, ora aquela. O principal é que o herói dê
seu próximo passo, para que não reste estagnado em seu caminho. Siga por onde
seguir, desembocará na tríade seguinte, O Carro, A Justiça, e O Eremita.
Decidindo prosseguir, O Mago experimenta a
extroversão das conquistas rápidas, simbolizado pelo Arcano VII, O Carro. O
primeiro terço das 21 cartas numeradas se completa. O Mago está emancipado.
Destemido, deixa de ser mero neófito para amadurecer na senda, e mediado pelo
senso da Justiça, virtude que será assimilada no Arcano subseqüente, chega à
condição de maior introversão e capacidade introspectiva, quando descobre que
há sabedoria em seu próprio poço, a ser buscada por um processo sereno e
cuidadoso, como o faz o velho Eremita.
A carta X, A Roda da Fortuna, traz as
vicissitudes da vida, com seus rodopios e reveses. O herói deve afinal saber tirar proveito do
movimento do cosmos. “Há nas lides do homem uma maré que, se aproveitada
enquanto cheia, o levará à fortuna”, diria Shakespeare.
No Arcano XI, A Força, alcançamos a metade do
caminho, mas prosseguem as vicissitudes, até que O Mago perceba que,
invariavelmente, ações sutis repercutem melhor do que as atitudes brutas, como
nos mostra a figura intuitiva da vestal, que sob um manto azul, domina com suas
delicadas mãos toda a brutalidade duma besta-fera, contendo-a pela mandíbula. A
fera ocupa a metade inferior da carta, e não fosse sua cor distinta, estaria
misturada ao hábito da personagem. Representa os processos instintivos,
aspectos brutos que esperam ser dilapidados e transformados em algo mais sutil.
Os dois Arcanos seguintes nos trazem
a experiência da morte. O
Enforcado é ela própria, em seu sentido terminal. A lâmina mostra o herói
dependurado, de cabeça para baixo, vendo a vida por seu outro ângulo, ou como
se estivesse num ataúde, cercado por terra e troncos, os dois verticais com
seus doze ramos podados, a representar o esgotamento da mandala, a morte
aparente do dinamismo psíquico. Mas o herói, se sobrevive à força perturbadora
deste arquétipo que dele exige sacrifícios, comunga pela primeira vez com o
mundo transcendente, representado pelo Arcano XIII. Por ser o único sem nome,
nem deveria ser chamado Morte. O esqueleto que ceifa sugere transformações
substanciais, a troca do velho pelo novo. É um momento iniciático de fértil
aprendizagem, representada pelos arbustos em quantidade que brotam neste novo
campo da existência. Afinal, o 13 expressa o rompimento da mandala, a
transposição da ordem; a soma de 1+3, entretanto, leva-nos de volta ao 4, à
mandala de uma nova dimensão.
O Arcano XIV, A Temperança, é a
terceira das quatro virtudes medievais a estar representada no Tarô. As
outras três, já vistas, são a justiça (Arcano VIII), a prudência (Arcano IX), e
a força (Arcano XI). Este tema é chave dos alquimistas, e o segundo terço se
completa com o Mago promovido à esta condição. A Temperança se (re)vela no
equilíbrio parcimonioso de seu movimento, e a figura feminina aqui traz azul e
vermelho em iguais proporções.
Uma vez feito alquimista, pode agora nosso herói
experimentar as provações mais duras, reservadas aos que penetram no Diabo,
Arcano XV, ou na Casa de Deus, Arcano XVI.
Tais estações referem-se ao mundo sombrio, aos
aspectos mais críticos de nossa personalidade, produtos que são de partes pouco
exploradas ou desconhecidas de nós mesmos. O demônio nada mais faz do que
escravizar a nossa consciência, prendendo-a em seu altar, exigindo de nós o
auto sacrifício da extinção de nossas buscas. É por meio dele (o intelecto) que
nos sentimos separados da fonte primordial. Por conta dessa mesma consciência é
que podemos refletir acerca da única certeza que temos, a de nossa morte, de
onde nasce uma natural angústia capaz de nos prender em temores pessoais. O
Mago descobre que a única forma de evitar o demônio é enfrentá-lo! Se por um
lado não devemos negar os méritos de nosso intelecto, por outro, de alguma
forma, precisamos transcendê-lo.
A Casa de Deus é o arquétipo da
destruição, das mudanças avassaladoras em nossas vidas. Por vezes, somente algo assim tem força capaz de
nos arrastar para longe do Diabo que antes nos prendia. A Torre fulminada
mostra o ego abalado pelo grito de um inconsciente incontido, simbolizado pela
labareda de fogo que explode a cúpula da Torre, cuja forma lembra uma coroa,
real adorno de uma consciência que se esquece muitas vezes de perceber a
realidade por detrás da realeza.
O Arcano XVII, A Estrela, nos entrega
à esperança. Revela à consciência libertada que a individuação
continua a ser possível. Ao menos é o que representam as luzes que brilham no
firmamento. A jovem desnuda não é outra senão o nosso herói, despido dos
valores mundanos, a verter no rio do inconsciente coletivo suas próprias águas
(azuis) de seu mundo intuitivo, de seu inconsciente pessoal. As estrelas no céu
simbolizam as almas já individuadas. Pela primeira vez os 4 elementos se
agrupam numa mesma lâmina: água, fogo, terra e ar estão aí representados, este último
reafirmado pela presença do pássaro, símbolo da alma inclusive. De novo
descobrimos a mandala disfarçada.
A Lua, Arcano XVIII, representa as
trevas, os porões da alma; na psicologia junguiana será chamada de sombra. A
sombra representa o lado oculto do psiquismo, fonte de inúmeros perigos e
potenciais que jazem adormecidos. As trevas psicológicas apresentam sérios
desafios à nossa frágil consciência, que precisará pedir ajuda à intuição para
vencer a provação noturna. A Lua é receptiva, absorve a energia (as gotas) do
sistema, e demarca a aproximação entre consciência e inconsciente, aqui
representados pela duplicidade de símbolos, dois lobos a serem vencidos e dois
templos a serem alcançados. Jung admitia que quando os símbolos se duplicavam
em nossos sonhos, provavelmente estaria havendo a assimilação de valores
inconscientes por uma consciência que se aprimora.
Vencida a noite negra, o Sol do Arcano XIX é quem
traduz o momento áureo da jornada, quando a consciência comunga do si mesmo,
inspirado instante em que ela se ilumina. A energia agora se espalha pelo
sistema, e as duas crianças (consciência e inconsciente) que se tocam para cá
do muro que antes as separava, descobrem-se idênticas, visto que nenhuma
diferença deveria mesmo haver entre instâncias de um mesmo psiquismo. No
contato mútuo das crianças, a ponte para o si mesmo se apresenta, e a
iluminação preenche esta mandala.
Mas não por isso o caminho chega ao fim. Restam
ainda a análise e a síntese alquímica do processo, previstos pelos últimos dois
Arcanos, O Julgamento, XX, e O Mundo, XXI. Juntos simbolizam o ajuste da
mandala pessoal, momento em que o herói procura reorganizar seu mundo
psicológico, transformado que está por tudo aquilo que sofreu. No Mundo, a
síntese (a mandala) se define claramente. O herói está liberto no núcleo da
carta, em sintonia com o universo à sua volta. As figuras nos quatro cantos da
carta são alusão aos quatro naipes em que se desdobra o baralho. Mas o Mundo é
apenas o fechar de um ciclo. Serve para impulsionar o herói, nós mesmos, para
frente. Afinal, somos sábios apenas em relação àquilo que vivemos, e
completamente Loucos frente ao que nos é desconhecido.
*Paulo
Urban é médico psiquiatra, psicoterapeuta do encantamento e acupunturista
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