Três épocas principais se distinguem nitidamente na obra de Saint-Yves, em correspondência às vicissitudes de sua vida: As obras da juventude ( As horas, As Chaves do Oriente, O Testamento Lírico, O Mistério do Progresso).
As obras capitais : as três Missões , a França Verdade, Joana D'Arc Vitoriosa, com os opúsculos acessórios pela propaganda da Sinarquia ( Promessas do Sindicato da Imprensa Econômica; Ordem Econômica no Eleitorado e no Estado; Centenário de 1789; Lembranças de 20 de setembro de 1900; Maternidade Real; O Poema da Rainha; O Imperador Alexandre).
E a obra final, esotérica, inacabada : O Arqueômetro,
da qual não há nenhum fragmento. (Na época ainda não tinha sido impresso)
Pode-se citar de memória os documentos mais secretos que ele teria acumulado e provavelmente classificado em correspondência à suas publicações, mas que ele colocou em lugar seguro, como afirmou várias vezes (Missão dos Judeus, p. 941; França Verdade; Joana D'Arc, p. 15), para serem entregues somente no dia em que a Sinarquia fosse realizada.
As primeiras obras mostram melhor o temperamento próprio e as preferências do autor; as segundas a realização dos sonhos de toda sua vida
e os últimos tiram os véus sobre a origem e a essência .
As obras da juventude não devem ocupar muito o nosso tempo, são poesias escapulidas, por assim dizer ao entusiasmo de estudante na medida em que percebia os horizontes grandiosos que se abririam com seu trabalho obstinado, no caminho de seu mestre intelectual, Fabre d'Olivet. Como Saint-Yves é poeta antes de tudo; ou melhor dizendo, ele é, como já vimos, o bardo celta retornando ao século XIX para revelar os mistérios mais profundos e sublimes dos antigos santuários . Ele não consegue reencontrar o traço sem escutar de novo as canções heróicas dos harpistas iniciados nos mistérios druídicos, sem ser tentado a afrontar a aridez prosaica de nossa linguagem
para torná-lo a dizer com palavras rítmicas.
As Horas, As Chaves do Oriente, O Testamento Lírico, são recordações de peças desligadas à maneira de velhos poemas sobre os mistérios das ciências sagradas.
Os Mistérios do Progresso, obra mais completa, publicada somente em 1878, mas concluída bem antes, vai dar nitidamente a característica especial dessas produções. É uma tragédia dentro do gênero
da Grécia antiga, dedicada pelo autor
" a Orfeu do qual o simbolismo lhe inspirou esta obra " e precedido de um prefácio curioso, cheio de conteúdos científicos , onde lastima não poder extrair algo além de uma passagem puramente bibliográfica : " Eu era jovem então, disse nosso poeta cientista , e o impossível me tentava; eu quis oferecer uma tragédia, dar uma festa, não aos meus contemporâneos mais preocupados com outra coisa, mas aos meio-deuses desta Grécia tão intelectualmente religiosa e praticamente sábia, onde os mistérios perdidos deslumbravam minhas vigílias e encantavam meus sonhos ... Se eu acreditasse ainda que escrever fosse útil, pegaria hoje por objeto o Messias. Então, a idéia me veio para abrir e fechar o ciclo de Prometeu, desde as origens selvagens da humanidade sobre a Terra, até a reintegração dentro da perfeição divina, pelo total desenvolvimento da perfectibilidade."
" Eis a primeira parte desta presunçosa "tentativa ". O objeto está exposto no mesmo prefácio, em uma página que é necessário citar também, porque ela marca ao mesmo tempo o progresso do pensamento de Saint-Yves à medida que seu trabalho enfurecido continuava durante longos anos.
Prometeu, herói deste drama, concebido com amor nos anos anteriores, é também a imagem deste jovem homem ardente e magnânimo que a injustiça e o sofrimento despertam uma independência ingovernável, inclusive revoltada contra qualquer autoridade, tão grande quanto ela seja.
O autor do prefácio, de espírito mais amadurecido agora, não se amedronta em culpar-se, ele mesmo, na figura de seu herói, em nome de uma sabedoria superior que algumas palavras são suficientes para restabelecer : percebeis que termos elevados e simples :
" Júpiter, ou melhor dizendo, o Wishnou órfico, mantém a Unidade do Mundo, e pede a Prometeu que se comprometa a revelar muito cedo à espécie humana como os benefícios de sua inexperiência social vai mudar para pior; ele censura Titã ter colocado na sua conspiração sete de seus filhos, e enfim ter subido ao céu para aí arrancar o Fogo Sagrado, o Ardor da Essência Divina e assim animar a Humanidade."
" O que exalta Prometeu na sua obra precipitada, é seu amor infeliz por Minerva, a filha da inteligência divina, a Sabedoria, a Perfeição , o Pensamento completo de Júpiter."Finalmente Minerva salva seu amante do furor de seu pai, pronto a fulminar, encobrindo o culpado de sua proteção com esta provocação cheia de orgulho : " Atreva-se a bater em sua filha ! " e o coro começa um grande "hino à Ciência, filha de Prometeu ".
Aqui está o objeto, eis a crítica :
" Definitivamente o que queria Prometeu, era substituir sua ação por aquela dos Mestres, e tornar-se ele mesmo Júpiter, se pudesse ."
"Limitei-me a indicar, tal como me pareceu, esse desempenho de autoridade, menos simpático talvez, mas não menos importante que aquele do progresso violento, onde a revolta não é interessante, depois de tudo, pois ela não é totalmente desinteressada de todo motivo nem de toda paixão pessoal. "
" Nessa luta, outrossim, o Eterno deve ter razão sobre o Temporal, este aqui foi imortal como Titã ? O Céu deve dominar a Terra; Deus o Homem, a Perfeição a Perfectibilidade; o todo, a parte. O estado selvagem seria menos funesto à Ordem divina, donde o Homem é uma potência separada, onde o Progresso devesse permanecer indefinido, sem Principio religioso que determine o inicio; sem método que equilibre sua marcha;
sem um comando superior que coordene os resultados adquiridos ".
Conforme já sentimos, neste prefacio está a marca do gênio que deve escrever as grandes obras do segundo período ! Apressemo-nos a nos aproximar destes primeiros vôos da Águia . Entretanto, estas são produções que o próprio autor renegou depois; alguns anos antes deste prefácio, elas eram retomadas por Saint-Yves em todos os lugares onde
ele as consegue reencontrar e colocadas no pilão,
de maneira que hoje são praticamente raridades.
É necessário falar ainda algumas palavras sobre sua tentativa industrial. Ele a começou pela brochura de propaganda : Da Utilidade das Algas Marinhas. Apesar da sua especialidade científica e prática, ela oferece também algumas passagens notáveis , pois não havia objetivo que seu grande espírito não soubesse ampliar. É sobretudo uma página que nos interessa particularmente porque ela revela o pensamento que vai dominar toda a obra de Saint-Yves, o Arquômetro incluído : ela está aqui na sua conclusão :
Nosso objetivo resumido no título desta brochura ( Utilidade das Algas)
está atingido . A utilidade : eis sobre a nossa pobre terra a última palavra de sabedoria. Poeta de nossa época e muito tempo atormentado pela grande febre de idéias, não quisemos que o futuro pudesse nos lançar em rosto ter incentivado a guerra civil aos espíritos por um novo alimento, por mais débil que fosse e se por vezes suspendemos com uma mão um livro sobre este século sombrio, foi somente uma tentação passageira e com a outra mão o livro foi jogado no esquecimento. Estas poucas páginas são as únicas que liberaremos à publicidade..."
Com esta frase terminada com uma alusão à destruição de suas obras da juventude, duas intenções importantes chamam a atenção : em primeiro lugar a mais sincera tolerância por todas as escolas, todas as religiões, todas as nações: Construtor de uma síntese universal, Saint-Yves temia a mínima fomentação de discórdia . Em segundo lugar, é pela sua aplicação prática, útil , que ele pretendia fazer aceitar os princípios mais elevados. Sempre dominado por seu planeta mestre, o Sol, ele quer que assim seja a vida, radiante e benfazeja que revela a todos a fusão do espírito na matéria terrestre. Muito censurou-se a Saint-Yves por não formar discípulos de sua alta doutrina ou ao menos de não expô-la explicitamente, de não revelá-la inteiramente; aos íntimos que o estimulavam em todos instantes, ele respondia familiarmente : " Nós não estamos mais com aquela forte e poderosa alimentação dos povos viris; a velha Europa está atualmente muito doente; são os sólidos bifes e o bom vinho que lhes
é necessário para mantê-los em pé ".
Foi por isso que ele não publicaria jamais senão aplicações sociais da Ciência Sagrada que ele tinha tão longamente assimilado, e aplicações das mais imediatas, as mais banais mesmo, quando necessário, como aquela deste dicionário transcendental que é o Arqueômetro, para a
construção de móveis e de utensílios de casa.
Fala-se mais alto sobre a sorte infeliz desta tentativa das Algas; Saint-Yves não podia ser mais chocolateiro que Napoleão comerciante ou Garibaldi fabricante de velas, era para as mais grandiosas
obras que a fortuna lhe tinha sido outorgada.
Chegamos à obra capital, aquela das Missões. Elas estavam prontas já há muito tempo e no entanto parecidas a uma peça de teatro que só se tira a prova no ardor da ribalta, tinham ainda necessidade de publicidade para se aperfeiçoar. Também vamos ver de uma a outra as variações que não correspondem somente a diferença do assunto, mas também ao aperfeiçoamento de sua exposição, de forma que elas se completam tanto pela forma como pela totalidade e harmonia da exposição.
A primeira, a Missão dos Soberanos, por um deles, indica suficientemente sua penetração ; eram os governantes que o autor queria atingir; e ele consegue, por seu anonimato tinha certamente condições de sucesso e pela profundidade ou originalidade de suas visões políticas que respondiam a afirmação ousada do título.
Era, de acordo com o próprio prefácio , um exposto amadurecido durante mais de vinte anos, de uma nova Constituição Européia, fundada sobre os ensinamentos da história, sobre o estudo do governo geral da Europa, desde Jesus Cristo até nossos dias. Qual é esta lição de tempos passados que nenhum autor nos deu ainda, qual a diferença daquelas formuladas por Maquiavel, Mostesquieu ou por algum dos soberanos passados ou modernos ?
Ela inicia por uma critica. É sobre a definição de diversas constituições que se extraviam, não há senão três :
A República onde o principio é a vontade popular;
A Monarquia, cujo principio está na vontade de seu fundador ( que ela seja de outra parte pura ou representativa, política ou emporocrática);
E a Teocracia que coloca seu principio na vontade divina,
expressa pela religião .
Esta última é a única que dá longevidade aos povos, porque a Sabedoria e a Ciência só fazem verdadeira e unicamente parte do governo das sociedades na Teocracia. Funcionou na antiguidade com pleno sucesso, e é necessária atualmente na Europa moderna em face da Ásia e da África que constituem para ela uma ameaça crescente.
Somente é preciso não confundir com os governos de padres, aos quais atribui-se falsamente nos dias de hoje o nome de Teocracia. Na era cristã notadamente, a verdadeira Teocracia, abortada desde o inicio,
não pode jamais se realizar.
Esta é a tese colocada no primeiro capítulo e desenvolvida historicamente nos dez seguintes : eles mostram como a luta secular entre o poder temporal e o poder espiritual, terminando pelo triunfo do primeiro, proporcionou a supremacia da vontade humana sobre a vontade divina, e produziu o estado de anarquia social no qual se debate atualmente a Europa.A falta é atribuída à Igreja porque fazendo política desde seus primórdios, ela substituiu sua função universal, de autoridade moral, a ambição de uma dominação monárquica que a livra de todos os
defeitos desta forma constitucional.
Originalmente, de fato, atravessando sucessivamente as formas de uma sociedade secreta, de uma república democrática e de uma aristocracia republicana, acabou por se organizar em um poder ditatorial calcado sobre o modelo do Império Romano e totalmente diferente da verdadeira Teocracia. O Papado que se impôs à Igreja nada tem de um Soberano Pontificado real; ele é um imperialato ditatorial que, armado da ortodoxia e da excomunhão , pensa dividir os povospara reinar sobre todos.
Ela cai rapidamente dentro do dualismo, conseqüência fatal do reino da força, e mesmo dentro de uma dupla dualidade : o Império do Oriente, imitado durante alguns anos por Carlos Magno, e o Império do Ocidente ; no primeiro o imperialato político se faz mestre da Igreja; no segundo, o imperialato religioso representado pelo Papa, se faz mestre da Política.
A primeira conseqüência desta "usurpação revolucionária " do Papado é o feudalismo : cada chefe se apodera para seu proveito exclusivo dos poderes que lhe eram confiados pelo bem público como o Papa se apossa do poder político. Ela dissolveu a Igreja tão bem que a Sociedade leiga fez com que deslizasse em todas as desordens da pior corrupção:
lascívia, venal e sanguinária.
Quando o célebre monge Hildebrando, tornou-se Gregório VII, levou seu ferro implacável nas chagas vergonhosas, o Papado teria se acreditado no apogeu de sua força, mestre do poder supremo sobre todos os povos. Vã aparência, era o triunfo temporário e fictício de um imperialato sobre o outro; aquele da Igreja era sensibilizado pelo feudalismo aristocrático e a Monarquia política .
As Cruzadas imaginadas para encobrir e secundar os planos ambiciosos do Papado remataram numa desordem insensata, sem resultado sério. Entretanto a realeza leiga cresceu sobretudo no Ocidente, formando-se em nações divididas e quando a invasão mongol vem fundir sobre a Europa, o Papa os convida em vão a unirem-se contra o inimigo comum, seu apelo desesperado não encontra nenhum eco.
Não foi melhor escutado quando aconteceu a Guerra dos Cem Anos; a decadência papal já havia começado . São as monarquias políticas que triunfarão do feudalismo, mas de modo leigo, dividido.
A unidade européia que se faria sobre o pensamento cristão é falha por causa do caráter político que está revestido o Papado, o qual deveria ser e permanecer um Pontificado Supremo, ao lado e acima do poder temporal . Ela tem, por sorte, gerado no Poder Soberano uma dualidade,
ela encontra-se enferma e vencida.
Para apoderar-se do poder que lhe escapa, dominar a potencia crescente da realeza, o Papa vai lhes conservar constantemente divididas, lançar umas contra as outras. A resposta das nações é imediata. Nova e fundamental cisão da Igreja latina pela Reforma do Século XVI; estabelecimento definitivo da República européia em personalidades distintas; a Reforma acentua este movimento traduzindo-o como uma revolução étnica de raças antagonistas.
O redobramento do despotismo papal apoiado sobre as novas ordens religiosas e sobre o apoio da Espanha fará apressar sua derrota, acentuar seu desprestigio e multiplicar os cismas e as dissidências : Igrejas latinas de Portugal, de Espanha, da França, da Islândia, da Polônia ; Igrejas gregas, Igrejas protestantes; guerras de religiões ;
em toda parte a anarquia e as lutas sangrentas.
Eis então o momento em que o triunfo do espírito leigo inicia o segundo período histórico do Cristianismo na Europa. A Vontade humana, liberta, isolada da Vontade universal, vai fazer esta unidade
que vem abortar de imediatoa falência papal ? Não. Eis porque :
"Em todo estado social, de primeiro grau, como Israel, como a Cristandade, como o Islã, a Religião dá o princípio e o fim da vida social, do espírito público e de usos comuns. A Política geral é o meio governamental deste espírito e destes usos e costumes; a Economia pública, conseqüência da Política geral, gera as coisas como esta gera os homens."
"Se os cultos exercem mal a Religião, se os governos exercem mal a Política e a Economia, não é nem à Religião, nem à Política, nem à Economia que é necessário atacar, mas a maneira defeituosa pela qual elas são cumpridas e exercidas, e é preciso fazê-lo cientificamente, sem sectarismo, sem fanatismo, sem paixões e sem fraquezas."
"É preciso amar a Humanidade e fazer apelo as suas reservas de perfectibilidade : - O Espírito público, os costumes tem muito do poder intelectual e moral para se reconhecer na Verdade, emprestar-lhe força de vida social e operar fisiologicamente o restabelecimento orgânico
do Estado social inteiramente."
"Infelizmente tal não é o caminho que o protesto leigo seguiu na França; imbuído do arcaísmo greco-romano sectarizou sua obra e retirou-lhe toda força social de vida, desconhecendo o Cristianismo e
conseqüentemente o povo cristão ."
Henrique IV reviu inutilmente com a rainha Elisabeth realizar pela última guerra os Estados verdadeiramente unidos da Europa; Richelieu e Mazarin retomarão seu plano de modo individual e por expedientes políticos, realizarão, pelo tratado de Westphalie , esta anarquia internacional que teve, como por zombaria, adornada pelo bom nome do equilíbrio europeu. Depois de mais de dois séculos , a paz armada que institui, nos aniquila sempre mais pesadamente, reino da força anárquica e estéril
substituída ao ideal cristão da Fraternidade universal.
Este ideal, falhou duas vezes pelo Papado e pela Realeza, a Revolução Francesa, ao reboque dos filósofos enciclopedistas,
pretendeu por sua vez realizá-lo de modo leigo.
"Algumas fórmulas teocráticas da Maçonaria caíram na anarquia dos espíritos, mas separadas de seus princípios, das verdades que elas poderiam ter sido, tornaram-se dogmas da Ateologia militante.
Estas três palavras : Liberdade, igualdade, fraternidade para os iniciados de todos os tempos não representou jamais os princípios. Um principio é um radical, uma raiz, o ponto de partida primeiro de uma séria determinada de conseqüências especificas, não pertencendo senão a ele ... Salta aos olhos que estas três palavras não exprimam nada disso, mas da maneira
de ser de princípios que não indicam ."
A liberdade reconduzida a seu primeiro significado, o livre, indica "o que é ilimitado, infinito, e não há senão a Força primeira, o Espírito universal que possua este caráter , que seja o Principio . "
A Igualdade , reconduzida a seu primeiro significado, o igual por excelência "não existe como idéia radical fora das matemáticas abstratas, e a Unidade ela é o principio ... A Igualdade dos homens tem por principio o Reino Hominal, A Espécie Humana, o poder essencial, cosmogônico oculto
de onde saem e onde entram todos os homens, sua igualdade
só existe neste essência mesma onde o caráter é a identidade. "
A fraternidade tem seu primeiro significado no irmão ; o irmão por excelência; o irmão universal não existe como idéia radical fora da Paternidade que o constitui irmão de irmão. O pai é então o principio do irmão . Este pai cosmogônico, se o vemos como pai especifico do Homem, é esta autoridade oculta a qual nós temos dado o nome de Espécie Humana, de Reino Hominal e se o consideramos na sua universalidade, como a primeira força constituída no Universo, é este ponto culminante, este principio e este fim da vida e da ciência que nós chamamos Deus.
"Os três princípios, da Liberdade, da Igualdade e da Fraternidade, são em todas as letras na cosmogonia egípcia de Moisés : Rouah Elohim, o Espírito motor; Adam, o Homem universal; Ihoha, Deus e Natureza,
força constitutiva do Universo.
Estes três princípios em sentido inverso estão também na Trindade Cristã : Pai, Filho, Espírito Santo; o pai encerrando em si a Mãe ou a Natureza."
" É assim que, nascida de idéias teocráticas sectarizadas pelo Ateísmo, a Revolução Francesa, com seus falsos princípios de 1789, fez, exatamente, sem saber, aquilo que tinha feito o papado: política sobre a Religião, enquanto que é o contrário que deve ser feito."
O inglês Pitt se encarregará de tirar proveito para seu país da vaidade deste movimento e a anarquia baixar o nível até nos espíritos . Isso não era a unidade artificial realizada um instante pela ambição pessoal de Bonaparte que podia remediar : "A Europa, ao contrário, tinha daqui em diante, dois ditadores em luta : um na cabeça do império radical dos mares, o outro sonhando sobre a terra uma impossibilidade, o Império de Carlos Magno no século XIX. Isso foi o homem de rapina que ..., para fazer face a seu rival inglês, coligou contra ele a Europa marítima ; este foi o déspota da terra que se declarou o campeão do mar."
Entretanto, Napoleão vencedor poderia entender as promessas das nações e chegar a um bom código genético capar de subordinar a soberania da Força pela paz social entre os governos como entre as nações. "Mas, feliz, em seu vulgar desejo e ambição de agrupar ao redor de si adesões imperiais e reais, ele não soube tirar partido do excelente terreno que tinha encontrado preparado pela velha diplomacia francesa." Ele sucumbiu !
A Santa Aliança que o precipitava da rocha Tarpeiana não era, por seu turno, senão uma falsa teocracia que devia abortar no Congresso de Viena, como o sonho de Henrique IV tinha abortado em Westphalie.A anarquia internacional retomava mais forte sobre a questão do Oriente, para continuar no Congresso de 1856 e a hegemonia prussiana
confirmada pelo Tratado de 1870.
Toda esta política se resume ainda pela inevitável diarquia (???) de tudo aquilo que não é regulamentado pela Unidade da Vontade Divina : Império marítimo anglo-saxão contra o Império terrestre da Rússia que o futuro transportará sem dúvida no Pacífico, colocando os Estados Unidos, filho da Velha Europa, frente ao Antigo Oriente Asiático, mas que não pode continuar, de qualquer modo , senão aos horrores de uma guerra universal e a um transtorno geral donde o passado histórico não deu ainda nenhum exemplo. (Não podemos esquecer que estas previsões foram
escritas há quase trinta anos).
A falta deve-se unicamente ao abandono de princípios da verdadeira teocracia; eles são os únicos capazes de fornecer
uma organização normal da sociedade.
Não se trata atualmente nem de destruir, nem de conservar acima dos Estados ou de seus chefes uma ordem social qualquer, pois isso não existe, é necessário cria-la. É necessário formar acima de nossas nações, de nossos governantes, qual seja sua forma, um governo geral, puramente cientifico, originado de nossas nações mesmas, consagrando tudo
aquilo que constitui sua vida interior.
Eis, nos seus maiores tratados, aquilo que será este governo geral que Saint-Yves nomeia Sinarquia :
1.- Um Conselho Europeu de Câmaras Nacionais (Londres, Paris, Bruxelas, etc... todas as grandes cidades da vida civil e da civilização ), nomeada por uma assembléia de economistas, financeiros, industriais, agricultores ou por suas câmaras corporativas, com o intuito de tratar de todos os interesses econômicos internacionais : seria presidida pela eleição dos Chefes de Estado, com o titulo de Imperador arbitral. Seus julgamentos confirmados por dois outros conselhos, seria colocado sob a sanção das armadas nacionais de terra ou do mar confederadas, em caso de infração de uma nação e após processo pelos três Conselhos reunidos.
2.- Conselho Europeu de Estados Nacionais, composto de conselheiros eleitos em cada capital pelos corpos da magistratura nacional, para pronunciar-se sobre todas as questões internacionais de direito público : justiça internacional, revisão de tratados, reorganização da diplomacia, tudo devendo formar um código de direito público, uma Constituição européia que, registrada pelo Conselho dos Comuns, seria colocada sobre a guarda e a consagração solene do Conselho das Igrejas e colocada sob a sanção da União das armadas nacionais de terra e mar.
3.- Conselho Internacional de Igrejas Nacionais, quer dizer da totalidade do corpo docente de cada nação, sem distinção de corpo, de ciências nem de arte, desde as Universidades leigas até as instituições de todos os cultos reconhecidos pela lei civil; o bispo nacional que a consagraria em sua pátria seria o Primaz católico ortodoxo ( tomando-se esta palavra em toda sua acepção de universalidade, de tolerância intelectual e de caridade moral). Esta Conselho teria por objeto : a consagração dos três Conselhos e cidades livres; o regulamento de questões internacionais unindo-se aos cultos e as universidades; a criação de colégios ou ordens européias , sacerdotais ou militares; a sagração dos soberanos, a colação de dignidades e graduação européia , a determinação de cânones das ciências, artes e ofícios; a iniciativa de concursos, festas e fundações sociais; " as conquistas do Império da civilização ligando as raças asiáticas e africanas à paz da Cristandade da Europa, ao reino de Deus, por Jesus Cristo, sobre toda a terra como no céu ", - a fundação e a conservação de colônias européias, "a neutralização de todas as capitais religiosas; a iniciativa de todas as criações destinadas a exterminar os males sociais."
Esta é a primeira Missão pela qual Saint Ives convidava o mundo a unir-se sobre a égide da Unidade Divina representada pela Assembléia das Igrejas e de Universidades leigas de todas as espécies, reconciliadas.
Utopia evidente no estado atual dos espíritos ! Ela supunha, no interior de cada Estado, uma interpretação prévia de interesses econômicos , dos partidos políticos e do que seria talvez mais difícil ainda, se é possível , das Igrejas entre elas ou com os sábios docentes leigos. Esta interpretação supunha ao menos que o autor tivesse conhecimento sobre qual terreno e por quis princípios universais ela seria possível, e ele não falou disso.
De outra forma esta sinarquia de Estados, em sua presente situação, tenderia quase infalivelmente a uma guerra de secessão análoga àquela que dividiu os Estados Unidos da América, mas bem mais grave e mais
irreparável, ou senão , ela cairia facilmente numa ortodoxia leiga desprovida de sanção , a menos que ela não viesse a impor-se
por qualquer constrangimento.
Necessitaria uma longa preparação dos espíritos e uma reforma análoga na política interna de cada nação .
Entretanto o autor mostrava tal confiança em seu apostolado, que a última página de seu primeiro volume ele previa e regulamentava o cumprimento próximo da sinarquia internacional:
De fato, se este último capitulo onde são formuladas as proposições sinárquicas tinha constituído a parte principal do livro, parecia provável que a obra tivesse tido bem menos ressonância, confundido que foi imediatamente com as numerosas e vãs proposições das sociedades internacionais da paz donde os principais congressos foram, geralmente, precursores de guerras
contemporâneas das mais terríveis.
Mas a maior parte do volume consistia numa interpretação política da historia moderna tão original, tão sutil , tão misteriosa, que a obra parecia dada a pena de um diplomata consumado, de um Maquiavel de um novo gênero ( ele mesmo disse no prefacio : " eu quis em algumas paginas colocar sobre os olhos das pessoas e de seus chefes um novo livro do Estado: aquele do maquiavelismo da luz.") e que ela justificasse suficientemente seu
título hábil e forte :
Missão dos Soberanos por um deles.
Acredita-se, procurando-se inscrever o nome que faltava : a critica virulenta sobre a dignidade do papa que enchia mais de oito dos doze capítulos , aquela não menos severa do reino de Napoleão I, e os julgamentos sobre a política inglesa perdiam-se em hipóteses sobre a pessoa de alguns soberanos protestantes do Norte da Europa ( especialmente o sábio rei da Suécia ou o Imperador místico da Alemanha), como também do Imperador da Rússia ortodoxa.
Talvez, então , a recente união do autor com uma mulher célebre do meio norte-europeu, tenha contribuído para acrescentar este laivo exótico à manifestação de suas próprias tendências . É certo que é por este lado que sua obra pareceu particularmente preciosa e sua incógnita abriu um caminho interessante.(os familiares do autor lembram-se sem duvida de tê-lo entendido dizer que a Missão dos Soberanos era um livro de cabeceira para o príncipe Bismarck.). Mas era aparentemente por sua característica política e diplomática , bem mais que por seu espírito místico de cavalheiro religioso, que o autor desconhecido era apreciado nessas esferas.
Em todo caso a idéia fundamental, a essência, a base sólida e profunda da sinarquia era lá bem pouco visível ainda. O sucesso só podia ser passageiro pelo grande publico mais intrigado que convencido; os filósofos e, particularmente, os ocultistas encontravam um interesse medíocre, pois eles não reconheciam na obra nada de seus dogmas.
Não falavam nisso muito tempo.
Após este primeiro manifesto aos soberanos, Saint Ives dirige-se a oura extremidade da escala social, ele começou a pregar a sinarquia entre os trabalhadores; é por eles que após a Missão dos Soberanos, e no mesmo ano, ele publicava a Missão dos Trabalhadores, que durante os dois anos seguintes teve três edições .
A primeira era anônima, mas nas seguintes Saint Ives assinou seu nome e revelou-se como o autor da Missão dos Judeus.
Era uma simples brochura, mas ela entrava melhor na parte sensível do assunto; ela é também de um caráter bem mis pratico, como também mais imediata e facilmente aplicável .
O autor aí tomava o tom familiar de um pai com seus filhos : a questão vital do salário do trabalhador e conseqüentemente da pobreza, lhes dizia ele, não pode ser resolvido nem pela doutrina do "deixar fazer e deixar passar " dos economistas, nem por aquela do "Tudo pelo Estado ", cara aos socialistas, nem pelo sistema misto dos protecionistas. É porque, substituindo-se esta falência dos teóricos, os trabalhadores quiseram retomar o problema por eles mesmos. Eles tentaram a solução pela Internacional, pelas greves, pelos congressos, pela coletividade, porém não a encontraram jamais.
A razão de sua impotência, dizia ele aos trabalhadores, é que os políticos absorveram vosso movimento como absorveram anteriormente todos os interesses nacionais. Ora, sua política não é uma ciência; isso não é um empirismo colocado simplesmente a serviço de seus próprios interesses, mas dos vossos ! São eles que fizeram este falso dualismo onde vós vos desencaminheis, do capital e do trabalho, como também aquele da conservação em face da destruição .
É desta mesma política que o sufrágio reconduz tudo nomeando deputados encarregados de tudo e, por eles, um Estado que faz tudo.
É uma tripla falta !
Porque este Estado é, em realidade, uma oligarquia, ademais, uma oligarquia incompetente em matéria econômica .
Porque as câmaras organizadas em um dualismo impotente são totalmente insuficiente em presença da multiplicidade das questões modernas.
E portanto este despotismo encontra-se necessitado pelo incurável estado de guerra européia que condena todas as nações à centralização militar; mas não seria em conseqüência deste militarismo desastroso que a repartição anormal das funções governamentais faria procriar ?
Em um Estado bem estabelecido, há três funções sociais a distinguir :
O Aprendizado que compreende a Ciência e a Religião;
A Legislação que compreende o estabelecimento da lei e sua aplicação, quer dizer, todas as magistraturas;
E a Economia da qual as finanças são uma parte.
Fora dessas funções , não deve haver senão uma só centralização, aquela militar, necessária à defesa nacional : para o demais, o Estado deve ser o executor da vontade nacional total. É necessário então que seja dado liberdade à expressão desta vontade, não por uma única câmara e ainda menos por duas câmaras em antagonismo, mas pelas três câmaras correspondendo as três funções nacionais essenciais e competentes, cada uma em sua especialidade própria .
"O voto pode ser universal, mas o deputado não ! "
A Câmara de Ensino deve ser aberta "a todos os representantes eleitos dos grupos de doutrina, sobre a mesma igualdade civil " afim de anular os sectarismos afixados da Universidade, do Estado e das Igrejas. Esses representantes serão especialistas merecedores, sem esperar que apresentem-se; eles serão pagos também pela terceira câmara .
Da mesma forma a Câmara econômica, ainda mais abreviada na brochura, não terá senão especialistas perfeitamente inteirados das questões
tratadas nos sindicatos.
O Estado será somente o grande órgão executivo, tendo somente o direito de paz, de guerra, de policia e de moeda.
Assim será constituído o Microcosmo da Sinarquia nacional diante do Macrocosmo da Sinarquia Européia detalhada pela Missão dos Soberanos.
Esta segunda Missão forma então com a primeira, um total indivisível. Embora ela encerre menos utopia que esta, percebe-se que ela não é despojada, ou melhor dizer, que ela não é suficientemente explicita sobre os meios próprios para assegurar as condições que ela exige; eles serão fornecidos mais tarde , através da França Verdade.
Este não foi o único defeito desta brochura. No desejo de conservar o tom de uma conversa familiar, o autor deixou-se levar a uma exposição prolixa e confusa, ora muito profundo, ora quase banal ou infantil que devia desconcertar os leitores. Ele entremeia ainda conselhos morais sem induzir aos interesses pessoais e materiais que ele queria regular; a franqueza com a qual ele proclama seus princípios religiosos, sem preparação nem explicação devia criar suspeitas de um sectarismo meio dissimulado.
Esta brochura não podia então ter, junto aqueles que ela se dirigia, o sucesso que esperava Saint Ives; o desempenho de tribuno que ele tentava portanto e que ele quis um instante jogar completamente , não somente por uma grande distribuição desta missão, mas principalmente por um apostolado direto da palavra nas reuniões publicas e nos sindicatos, não estava compatível com a fineza, a amplitude, a distinção deste gênio solar sempre suspendido nas regiões mais elevadas e as mais especulativas do pensamento humano. Ele não colheu, como vimos, senão dissabores que o obrigaram a transformar seu modo de agir pela formação de um sindicato intelectual, mas sem muito sucesso.
De resto, seu pensamento não tinha ainda encontrado sua perfeita expressão, ela vai ser encontrada em teoria e em aplicação nas duas Missões seguintes :
A Missão dos Judeus...
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