quinta-feira, 9 de setembro de 2010




Grandes Mestres 

Passo a partir de agora a escrever sobre os grandes
 mestres do passado e que com sua obra tornaram
 possível o conhecimento das verdades integrais.
Tenho a convicção que em todas as raças matrizes houve seres de
 alta sabedoria e que vieram para incrementar a evolução planetária.
Inicio com as obras do Marques de Alveydre e utilizo o texto biográfico 
deixado em livro por um de seus iniciados de nome Barlet 
e que foi traduzido por mim.
Aqueles que acompanharem o blog terão a oportunidade em 
conhecer esta obra passo a passo. 




Introdução


Em 7 de fevereiro de 1909 alguns raros amigos seguiam através das ruas sossegadas de Versalhes , em meio a indiferença das pessoas, um comboio funerário muito simples . Era de um Mestre ainda em plena posse de seu gênio, trabalhando com afinco  para a conclusão de sua obra, arrebatado  muito cedo da afetuosa admiração de seus discípulos . A tumba bem fechada, ao pé de sua cruz cúbica setenária , eles se separaram em silencio, como estavam vindo, sem o menor aparato, sem a mínima palavra de adeus  àquele cuja ausência lhes seria tão penosa.
Tudo    de acordo com a vontade suprema do defunto, que não queria perto de si, na partida de sua alma, outros senão aqueles que o haviam tão bem compreendido para escoltá-lo ao recolhimento de esperanças imortais.
Quanto esplendor, quanta solenidade teriam dado a esta cerimônia se  o tivessem conhecido como aquele que mais tarde deixaria a humanidade terrestre após tê-la tanto amado e tão magistralmente esclarecido.
Que seja permitido ao menos a um de seus discípulos , honrado por sua amizade de tantos anos, render-lhe com cuidado religioso e cordial e da melhor forma que puder, a homenagem de admiração  e de completa afeição  dedicada desde o primeiro dia a esse gênio tão profundo e soberbo.

Outros falariam  mais sobre detalhes de sua vida íntima, coisas que a malícia e a inveja rapidamente deturpa. Não queremos falar senão sobre a história de uma bela alma e de um espírito tão grande e tão bem conhecido daqueles que  o freqüentaram.
É bem simples, quase banal o romance de sua vida : uma infância revoltada contra a severidade paterna, uma adolescência reprimida pelo rigor da disciplina militar; uma juventude muito mais agitada pelas angústias do espírito que pela paixões do coração; uma independência que não pode se satisfazer senão pela privação de um exílio trabalhoso; depois a conversão completa do cético revoltado à luz de uma ciência transcendental onde todos os outros seriam cegos e a partir desse momento um trabalho obstinado do asceta ocupado todo o dia com a aquisição penosa do pão cotidiano através de humildes trabalhos; os mais belos anos passados nesta vida de reclusão, são interrompidos  alguns meses  pelos deveres sagrados voltados à pátria invadida e sofrida; depois, quando a obra após um tempo amadurecida e pronta, encontra as alegrias de um casamento de amor inesperado que lhe trouxe título, riquezas, honras, todas as satisfações, todos os recursos, todas as relações que exigiria a Missão sonhada; seu complemento para a palavra, para o livro e para o ato; em todos os meios sociais, desde os mais elevados até os mais humildes, alguns anos de triunfos efêmeros e rápidos, seguindo o curso normal  das coisas desse mundo; o empobrecimento, quase a ruína num momento ameaçador,as decepções, o abandono, a doença,  a morte da esposa amada! No retiro onde foi necessário ficar, o triste isolamento  da viuvez  longe de todos os amigos, o recolhimento mais profundo e mais trabalhoso até o último dia  e a espera de vida futura.
Eis em algumas palavras a narrativa dessa  vida durante esse período tão notável.
O que teve ela que diferenciasse tanto das vidas comuns ? Nada além de mais feliz ou mais durável que as demais,  apesar de um espírito tão grande, tão refinado que parecia nascido para todas as grandezas.
Sim, a vida  lhe deu alegrias, conquistas inigualáveis das quais bem poucos seriam capazes e lhe deu também no seu  decorrer os mais cruéis sofrimentos e muitas perdas, porém, após as mais duras privações das coisas terrestres,os céus foram abertos, por assim dizer, para esta grande alma atormentada . O retiro em Versalhes foi o início de uma apoteótica verdade. Mas esse episódio dos últimos anos não pode ser publicado sem ser maculado: interessante, quase unicamente para ele que podia pressentir as alegrias supremas ou as amarguras místicas. E em seus funerais, o Mestre queria ser homenageado pelo silencio respeitoso, discreto e religioso . Também toda a obra espiritual que ele  amadurecia   no isolamento quase ultra terrestre não pode ser acabada, ele foi muito além dos limites de sua obra principal tão avançada para os pensamentos e concepções de seu tempo.
Limitemo-nos então a dizer como esse espírito superior, que tratou tão magistralmente os problemas mais urgentes de nossos tempos,  viveu, se desenvolveu, desabrochou e que frutos preciosos ele nos deixou como herança!  De resto, quaisquer palavras servirão para nos fazer compreender como as grandes lições de uma vida submetida a todas as provas puderam servir para elevar uma alma para toda a eternidade.

O Homem


Joseph-Alexandre Saint-Yves  nasceu em Paris em 26 de março de 1842 a uma hora da manhã; seu pai Guillaume-Alexandre Saint-Yves era médico alienista.
A data deste nascimento corresponde ao sexto grau da constelação de Áries; ela indica uma superioridade que alcançaria integridade mas enfrentaria também grandes perigos.

*Eis alguns dados : ascendente  = 20o  33' de Sagitário
Casa 2 = 0o    31' de Aquário
Casa 3 = 15o  50' de Peixes
Casa 4 = 20o  40' de Áries
Casa 5 = 14o  50' de Touro
Casa 6 = 3o 40' de Gêmeos

Sol a  6o  2' de Áries;  Vênus a 11o  21' de Áries; Marte a 0o  22' de Touro; a Lua a 12o 55' de Libra; Saturno a 13o  35' de Capricórnio; Júpiter a 19o  12'de Sagitário; Netuno a 19o  de Aquário; Mercúrio a 8o  37'de Peixes; Urano a 24o  26' de Peixes - o signo da fortuna a 13o  50'de Gêmeos.

Procurando mais detalhes sobre o tema astrológico de nascimentos, imediatamente percebemos a importância excepcional da terceira casa, região que corresponde as faculdades intelectuais : Urano, o planeta principal junta-se, em Peixes, à Mercúrio, ao Sol e à Vênus; Saturno , gênio da reflexão profunda está próximo de se levantar no horizonte. Expressão nata de uma inteligência extremamente notável, tão elevada quanto profunda, tão artística quanto religiosa ou erudita. Netuno, entre Urano e Júpiter junto à Saturno,  denota tendências muito particulares as ciências misteriosas: o Meridiano no signo de Balança  anuncia o equilíbrio em abundancia na sua personalidade . Percebemos todos os recursos do espírito à disposição da criança que acaba de nascer, com características muito marcantes de tendências religiosas profundas e independentes.
Quanto ao caráter, o Sol em plena exaltação no signo de Áries onde Marte ocupa a extremidade  e o signo de Sagitário ao nascente, mostram claramente um espírito cavalheiresco  e guerreiro; magnânimo, confiante de seu próprio poder, ansioso para consagrar toda sua atividade a difundir bondade e princípios mais sublimes. Junto a faculdades intelectuais tão ricas, esse presságio criava a imagem de um bardo celta que não deixaria sua harpa a não ser por um combate em favor da eterna justiça ou mais perto de nós,  aquela desses ilustres e misteriosos Templos onde a memória foi tão rica à Saint -Yves.
Ele não devia estar um  pouco mais feliz que esses grandes modelos, pois as brilhantes promessas de seu tema estavam embaraçadas em muitas sombras : sem dúvida  a Espiga da Virgem no alto do meridiano anunciava honras e fortunas, mas Mercúrio, Júpiter, Vênus, Marte  perderiam  a autoridade nas situações mais desfavoráveis. Todos os planetas estão sob o horizonte , somente a Lua, na plenitude de seu brilho, cheia no meio do céu, em Libra, anunciava que uma mulher notável teria um grande papel no futuro da criança; mas influencias infelizes juntam-se a isso;  Saturno lança sob esta direção raios nefastos, contrariando ao mesmo tempo a feliz influencia de Mercúrio, Júpiter e de Vênus.
As grandes promessas , as realizações gloriosas, esperadas para tanto talento, serão permeadas por numerosas dificuldades, oposições, calúnias,  vicissitudes que Urano assegura. Netuno  por sua vez, diz também que quase todos os planos malograrão; Sagitário no horizonte anuncia dois extremos de felicidades e infortúnio; Marte na quarta casa ameaça grandes perturbações e discórdias no fim da vida: a inteligência mesmo sofrerá agitações de dúvida e o misticismo turvará; é isso que anuncia a discórdia de Saturno em seu domicilio noturno com o Sol, a Lua, Vênus e o horizonte.
O ardor do caráter não será estranho a esses  dissabores, pelas mesmas configurações, da independência intransigente. Marte, em exílio, à chegada de Touro, está, em seus benefícios discordante com Mercúrio; Júpiter, o signo de sucesso e o nascente indica uma obstinação violenta e muito prejudicial.
A criança sofreria desde seus primeiros anos, pois o mesmo planeta desfavorável ocupando sozinho a quarta casa ameaçava ligações fortes e tumultuadas  com o pai.
Alguns desses presságios iriam se concretizar.
Assim que o filho se mostrasse  independente, o pai empregaria rigor para subjuga-lo; o conflito dessas duas vontades inflexíveis tornou a infância de Sain-Yves muito infeliz. Seu pai acreditava poder triunfar sobre esta jovem alma substituindo a disciplina imposta do colégio à masmorra de uma penitenciaria: com treze anos, nosso futuro mestre foi conduzido à Mettray. Singulares desvios da Providencia, para esta vida onde tudo devia ser singular ! Parecia que igual imprudência não poderia  produzir sobre esta alma altiva e impetuosa por excessos de justiça senão uma incurável ferocidade ou uma resignação estúpida e eis que ao contrario, ela aí encontra a salvação e o rumo para sua vida inteira.
"Eu aguardava num cárcere, nos diz Saint-Yves, quase um escritório e jurava a mim mesmo, tornar-me livre ou matar-me. Quando cheguei à Mettray todos os meus planos desfizeram-se como um castelo de cartas."
"Jamais homem algum causou sobre mim um impressão parecida àquela produzida pelo Sr. Metz."
"Tive a sensação de ter diante de mim um santo, um ancião grave e charmoso dentro de um fidalgo completo.''
Este psicólogo extraordinário captava  desde o inicio os impulsos exagerados do jovem cativo; não somente ele foi bastante forte para colocar-lhe  rédeas, tratando-o com amor e bondade, mas tornou-se mesmo o salvador dessa criança e providenciou seu futuro através de uma elevada iniciação religiosa sempre voltada a fazer eclodir os dotes efervescentes do seu jovem cérebro.
De Metz foi verdadeiramente  o pai espiritual de Saint-Yves.
O dia de sua chegada à Metray marca para ele uma crise preciosa sobre a qual é preciso insistir :
É a primeira fase de sua conversão; a influência que lhe é dada através da disciplina inteligente e cordial de De Metz se fundamentaria sobre um principio muito profundo: desempenhar da forma mais pura a  sua vontade.
A vontade humana  representa sobre a terra a vontade universal; todo governante, qual seja, encarregado de dirigir esta vontade, dentro da sociedade ou dele mesmo, deve esclarecê-la e  não constrangê-la. Não existe realmente no mundo um poder que tem o direito e o dever de se impor que não seja a autoridade; a força somente atrai as reações violentas da vontade; a autoridade a submete deixando-a livre.
Saint-Yves sentiu então , pela perspicácia de seu julgamento, este importante principio, ele não o esqueceria jamais, e mais tarde, quando ele evoluísse, esclarecido pela calorosa bondade de De Metz, isso seria a base de sua obra social.
Por ora ele aceitava esta fórmula que seu mestre lhe forneceu: "Tudo pela liberdade, nada pela coação"

Dois anos após sua entrada em Mettray , triste até o âmago, convencido, mas não domado, ele permanece um pouco mais resignado dentro da disciplina do liceu do qual ele assimila com bem estar a comida espiritual para daí sair diplomado,  mas revoltado como segue :
" Pobre de mim, o retorno a essas mesmas cangas reascendem todas as minha rebeliões."
"Após o diploma de bacharel, a grosseria de um mestre lhe valeu uma provocação de minha parte: - a incurável cegueira do pai só serve como um remédio  para acumular rigores. "
" Deixando-me  sozinho estudando em Paris, meu pai me fez criar  forças vários anos antes da minha maioridade. Aos dezoito anos, eis-me condenado à  dupla aflição ;  do exílio e de uma disciplina brutal dentro de um regime dos mais penosos, o da infantaria da marinha.
"Entrando na armada pela porta repressiva, despatriado para longe, num mundo desconhecido, revoltado até o fundo da alma pelas severidades, eu me encontrava dentro de uma gaiola de ferro e pedia  a liberdade ou a morte."
Uma nova intervenção de De Metz salva pela segunda vez a pobre alma do naufrágio. Saint-Yves  vai se consagrar  à medicina naval na Escola de Brest; o meio mais apropriado, aos seus sentimentos e as suas faculdades para render-lhe paz no coração.
Enfim com vinte e dois anos, graças a uma grave doença contraída em serviço, obtém um período de férias  para resgatar a saúde , sente-se totalmente independente,  livre para seus  atos e pensamentos.

Começa, então,  o segundo ciclo de sua vida : aquele de estudos e de dúvidas.
Ele se dedica à ciência, na existência simples e rigorosa de um pobre professor livre, exercitando no estrangeiro. Retirado em  Jersey, no meio de refugiados políticos do Segundo Império, ele deixa enfim   desabrochar no auge  de sua  independência, as qualidades próprias de sua rara inteligência, sem se deixar distrair pelo ardente sectarismo  de seus companheiros.

Cinco anos nesta vida severa e trabalhosa vão começar a transformar seu caráter indomável, é como a lapidação do ouro puro.
Mas ele não tinha esquecido do que seu querido mestre lhe havia prometido : "toda sua vida eu estarei com você em pensamento e estarei em pessoa quando você me chamar". Ele estava totalmente decidido a seguir seus preceitos.
"Ir até o fim da vossa razão, até os últimos limites de vossa liberdade. Pois o que vós amais em mim que é a bondade, vós vereis que ela é ainda mais intelectual que moral ...O passado e o futuro do Cristianismo, é  a bondade divina passando ao estado de sistema intelectual e social da humanidade.
"A humanidade é o corpo de Deus visível aqui em baixo: trabalhar para ela, é viver, morrer e sentir com Ele, independente de esforços, dos mais gloriosos até os mais humildes ."
"A França tem um testamento a recuperar , mas ele é social. Ele não se destina a um homem ou a um governo, mas à nação inteira, vós o encontrareis nos Estados generosos."
"Ele encorajava meus estudos dizendo-me que se eu conseguisse demonstrar a lei de união dos homens de direita e dos homens de esquerda num mesmo pensamento social, num mesmo batimento cardíaco, eu seria um merecedor da pátria e da humanidade''.
E acrescentava :
"Preparai-vos muito tempo através do estudo antes de  publicar qualquer coisa. Quantos livros úteis vós podereis escrever então !".
Era tudo um plano, Saint-Yves o realizaria tanto melhor quanto o abordasse com total independência e o compreenderia ainda mais após refletir muito sobre ele.
Ele não disfarçava de todo o seu ceticismo, justamente embora confiasse na solicitude de sua saga.
"Meu coração, dizia ele a seu Mestre, não deixará nunca de estar convosco, mas quando então os pensamentos e os sentimentos cessarão de afligir o meu espírito?
Mas sabendo que uma vocação puramente espiritual me burilava, ele respeitava, aguardando essa eclosão, como o teria feito uma mãe."
Eis os sentimentos de Saint-Yves quando ele chegou à Jersey: "A poesia das cerimônias e a paz da alma das pessoas da Igreja agradam muito ao meu coração, o Evangelho e os Profetas me surpreendem, eu fazia sempre minha oração da manhã e da noite com grande convicção e a lembrança do Sr. De Metz aparecia diante de mim como a esfinge luminosa da caridade. Fora disso eu era um neto de Descartes e de Voltaire. Desde  que eu raciocinava , minha fé não se prendia ao início e eu não  encontrava  senão a obscuridade completa ..."
"Sobre a crença dos enciclopedistas, das interpretações alemãs, e mesmo dos teólogos da Idade Média e dos nossos dias, eu olhava o Judeu-Cristianismo como um tipo de doce sonho esperando que o ardor científico de tempos novos devia dissipar em misticismo imponderável."
E estas dúvidas, estes questionamentos, vão levar mais de vinte anos a se esclarecer. Ele vislumbra essas respostas e se pergunta onde pode mais o espírito que sua obra:
"Durante mais de vinte anos a Universalidade e o Cristianismo lutaram dentro das minhas meditações antes de aí fazerem um pacto, como o Anjo com Jacob".
De Metz lhe havia sublinhado três autores capazes  de  esclarecer suas dúvidas : Joseph de Maistre, de Bonald e Fabret d'Olivet , assinalando o último como " um possante  espírito sem comprometimentos  com a fé cristã ou   com  o paganismo'' .
''Devo dizer com vergonha, conta Saint-Yves, que esse sinal,  longe de me refrescar, me inflamou por este autor! Um descrente religioso em pleno século  19! Isso correspondia as minha curiosidades aventureiras, a minha sede de liberdade e indagações. Assim,  fazendo pouco caso de Joseph de Maistre e de Bonald , tinha um insaciável desejo de ler d'Olivet".
Eis daí em diante seu guia, a vasta erudição desse autor seduzia, igualmente  pelo mistério,  seu espírito tão ávido de conhecimentos. Ele mergulhava com ardor nos estudos desse pagão  moderno: "Eu tinha sede, dizia, desse sublime restaurador da filosofia religiosa dos Gregos e Romanos".
Os companheiros do seu retiro, dos quais ele sabia evitar as paixões políticas lhe forneciam ao mesmo tempo ensinamentos preciosos sobre a vida social.
"Princípios, doutrinas, aspirações gerais, sentimentos generosos desses proscritos, eu não deixava de entender tudo que os agitava. A fraternidade evangélica reinava mais freqüentemente entre seus diferentes clãs , mas ela lhes fazia mal em conseqüência daquilo que lembrava o Império. Eu apreendi que pelas idéias divergentes, os homens de nosso país eram capazes de se abater de todas as injurias e de se acusar de todos os crimes, então eu experimentava um   aperto no  coração, como  sinto ao ouvir  uma falsa nota musical. ''
Durante quatro anos, passados tanto em Jersey quanto no meio dos tesouros do Museu Britânico , seu espírito se alimentou com satisfação de uma revisão enciclopédica de conhecimentos humanos; ele era muito sintético para ser perturbado; entretanto aí ele não era mestre,  ainda não.
"Como conciliar a Universalidade enciclopédica e histórica com o Judeu-Cristianismo e então onde esta o caráter cientifico que os uniu?  Como e qual é a lei para ajustar a circunferência com o centro e o raio. Como deixa-los em desacordo?

" Para dizer, eu creio, seria necessário dizer : eu tenho certeza e para chegar a certeza, é necessário encontrar a lei da história no movimento judeu-cristão ".
"Este é o temível problema que ocupa todos os meus pensamentos e toda a minha vida ... "
A história permanece diante do meu pensamento como um corpo sem vida, sem verbo, sem lei vivente intrínseca ao fato. Eu fico sem um modelo racional para concluir uma síntese que queria refazer sobre um eixo e sobre um plano novo."
"Quando  expunha minhas perplexidades a meu venerável mestre cristão, ele me aconselhava sempre a aprofundar meus dois testamentos da história da França."

A hora ainda não era chegada para compreender  toda extensão desse conselho, necessitava ainda alguns anos de trabalhos e  sofrimentos.
Entretanto, as alegrias do seu  refúgio são  brutalmente interrompidas : a pátria sucumbe, Paris é sitiada; Saint-Yves  retoma o serviço do qual tinha sido dispensado; Marte se revela nele e por isso recebe  algumas distinções dentro do modesto grau de Major-Ajudante , recompensa por sua abnegação.
A paz assinada, necessitava viver :  a águia foi trancada em seu destino, desta vez na gaiola de um Ministério, duplamente cativo: pela falta  de  recursos e pelas funções dos que o procuram. "Os amigos , dizia ele, tinham-me feito entrar no Ministério do Interior, graças a isso, eu tinha oportunidade de meditar sobre os meus gostos."
"Mas eu ainda nada  podia  publicar sobre o sentido de minhas missões e do meu presente livre, sem comprometer meu pão cotidiano,  além do que  estava muito longe  das disposições de alma e de espírito que Deu me concedeu após."

Depois as dores se multiplicavam, o isolamento cada vez maior; sua mãe, seu irmão e para acrescentar, seu guia tão amado e precioso, De Metz, lhes foram levados pela morte. Este é talvez o momento mais sombrio  da sua vida, o desalento instalou-se nele, tentou por um instante aturdir-se pelo prazer; mas o que podia encontrar aí uma alma tão fortemente  temperada  pela solicitude, um espírito alimentado por grandes pensamentos e tão recolhido; uma natureza tão selvagem. Foi tomado de grande desesperança, como ele mesmo nos conta :
"Desgostoso não dos homens, mas com tudo  aquilo que os divide, sem nenhuma ambição sobre a carreira ou a fortuna, em meu âmago  eu me sentia  um morto entre os seres viventes, e na  tentativa de  conciliar  meus pensamentos nem um ponto se  materializava ."
Esta portanto é a época da sua vida sobre a qual a calúnia o  descarnou particularmente até o tempo de seu sucesso. É  necessário falar de um panfleto  que  fez muito barulho no seu tempo pelas calúnias que continham  ?  É necessário  imaginar qual o castigo capaz de reconduzir a sua justa proporção os raros caprichos desta juventude laboriosa que  o atormentavam tanto como folha morta, seca , caindo, num espelho de uma água parada? Não , sem dúvida, a isso ele respondeu suficientemente através de sua França Verdade (revista) e isso seria a mesma coisa que dar  inutilmente um rasgo de existência à vingança de uma mulher ambiciosa, apaixonada  e ciumenta; pobre Viola que Zanoni  amedrontava; pobre pomba presa pela águia e que tinha contado  participar de sua gloria, acompanhada dele ! É bom nem comentar sobre os ultrajes desse  despeito agora esquecido, voltemos aos grandes pensamentos que ocupavam inteiramente a alma de Saint-Yves:

Ainda neste período de terríveis privações , não lhe foram  privados  preciosos ensinamentos, ele os encontra em suas humildes funções : "Durante os seis anos que passei no Ministério,  estava literalmente saturado de política. Com meus camaradas eu lia primeiramente os jornais ingleses , depois  nossa imprensa provinciana e finalmente àquela de Paris. Meu pensamento se fixa sucessivamente nos perigos de fora e de dentro das nossas divisões e por conseguinte, todas nossas  impotências."
Mas nos fixemos no fim deste triste período e segundo o destino comum de Saint-Yves, revelado por seu horóscopo, ele  daí sairia rapidamente para entrar na era de sua maior prosperidade; fortuna, triunfo e gloria o esperavam para os próximos anos, é o apogeu de sua existência.
Estamos em 1878. O dia da ação é chegado.
Tudo esta pronto para o apostolado, a palavra, longamente pensada no silencio das inspirações ideais e da  sábia reflexão, nada mais que encarnar sua real potestade.
Como encontrar um corpo  nesse mundo material onde tudo se paga, mesmo o espírito, que ele mesmo , ao contrario não muito pagou ?
Saint-Yves é pobre e a obra espiritual não  tem quase valor sobre o mercado. Quem vai publicar para ele essas mil paginas que ele precisa ?

Sain-Yves é humilde, simples empregado de Ministério, vivendo de seus magros soldos, que horas podia encontrar para seu apostolado ou como ele  seria tolerado na prisão administrativa ?
Saint-Yves é um solitário, por acaso ele  conhece alguns literatos de renome mas sua ciência e seu talento  encontram mais indulgentes que protetores. Quem vai permiti-lo abordar os mais altos poderes do mundo, a quem ele deveria se endereçar: aos governantes e aos príncipes ?
Sentindo essa impotência, ele se desesperava.  "Eu sonhava mesmo, disse ele, fazer parte de um grupo religioso e aí morrer, sem deixar um traço das minhas convicções."
Mas Saint-Yves  na solidão , pobre, humilde e incansável trabalhador da Providencia no dia  em que está prestar a agir por Ela, Ela lhe dá abundantemente todos os instrumentos temporais que mais tarde lhe serviriam somente para embaraçá-lo: fortuna, relações, honra, tudo vai lhe ser confiado pelo tempo completo de seu apostolado e com recompensas admiráveis ! Tudo lhe é dado para o Amor e com Amor!
Esta na hora de seu casamento com aquela que ele não se cansará de proclamar até o último suspiro como o Anjo de sua vida !  Então ele escreverá :  "Eu peço ao bom Deus que no céu me dê outro paraíso igual ao que me deu na terra !"
"Salvo dois ou três salões, nos disse ainda, onde eu encontrava um poderosa  vida intelectual e moral, o verdadeiro mundo não me seduzia muito mais que a hipocrisia."
Entre esses salões estava o do bibliófilo Jacob, na Biblioteca do Arsenal, onde vinha seguidamente também seu irmão, Jules  Lacroix, o ilustre tradutor de O Édipo. Nesse meio, Saint-Yves era particularmente apreciado pelos dois eruditos, tanto pela extensão de sua vasta erudição como pelas   percepções  originais sobre a antiguidade que lhe parecia tão familiar. Animavam-no a desenvolver suas teses com o charme de sua dicção e o calor de sua palavra persuasiva, que lhe eram tão próprios.
Lá, ele foi apresentado à senhora Condessa de Keller. Imediatamente ela sentiu-se vivamente atraída por esta alma elevada e poética , pois  ela mesma, dotada de uma inteligência  superior, tinha penetrado nos mistérios, recolhida no pais do Norte e apreendido através de poderes mais sublimes,  a conhecer os segredos   dessa política que Saint-Yves sonhava purificar e renovar.
Também ele foi repentinamente tomado por sua  viva inteligência e bondade, tão simples e natural e pela  nobreza majestosa que tanto a distinguiam.
Seria necessário ter convivido com um e outro ,  conhecer o charme de sua companhia, para saber como essas duas almas superiores deviam vibrar em harmonia, para compreender a inevitável atração que os aproximou e  apreciar a sinceridade dos termos  que Saint-Yves  usava para falar de sua companheira.
Inútil dizer que algum interesse de ordem material havia decidido esta união. Ela traria à Saint Yves todas as vantagens materiais necessárias à sua obra : a fortuna, posição, as mais altas relações e as mais intensas; elas espreitavam o autor de Missões, relacionando-o com os personagens mais eminentes da religião e da política em toda Europa e mesmo no Oriente, como se verá em breve.
Seus inimigos censuraram o título de nobreza que ele recebeu então; mas esse título era necessário à sua penetração  neste mundo de poder que ele tinha tão grande interesse em  alcançar.  Mas inveja do que,   não é ela atacada por corroer a sua felicidade ?
Fizeram-lhe ainda um agravo  por haver tentado a fortuna, então, através de uma indústria que tinha por finalidade utilizar algas marinha, sob as múltiplas aplicações a que elas são suscetíveis. Ele se explica muito simplesmente :
"A idéia científica era certa, a idéia humanitária era  melhor ainda. As populações ao nosso redor são extremamente pobres, próximas do mar, que eu insisto em indicar como um manancial de riquezas agrícolas, industriais, comerciais, sem falar dos tesouros mecânicos, minerais e mesmo metálicos,  dinheiro entre outros. A ignorância e só ela,  pode duvidar disso. Eu resgatava mais de trinta aplicações de algumas plantas marinhas que me valeriam medalhas de ouro e dinheiro,  grandes perdas e  zombarias de malandros e  invejosos."
Esta tentativa infeliz tinha também uma outra intenção não menos delicada. Saint-Yves é tomado de escrúpulos ; ele queria se desculpar,  por assim dizer, antes com a Providencia, por ter recebido a fortuna e as facilidades que ele mesmo não tinha sonhado; ele acrescentaria então qualquer coisa dele mesmo multiplicado por seu trabalho e seu gênio à essas riquezas inesperadas. Esta resolução viria se conciliar, como veremos,  com seus projetos humanitários. Sua gratidão devia se exprimir melhor  de outra forma do que por um sucesso industrial, ela se traduziria em todo conjunto de sua obra social.  E quando esta obra foi concluída , todas as alegrias lhe foram tiradas, bruscamente como  tinham vindo, tudo : fortuna,  relações, sucesso, até a mulher amada ele perdeu e  tornaria a mergulhar no seu doloroso refúgio onde suas obras doutrinarias se formarão sem poder arrematá-las.

Mais dez anos nos separam ainda deste triste fim, por hora, eis nosso marquês instalado no único lugar  que convém verdadeiramente à finura  artística de suas características, à sua majestade nata. Era uma alegria vê-lo no retiro principesco de sua pequena casa na Rua Vernet onde seus amores legítimos tinham instalado seu ninho.
Verdadeiro palácio de arte, discreto, intimo, onde as obras primas se harmonizavam em uma unidade tão feliz, que esqueceria o luxo para experimentar somente a magnificência  da beleza e da inteligência,  reveladas pela sua coordenação.
Acima das ricas tapeçarias, que produziam nas escadas uma luz discreta e misteriosa; acima da galeria de quadros onde o charme compensava os limites  cerceados;  encontrava-se um quarto simples, mais íntimo ainda, mas não menos  tomado pelo seu recolhimento e ordem :  era a biblioteca do Mestre, cheia de seus livros preferidos e dos instrumentos de seus misteriosos trabalhos .
Era lá que longe de qualquer barulho, na paz de um silencio feliz, sobre uma escrivaninha forte e simples, fazendo frente à imensidão do céu do Oriente, ele vinha estudar, meditar e  ainda se  recuperar, como  ao abrigo do luxo dele mesmo, a vida de asceta de Jersey, acaba por fazer eclodir os grandes pensamentos que ocupavam sua mente  há quase trinta anos.
É aí também que vai se consumar a conversão definitiva. O amor vai finalmente abrir em plena luz do Cristianismo seus olhos que o sábio e bom De Metz não tinha podido fortificar inteiramente. A luta de Jacob está concluída ; a aurora se levanta e o patriarca reconhece enfim seu adversário divino !
Sem isso as Missões não seriam possíveis. Saint-Yves consagra, ainda,  efetivamente dois anos à meditação nesta feliz solidão,  para concluir a unidade de sua vasta erudição.
Enfim a  síntese aparece !
"A invencível lógica da história me forçava a reconduzir todos os movimentos sociais e governos, semelhantemente a rios vindos de diversas montanhas, como o decurso da vida  do Judeu-Cristianismo, surgido após Abraam, força impetuosa desde o Sinai, artéria central da Humanidade desde o Calvário."
"Enfim, partindo do sentimento místico à intelectualidade pura, não somente minha fé cristã mudou para certeza, mas eu podia demonstrá-la rigorosamente através da razão, transpondo-a a vontade da ordem religiosa em toda história sociológica da Humanidade".
Também, quão grande é a sua alegria que ele abordá-la a plenos véus neste país de seus sonhos !
"Entusiasmado até o êxtase absoluto pela importância do que eu via tão objetivamente,  tive, talvez  o prejuízo de ditá-lo em lugar de escrevê-lo." (Pro pátria, p. 148, I.)
Ele  tinha publicado até então alguns folhetos que  testemunhavam  ainda aquilo que se poderia chamar o paganismo do pensamento.  Agora, eis sua obra capital, as verdadeiras filhas do seu gênio :
Missão  dos Soberanos, em 1882;
Missão atual dos Operários , mesmo ano;
Missão dos Judeus, em 1884.
É também para Saint-Yves o tempo da maior atividade e da mais completa confiança no sucesso. Desde que a primeira de suas Missões apareceu, ele empreende e apóia  a publicação nas  conferências que  vai fazer através de toda Europa.
"No mesmo ano 1882, eu continuava minha obra através da palavra. Em Bruxelas, no salão do Hotel da Cidade, eu demonstrava a lei da paz continental a uma grande quantidade de homens de elite de todas as nações. Meu plano era fazer a mesma coisa nas capitais de todos as pequenas potências, para lhes conduzir ao Senado Europeu sobre a proteção da França e da Rússia primeiramente"
Após a aparição de Missão dos Operários, foi na França,  em  reuniões públicas, que ele tentou propagar a aplicação da sinarquia ao governo interno do país, começando pela eleição de uma câmara econômica distinta.
Mas estas idéias eram muito novas, muito adiantadas também para serem compreendidas por um público subjugado aos partidos políticos; Saint-Yves não sabia descer ao nível das condescendências ou aos subterfúgios próprios para canalizar estar paixões , mesmo para o bem.
Suas campanhas não tiveram  o êxito que ele esperava. Resolvido a retomá-las sobre um outro plano menos direto, ele se faz acompanhar de alguns discípulos convictos da sinarquia, a fim de fundar com eles uma instituição com fins preparatórios.
"Em 1885, disse ele, eu reuni alguns amigos para trabalhar junto pela paz social do meu país, pela ação e não somente pela  palavra. Surgiu um projeto de união entre as diferentes classes econômicas da França, projeto que nos proporcionou retomar e sustentar perante o Congresso em Paris. Em janeiro de 1886, sob a presidência de Milhet-Fontarabie, senador, mais de duzentos sindicatos operários na sala da rua de Lancry nos escutaram ...  não recebemos senão aplausos."
"Eu propunha aos meus amigos adotar o único procedimento legalmente possível , aquele da formação da Imprensa econômica e profissional da França em sindicato."

É isso que foi executado efetivamente. Mas era um jogo mais para a habilidade prática dos profissionais da política do que para absorver esse movimento nascente que poderia lhes criar sérios embaraços. Os primeiros passos do novo sindicato foram acolhidos com o maior fervor; todos os ministros aos quais ele apresentou não se furtaram a protestar que elas tinham sua total aprovação ; que elas estavam asseguradas por seu apoio; breve Saint-Yves foi por isso coberto de flores oficiais  chegando, então ao auge, até o Chefe do Estado . Era  o ápice  do Capitólio, donde o Sr. Presidente da República fez,  pela persuasão, precipitar  tudo no abismo de uma petição ao Parlamento. Inútil dizer que ele não se importou jamais com isso.
Saint-Yves tinha sonho de repassar ao público dez mil exemplares desta mesma petição, mas os partidos políticos não prestavam nenhuma atenção aos projetos que não lhes poderia servir imediatamente.
Após esta série de esforços inúteis ele retoma a caneta para um novo desenvolvimento de sua doutrina,  mais explicito, mais preciso, mais nacional também:
A Verdadeira França ( ou Missão da França), que apareceu em 1887, mostrava a sinarquia não somente preparada, mas realizada e  mantida em nosso país durante mais de quatro séculos ( do XIII ao XVII).
Um pouco mais tarde, em 1889, Saint-Yves aproveita o centenário de nossa Revolução para lembrar,  por meio de breves poemas, ao público e sobretudo aos soberanos convocados as nossas festas, as grandes leis sociais que ele lhes havia exposto sete anos antes.
Estas pequenas obras são :
O Centenário de 1789 e sua conclusão ;
O Poema da Rainha;
Maternidade Real e Casamentos Reais;
O Imperador Alexandre, epopéia russa.

Enfim, como um último esforço, tenta apresentar a sinarquia sob a forma de um poema épico nacional : Joana  D'Arc Vitoriosa, publicado em 1890.
Mas o que se pode esperar de tão positivo em uma epopéia em nosso século, tão refratário a toda poesia, tão oposto as glórias militares, mesmo as mais nacionais, como ele nos mostrou após  ???
A tese, nova e singular sustenta nesta poema, a ciência da qual ela estava cheia, tinha tudo a ganhar através de uma apresentação na  forma severa de uma obra didática ; mas Saint-Yves tinha,  falou-se, o temperamento de um bardo;quanto  mais seu pensamento se elevava, mais sentia necessidade de traduzi-lo em cantos heróicos. Suas obras póstumas sobre a bíblia são também em poesias.
Seus verdadeiros sucessos tinham uma outra natureza. Em 1894, a leitura de Missão dos Judeus chegando até aos lugares mais ocultos da Índia rendeu-lhe a visita espontânea de um Guru Pandit que permanece com ele alguns meses e completa seus conhecimentos já tão vastos, pelas revelações dos mistérios iniciáticos da Índia.
Ele se fez tanto  mais precioso pois , longe de modificar alguma de suas convicções , elas se confirmaram todas; ele não podia mais duvidar, ele estava plenamente convicto que a ciência esotérica  era a fonte única e superior de todas as outras.
Feliz com esta confirmação ele escreveu, imediatamente após esta visita, um livro novo : A Missão da Índia ; mas, advertido por fonte segura que esta publicação podia ser inoportuna, ele a suprimiu inteiramente no momento que ela saia das impressoras, dizendo que ele não consentiria jamais expor a vida do santo homem que tanto lhe havia instruído.
Um exemplar desta obra entretanto escapou a esse massacre e foi reencontrado nos papeis de Saint-Yves; as considerações que haviam determinado sua decisão não tinham mais razão de existir, a reedição desta Missão torna-se possível e vem a ser concluída.
Com o século  XIX  é fechada  a era dos sucessos . Alguns anos de desgraças  sucessivas  sugerem o abandono do ninho dourado da Rua Vernet; Saint-Yves é obrigado a refugiar-se longe de Paris. Em Versalhes, os resquícios  de seus tesouros artísticos e pouco tempo antes a dor da perda daquela que tinha sido a inspiradora e a provedora tão amada de sua obra.
O desgosto que ultrapassou as decepções de seu apostolado ou os reveses da fortuna , deixou-o algum tempo abatido; mas um alma tão forte como a sua, tão tocada pelas coisas divinas, não  podia sucumbir mesmo sob os golpes mais cruéis do destino.

Saint-Yves pensa em  transformar em capela ardente o quarto onde sua mulher morreu, e graças a sua ciência sobre o culto dos mortos,  logo teve a consolação de poder comunicar-se com aquela alma ausente (*)

*É essencial acrescentar a esse propósito que este tipo de comunicação não tinha absolutamente nada de comum com  o espiritismo; veremos, a propósito de sua doutrina, que nela ele sempre condenou energicamente suas práticas.Ele não tinha jamais tido qualquer faculdade médio-anímica e não se servia de nenhum médium. Suas cerimônias, muito mais sagradas, eram de uma outra ordem; ele não se permitiria jamais uma evocação que manchasse como uma profanação condenável e perniciosa.

Para aliviar sua dor, seu amor pela ciência reascendeu imediatamente  acima de tudo . Segundo alguns  projetos interrompidos desde sua juventude, restava-lhe coroar sua obra por uma última aplicação da Alta-Ciência, efetuando uma tradução esotérica sobre a Bíblia. Nisso ele se agarrava agora tanto mais do que quando tinha investigado as debilidades de Fabre d'Olivet; ele devia a retificação tanto aos católicos quanto aos racionalistas.
Seu novo exílio, a beira da vasta e tranqüila praça de armas de Versalhes , convidava-o a retomar seus trabalhos . Longe das realizações ativas e encontros com muitas pessoas que o procuravam na cidade, ansioso por se distrair dos desgostos dos que o haviam banido,  reduzido a alguma  visitas de amigos devotados,  amparado por seus outros amigos mais discretos e mais fieis ainda -  seus livros, inspiradores queridos e testemunhas da labuta de toda sua vida,   mergulhou como nunca nas profundezas da meditação silenciosa e seu espírito amadureceu nesse momento, tanto pelas provações   como pelos estudos.
Então, ele não tarda a reencontrar ajudas providenciais : num dia de grande festa religiosa, após uma cerimônia sagrada, ele recebe uma inspiração súbita, a qual sempre atribuiu a alma de sua mulher  : Era a chave do Arqueômetro.
Ele se lançou imediatamente, com novo ardor, a empreender  sua realização, não somente para a tradução projetada, mas também como um meio novo e mais fecundo que os precedentes, de demonstrar ao público, pelas aplicações práticas, a ação incessante do Verbo sobre os mínimos detalhes de nossa vida cotidiana.
Sempre com a consciência extremamente escrupulosa, ele começou seu novo trabalho pela revisão completa de seus conhecimentos científicos positivos. Depois durante vinte anos, com uma assiduidade e perseverança admiráveis, ele não parou de aprofundar-se, de desenvolver, de verificar, de adaptar a todas as manifestações do espírito humano, este instrumento de síntese universal insuspeitável diante dele. Encontraremos mais adiante noções mais detalhadas; é suficiente indicar aqui o principio :
É um esquema figurado, onde vinte e dois símbolos emprestados dos três alfabetos fundamentais : do Hebreu, do Sânscrito e do Vatânico (língua primitiva ensinada à Saint-Yves por seu guru indiano) fornecem imediatamente, além do seu significado essencial, suas correspondências na música, nas cores e nas formas.
No meio deste Arqueômetro (ou medida-padrão de princípios), foi possível, não somente dar o sentido fundamental de toda palavra e conseqüentemente toda a frase, mas também suas representações exatas dentro do mundo real; envolvendo por conseguinte a forma, as cores, os sons, perfumes adequados à própria pessoa ou a toda idéia que se quisesse encontrar.
Munido desse precioso instrumento, Saint-Yves sonhava também em renovar a música segundo os sete modos antigos donde a canção plana conservou-nos  a tradição. Ele pensava também liberar ao público todos os objetos usuais ou as construções arquiteturais conforme um pensamento dado: ele contava provar a todos, através da harmonia exterior da vida cotidiana, a presença do Verbo em tudo aquilo que nos envolve.
Com efeito, ele tomou, em 26 de junho de 1903, um alvará de invenção, onde a brochura é agora muito rara. Ele sonhava em formar, a seguir, uma sociedade que pudesse fundar a fábrica  necessária; falaremos disso mais tarde.
Tanto trabalho, seguido de uma vida tão batalhadora e tão atormentada, com ardor, entusiasmo  e muita coragem, o debilitaram  . Nos seus últimos anos, as crises de uma doença cardíaca, teria demandado muito repouso, moderaram suas atividades  e arrancaram definitivamente suas últimas esperanças de trabalho.
O Arqueômetro e suas aplicações ficaram  inacabados e  muitos temeram  não vê-lo jamais realizado.
Entretanto, ao lado desses tesouros da ciência transcendental que nós devemos à sua elevada e bela inteligência , Saint-Yves nos deixou o exemplo de uma magnanimidade rara, de uma alma ascética e piedosa, a qual a  fortuna  só serviu para redobrar seu entusiasmo e o infortúnio não abateu sua infatigável perseverança; de uma vida cheia inteiramente pela nobre ambição de servir os maiores interesses da Humanidade, sem esperar outra recompensa senão  o sucesso reservado inevitavelmente à sua memória .
1.     O jazigo onde ele repousa em Versalhes, próximo de sua esposa, foi construído
segundo o Arqueômetro.


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