Ao acordar nessa manhã, procurei
pensar nas coisas que tinha a fazer e enumerá-las para focar os objetivos que tracei.
Muitas destas atividades estão veiculadas ao dia a dia, sustento financeiro, filhos,
casa e etc., mas como a vida não se prende a só isso, repensei o espiritual e revi
em minha mente alguns vídeos e textos que nosso Babá – Pai Rivas tem postado em
seu blog nas redes sociais.
Apesar de estar presente aos seus
ritos, e coadunar com tudo que é feito, chamou-me especial atenção onde ele
fala sobre a Umbanda Esotérica de W.W.da Matta e Silva e suas obras, e que ele
estaria retificando erros e valores e ratificando outros como o uso dos métodos
do Ifa. Lembro que nosso Babá é o sucessor legítimo de Matta e Silva desde 1987,
tendo ordens e direitos para fazer estes ajustes e que atendem a novos momentos
da Umbanda Esotérica.
Mas muitos poderiam agora estar
se perguntando: o que chamou à atenção do Ygbere?
E respondo; depois de conviver a
trinta e sete anos com nosso Babá e ter tido a oportunidade em estar com o
mestre Yapacani – Matta e Silva em sua casa/terreiro em Itacuruça e em ritos
que o mesmo realizou na OICD – São Paulo, ter lido todas suas obras e até ter
feito minha dissertação de mestrado sobre a magia na Umbanda Esotérica de Matta
e Silva, percebi que aquilo que tinha lido, estudado e até escrito, não
condiziam com as novas fases da mesma.
Más como assim, poderiam
perguntar os amigos? Então procurarei ser mais claro:
Em um dos vídeos postados por
nosso Babá, ele cita o livro Segredo da Magia de Umbanda, em especial a página
14 e que fala o seguinte:
...Porque, a Corrente Astral de
Umbanda, nessa 1ª Fase de Ação no Brasil e por dentro dessa coletividade
chamada dos cultos afro-brasileiros, teve um objetivo e se apresentou assim:
com “caboclos, pretos-velhos etc”; porém, na 2ª Fase de Ação, a se iniciar
dentro de poucos anos, essa Corrente vai revelar novos aspectos...novos
horizontes. É só, senhores “magistas, esoteristas, ocultistas etc.”...
Depois de ler isso, continuei a
leitura do livro todo, e para minha surpresa comecei a ver e entender coisas que
nunca tinha passado em minha cabeça, lembrando que este livro vi e revi várias
vezes. Pude ver com total clareza que o mesmo tem abordagens extremamente
diferentes que a obra do homem/iniciado/sacerdote Matta e Silva e que foram
citadas pelo nosso Babá - Pai Rivas exaustivamente.
Percebi uma dicotomia entre o que
eu tinha plena convicção e o que lá estava. No primeiro instante, atirei o
livro ao chão, tamanha aversão que senti pelos temas falados e em especial
quando falava do negro. Assuntos totalmente ultrapassados e que só existiram na
metade do século passado com a insistência do embranquecimento da população
brasileira, como se a cor da epiderme pudesse tornar alguém melhor ou pior.
Na sequência dos textos pude
constatar aspectos de misoginia, homofobia, xenofobia, evolucionismo cultural,
evolucionismo social, elitismo, conservadorismo, etnocentrismo, temas que nosso
mestre ou Babá chamou de vergonhosos e que deveriam ser alterados e
transformados em suas partes visíveis e invisíveis.
Más os amigos poderiam continuar
a perguntar: más o Babá já falou sobre isso a tempos e só agora você está
falando isso?
Sim, concordo, a leitura do livro
novamente fez com que eu me visse, tal qual em um espelho, e ao me ver, percebi
que estive enganado quando não me achava preconceituoso, fazendo parte de uma
elite de pensadores do Santo.... Tola ilusão.
Só agora vislumbro o que o Babá
já viu há muito tempo, e que vêm falando, ensinando, corrigindo e vivenciando,
bastando ver suas realizações.
A nova fase está aí, basta ver o
TUO, com seu templo devidamente adequado para o estudo e aplicação do destino
dos seres, por intermédio de Orunmilá Ifá. O mesmo Ifá que Matta e Silva falou
no livro Macumbas e Candomblés na Umbanda em 1969 e que a maioria não entendeu
que o mesmo não tinha solução de continuidade em relação a diversidade das
religiões afro brasileiras, pelo contrário, afinal tudo é um grande encadeamento
de saberes e viveres obedecendo um grande continuum.
Neste “novo” momento, existe o
respeito a todas as formas de entender e compreender o sagrado, não há uma
verdade única, uma totalidade, há sim múltiplas formas de acesso ao real, tais
como a memória, a vivência, o afeto, a percepção, a oralidade, a ética, a
episteme, os métodos e tudo centrados na ancestralidade sobrenatural (Orixás e
entidades que possibilitam o transe do imanente para o transcendente dos seus
adeptos).
E foi com esta profusão de
pensamentos que me vi sem pré-conceitos, sem mascaras, ou seja, desnudo de
tolas vaidades, pois naquele momento percebi o “outro” que muitas vezes estava
em meu falar, mas não no coração. Confesso que senti em meu corpo uma intensa
aflição e busquei naquele momento até o auxílio de maracujinas, valerianas e
etc., pois saía de uma zona de conforto de muitos anos.
Hoje depois destes momentos e ao
ver comentários de muitos nas redes sociais, contrários a mudanças daquilo que
conheceram apenas no que ouviram falar do mestre Matta e Silva, peço que
releiam suas obras, mas não se detivessem apenas no momento cronológico que as
mesmas foram escritas e sim naquilo que ele sabia e escreveu que viria em um
futuro breve e por isso fez um sucessor legítimo para essas transformações.
Aranauam,
Sarava,
Motumbasé,
Saudações a todos.
Ygbere