tag:blogger.com,1999:blog-61614946714277458252024-03-06T02:35:31.770-03:00AbaaraYgbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.comBlogger117125tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-80307838243043935532017-05-05T11:27:00.001-03:002017-05-05T11:27:16.769-03:00CONCEITUANDO O GÊNERO: OS FUNDAMENTOS EUROCÊNTRICOS DOS CONCEITOS FEMINISTAS E O DESAFIO DAS EPISTEMOLOGIAS AFRICANAS<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiDW0ZiqhYsh7BGjxYAgJtOURivx1N8kbMVvzGlwBvfyZzZMnrghyphenhyphenpvCLuFaaJGeoiSZXfbIWAYkiGGfLvZayFmW8qgCZHoiIBpCwwpNdKf7W3ngB_kpm8fN19lUGg1cAEd8vQZDAGssQ/s1600/ori.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiDW0ZiqhYsh7BGjxYAgJtOURivx1N8kbMVvzGlwBvfyZzZMnrghyphenhyphenpvCLuFaaJGeoiSZXfbIWAYkiGGfLvZayFmW8qgCZHoiIBpCwwpNdKf7W3ngB_kpm8fN19lUGg1cAEd8vQZDAGssQ/s1600/ori.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt; line-height: 107%;"><span style="color: white;">Oyèrónké Oyěwùmí<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt; line-height: 107%;"><span style="color: white;">OYĚWÙMÍ, Oyèrónké.
Conceituando o gênero: os fundamentos eurocêntricos dos conceitos feministas e
o desafio das epistemologias africanas. Tradução para uso didático de: OYĚWÙMÍ,Oyèrónké.
Conceptualizing Gender: The Eurocentric Foundations of Feminist Concepts and
thechallenge of African Epistemologies. African Gender Scholarship: Concepts,
Methodologies and Paradigms. CODESRIA Gender Series. Volume 1, Dakar, CODESRIA,
2004, p. 1-8 por Juliana Araújo Lopes.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Os últimos
cinco séculos, descritos como era da modernidade, foram definidos por uma série
de processos históricos, incluindo o tráfico atlântico de escravos e
instituições que acompanharam a escravidão, e a colonização europeia de África,
Ásia e América Latina. A ideia de modernidade evoca o desenvolvimento do
capitalismo e da industrialização, bem como o estabelecimento de estados-nação
e o crescimento das disparidades regionais no sistema mundo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">O período tem
assistido a uma série de transformações sociais e culturais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Significativamente,
gênero e categorias raciais surgiram durante essa época como dois eixos fundamentais
ao longo dos quais as pessoas foram exploradas, e sociedades, estratificadas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Uma
característica marcante da era moderna é a expansão da Europa e o estabelecimento
de hegemonia cultural euro-americana em todo o mundo. Em nenhum lugar isso é
mais profundo que na produção de conhecimento sobre o comportamento humano, história,
sociedades e culturas. Como resultado, os interesses, preocupações,
predileções, neuroses, preconceitos, instituições sociais e categorias sociais
de euro-americanos têm dominado a escrita da história humana. Um dos efeitos
desse eurocentrismo é a racialização do conhecimento: a Europa é representada
como fonte de conhecimento, e os europeus, como conhecedores. Na verdade, o
privilégio de gênero masculino como uma parte essencial do ethos europeu está
consagrado na cultura da modernidade. Este contexto global para a produção de conhecimento
deve ser levado em conta em nossa busca para compreender as realidades africanas
e de fato a condição humana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Neste artigo,
meu objetivo é interrogar gênero e conceitos aliados com base em experiências e
epistemologias culturais africanas. O foco aqui é sobre o sistema de família nuclear,
que é uma forma especificamente europeia, e ainda é a fonte original de muitos
dos conceitos que são usados universalmente na pesquisa de gênero. O objetivo é
encontrar maneiras em que a pesquisa africana possa ser mais bem informada por
preocupações e interpretações locais e, ao mesmo tempo, simultaneamente, para
que experiências africanas sejam levadas em conta na construção teórica geral,
a pesar do racismo estrutural do sistema global.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Gênero e a
política de conhecimento feminista quaisquer estudos sérios sobre o lugar do
"gênero" em realidades africanas devem necessariamente levantar
questões sobre conceitos vigentes e abordagens teóricas. Este é um resultado do
fato de que a arquitetura e mobiliário de pesquisa de gênero têm sido em grande
parte destilada desde a Europa e experiências americanas. Hoje, estudiosas
feministas são a mais importante circunscrição com foco em gênero e a fonte de
muito conhecimento sobre as mulheres e hierarquias de gênero. Como resultado de
seus esforços, o gênero tornou-se uma das categorias analíticas mais
importantes na empreitada acadêmica de descrever o mundo e tarefa política de
prescrever soluções. Assim, embora a nossa busca por entender não possa ignorar
o papel das feministas ocidentais, devemos questionar a identidade social,
interesses e preocupações das fornecedoras de tais conhecimentos. De acordo com
esta abordagem "sociologia do conhecimento", Karl Mannheim afirma:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Pessoas
ligadas entre si em grupos se esforçam em conformidade com o caráter e a
posição dos grupos a que pertencem para mudar o mundo em torno da natureza e da
sociedade ou tentar mantê-lo em uma determinada condição. É o sentido desta
vontade de mudar ou de manter, desta atividade coletiva, que produz o fio
condutor para a emergência de seus problemas, seus conceitos e suas formas de
pensamento. (1936: 4)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">As
feministas, como um destes grupos, têm usado seu poder recém-adquirido nas sociedades
ocidentais para transformar o que antes eram vistos como os problemas
particulares das mulheres em questões públicas. Eles mostraram como problemas
pessoais das mulheres na esfera privada são de fato questões públicas
constituídas pela desigualdade de gênero da estrutura social. Está claro que as
experiências das mulheres euro-americanas e o desejo por transformação
forneceram as bases para as perguntas, conceitos, teorias e preocupações que produziram
a pesquisa de gênero.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Pesquisadoras
feministas usam gênero como o modelo explicativo para compreender a subordinação
e opressão das mulheres em todo o mundo. De uma só vez, elas assumem tanto a
categoria "mulher" e sua subordinação como universais. Mas gênero é
antes de tudo umaconstrução sociocultural. Como ponto de partida da investigação,
não podemos tomar como dado o que de fato precisamos investigar. Se o gênero
predomina tão largamente na vida das mulheres brancas com a exclusão de outros
fatores, temos que perguntar: por que gênero? Por que não alguma outra
categoria, como raça, por exemplo, que é vista como fundamental porafro-americanas.
Porque gênero é socialmente construído, a categoria social "mulher"
não é universal, e outras formas de opressão e igualdade estão presentes na
sociedade, questões adicionais devem ser feitas: Por que gênero? Em que medida uma
análise de gênero revela ou oculta outras formas de opressão? As situações de
quais mulheres são bem teorizadas pelos estudos feministas? E de que grupos de
mulheres em particular? Até que ponto isso facilita os desejos das mulheres, e
seu desejo de entender-se mais claramente?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Muitos
estudiosos têm criticado o gênero como um conceito universal e têm mostrado a
medida em que ele é particular a políticas de mulheres anglófonas/americanas e
brancas, especialmente nos Estados Unidos. Talvez a crítica mais importante de
articulações feministas de gênero é aquela feita por uma série de estudiosas
afro-americanas que insistem que nos Estados Unidos de forma alguma o gênero
pode ser considerado fora da raça e da classe. Esta posição levou à insistência
sobre as diferenças entre as mulheres e a necessidade de teorizar múltiplas
formas de opressão, particularmente sobre as quais as desigualdades de raça,
gênero e as desigualdades de classe são evidentes. Fora dos Estados Unidos, as
discussões centraram-se sobre a necessidade de atentar-se ao imperialismo, à
colonização e outras formas locais e globais de estratificação, que emprestam
peso à afirmação de que o gênero não pode ser abstraído do contexto social e
outros sistemas de hierarquia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Neste artigo,
gostaria de acrescentar outra dimensão para as razões pelas quais o gênero não
deve ser tomado por seu valor nominal e, especificamente, para articular uma
crítica Africana. Em primeiro lugar, explorarei as fontes originais dos
conceitos feministas que são o esteio da pesquisa de gênero. Gostaria de
sugerir que os conceitos feministas estão enraizados sobre a família nuclear.
Esta instituição social constitui a própria base da teoria feminista e representa
o veículo para a articulação de valores feministas. Isto é, apesar da crença
generalizada entre as feministas que seu objetivo é subverter esta instituição
dominada pelos homens e a crença entre os detratores do feminismo que o
feminismo é anti-família. Apesar do fato de que o feminismo tornou-se global, é
a família nuclear ocidental que fornece o fundamento para grande parte da
teoria feminista. Assim, os três conceitos centrais que têm sido os pilares do feminismo,
mulher, gênero e sororidade, são apenas inteligíveis com atenção cautelosa à
família nuclear da qual emergiram.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Além disso,
algumas das questões mais importantes e debates que animaram pesquisa de gênero
nas últimas três décadas fazem mais sentido, uma vez que o grau em que eles
estão entrincheirados na família nuclear (que é uma configuração institucional
e espacial) é analisado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">O que é a
família nuclear? A família nuclear é uma família generificada por excelência.
Como uma casa unifamiliar, é centrada em uma mulher subordinada, um marido
patriarcal, e as filhas e filhos. A estrutura da família, concebida como tendo
uma unidade conjugal no centro, presta-se à promoção do gênero como categoria
natural e inevitável, porque dentro desta família não existem categorias
transversais desprovidas dela. Em uma família generificada, encabeçada pelo macho
e com dois genitores, o homem chefe é concebido como ganhador do pão, e o
feminino está associado ao doméstico e ao cuidado. A socióloga feminista Nancy
Chodorow nos dá um relato de como a divisão sexual do trabalho na família
nuclear, em que mulheres exercem a maternagem, configura diferentes trajetórias
psicológicas de desenvolvimento para filhos e filhas e, finalmente, produz
seres com gênero e sociedades generificada. De acordo com Chodorow:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A divisão do
trabalho familiar em que as mulheres exercem a maternagem dá sentido social e
histórico específico para o gênero em si. O engendramento de homens e mulheres
com personalidades, necessidades, defesas e capacidades particulares cria
condições e contribui para a reprodução dessa mesma divisão do trabalho. Assim,
o fato de as mulheres serem mães inadvertidamente e inevitavelmente se
reproduz. (1978: 12)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Distinções de
gênero são fundantes do estabelecimento e funcionamento deste tipo de família.
Assim, o gênero é o princípio organizador fundamental da família, e as
distinções de gênero são a fonte primária de hierarquia e opressão dentro da
família nuclear. Da mesma forma, a mesmice de gênero é a principal fonte de
identificação e solidariedade neste tipo de família.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Assim, as
filhas se auto-identificam como mulheres com sua mãe e irmãs. Haraway, por sua
vez escreve: “O casamento encapsulou e reproduziu relação antagônica de dois
grupos sociais coerentes, homens e mulheres" (Haraway 1991: 138).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A família
nuclear, porém, é uma forma especificamente euro-americana; não é universal.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Mais
especificamente, a família nuclear continua a ser uma forma alienígena na
África, apesar da sua promoção pelos Estados colonial e neocolonial, agências
internacionais de (sub)desenvolvimento, organizações feministas, organizações
não-governamentais (ONGs) contemporâneas, entre outros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A
configuração espacial do agregado familiar nuclear como um espaço isolado é fundamental
para a compreensão de categorias conceituais feministas. Não é de se
surpreender que a noção de feminilidade que emerge do feminismo euro-americano,
que está enraizada na família nuclear, é o conceito de esposa, uma vez que, como
Miriam Johnson coloca, [Nas sociedades ocidentais] “a relação de matrimônio
tende a ser a relação nuclear de solidariedade adulta e, como tal, faz com que
a própria definição de mulher se torne a definição de esposa.” (19:40) Porque a
categoria "esposa" está enraizada na família.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Em grande
parte da teoria feminista branca, a sociedade é representada como uma família
nuclear, composta por um casal e suas/seus filhas/os. Não há lugar para outros
adultos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Para as
mulheres, nesta configuração, a identidade esposa é totalmente uma definição;
outros relacionamentos são, na melhor hipótese, secundários. Parece que a
extensão do universo feminista é a família nuclear.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Metodologicamente,
a unidade de análise é o lar da família nuclear, o que, teoricamente, então,
reduz mulher à esposa. Porque raça e classe não são normalmente variáveis na
família, faz sentido que o feminismo branco, que está preso na família, não
veja raça ou classe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Assim, a
categoria fundamental da diferença, que aparece como um universal a partir dos
limites da família nuclear, é o género. A mulher no centro da teoria feminista,
a esposa, nunca fica fora do domicílio. Como um caracol, ela carrega a casa em
torno de si mesma. O problema não é que a conceituação feminista comece com a
família, mas que ela nunca transcenda os estreitos limites da família nuclear.
Consequentemente, sempre que mulher está presente, torna-se a esfera privada da
subordinação das mulheres. Sua própria presença definea como tal.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Ao teorizar a
partir do espaço confinado da família nuclear, não é de se estranhar que as questões
de sexualidade automaticamente vêm à tona em qualquer discussão de gênero.
Mesmo uma categoria como mãe não é inteligível para o pensamento feminista
branco, exceto se a mãe é inicialmente definida como esposa do patriarca.
Parece não haver compreensão do papel de mãe independente de seus laços sexuais
com um pai.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Mães são,
antes de tudo, esposas. Esta é a única explicação para a popularidade do seguinte
paradoxo: mãe solteira. A partir de uma perspectiva africana e como uma questão
de fato, mães por definição não podem ser solteiras. Na maioria das culturas, a
maternidade é definida como uma relação de descendência, não como uma relação
sexual com um homem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Dentro da
literatura feminista, a maternidade, que em muitas outras sociedades constitui
a identidade dominante das mulheres, está subsumida a ser esposa. Porque mulher
é um sinônimo de esposa, a procriação e a lactação na literatura de gênero
(tradicional e feminista) são geralmente apresentadas como parte da divisão
sexual do trabalho. A formação de casais pelo casamento está assim constituída
como a base da divisão social do trabalho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A socióloga
feminista Nancy Chodorow argumenta que mesmo uma criança experimenta a sua mãe
como um ser generificado – esposa do pai – o que tem implicações profundas no
que diz respeito ao desenvolvimento psicossocial de filhos e filhas. Ela universaliza
a experiência da maternidade nuclear e toma-a como um dado humano, estendendo assim
os limites desta forma euro-americana muito limitada para outras culturas que
têmdiferentes organizações familiares.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A família
Iorubá não-generificada<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Até este
ponto, mostrei que os conceitos feministas emergiram da lógica da famílianuclear
patriarcal, uma forma de família que está universalizada de forma inadequada.
Nesta seção, desenhando a partir da minha própria pesquisa sobre a sociedade
Iorubá do sudoeste da Nigéria, eu apresento um tipo diferente de organização
familiar. A família Iorubá tradicional pode ser descrita como uma família
não-generificada. É não-generificada porque papéis de parentesco e categorias
não são diferenciados por gênero. Então, significativamente, os centros e poder
dentro da família são difusos e não são especificados pelo gênero. Porque o
princípio organizador fundamental no seio da família é antiguidade baseada na
idade relativa, e não de gênero, as categorias de parentesco codificam
antiguidade, e não gênero. Antiguidade é a classificação das pessoas com base
em suas idades cronológicas. Daí as palavras egbon, referente ao irmão mais
velho, e aburo para o irmão mais novo de quem fala, independentemente do gênero.
O princípio da antiguidade é dinâmico e fluido; ao contrário do gênero, não é
rígido ou estático.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Dentro da
família Iorubá, omo, a nomenclatura para a criança, é melhor traduzida como prole.
Não há palavras que denotem individualmente menina ou um menino em primeira instância.
No que diz respeito às categorias de marido e esposa dentro da família, a
categoria oko, que normalmente é registrada como o marido em Inglês, não é
especificada por gênero, pois abrange ambos machos e fêmeas. Iyawo, registrada
como esposa, em Inglês refere-se a fêmeas que entram na família pelo casamento.
A distinção entre oko e iyawo não é de gênero, mas uma distinção entre aqueles
que são membros de nascimento da família e os que entram pelo casamento. A
distinção expressa uma hierarquia em que a posição oko é superior a iyawo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Esta
hierarquia não é uma hierarquia de gênero, porque mesmo oko fêmea são
superiores a iyawo fêmea. Na sociedade em geral, mesmo na categoria de iyawo inclui
homens e mulheres, em que os devotos dos Orixás (divindades) são chamados iyawo
Orisa. Assim, os relacionamentos são fluidos, e papéis sociais, situacionais,
continuamente situando indivíduos em papéis modificativos, hierárquicos e não
hierárquicos, contextuais que são.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">O trabalho da
antropóloga social Niara Sudarkasa sobre as características contrastantes dos
sistemas familiares baseados em África e formas baseadas na Europa é
especialmente esclarecedor. Ela ressalta que a família nuclear é uma família
que tem bases conjugais, que é construída em torno de um casal como núcleo
conjugal. Na África Ocidental (da qual os Iorubá são uma parte), é a linhagem
que se considera como a família. A linhagem é um sistema familiar baseado
consanguineamente, construído em torno de um núcleo de irmãos e irmãs por
relações de sangue. Ela explica:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Após o
casamento, os casais normalmente não estabeleciam famílias separadas, mas sim
se juntavam ao composto familiar da noiva ou do noivo, dependendo das regras
vigentes de descendência. Em uma sociedade em que a descendência é patrilinear,
o grupo principal do composto consistia de um grupo de irmãos, algumas irmãs,
seus filhos adultos e netos. O núcleo da unidade co-residencial era composto de
parentes de sangue. Os cônjuges são considerados pessoas de fora e, portanto,
não parte da família [grifo da autora]. (1996: 81)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">No caso
Iorubá, todos os membros da linhagem são chamados omo-ile e são classificados individualmente
por ordem de nascimento. Todas as fêmeas que adentram pelo casamento são conhecidas
como iyawo ile e são classificadas por ordem de casamento. Individualmente, um
omoile ocupa a posição de oko em relação à iyawo que chega. Esta relação
insider-outsider está ranqueada, com o insider sendo o idoso privilegiado. O
modo de recrutamento para a linhagem é a diferença crucial – nascimento para
oko e casamento para iyawo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Se havia um
papel-identidade que definia fêmeas era a posição de mãe. Dentro da casa, os
membros são agrupados em torno de diferentes unidades mãe-filhas/os descritos
como omoya; literalmente, irmãos filhos de uma mesma mãe-ventre. Por causa da
matrifocalidade de muitos sistemas familiares africanos, a mãe é o eixo em
torno do qual as relações familiares são delineadas e organizadas.
Consequentemente, omoya é a categoria comparável na cultura Iorubá à irmã
nuclear na cultura euro-americana branca. A relação entre irmãos de ventre,
como aquela das irmãs da família nuclear, é baseada em uma compreensão de
interesses comuns nascidos de uma experiência compartilhada. A experiência
partilhada definidora, que une os omoya em lealdade e amor incondicional, é o
ventre da mãe. A categoria omoya, diferentemente de irmã, transcende o gênero.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Omoya também
transcende a casa, porque primos matrilaterais são considerados como irmãos de
ventre, e são percebidos como mais próximos uns dos outros do que irmãos que compartilham
o mesmo pai e que podem mesmo viver na mesma casa. Omoya localiza uma pessoa
dentro de um agrupamento reconhecido socialmente, e ressalta a importância dos
laços entre mãe e filha/o ao delinear e ancorar o lugar de uma criança na
família; assim, estas relações são primárias, privilegiadas, e devem ser
protegidas acima de todas as outras. Além disso, omoya ressalta a importância
da maternidade como instituição e como experiência na cultura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">O Desafio de
conceituações africanas<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A dificuldade
da aplicação de conceitos feministas para expressar e analisar as realidades africanas
é o desafio central dos estudos de gênero africanos. O fato de que as
categorias de gênero ocidentais são apresentadas como inerentes à natureza (dos
corpos), e operam numa dualidade dicotômica, binariamente oposta entre
masculino/feminino, homem/mulher, em que o macho é presumido como superior e,
portanto, categoria definidora, é particularmente alienígena a muitas culturas
africanas. Quando realidades africanas são interpretadas com base nessas
alegações ocidentais, o que encontramos são distorções, mistificações
linguísticas e muitas vezes uma total falta de compreensão, devido à incomensurabilidade
das categorias e instituições sociais. Na verdade, as duas categorias básicas
de mulher e gênero demandam repensar, dado o caso Iorubá apresentado acima, e,
como argumentei em meu livro The Invention of Women: Making an African Sense of
Western Gender Discourses. Escritos de outras sociedadesafricanas sugerem
problemas semelhantes. Seguem alguns exemplos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A antropóloga
social Ifi Amaduime escreve sobre filhas do sexo masculino, maridos fêmeas, e a
instituição do casamento de mulheres na sociedade Igbo (Amaduime 1987). Essas concepções
confundem a mente ocidental e, portanto, não deveriam ser aprisionadas pelam moldura
interpretativa feminista. No romance Nervous Conditions,Tsitsi Dangarembga, escrevendo
em um contexto Shona, discute os privilégios do que ela chama de "status
patriarcal" da Tia Tete, uma personagem da história: "Agora, este
tipo de trabalho era trabalho de mulheres, e das treze mulheres lá, minha mãe e
Lucia eram um pouco incapacitadas – com Tete tendo status patriarcal, não se
esperava que fizesse muita coisa". (1989: 133) Compreendemos que TiaTete é
uma mulher, mas tem "status patriarcal", que a isenta do trabalho de
mulher. Emerge então a questão de como a categoria "mulher" é
constituída na sociedade Shona. Quem, então, é a mulher que faz o trabalho das
mulheres? O que significa tudo isso dentro da organização social da sociedade?
Da mesma forma, Sekai Nzenza Shand, escrevendo sobre sua família Shona em seu
livro de memórias Songs from an African sunset, descreve a relação superior de
sua mãe para com os varões assim:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Em sua aldeia
de solteira, minha mãe era visto como a grande tia, ou um homem honorário; os
varões deram-lhe o respeito devido a um pai, e minha mãe poderia comandá-los
como desejasse. Eles, portanto, vieram à aldeia de seu “marido” para apoiá-la
em luto (1997: 19). A mãe de Nzenza Shand é um homem (ainda que um homem
honorário)? O que isso significa?<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Voltando à
África Ocidental, o linguista ganês, Kwesi Yankah em sua monografia sobre os
Okyeame - porta-voz de chefes Akan - ele fez a seguinte observação: "um
Okyeame é tradicionalmente referido como o ohene yere, esposa do chefe - é
geralmente aplicado a todos Okyeame, se em posições de nomeação governamental
ou hereditárias" (1995: 89). Ele explica:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">"mesmo
em casos em que um chefe é fêmea e seu Okyeame é macho, o akyeame ainda é
esposa, e o chefe, marido" (89). Esse entendimento confunde claramente a
compreensão ocidental generificada em que o papel social "esposa" é
inerente ao corpo feminino. Finalmente, a historiadora Edna Bay, escrevendo sobre
o reino de Dahomey, afirma: O rei também se casava com homens. Artesãos
proeminentes e líderes talentosos de áreas recém conquistadas eram integrados aos
Dahomey através de laços com base no idioma do casamento. Junto a eunucos e
mulheres do palácio, tais homens eram chamados de ahosi. Ahosi do sexo
masculino traziam famílias consigo ou ganhavam mulheres e escravos para
estabelecer uma linhagem. (1998: 20)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A categoria
"mulheres do palácio" mencionada na citação não inclui as filhas da linhagem.
As fêmeas nascidas na linhagem ficam com seus irmãos na categoria de membros da
linhagem, um agrupamento que deriva do local de nascimento. Esses fatos
reforçam a necessidade de submeter a categoria "mulher" a uma análise
mais aprofundada, e de privilegiar as categorias e interpretações destas
sociedades africanas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Estes
exemplos africanos apresentam vários desafios aos universalismos injustificados
de discursos de gênero feministas. A partir dos casos apresentados, torna-se
óbvio que estas categorias sociais africanas são fluidas. Elas não se baseiam
no tipo de corpo, e o posicionamento é altamente situacional. Além disso, a
linguagem do casamento, que é utilizada para classificação social,
frequentemente não é, a princípio, sobre gênero, como interpretações feministas
da ideologia e organização familiar poderiam sugerir. Em outro momento, argumentei
que o idioma casamento/família em muitas culturas africanas é uma maneira de descrever
relações patrono/cliente, que pouco têm a ver com a natureza dos corpos
humanos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Análises e
interpretação de África devem começar a partir de África. Significados e interpretações
devem derivar da organização social e das relações sociais, prestando muita atenção
aos contextos culturais e locais específicos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Referências<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Amadiume,
Ifi. (1987). Male Daughters, Female Husbands: Gender and Sex in an African Society.
London: Zed Press.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Bay, Edna
(1998). Wives of the Leopard: Gender, Politics, and Culture in the Kingdom of Dahomey.Charlottesville,
University of Virginia Press.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Chodorow,
Nancy. The Reproduction of Mothering: Psychoanalysis and the Sociology of Gender.
Berkeley: University of California Press, 1978.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Dangarembga,
Tsitsi (1989). Nervous conditions: A Novel. Seattle, Seal Press Mannheim, Karl
(1936). Ideology or Utopia? London, Routeledge: Kegan and Paul Haraway, Donna
(1991). Simians, Cyborgs and Women: The Reinvention of Nature. New York:
Routledge.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Nzenza-Shand,
sekai (1997). Songs to an African Sunset: A Zimbabwean Story. Melbourne and
London :Lonely Planet Publications.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Oyewumi,
Oyeronke (1997). The Invention of Women: Making an African Sense of Western Gender
Discourses.(University of Minnesota Press).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Sudarkasa,
Niara (1996). The Strength of Our Mothers:African and African American Women and
Families :Essays and Speeches.Trenton and Asmara: Africa WorldPress.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana",sans-serif;"><span style="background-color: black; color: white;">Yankah, Kwesi
(1995). Speaking for the Chief : Okyeame and the Politics of Akan Royal Oratory.
Bloomington and Indianapolis: Indiana University Press.</span><o:p></o:p></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-43945643862193087662017-04-05T09:07:00.000-03:002017-04-05T09:07:02.101-03:00Òrìsà ÌRÒKÒ- entendendo as diferenças.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB8Ooe3cHzOsrQd5lOKloTqNPJPKPYiR3PjkJz1sytlKYlj1gicyz69cCjS3xidoXSh_arw8qZIeCszuN36hKsmrtF78-6R77udtV8F7NZ3bt9FDSdHLP15_Ed_8Yx8lvSE5fER-LpWRs/s1600/imagemrugendas.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhB8Ooe3cHzOsrQd5lOKloTqNPJPKPYiR3PjkJz1sytlKYlj1gicyz69cCjS3xidoXSh_arw8qZIeCszuN36hKsmrtF78-6R77udtV8F7NZ3bt9FDSdHLP15_Ed_8Yx8lvSE5fER-LpWRs/s1600/imagemrugendas.jpg" /></a></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 0cm 0cm 4.5pt;">
<br /></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Iroko é um orixá de culto muito restrito e pouco compreendido,
tal como Apaocá, o orixá da jaqueira, confundido com o Tat´etu Tempo do angola
e o vodum Loko dos jejes.<br />
A ele se sacrificam o bode, carneiro, galo e a conquém.<br />
É um òrìsà do grupo dos òrìsàs funfun os quais são massas de movimentos lentos,
serenos, de idade imemorial; dotados de um grande equilíbrio necessário para
manter a relação econômica entre o que nasce e o que morre, entre o que é dado
e o que deve ser devolvido, o que pode-se notar em diversos itòns de Iroko. Por
isso mesmo estão<br />
associados a justiça e ao equilibrio. Daí vem sua ligação à Òòsààlá e Sòngó.<br />
No itón da criação do mundo, àiyé, Òòsààlá perde para Odùduwà a criação da
terra, mas fica-lhe incubido a criação de todos seres que há na terra.<br />
Para cada ser humano criado por Òòsààlá, este criou simultaneamente uma árvore,
assim como para todas criaturas criadas. Os espíritos que residem em algumas
árvores consideradas sagradas são chamados Ìwín.<br />
Essas árvores sagradas, entre as quais particularmente foram escolhidas entre
os iròkò, odán, àròabà, akòkó, igí-òpe, são paramentadas com uma tira de pano
branco (òjá-funfun), atada em torno do tronco, que constitui o signo àlà dos
funfun. Um dos oriki de Iròkò apóia a relação entre os òrìsà e as árvores:<br />
Iròkò! Oluwéré, Ògìyán Èleìjú.<br />
Ìròkò, árvore proeminente entre todas as outras, o Òrìsà-funfun (Ògìyán) do
âmago da floresta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">As árvores estão associadas a ìgbá ìwà sè (o tempo quando a existência
sobreveio) e numerosos mitos começam pela fórmula "numa época em que o
homem adorava árvores..."<br />
Os troncos e os ramos da árvores representam os ancestrais masculinos.<br />
Lembremos que foi com o òpásóró que Òòsààlá diferenciou o òrun do àiyé,
estabelecendo os dois niveis de existência, e furou o igí-òpe (a palmeira) e
bebeu sua seiva. Foi essa ação violação de uma de suas proibições que o deixou
sem forças, impotente. Como se ele bebesse seu próprio sangue, indicando assim
que Obàtálà é parente consangüíneo da palmeira.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Outros orixás importantes na África e que também não se
manifestam no corpo de iniciados foram igualmente menos considerado neste País
que, por influência do kardecismo, atribui um valor muito especial ao transe.
Foi o que aconteceu com Orunmilá, Odudua, Orixá-Ocô, Ajalá, além da
Iyá-Mí-Osorongà. É interessante lembrar que o culto de Ossaim sofreu no Brasil
grande mudança, passando o orixá das folhas a se manifestar no transe, o que o
livrou certamente do esquecimento.<span class="apple-converted-space"> </span><br />
O culto da árvore Iroco também se preservou entre nós, ainda que raramente,
quando ganhou filhos e se manifestou em transe, sorte que não teve Apaocá.<br />
São as entidades mais afastadas dos seres humanos e as mais perigosas, incorrer
ao desagrado ou na irritação de tal òrìsà. Iròkò também esta ligado às Ìyá-mí,
o poder das ajés (feiticeiras).<br />
O culto às árvores compartilhou, em segundo lugar, a celebridade do culto às
serpentes, por ter sido citado após ele, durante muito tempo, pelos primeiros
viajantes, era o segundo culto em Ouidah, no Daomé. Uma das principais árvores
cultuadas era Loko, que em si, não é uma árvore sagrada, apenas o sendo quando
serve de assento a uma divindade. Seu nome no Daomé está sempre ligado ao do
Vodun que lhe deu esse caráter. Existem lendas sobre Iròkò, sob cujo nome
aparece está árvore: Adanloko, Atanloko, Léléloko, Lokozoun, etc.<br />
Este deus é importante para a compreensão da religião daomeana, na medida em
que oferece uma visão das inter-relações dos diversos cultos no Daomé. Entre as
divindades do céu, Loko é encarregado de cuidar das árvores que se encontram na
terra e suas funções são de tal modo significativas que ele tem como assistente
seu jovem irmão,<br />
Medje.<br />
Aqui esta uma grande confusão que envolve a árvore Iroko; o òrìsà Ìròkò (Ketú-
Yorubá), o Vodun Loko (Daomé- Jeje) e o Tat'etu Kitembu (Bantu- Angola).<br />
O òrìsà Ìròkò (da Nação Ketú- Yorubá), seria a árvore sua própria manifestação
(estado), porém nem todas árvores são divindades, somente quando consagradas, a
mesma possui um òjá-funfun que representa sua ligação aos òrìsàs funfun, no
Brasil fora substituída pela Gameleira Branca, árvore semelhante ao iroko
africano; é um Òrìsà que esta relacionado ao tempo, a justiça, a Sóngò,
Òòsààlá, Apaoká, Èsú e Ìyá-Mí. Para os iorubas, existe uma concepção de um deus
que mora em uma árvore, e ao mesmo tempo outro deus mora no galho desta árvore,
assim como outro deus pode habitar (ter sua energia) nas folhas desta árvore.<br />
O vodun Loko (Nação Jeje- Daomé), é encarregado de cuidar das árvores que se
encontram na terra e suas funções; e é representado pela árvore iroko.<br />
Tat'etu Kitembu (Nação Angola- Bantu), é uma divindade também chamada no Brasil
de Tempo, o senhor das trasformações o que guia o seu povo através da sua bandeira
branca, assim todos, por longe que esteja pode se unir ao líder, por que o mastro
da sua bandeira é tão alto que pode ser visto de qualquer lugar. O que não
deixa os caçadores perdidos (pois os Nkisis são, em sua natureza primeira todos
caçadores e guerreiros, pois assim a aldeia e seus descendentes estariam
garantidos). Nesse ponto este Tat'etu Kitembu leva uma bandeira; o que fazem
confusão em fazerem uma analogia do òjà-funfun do Òrìsà Ketú Ìròkò, e pelo ato
da iniciação; enquanto Angola faz sua maiunga (banho) ao "pé" de
Kitembu (que esta ligado a terra e é o Tat´etu patrono de Angola, lembrando que
a água sobre a terra lembra a fecundação de algo que esta nascendo); a Nação
Ketú também faz ato semelhante ao "pé" do Òrìsà Iròkò, pela sua
ligação com o nascimento (ser o primeiro ser criado árvore) e a ligação dos
òrìsà-funfun, ligados a fecundação.<br />
Segundo nossa concepção a fitolatria africana na Bahia parece ter duplo
sentido. A árvore pode ser um verdadeiro fetiche animado ou, ao contrário, mal
representa a morada o altar de um santo. A gameleira branca (fícus religiosa),
árvore abundante neste Estado, é o tipo da planta deus. Com o nome de Iroko é
objeto de um culto fervoroso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Orin Iroko (Esu)<br />
Ero n ( i ) iroko ni nos<br />
Calma que iroko ser produzindo<br />
Iroko má so ele<br />
Iroko não produzir força.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ketú<span class="apple-converted-space"> </span><br />
Oko ( o )yin má so ele erro, erro ni Iroko nos.<br />
O dono do mel não pode provocar a calma que Iroko provoca.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Bom, espero ter contribuído e deixado claro as
"diferenças". Em novos tópicos mostraremos um pouco de cada um desses
òrìsà, Tat´etu e Vodun para que fique bem notório a diferença dos cultos; pois
como já falei em outro tópico, somos diferentes em cultos, mas unidos em fé.<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm 0.0001pt;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Iré O!<br />
Bàbálòrìsá Erìnlé Bowale<o:p></o:p></span></span></div>
<div style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; line-height: 150%; margin: 4.5pt 0cm 0.0001pt;">
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: black; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ilé Asé Egbé Oko Erinlé</span></span><span style="background-color: white; color: #1d2129; font-family: Helvetica, sans-serif; font-size: 10.5pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-58851739479744554132017-04-01T11:17:00.002-03:002017-04-01T11:17:53.737-03:00MITO, MITOLOGIA E FILOSOFIA AFRICANA<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiq9yC3Wq0zz_mUuyXErWnT4h98uL5txK3KyNFw8HT0sGPPmG6_1rFydmwEObivtE_XWs6LHVHnQtr-LgD5UmDd53DIE-1NGc7b1vphjG8aaFp2-gk2L-YkQjQaxGnwyr-w-ERUJyPMBeg/s1600/negros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="196" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiq9yC3Wq0zz_mUuyXErWnT4h98uL5txK3KyNFw8HT0sGPPmG6_1rFydmwEObivtE_XWs6LHVHnQtr-LgD5UmDd53DIE-1NGc7b1vphjG8aaFp2-gk2L-YkQjQaxGnwyr-w-ERUJyPMBeg/s320/negros.jpg" width="320" /></a></div>
<br />
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div align="right" class="Default" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="color: white;">Banza
Mwepu Mulundwe & Muhota Tshahwa <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="Default" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="color: white;">Assistentes
na Universidade de Lubumbashi <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="Default" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="color: white;">MULUNDWE,
Banza Mwepu; TSHAHWA, Muhota. Mito, Mitologia e Filosofia Africana. <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="Default" style="line-height: 150%; text-align: right;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 150%;"><span style="color: white;">Tradução
para uso didático de MULUNDWE, Banza Mwepu; TSHAHWA, Muhota. Mythe, mythologie
et philosophie africaine. <b>Mitunda. Revue des Cultures Africaines</b>. Volume
4, Numéro spécial, octobre 2007, p. 17-24 por Kathya Barbosa Fernandes e
Aurélio Oliveira Marques. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Introdução
</span></b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">De
forma alternada, ora elogiada e ora criticada, a mitologia teve, desde a
Antiguidade clássica, até nossa época atual, tanto defensores convictos, quanto
adversários ferozes. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Essas
duas atitudes diametralmente opostas anunciam o lugar do mito e da mitologia
grega em geral, e a africana em particular, nos fazem tentar decifrar nas
linhas que se seguem. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Para
chegarmos lá, procederemos em função das etapas seguintes: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">1 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">–
Uma definição aproximada a qual iremos apresentar ao leitor é a de que mito e
logos significam aos olhos dos Gregos por eles mesmos. Nós sabemos,
evidentemente, que não há unanimidade em torno destas duas concepções. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">2 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">–
Na seção intitulada “Hermenêutica e mitologia”, nós afirmaremos que toda a
filosofia, independentemente de qual seja, nasce do mito graças à hermenêutica,
ao método semiológico. E assim é o mesmo com a filosofia africana. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">3 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">–
A seção, que tem por título “Hermenêutica e história, visa nos fazer ver que a
filosofia banto de Placide Tempels nasceu na esteira de Maurice Leenhart, da
prática de resoluções da <i>l’Ecole de Mons, </i>que é inspirada por Heródoto,
Berose e Tácito, no sentido em que combina todas as fontes potenciais, as
ciências auxiliares da história sem omitir nenhuma, seja discurso, seja esoterismo.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Abordagem
conceitual </span></b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Na
época clássica grega, a mitologia teve tantos defensores (Homero, Hesíodo,
Hecate, Parmênides, Empédocles, Theágenes...) quanto críticos (Píndaro,
Anacreonte, Aristóteles e, principalmente, Tucídides, bem como, os antropólogos
do século XIX e seus discípulos africanos) sem esquecer da Igreja católica
romana e os teólogos liberais protestantes. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Mas
a mitologia clássica grega teve também hesitantes, incialmente contra e depois
pela pessoa de Platão. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Para
os Gregos da época clássica, de fato, a mitologia, do grego <i>mûthos</i>,
discurso e <i>lógos</i>, vieram primeiro como sinônimos, retornando todos os
direitos à palavra do sábio, como um discurso livre de erro. É neste sentido
que, para Hesíodo (-1000/-900), estes dois termos se valem na medida onde um
designa uma relação entre o pensamento mítico e o pensamento filosófico e outro
um discurso sobre o pensamento mítico. Assim, para ele existe uma identidade
perfeita entre o pensamento mítico (religioso) e o pensamento racional
(filosófico), desde que provenientes dos sábios. Donde, mitos e logos não se
opõem a “doxa”, a opinião comum, vulgar. Ainda assim isso não impediu ao mito
de ter seus críticos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A concepção negativa do mito <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Entre
os adversários da mitologia, temos alguns grandes nomes: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">1-
Xenófanes de Cólofon (-565/-478), conhecido como "Crítico das mentiras de
Homero", célebre rapsodo, contador de histórias, recitador dos poemas de
Homero e Hesíodo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Depois
disso, ele se rendeu às inadequações das teogonias. Então depois disso ele começou
a se envolver em duras críticas contra o antropomorfismo e os vícios dos deuses
gregos. É, portanto, o primeiro caso de "desmitologização" no
pensamento grego. Ele teve como adversário imediato Théagene de Régium
(-530/-410), seu contemporâneo, que reabilitou a mitologia grega graças à
interpretação, e à exegese alegórica desse mesmo pensamento mítico grego.
Tornando-o o fundador do método simbólico, a semiótica na época grega clássica.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">2 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Anacreonte (-560/-478) considera o mito como um discurso subversivo. Também em
sua época, deu o nome de mûthietaï aos insurgentes que assassinaram Polícrates,
tirano de Samos, em -522. E seus líderes foram chamados de <i>mûtharchoï</i>,
os <i>mytharques </i>ou líderes.O mito é também sinônimo de grito de revolta,
clamor de insurgentes em cólera, porque privados do discurso, não são
considerados cidadãos completos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">3 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Píndaro (-5118/-438), a propósito de Xenófone, aprecia o logos, o qual
qualifica o discurso, o canto elogioso à glória dos vencedores com vários jogos
em detrimento do mito, que é considerado como um discurso enganador dos
Antigos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">4 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Platão (-429/-349) distingue entre mito (simples discurso, exposição
narrativa), logos (palavra, pensamento discursivo e argumentativo) e mitologia
(discurso, reflexão sobre a tradição oral antiga). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">5 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Aristóteles (-384/-322) afirma que o mito é uma narrativa estúpida, absurda. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">-
Epícuro de Samos (-341/-270) pretende que o mito é o recurso da superstição.
Donde, deve ser impiedosamente combatido, já que é prejudicial à saúde mental e
física do homem. E, nestes rastros, Hegel captou o mito como simples quimera,
uma marca de impotência de parte do pensamento primitivo e uma manifestação da
barbárie dos povos sem escrita. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">6 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Tucídides (-471/-402) se erige contra a tradição oral em proveito da escrita. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A concepção positiva do mito <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Em
oposição aos inimigos (<i>archanés</i>) do mito e da mitologia, também são
encontrados ardentes defensores na Grécia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">1 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Homero (-1000/-900) opôs mito (narrativa eloquente de sabedoria) à destreza
manual (arte e artesanato). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">2 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Pitágoras de Samos (-580/-500) e Ferécides de Siros, seu contemporâneo,
discípulos de Homero e Hesíodo (-1000/-900), constituem um avanço entre o
pensamento mítico (nomológico e descritivo) e o pensamento propriamente
racional (crítico, filosófico). Eles se situam então no ponto de junção de dois
modos de pensar, no ponto de passagem entre o mito e a filosofia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">3 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Heródoto (-484/-420) concebeu o mito como um discurso da verdade. Donde,
através de suas Histórias, ele é convencido de que não há contradição entre
mito e razão, discursos sagrados, narrativas veneráveis de sabedoria. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Segundo
ele, há uma identidade perfeita entre mito e logos, discurso mítico e pensamento
racional. Está é também a visão de um grande mitólogo atual. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Efetivamente,
para Heródoto, Esopo e Hecate de Mileto, seus precursores, são os <i>logopoioi</i>,
os fabricantes de narrativas, das histórias e das fábulas para seus povos. E,
por sua vez, Ésquilo captou o <i>logos </i>por uma narrativa verdadeira (mitos)
veiculada pelos <i>mûtoï</i>, as Fábulas de Esopo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">4 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Esopo (-620/-560) contou através da escrita de narrativas didáticas onde os
animais passam lições aos humanos. Essas narrativas não são, contudo, criadas
por ele, mas sim tiradas da tradição oral, da palavra antiga. A razão está em
somente o povo grego do século VI a.C, ser analfabeto, mandando ele
registrá-las através da escrita como forma de resguardar a obra. Consagrada
pelos anciãos (quer sejam gregos ou africanos), a importância do mito e da
mitologia. Constitui-se assim uma urgência e uma interpelação endereçada aos
intelectuais africanos em face das tradições ameaçadas de seus povos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">-
Platão, às vezes adversário, às vezes parceiro, contrariamente a Tucídides, não
era livre para passar a tradição antiga de seu povo, ao contrário ele devia
dizer e redizer não importando o custo fundar validamente seu discurso na
razão. Vindo daí seu papel inovador ao período clássico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Sem
ser grego, B. Malinowski (1884-1942) afirma que o mito transcende a história,
perscruta o passado, justifica presente e prefigura o devir do homem e seu
próprio destino. Ele convida o homem a se preparar para assumir o comando. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Então,
o mito não é apenas pura e simples ficção. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Elemento
essencial de todas as civilizações, o mito é, portanto, um signo, ele traz uma
explicação total do mundo e do homem. Ele constitui-se de um modo de pensar
universal comum a todos os povos do mundo, civilizados e bárbaros. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">E
por que nós devemos daqui em diante rever todas as atitudes hostis ao direito
do mito e da mitologia. Porque isto nos leva a tese de J.P. Mayele Ilo 13 que
considera o mito como uma linguagem, linguagem fundamental de toda cultura.
Pois há uma certa estrutura mesclada acerca dos mundos: o visível e o
invisível. Ele convida então o homem a se situar em relação a seu lugar de
verdade no mundo entre a materialidade e a espiritualidade, enquanto um animal
espiritual ou espírito encarnado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Hermenêutica e mitologia <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A
filosofia africana, diremos nós, como é em toda outra filosofia, não pode
partir senão da tradição oral africana, dos mitos dos nossos ancestrais. Para
que seja feito, ela deve se utilizar necessariamente da hermenêutica, do método
semiótico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Mas,
o que é a hermenêutica? O que é a semiologia? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A
hermenêutica é uma pesquisa do sentido, uma missão de releitura, uma busca pelo
novo, pode-se dizer uma decodificação do significado oculto do signo e do
símbolo. A filosofia de Paul Ricoeur trouxe também um problema de semiologia,
da ciência do signo e do símbolo. E então, um problema de releitura das
ciências humanas (história, linguística, sociologia, teologia, psicologia,
psicanálise, direito, economia...) então ele deve reinterpretar o sentido em
uma nova perspectiva propriamente africana. A perspectiva vista, em última
análise, a explicar o homem em geral e o homem africano em particular através
dos valores, das figuras do Espírito de Hegel, constituídos pelo crescimento da
produção cultural do gênio humano sem exclusividade. É a hermenêutica do objeto
cultural. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Enfim,
a semiologia, ciência que se faz pelo objeto da interpretação, pela apreensão
do sentido profundo da natureza, do homem individual e coletivo (social), é a
única ciência capaz de nos fazer revelar, de nos devolver os sentidos ocultos
(esotéricos) das mensagens, dos signos e dos enunciados orais e escritos.
Pode-se dizer também documentos figurados: diversas obras de arte e seus
representantes. A semiologia se aplica também à narrativa e à escrita. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Principal
razão pela qual, a semiologia parece ser uma passagem obrigatória para a
emergência da filosofia africana contemporânea, que como a filosofia grega,
deve se compor com os mitos de seu povo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Nós
nos encontramos então obrigados, pela força das coisas, de constituir do
interior, nossa própria hermenêutica africana, aquela que nos permitirá
compreender validamente nossas realidades socioculturais africanas sem depender
de fora. Pois já sabemos cada discurso, seja ele qual for, depois da Grécia
clássica, merece seu lugar na escolha do concerto das ciências, desde que seja
o produto de uma sociedade nacional ou etnicamente constituída. Assim, seja ela
da filosofia africana e afro-americana e seus métodos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A
filosofia acadêmica afro-americana, dirão, vê-se uma hermenêutica, uma
revelação total da vida do povo negro afro-americano. Nessa hermenêutica reside
através de uma apropriação crítica de diversas tradições de seu povo, como
forma de manter viva sua memória coletiva, única condição para o surgimento de
uma vida de felicidade através da liberação mental. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">É
de certa maneira dizer que a filosofia acadêmica africana não será outra coisa
que: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">1 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Uma filosofia social crítica que pelo despertar da Escola de Frankfurt,
esforça-se por compreender e afirmar uma identidade étnica e histórica. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">2 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Uma filosofia orientada pela liberação da ciência da tirania cultura
capitalista. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: Arial;">3 </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">-
Uma busca do sentido da consciência e do ser, bem como de sua própria ação
dentro de sua comunidade. Assim, filosofar para o negro afro-americano torna-se
uma lição de antropologia cultural, ou seja, buscar sua identidade não apenas
individual, mas também coletiva. Ela deve então daqui em diante ser orientada
em direção à história como forma de permitir ao negro de se descobrir através
de sua curva histórica e suas facetas: socioculturais e econômico-política. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Hermenêutica e história <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A
filosofia, como acabamos de ver, nasceu da hermenêutica, portanto da
interpretação e da releitura dos signos: mitos e diversos símbolos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Os
mitos históricos, que nasceram junto da <i>Escola de Mons </i>(na Bélgica),
surgiram do <i>Movimento Etnográfico e Sociológico </i>criado para o <i>Congresso
Nacional de Mons </i>(1905) que defende os seguintes objetivos: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Trebuchet MS";">1. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Constituir
uma documentação científica completa sobre o estado social dos povos exóticos:
seus hábitos, usos, costumes, ritos e práticas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Trebuchet MS";">2. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Publicar
todas as investigações etnográficas (sociológicas) coletadas nas <i>monografias
</i>apropriadas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Em
suma, escrever um <i>Repertório geográfico </i>(país por país) e <i>etnográfico
</i>(povo por povo) dos povos negros que foram colonizados em todo o mundo. O
repertório de qualquer monografia deve ser realizado baseando-se unicamente na
investigação oral realizada no território dos povos interessados em outros
métodos que sejam 18. De qualquer maneira, a investigação judicial - ela mesma
- não procede sob reserva de agrupamento dos dados assim obtidos. Isto está
presente na <i>Escola etnológica mitológica </i>e <i>religiosa </i>inspirada em
Heródoto (487 a.C – 420 a.C) e depois por Tácito (55 – 120), que hoje é
representado por Maurice Leenhardt (1878 – 1954) e seus sucessores. A
referência a Heródoto e a Tácito, na origem da etnologia (e até mesmo da
antropologia), se explica pelo interessante estudo descritivo dos povos que
considerava, então, como simples bárbaros. Vale ressaltar ainda que nas <i>Histórias
- </i>obra que Tácito estrutura mais sistematicamente seu método etnológico -
derivou-se em boa parte de uma anterior, <i>Germanie</i>. A <i>Escola
etnológica mitológica e religiosa </i>é destinada a conduzir os estudos
científicos sobre os mitos dos povos sem escrituras tendo em vista sua
revalorização. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Um
pastor da Igreja Protestante - em Nouméa (Nova Caledônia) - durante 25 anos,
Leenhardt se consagrou de uma maneira científica aprofundando-se em conhecer as
civilizações (mitos, usos, ritos, costumes e práticas) dos povos polinésios em
vista da evangelização deles. Placide Tempels, um missionário católico belgo,
chegou à Baluba, em Katanga (Congo Belgo), no entanto, não deu procedência aos
seus estudos. Esta é a mesma fonte da <i>Filosofia banto</i>. Nós vemos,
portanto, que o estudo científico dos nossos mitos não é sem importância. Os
estudos de Leenhardt, por sua vez, tiveram por consequência demonstrar que o
pensamento mítico constituía somente uma racionalidade à parte, diferente
daquela produzida no ocidente, sem por isso desembocar num irracionalismo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">É
fácil considerar a grande influência exercida pela <i>Escola de Mons </i>sobre
os esforços implantados pelos ocidentais no início do século XX pelo
conhecimento dos povos colonizados e suas culturas. O que conduz o mesmo
reconhecimento do seu legítimo direito para desenvolver sua própria filosofia
que se liga, curiosamente, àqueles povos mais antigos do oriente clássico,
notavelmente da Grécia. É, portanto, neste mesmo acordo da <i>Escola de Mons </i>e
do <i>Movimento Etnográfico e Sociológico Internacional </i>- presentes na obra
de Marcel Griaule (1856 – 1898) - que se realizaram os estudos acerca dos mitos
e das lendas dos povos africanos sob dominação francesa à luz da arqueologia
contemporânea: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">1. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Marcel Griaule, um etnólogo francês que se apaixonou
pelas pesquisas de campo, começou muitas viagens de estudos na África
ocidental, no Tchad, na República Centro-africana e na Etiópia - principalmente
no caso da missão Dakar-Djibouti (1931 – 1933). Deste modo, ele foi considerado
o descobridor de um novo método de investigação, criado sobre a observação de
um determinado povo. Ele é o autor do <i>Método de Etnologia</i>. (Paris,
1957). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">2. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Encarregado da Missão Sahara-Camarões (1936-1937) -
destinada a coletar uma vasta documentação indispensável na confecção das
monografias sobre os povos daquela região (Chade, Nigéria e Camarões),
atualmente chamada de Kotoko e que tinham por ancestrais o povoado de São,
Marcel Griaule efetuou uma sondagem arqueológica e trouxe suas pesquisas
(orais) sociológicas coletando ainda as primeiras informações sobre as
tradições do Sao. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Tal
empresa trata de duas disciplinas científicas diferentes: a etnografia e a
arqueologia. O que lhe permite explorar os ditos e os testemunhos das
pesquisas, que se deram sob a caneta dos documentos escritos com finalidade
científica. Em suma, Marcel Griaule acha apropriado dar mais crédito aos mitos
retirados da tradição oral africana, que contém os dados histórico-culturais
(resultado das escavações arqueológicas) e contém, também, um método do
trabalho científico clássico de tipo imperialista que, ainda hoje, possui valor
nas universidades africanas meio século depois das independências. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">O
mito, para Marcel Griaule, ocupa um lugar privilegiado. Roger May, seu
discípulo, formula a tese da Anterioridade das civilizações negras segundo o
mesmo método que inspira igualmente C.A.DIOP. Jan VANSINA, por sua vez, fez da
tradição oral africana uma fonte segura da nossa história. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">De
fato, J. Cuvelier afirma (muito tempo antes de VANSINA) que a tradição oral
africana esclarece e completa os dados dos nossos povos acerca da história
escrita. Até mesmo porque a história começa com a lenda: por exemplo, a gênese
da história de Roma. Com efeito, como bem disse a Bíblia: “No princípio era
Palavra (<i>verbum</i>)”. É neste mesmo sentido, da revalorização do negro
africano e da sua cultura, que Théophile OBENGA nos convida a utilizar todos os
tipos de métodos capazes de nos apropriarmos da história (aprofundada) da
África, uma história diferente daquela ideologia inventada a partir do zero
para o obscurantismo ocidental objetivando a dominação e a exploração
capitalista dos nossos povos indefesos. Este método ideal tão procurado por Th.
OBENGA é o método sociológico; ou seja, <i>a hermenêutica </i>de Paul RICOEUR e
a arqueologia do saber de Michel FOUCAULT. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Em
suma, é no século XIX sob a influência de HUME (1711-1776), HEGEL (1770-1831) e
GOBINEAU (1816-1882), instigadores do racismo e do colonialismo, que nasceu o espírito
positivista caracterizado por uma atitude negativa no lugar do <i>pensamento
mítico</i>. No entanto, atualmente, se edifica toda uma escola que considera o <i>pensamento
mítico </i>como parte integrante do <i>pensamento filosófico</i>. Tal escola
(representada hoje por L. COULOUBARITSIS e J.P. MAYELE) e uma atitude positiva
no lugar do <i>mito </i>e da <i>mitologia </i>foram hoje em dia, felizmente,
adaptadas para a Igreja Católica. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%; page-break-before: always;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Por isso, a tradição oral africana não
pode, hoje, ser proscrita. Porque ela constitui um documento (sonoro) dentre
tantos outros. É nesta mesma ordem de ideias que Marcel GRIAUOLE, C. A. DIOP
(1923-1986), em sua <i>Teoria Camítica</i>, revaloriza a lenda bíblica, muitas
vezes desprezada por Th. OBENGA, como uma fonte autêntica da história africana.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Portanto,
na Grécia arcaica clássica, <i>mûthos </i>e <i>logos </i>chamados <i>hiéros </i>(palavra
sagrada dos antigos, transmitida de boca à orelha de uma geração a outra, antes
de ser fixada na escrita) não se opõem e nem se excluem mutuamente. Daí cada
escola de pensamento, cada santuário de mistério desempenhava - como suas
doutrinas – seus próprios mitos e seu patrimônio inalienável (no caso das <i>Casas
de vida </i>no Egito faraônico). Estes mitos estavam cuidadosamente conservados
por algumas grandes famílias sacerdotais (no caso dos Eumolpides ou Cérycides
em Eleusis, perto de Atenas). Razão pela qual, estes Mistérios, grandes
depósitos dos <i>mitos </i>antigos, dominaram a vida sociocultural da Grécia
antiga durante um milênio. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Em
suma, o <i>mito </i>era considerado como uma <i>verdadeira linguagem </i>(discurso
racional). Neste caso, ao versar acerca da existência do homem no mundo, tinha
por objetivo transmitir uma mensagem séria. O que nos convida a respeitar os
mitos de todos os povos do mundo; como foram, também, aqueles da Grécia antiga,
que regeram o <i>nascimento da filosofia</i>, <i>fonte do conhecimento</i>.
Portanto, até mesmo a significação e a verdade (científica) são derivadas dos
mitos: por exemplo, os mitos modernos, notavelmente todos os gêneros literários
(contos, poesia, teatro, religião, política, filosofia e ideologia). Portanto,
todos os feitos da cultura, toda a união coerente do conhecimento e as figuras
do Espírito de Hegel. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Conclusão
</span></b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Tendo
em vista tudo o que acaba de ser dito, nós devemos, necessariamente, saber que
a filosofia africana nasce desde o dia em que os africanos como todos os homens
e todas as raças do mundo começaram a falar, perguntar sobre as questões acerca
da condição humana e a encontrar as respostas sob várias formas e modos de
expressão que diversificam os mitos, os ritos, as crenças (ideias) e as
práticas (instituições, usos, costumes e técnicas). No entanto, o mito sempre
existiu; ele continua e continuará sempre a existir. Portanto, ele não falhou
em conhecer nenhum dos problemas, sejam eles grandes ou pequenos. Não obstante,
o mito não perde sua força nem menos sua importância. Sua grande chance de
sobreviver reside, sobretudo, no fato de que o mito contém e veicula um determinado
conhecimento e uma concepção de mundo e de ser humano, isto é, uma cosmologia,
uma cosmogonia e uma antropologia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">É
de sua essência, portanto, ser uma religião, uma ideologia e uma crença. Impõe
ao homem uma fé cega acerca dos objetivos que ele lhe atribui. O que foi a base
das revoluções sociais, políticas e das guerras no caso dos conflitos de
opiniões. Por isso, cada sociedade desenvolve suas crenças: seus mitos, suas
religiões, suas ideologias e sua própria cultura. Ocorre, portanto, o mesmo em
toda África, com seus mitos e sua filosofia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">BIBLIOGRAFIA
</span></b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">1. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">A. Lebeuf, <i>Les Principautés Kotoko, Essai sur le
caractère sacré de l’autorité, </i>C. N.R.S., Paris, 1969, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">2. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">A. Michel, « Tacite », in <i>Idem, </i>Corpus 17, Paris,
1988, p.644. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">3. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">C. Ramnoux, « Mythe, B-Mythos et logos », in <i>Encyclopaedia
Universalis, </i>Corpus 12, Paris, 1988. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">4. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">C. Van Overbergh, <i>Les Nègres d’Afrique</i>, Dewit,
Bruxelles, 1913, pp.1et 12. <i>Collectif, ncyclopaedia Universalis, Thesaurus,
Corpus 2, Paris, 1988. </i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">5. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Cuvelier, « Traditions Congolaises », in <i>Congo, Revue
générale de la Colonie belge,</i>Tome II, Bruxelles, 1930. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">6. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">E. Coupez-Rougier, « Anthropologie », in <i>Encyclopaedia
Universalis, </i>Corpus 2, Paris, 1988. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">7. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Encyclopaedia Universalis, Thesaurus, Index, Corpus 1,
Encyclopaedia Universalis Editeurs, Paris, 1988. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">8. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">G. Zaïnaty, Cours de Lecture et explication des Textes
philosophiques contemporains, <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">9. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">G. Zaïnaty, <i>Cours de lecture et explication des textes
philosophiques contemporains</i>, UNAZA, Lubumbashi, 1976-1977 : notes
manuscrites. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">10. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">H. D. Saffrey, « Eléates », in <i>Encyclopaedia
Universalis, </i>Corpus 6, Encyclopaedia <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">11. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">J. Dubois et L. Van den Wyngaert, <i>L’initiation
philosophique</i>, C.R.P., Kinshasa, 1997. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">12. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">J. Ilondo Kweto, <i>Le mythe chez Mayele, </i>Mémoire,
Unilu, Lubumbashi, 2000-2003. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">13. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">J.P. Mayele Ilo, <i>Mythe et mythologie reprensé et
redéfinis, </i>Séminaire post-licence, UNILU/Lubumbashi, 1998-1999. Voir aussi
P. Mayele Ilo, <i>Statut mythique et sciencitifique de la gémellité, </i>Ousia,
Bruxelles, 2000. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">14. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Kankwenda Odia, Cours de Philosophie africaine et
afro-américain, G2 Philosophie, UNILU, Lubumbashi, 1999-2000. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">15. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">M. Detienne, <i>Homère, Hésiode et Pythagore, </i>Latomus,
Bruxelles, 1962. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">16. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">M. Detienne, <i>L’Invention de la mythologie</i>, Paris,
1981. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">17. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">M. N. Likombo, <i>De la démystification et de la
démythification chez Epicure</i>, Mémoire de <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">18. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Ngoma-Binda, « Pour une orientation authentiques de la
philosophie africaine : l’herméneutique », in <i>Zaïre- </i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">19. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">R. Bastide, « Anthropologie religieuse », in <i>Ibidem, </i>Corpus
2. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">20. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">R. May, <i>5000 Siècles de Mystères</i>, La Palatine,
Paris-Genève, s.d., 1961. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: "Verdana",sans-serif; mso-bidi-font-family: "Times New Roman";">21. </span><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">Th. Obenga, <i>Le Zaïre, Civilisation traditionnelle et
culture modernes, </i>Présence Africaine<i>, Paris, 1977</i>. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">22.
Vansina, <i>De la tradition orale, Essaie de méthode historique, </i>Musée
Royal de l’Afrique <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default" style="line-height: 150%;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Centrale,
Tervuren, <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="background-color: black; color: white;">23. Y.- E . Dogbé, <i>Négritude,
culture et civilisation</i>, Akpagnon, Le Mée-sur-Oise, 1980.</span><o:p></o:p></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-87688020837727869062017-04-01T10:06:00.003-03:002017-04-01T10:06:39.148-03:00Filosofia Africana: Ontem e Hoje<div class="Default">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiyRIHGRxmEp_Tx1KU8YbGy1vEv7TFYjXEqNuUAgWe45saOIj5rLRkSCOdSZXVJHtMMo7Lpz5rwd96-YkwZnV2Ns8XcJzan6cCjg4PpAsKQdsylupulatgsVJ8MPqP8fbyPaSfK5A30VQ/s1600/alafinIII.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhiyRIHGRxmEp_Tx1KU8YbGy1vEv7TFYjXEqNuUAgWe45saOIj5rLRkSCOdSZXVJHtMMo7Lpz5rwd96-YkwZnV2Ns8XcJzan6cCjg4PpAsKQdsylupulatgsVJ8MPqP8fbyPaSfK5A30VQ/s320/alafinIII.jpg" width="211" /></a></div>
<div class="Default">
<b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;"><br /></span></b></div>
<div class="Default" style="text-align: right;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Joseph
I. Omoregbe Tradução Renato Nogueira Jr. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Filosofia é
essencialmente uma atividade reflexiva. Filosofar é refletir sobre a experiência
humana para responder algumas questões fundamentais a seu respeito. Quando o
ser humano reflete buscando a si mesmo ou o mundo que o cerca, ele está tomado
pelo “espanto” e essas questões fundamentais surgem na sua mente. Quando o ser
humano reflete sobre estas questões fundamentais na busca de respostas, ele
está filosofando. Platão e Aristóteles relatam que o “espanto” está na base do
nascimento da filosofia. “É através do espanto que os homens começam a
filosofar” (Aristóteles, , p.). Platão tem o mesmo ponto de vista na <i>República
</i>quando diz que não há outro ponto de partida para filosofia que este, o
“espanto”. Portanto, o primeiro passo para a atividade filosófica é o “espanto”
que acompanha a experiência humana consigo e com o mundo ao seu redor. Este
espanto abre caminho para algumas questões fundamentais, eis o segundo passo. O
terceiro passo é tomado quando o ser humano começa a refletir sobre estas
questões fundamentais na busca de respostas. Neste estágio, o homem em questão
está filosofando, se ele registrar suas reflexões temos por escrito um trabalho
filosófico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">A experiência
humana é a fonte do conhecimento reflexivo entendido como filosofia. Esta
experiência poderia ser do homem com ele mesmo (subjetividade) ou dele com o
mundo (objetividade). Daí filosofia poder partir de aspectos da subjetividade
ou de aspectos da objetividade. Os primeiros filósofos gregos partiram da
objetividade. Afinal, eles foram impactados pelo “espanto” enquanto observavam
o mundo ao seu redor. Eles ficaram espantados e interessados por duas coisas.
Primeiro, eles estavam muito impressionados com a diversidade e a unidade
presentes no universo. Eles observaram que as coisas ao seu redor eram
incrivelmente diversas; mas, ao mesmo tempo eles também observaram que existia
uma unidade básica no interior de toda essa diversidade. Segundo, eles estavam
maravilhados pelo fato das coisas se transformarem no mundo. Eles anunciaram
que as coisas estão constantemente se transformando; mas, ao mesmo tempo eles
observaram que existia uma continuidade básica no meio dessas mudanças. Daí
eles observaram que o universo combinava unidade com diversidade e continuidade
com mudanças. Este foi o fenômeno estabelecido pelos primeiros filósofos gregos
como objeto de investigação. Portanto, as maravilhas do universo físico levaram
os primeiros filósofos gregos à filosofar. De fato, fenômenos como a imensidão
do espaço, a imensidão do universo, a incrível variabilidade das coisas, a
ideia de tempo, a ininterrupta transformação do mundo ao nosso redor, a
continuidade presente nessas mudanças, a unidade básica no meio da diversidade,
as estações do ano, os corpos celestes e seus movimentos circulares, o céu estrelado,
o sol, a lua, etc. tem motivadas profundas reflexões filosóficas sobre o mundo.
Na sua <i>Crítica da razão prática</i>, Kant registrou que duas coisas, o
colocaram em contato com o espanto, a saber: o céu estrelado e a lei moral. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Mas, como já
foi dito, o filosofar também pode começar a partir da condição humana. Daí o
homem consigo mesmo ser alvo de uma investigação filosófica tão rica quanto a
que se debruça sobre o universo físico. A brevidade da vida, suas vicissitudes,
a superioridade humana sobre o resto da natureza sob seu controle e domínio,
seu poder e sua fraqueza, sua alegria, seu pesar, sucessos e fracassos, sua
finitude, sua experiência de sofrimento, desventura, doença, morte e
decadência, grandeza e miséria do ser humano etc. tem conduzido para reflexão
filosófica sobre toda a realidade. A filosofia de Buda, por exemplo, surgiu de
uma reflexão sobre o sofrimento humano. Reflexão sobre este fenômeno da
existência que levanta algumas questões básicas sobre a natureza humana. Que
tipo de ente é o ser humano tão poderoso e tão fraco, tão grandioso e tão
miserável? Hoje, ele pode ser forte e poderoso; amanhã, ele deixa de ser forte
e poderoso e isto é o seu fim. O ser humano tem um tempo natural de existência,
seu instinto mais forte é o instinto de auto-preservação – seu desejo de
permanecer vivo. Apesar de expectativa de vida ser breve e frequentemente se
esgotar antes do “tempo” e contra os seus desejos mais profundos, todos os seus
esforços para resistir ao fim imponderável são inúteis. O ser humano tem um
forte desejo de saber, ele é curioso por natureza; apesar do seu conhecimento
ser tão limitado que ele sequer conheça a si mesmo. Ele não sabe porque existe
e não possui respostas sobre questões básicas a respeito de si mesmo. Ele não
escolheu vir para este mundo, simplesmente se descobriu no mundo sem saber o porquê,
e cedo ou tarde será forçado a deixar o mundo. Como tudo que existe no universo
o ser humano simplesmente aparece e finalmente desaparece. “Que quimera é o homem!
” Exclama Pascal, um caos, um sujeito em contradição. Portanto, o homem é um
problema para si mesmo, um mistério. Qual é a sua origem? Qual é o seu destino
final? O que acontece quando ele é forçado a deixar a existência? Ele é parte
integrante da natureza ou ele transcende a natureza? Existe entre ele e os
outros animais diferença de grau ou de natureza? Para que ele vive? Qual é o
sentido último da vida? Existe uma força sobre-humana que controla tudo? Se
esta força existe, ela pode ser conhecida? Estas e outras interrogações
semelhantes são questões fundamentais sobre a condição humana. Os seres humanos
teem se direcionado para reflexões sobre toda a realidade. Refletir sobre uma
dessas questões, buscar explicações e respostas é filosofar. Não existe uma
parte do mundo onde as pessoas nunca tenham refletido acerca de questões
básicas da condição humana ou sobre o universo físico. Em outras palavras, não
existe nenhum lugar no mundo onde os seres humanos não tenham filosofado. A
inclinação para refletir sobre questões filosóficas fundamentais faz parte da
natureza humana; esta tendência está na raiz do instinto natural de curiosidade
do homem – o instinto de saber. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Natureza humana
e experiência humana são basicamente a mesma coisa em todo o mundo, a tendência
para filosofar é constitutiva da natureza humana. Daí o filósofo alemão Karl
Jaspers ter dito que “o homem não pode evitar filosofar” (Jaspers, 1974, p.1).
Em certa medida, num sentido genérico, todo ser humano é filósofo, na medida de
que uma ou outra vez na vida, reflete sobre questões filosóficas fundamentais
acerca da existência ou do universo físico. Por exemplo, nos funerais ou na
hora da morte física ou do sofrimento, doença, dor, miséria, etc., os homens
ficam aptos a refletir sobre o sentido da vida. Contudo, no sentido estrito do
termo, um filósofo é alguém que dedica uma parte significativa do seu tempo
para regularmente refletir sobre essas questões. Essas pessoas existem no mundo
todo e podem ser encontradas entre todos os povos, em todas as civilizações e
em toda parte do planeta. Não é apenas no mundo ocidental que as pessoas refletem
sobre questões fundamentais acerca da existência e do universo. Em qualquer
civilização existiam aqueles que estavam tomados pelo “espanto” e maravilhados
com as complexidades do ser humano e do universo físico. Pessoas que
regularmente dedicavam muito tempo refletindo sobre questões fundamentais que
surgiam desse encantamento com a realidade ou de sua complexidade, eram os
filósofos dessas civilizações. Não é necessário empregar os princípios
aristotélicos ou russerlianos na atividade reflexiva para que ela possa ser
considerada filosófica. Ela não precisa seguir os mesmos parâmetros dos
pensadores ocidentais. A habilidade para refletir de modo lógico e coerente faz
parte da racionalidade humana. A capacidade de pensar logicamente e de
raciocinar são a mesma coisa. Com efeito, é falso afirmar que esse ou aquele
povo não pode pensar logicamente ou empregar a razão de modo coerente porque
não usa uma argumentação tipicamente ocidental baseada na lógica aristotélica
ou russerliana. Algumas pessoas, educadas dentro da tradição filosófica
ocidental, afirmam que não existe filosofia e nem atividade filosófica fora da
filosofia e do método ocidental de filosofar, tal como eles denominam
“tecnicamente”. No seu livro <i>Introdução à filosofia ocidental</i>, o professor
Antony Flew diz que filosofia consiste em argumentos “sempre, do início ao fim”
e desde que não há argumentos no pensamento oriental (ou conforme ele pensa)
por consequência não existe filosofia no pensamento oriental. De modo similar,
referem-se à tradição filosófica africana. Professor Wiredu escreveu: “sem
argumento e clarificação, não existe filosofia no sentido estrito do termo”
(Wiredu, 1980, p.47). Conforme Wiredu, a tradição filosófica africana só pode
ser considerada filosofia no sentido amplo do termo. O professor Wiredu é bem
versado em filosofia ocidental, especificamente na tradição analítica
anglo-saxã onde a filosofia é delimitada pela lógica, análise sistemática e
clarificação dos termos. Esta é a impressão deixada por seus textos. Ele é
certamente um dos filósofos africanos contemporâneos que contribui
significativamente com a filosofia africana. Contudo, quando ele diz que sem
argumentação e clarificação não há filosofia, tecnicamente falando, ele
identifica filosofia com uma argumentação tipicamente ocidental. Em outras
palavras, ele quer dizer que se a atividade reflexiva não estiver baseada na
argumentação e clarificação típicas do pensamento ocidental (recomendado pela
tradição analítica anglo-saxã), ela não é filosofia. Em primeiro lugar, a
essência da filosofia não é o argumento; mas, a reflexão, o que faz com que não
tomemos a argumentação tipicamente ocidental como padrão para a filosofia. Em
qualquer lugar existe reflexão acerca das questões fundamentais sobre o ser
humano e o mundo (seja qual for a forma de reflexão empreendida), isto é,
filosofia. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Nós devemos
distinguir entre filosofia e os modos de transmiti-la e preservá-la. Reflexões
filosóficas podem ser preservadas e transmitidas de diversas maneiras. De
longe, a melhor maneira de preservar e transmitir a filosofia é através da
escrita, na forma de livros. As vantagens deste modo de preservação são enormes
não somente porque as reflexões são preservadas e transmitidas sem alterações;
mas, porque os filósofos teem seus trabalhos preservados, transmitidos e eles
são reconhecidos como autores e pensadores individuais. Deste modo é possível
saber quais são as ideias originais e pontos de vista de cada autor, seja
através de seus textos ou de textos sobre eles (tal como no caso de homens como
Buda, Sócrates e Jesus Cristo que não deixaram nenhum texto escrito). O mundo
ocidental tem sido beneficiado desde que a escrita surgiu na antiguidade e
tornou possível preservar substancialmente as reflexões desses filósofos. Com
efeito, podemos falar a respeito de Sócrates, Platão, Aristóteles, Kant, Hegel
etc. Mas, quem pode dizer que outras civilizações não tinham seus próprios
filósofos: Quem pode dizer que homens de outras civilizações não pensam, não
refletem sobre questões básicas sobre a condição humana e o universo? Homens do
mundo ocidental não são os únicos abençoados com racionalidade, com
inteligência, com pensamento e com instinto de curiosidade. Todos esses
elementos são característicos da natureza humana e são encontrados em todos os
povos do planeta. Todas civilizações e todos os povos teem os seus próprios
filósofos – seu próprio Sócrates, seu próprio Platão, seu próprio Descartes,
seu próprio Hegel, etc. A África não pode ser uma exceção. Infelizmente, devido
a ausência de registros escritos nos últimos tempos, as reflexões filosóficas
de pensadores africanos não teem sido preservadas efetivamente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">De fato as
reflexões filosóficas de pensadores africanos não foram preservadas ou
transmitidas através de relatos escritos; a verdade é que esses filósofos
permanecem desconhecidos para nós. Porém, isso não significa que eles não
tenham existido; nós temos fragmentos de suas reflexões filosóficas e suas
perspectivas foram preservadas e transmitidas por meio de outros registros escritos
como mitos, aforismos, máximas de sabedoria, provérbios tradicionais, contos e,
especialmente, através da religião. Isto quer dizer que apresentado na forma
escrita, o pensamento pode ser entendido como um sistema, não somente como um
conhecimento transmitido de uma geração para outra. Além das mitologias,
máximas de sabedoria e visões de mundo, o conhecimento pode ser preservado e
reconhecido na organização político-social elaborada por um povo. São esses os
meios através do qual as reflexões e perspectivas dos filósofos africanos teem
sido preservadas e transmitidas para nós na África. Portanto, estas reflexões e
pontos de vista teem transformado, ao longo dos anos durante o processo de
transmissão, parte do modo de vida africano, da cultura e patrimônio africanos.
Porém, os autoresde perspectivas originais e individuais permanecem
desconhecidos para nós. Ainda que nós saibamos que essas perspectivas teem sido
fruto de profundas e interessantes reflexões de alguns pensadores africanos no
passado. Onde há fumaça, deve existir fogo. Mesmo quando o fogo não pode ser
visto. Os fragmentos das reflexões filosóficas, ideias e visões de mundo
transmitidas para nós por intermédio de aforismos, máximas de sabedoria,
através de provérbios, contos, organizações político-sociais, por meio de
doutrinas e práticas religiosas não podem vir do nada. Eles são evidências de
profundas reflexões filosóficas de <i>alguns talentosos pensadores </i>que eram
<i>filósofos africanos </i>no passado, os africanos contemporâneos de Sócrates,
Platão, Aristóteles, Kant, Hegel etc. O professor Wiredu chama a filosofia
africana tradicional de “pensamento de comunidade” e diz que “ele não é criação
especifica de um filósofo” (Wiredu, 1980, p.46-47). Ele afirma que esse
pensamento é propriedade comum e pertence a toda a humanidade. O professor
Wiredu quer dizer que estas ideias, insights, estas visões de mundo etc. não
foram produzidas por pensadores individualmente? <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Nós sabemos que
não há algo como consciência coletiva ou consciência comunitária no sentido
estrito do termo. Por consciência entendemos sempre uma consciência individual
e pensamentos sempre são de indivíduos. A expressão “pensamento coletivo” não
pode significar outra coisa além de pensamento de indivíduos numa comunidade. A
filosofia tradicional africana surgiu a partir de pensadores individuais,
filósofos que refletiram sobre questões fundamentais que surgiram da
experiência humana. Professor Wiredu diz que elas são propriedades de todos;
mas, isso não que elas foram produzidas por todos. Pensamentos e ideias
transmitidos por pensadores eventualmente se transformam em propriedade comum.
Mas, isto não significa que esses pensamentos não tenham sido elaborados por
autores individuais. Vamos tomar como exemplo, o conceito akaniano da essência
humana descrito por W.E. Abraham (1962, p.59-61) e Wiredu (1980, p.47).
Conforme a tardição do pensamento Akan, a pessoa humana foi feita por cinco elementos:
(1)nipadu – um corpo; <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">(2) okra – uma
alma, um guia espiritual; <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">(3) sunsum – a
parte de uma pessoa que é responsável pelo seu caráter; <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">(4) ntoro –
aquela parte que advém do pai, base das características hereditárias; <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">(5) mogya –
aquela parte da pessoa que se transforma em fantasma após a morte, herdada da
mãe e que determina a identidade do clã da pessoa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Sem dúvida,
este é um conceito altamente complexo de ser humano que é obviamente fruto de
uma profunda e balizada reflexão sobre a condição humana. Se possuímos uma
reflexão culminando nesta complexa noção de humanidade devemos ser levados a
identificar pensadores singulares na nação Akan. Embora este conceito de humanidade
tenha se tornado uma noção comum e propriedade de todos os akanianos; não quer
dizer que o conceito tenha sido produzido por todos ou vindo do nada. Os
autores eram filósofos akanianos e em algum momento do passado, suas ideias
passaram a constituir parte da herança cultural da nação Akan. Esses filósofos
akanianos evidentemente refletiram sobre a natureza humana e suas teorias são
frutos de reflexões pessoais. O fato de não sabermos quem eram esses filósofos
não significa que eles não existiram. O conceito akaniano de filosofia é muito
mais rico e mais complexo do que muitos que encontramos na filosofia ocidental.
É evidente que esse conceito tem seus autores singulares. Esses autores eram o
Sócrates, o Platão, o Descartes etc. do povo akaniano. Professor Wiredu também
diz que o pensamento folclórico consiste em assertivas frágeis sem suporte
argumentativo (Idem). Nós sabemos que não eram assertivas gratuitas, para os
autores dessas ideias e perspectivas existiam razões para abraçar e desenvolver
suas ideias. Eles não faziam afirmações sem fundamento, elas eram frutos de
reflexões e as conclusões eram resultados de processos de raciocínio. Esses
pensadores africanos não desenvolveram suas perspectivas sem razõessem
reflexões para fundamentar as questões. Eles, apenas, não apresentaram seus
raciocínios nos moldes do silogismo aristotélico ou da lógica de Russel, mas é
óbvio que eles postularam suas ideias racionalmente. Por exemplo, quando eles
sustentavam a perspectiva da reencarnação, sem dúvida, eles seguiram
raciocínios específicos antes de apresentar as conclusões. Eles devem ter
observado as pessoas sistematicamente, sabendo que elas morriam e renasciam
depois. Eles defenderam que determinados traços de personalidade no passado
eram reparados no futuro. Refletiram sobre este fenômeno antes de chegarem à
conclusão de que alguns aspectos do ser humano renasciam após a morte.
Observações e reflexões similares permitiu aos filósofos akanianos sustentar
que a pessoa humana é composta pelos cinco elementos anteriormente descritos.
Portanto, filósofos africanos passaram por processos de observação, raciocínios
e reflexões antes de obterem ideias, perspectivas e visões de mundo transmitidas
para nós através de máximas, contos, mitos, organizações sociopolíticas,
doutrinas religiosas, etc. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Agora, como nós
encontramos os processos que fizeram com que esses filósofos africanos
sustentassem suas ideias? Como podemos descobrir as razões de suas ideias,
pontos de vista e doutrinas que nos foram transmitidas? Numa cultura em que a
filosofia é preservada nos livros, essa tarefa é mais fácil. Por exemplo, se
você quer saber porque Platão sustentou que a alma é imortal, tudo que você
precisa fazer é ler o <i>Fédon. </i>Porém, numa cultura em que a filosofia foi
preservada na memória através de máximas de sabedoria, provérbios, contos,
mitos, religião, etc. passando geração após geração; as pessoas mais velhas
podem nos ajudar (desde que estejam próximas, são a fonte para encontrarmos
esses pensadores originais). Desde que a filosofia foi preservada, através da
memória ou dos livros; a memória dos anciões deve servir para descobrirmos as
razões que são as bases do que nos foi transmitido. Com efeito, a memória dos
anciões pode estar no lugar dos livros. Na cultura ocidental a pesquisa é
normalmente feita na biblioteca, na situação peculiar da tradição filosófica
africana o trabalho de campo é indispensável nas pesquisas. Este trabalho de
campo tem como propósito reconstruir os processos de raciocínio que foram
responsáveis pelas ideias que chegaram até nós, através de entrevista com os
anciãos. Em outras partes do mundo, se você quer saber a filosofia de um povo,
diz o professos Wiredu: “você não deve se reportar aos velhos camponeses, aos
sacerdotes ou personalidades da corte; mas, aos pensadores em pessoa ou textos”
(Wiredu, 1980, p.47-48). No caso da tradição filosófica africana, a memória dos
anciãos ou personalidade da corte é de imensa ajuda. A tradição filosófica
africana não é apenas a filosofia da África na antiguidade. Africanos
contemporâneos também filosofam. Portanto, estou de acordo com o professor
Wiredu que diz que a expressão “filosofia africana” não deve ser compreendida
somente em termos de filosofia africana tradicional desde que existem filósofos
africanos contemporâneos (Idem, p. XI). Existem filósofos africanos assim como
existe filosofia africana contemporânea. O que significa que a filosofia
africana não deve ficar restrita à filosofia tradicional, devemos incluir
filósofos africanos contemporâneos como Kwame Nkrumah, Leopold S. Senghor,
Nyerere e Kwasi Wiredu. Os três primeiros são pessoas públicas que teem
contribuído imensamente com a filosofia política africana contemporânea, o
último nome, Kwasi Wiredu, é um filósofo acadêmico, professor de filosofia. Sem
dúvida, existem outros filósofos em departamentos de filosofia por toda a
África. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Professor
Wiredu observa que filósofos africanos contemporâneos dedicam muito tempo de
suas pesquisas à questões acerca da filosofia africana, distinguindo o que
caracteriza a filosofia africana. Ele entende que é preciso chegar num estágio
de ir além de debates <i>sobre </i>filosofia africana e começar a fazê-la
(Ibidem). De acordo com o professor Wiredu, é preciso começar a trabalhar e
desenvolver duas teses filosóficas. Primeira, verdade não é nada mais do que
opinião. Segunda, ser é ser conhecido. A primeira tese, a saber de que a
verdade não difere da opinião, tem sido criticada por outro filósofo africano Dr.
Oruka. Professior Wiredu tem divergido dessa e de outras críticas (Idem, p.
174). Wiredu recusa qualquer distinção entre verdade e opinião, defendendo que
“a verdade não é distinta da opinião” (Idem, p. 114). Ele diz que a experiência
do senso comum parece sinalizar que a verdade é algo distinto da opinião.
Algumas vezes, sustentamos algumas opiniões como verdadeiras, porém, mais tarde
descobrimos que estávamos errados. De fato, o senso comum faz distinção entre
verdade opinião. A verdade tem sido percebida como algo independente, uma
realidade objetiva, categoricamente distinta da opinião (Ibidem). Wiredu
denomina isto de perspectiva objetiva da verdade, conforme esta noção a verdade
está fora do tempo, tem caráter eterno e permanece imutável enquanto as
opiniões se transformam. Ele rejeita esta perspectiva objetiva da verdade com
base na ideia de que “se verdade é categoricamente diferente de opinião, quando
algo é verdadeiro, se assemelha a um princípio lógico, indemonstrável” (Idem,
p.115). “Tudo que é alegado sobre a verdade é meramente uma opinião
desenvolvida a partir de um ponto de vista específico; categoricamente
diferente da verdade. Com efeito, afirmar que o conhecimento verdadeiro é
distinto da opinião é uma noção contraditória em si mesma” (Ibidem). Portanto,
conforme Wiredu, a teoria objetiva da verdade implica na sua
indemonstrabilidade. Mas, isto é, uma divergência com o senso comum. Afinal,
algumas vezes sabemos que determinadas proposições são verdadeiras. “Portanto,
a teoria objetiva deve estar incorreta” (Ibidem). Wiredu afirma que o “ponto de
vista” é um elemento intrínseco ao conceito de verdade, porque verdade sempre é
verdade de um ponto de vista. Wiredu simplesmente identifica “ponto de vista”
com “opinião” e afirma que desde que a verdade é sempre verdade de um ponto de
vista, segue que a verdade não passa de opinião. “Verdade está sempre ligada a
um ponto de vista, isto é, verdade é a perspectiva de um ponto. Existem muitas
verdades tanto quanto muitos pontos de vista” (Ibidem). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Eu não posso
subscrever essa teoria subjetiva da verdade que não distingue verdade de
opinião. “Verdade é a mesma coisa que opinião” (Idem, p.114). Verdade não é
idêntica à opinião. Verdade é objetiva, enquanto opinião é sempre subjetiva.
Opinião é sempre a opinião de alguém, uma perspectiva subjetiva de algo, mas
não podemos dizer que verdade é a verdade de alguém. Wiredu tenta desconstruir
a diferença entre subjetividade e objetividade ou reduzir objetividade à
subjetividade de modo que a objetividade desapareça. Porém, se objetividade
desaparecer e for subsumida à subjetividade. Nós não poderíamos debater acerca
da subjetividade, porque não existiria a distinção característica que torna a
subjetividade possível, o contraste com a objetividade. Isto se aplica à
verdade (objetividade) e opinião (subjetividade). Se, tal como Wiredu defende,
a verdade não é nada além de opinião, nesse caso a poinião perderia o seu
significado, o qual só pode ser obtido em contraste com a verdade. A assertiva
de Wiredu de que existem muitas verdades assim como muitos pontos de vista,
afirmando que todo ponto de vista equivale uma verdade, é totalmente falsa.
Wiredu identifica implicitamente “ponto de vista” com “verdade”. Mas, de fato,
eles não são idênticos. Opinião é sempre subjetiva; mas, ponto de vista pode
ser objetivo. Não faz sentido falar em “opinião objetiva” desde que opinião é
sempre subjetiva; mas, podemos falar de um “ponto de vista objetivo” ou de
“perspectiva da objetividade”. Consequentemente, mesmo que o aspecto do ponto
de vista seja intrínseco ao conceito de verdade, ela não poderia ser descrita
como nada além de opinião. Outra tese de Wiredu é a de que “existir é ser
conhecido”. Do mesmo modo que o ponto de vista é um elemento intrínseco ao
conceito de verdade, o conceito de conhecimento também é intrínseco ao conceito
de ser e existência. Dizer que um objeto existe, argumenta Wiredu, é afirmar
que o termo em questão se refere a um objeto. “Existir significa que um dado
termo “x” equivale a algum objeto” (Idem, p.127). Portanto, dizer “x” existe é
dizer que existe referência. Evidente que isto é sem argumentar, diz Wiredu,
que não podemos alegar que o termo “x” se refere a algum ente enquanto não
conhecemos nada sobre o ente em questão. De onde segue que alegar ou dizer que
um objeto existe implica em ter algum conhecimento sobre o objeto. Por fim,
existir é ser conhecido. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Novamente, não
posso subscrever esta tese. A semelhança entre está tese e a de Berkeley (que
existir é ser percebido) é óbvia. Wiredu declara que a tese de Berkeley é
irrefutável (Idem, p.114), e que sua tese é tão somente outra forma da tese de
Berkeley. Afirmar que existir é ser conhecido, tal como Wiredu faz, implica em
que a existência de um objeto dependa do conhecimento do ser do objeto. Mas,
está não pode ser a razão, porque o conhecimento sempre pressupõe um objeto que
seja anterior e independente de seu conhecimento. O ato de conhecer é uma
atividade voltada para um objeto, o que pressupõe que o objeto de conhecimento
exista antes e seja independente da atividade de conhecimento que lhe é
direcionada. Não é a atividade de conhecimento que constitui o ser do objeto.
Nada pode ser conhecido, a menos que exista a priori e independentemente da
ação de conhecimento. Objetos existem primeiro e antes da atividade de
conhecimento que é endereçada para eles, logo, o ponto de partida são os objetos
de conhecimento. Existir não pode significar ser conhecido. É verdade que não
podemos assegurar que um objeto existe sem conhecermos o objeto em questão,
mas, isto não faz que a existência do objeto dependa do nosso conhecimento
sobre ele. Conhecer um objeto é fazer com que o objeto seja alvo de nosso
conhecimento, implicando certamente que o objeto exista antes e
independentemente de nosso conhecimento sobre ele. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><i><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">African
Philosophy : Yesterday and Today </span></i></b><span style="font-family: "Verdana",sans-serif;">in
<b><i>African Philosophy: an Anthology </i></b><i>by Emmanuel Chukwudi Eze</i>,
<i>Massachusetts/Oxford, Blacwell Publishers,1998. <o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">Referências
Bibliográficas <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">ABRAHAM, W.E. <b>TheMind
of Africa<i>, </i></b>University of Chicago Press, 1962. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="Default">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;">ARISTOTLE, <b>Metaphysics,
</b>Harvard University Press, 1980. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="Default">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="color: white;">BRITTON, K. <b>Philosophy and the Meaning of Life, </b>Cambridge
University Press, 1969. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 107%;"><span style="color: white;">JASPERS, K. <b>Introduction à la Philosophie</b>,
Librarie Plon, 1974. <o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana",sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="background-color: black; color: white;">WIREDU, K. <b>Philosophy and an African Culture, </b>Cambridge
University Press, 1980.</span><o:p></o:p></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-46357729448826962912016-11-21T13:47:00.001-02:002017-04-01T10:13:35.422-03:00Ifá e seus segredos...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWgOab3S9IFcC4e3HLj3uztdwA_m5LRn-lDf6YrTMnbKmxFg0t4bJF9GmWI7dzq3SiS1kyEmXYhi4g7ImzCD_JH5cYcCJ4dDJ_p75KL_ERCzHezkxXXlC1RjQmApo6psDEUwxU4x7AsI4/s1600/os+odus.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiWgOab3S9IFcC4e3HLj3uztdwA_m5LRn-lDf6YrTMnbKmxFg0t4bJF9GmWI7dzq3SiS1kyEmXYhi4g7ImzCD_JH5cYcCJ4dDJ_p75KL_ERCzHezkxXXlC1RjQmApo6psDEUwxU4x7AsI4/s1600/os+odus.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Babálawó é o nome dado aos sacerdotes
exclusivos do Orixá Orúnmilá-Ifá do Culto de Ifá, das culturas Jeje e Nagô. E
que não entram em transe, sua função principal é a iniciação de outros
babalawos, a preservação do segredo e transmissão do conhecimento do Culto de
Ifá para os iniciados. Para os yorubas o sacerdote é o babalawo e entre os Fons
e Ewes recebe a designação de bokonon, e o sistema de adivinhação é o mesmo. O
babalawo (pai do segredo) recebe as indicações para as respostas através dos
signos (odù) de Ifá. O Orixá Orumilá é também chamado de Ifá, ou Orunmila-Ifa e
também é denominado frequentemente Agbonniregun ("Aquele que é mais eficaz
do que qualquer remédio"). Em caso de dúvida Ifá é consultado pelas
pessoas que precisam de uma decisão, que queiram saber sobre casamentos,
viagens, negócios importantes, doenças, ou por motivo religioso. Orunmilá é o
orixá e divindade da profecia. Ifá é o nome do Oráculo utilizado por Orunmilá.
O Culto de Ifá pertence a religião Yorùbá.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">
<br />
Após duas iniciações ("Mãos"), e sob a obediência a rígidos códigos
morais, o Babálawó recebe o direito de utilizar o Opele-Ifá (ou Rosário de Ifá)
e os ikins (sementes de dendezeiro - igui ope, em yorubá). O Merindilogun (Jogo
de búzios) é franqueado também às Iyápetebis (Mulheres iniciadas a Ifá) e aos
Awófakans (Aqueles que receberam a "primeira mão"). Alguns Babálawós
recebem o título de Oluwó. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Hierarquia dos Babalawôs<br />
<span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-color: black; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial;">-<b> 01 = Bambala (o grande pai );<o:p></o:p></b></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 02 = Awojogum (o adivinho que come os
amuletos); <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 03 = Alafoshé (aquele que não fala em
vão, que só diz a verdade, infalível, senhor do axé ); <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 04 = Adufé (aquele que penetrou nos
segredos de Ifá); <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 05 = Arabá (aquele que ultrapassou os
mistérios de Ifá); <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 06 = Oluwô (pai ou senhor dos
segredos); <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 07 = Odofim (aquele que age na ausência
do Oluwô); <o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 08 = Agigbonam (chefe assistente de um
babalawô);<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="background-color: black; color: white;">- 09 = Ashare Pawo (mensageiro que chama
as pessoas para as cerimônias de Ifá); - 10 = Apetebi (mulher do
babalawô);<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: white;"><span style="background-color: black;"><b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;">- 11 = Aworô (sacerdote que jogava para
ver se havia a necessidade de sacrifício humano).</span></b><b><span style="background-attachment: initial; background-clip: initial; background-image: initial; background-origin: initial; background-position: initial; background-repeat: initial; background-size: initial; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"> </span></b></span><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;"><br />
Com a vinda dos escravos para o Brasil, entre eles vieram alguns Babálawós, mas
com o tempo foram morrendo e não deixaram seguidores e a história de como o
culto se perpetuou no país ainda não foi estudada em profundidade. No entanto,
temos conhecimento de muitos nomes: Martiniano Eliseu do Bonfim (1859-1943),
também conhecido como Ojé L’adê, foi o grande precursor do retorno às raízes
africanas e da busca de elementos capazes de fortificar as práticas religiosas
dos negros ex-escravos. Considerado o último Babálawó do Brasil.<br />
<br />
Com a dispersão ocasionada pelo tráfico de escravos na África, diversos cultos
praticamente desaparecem em seus locais de origem. Em 1886, o Ketu foi
completamente destruído pelas guerras contra Abomei e o culto ao Orixá Oxóssi,
tão importante na Bahia, tornou-se aí praticamente esquecido. Profundo estudioso
e conhecedor das culturas e religiões tradicionais africanas e religiões
afro-brasileiras, Pierre Verger é autor de inúmeras obras de referência sobre o
assunto, foi um fotógrafo e etnólogo autodidata franco-brasileiro. Assumiu o
nome religioso Fatumbi e que dedicou a maior parte de sua vida ao estudo da
diáspora africana - o comércio de escravo, as religiões afro-derivadas do novo
mundo, e os fluxos culturais e econômicos resultando de e para a África. Até a
idade de 30 anos, depois de perder a família, Pierre Verger levou a carreira de
fotógrafo jornalístico. A Fotografia em preto e branco era sua especialidade.
Usava uma máquina Rolleiflex que hoje se encontra na Fundação Pierre Verger.
Pierre Edouard Leopold Verger (Paris, 4 de novembro de 1902 — Salvador, 11 de
fevereiro de 1996), fotógrafo francês que veio para o Brasil em 1946 foi também
iniciado em Ifá na África como Awófãn e Ketu (Daomé), em 1953, tornando-se
Fatumbi, "renascido em Ifá".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Ifá, é o nome de um Oráculo africano.
É um sistema de adivinhação que se originou na África Ocidental entre os
Yorubas, na Nigéria. É também designado por Fa entre os Fon e Afa entre os Ewe.
Não é propriamente uma divindade (Orixá), é o porta-voz de Orunmilá e dos
outros Orixás. O sistema pertence as religiões tradicionais africanas mas
também é praticado entre os adeptos da Lukumí de Cuba através da Regla de Ocha,
Candomblé no Brasil através do Culto de Ifá, e similares transplantadas para o
Novo Mundo.<br />
<br />
O bokonon da corte de Abomei é um dos dignitários do rei reconhecido na
categoria de príncipe e está entre os poucos autorizados a vestir djelaba em
público e a permanecer com a cabeça coberta diante do rei e da rainha-mãe. O
culto do vodun Fa é originário de Ile Ifè, e chegou ao antigo Daomé pelas mãos
de sacerdotes imigrados do território yoruba já a partir do século XVII, mas
sua instalação oficial como uma das divindades reconhecidas pelo rei de Abomei
teria se dado ou através do babalawo Adéléèyé, de Ile Ifè que chegou a Abomei
no reinado de Agadjá (1708-1732) , junto com outros (Gongon, Abikobi, Ato e
Gbélò), ou pela princesa Nà Hwanjele, mãe do rei Tegbessu (1732-1775), que era
de origem yoruba. Os sacerdotes de Fá são chamados em fon de bokonon, o
correspondente a babalawo dos yoruba.<br />
<br />
O Babalawo (pai que possui o segredo), é o sacerdote do Culto de Ifá. Ele é o
responsável pelos rituais, iniciações, todos no culto dependem de sua
orientação e nada pode escapar de seu controle. Por garantia, ele dispõe de
três métodos diferentes de consultar o Oráculo e, por intermédio deles,
interpretar os desejos e determinações dos Orixás. Òpelè-Ifá, Jogo de Ikins e
(jogo de búzio por odu) Merindilogun. Opon-Ifá, tábua sagrada feita de madeira
e esculpida em diversos formatos, redonda, retangular, quadrada, oval,[3]
utilizada para marcar os sígnos dos Odús (obtidos com o jogo de Ikins) sobre um
pó chamado Ierosum. Método divinatório do Culto de Ifá utilizado pelos
babalawos. Irokê-Ifá [4] ou Irofá de Orula instrumento utilizado pelo babalawo
durante o jogo de Ikin com o qual bate na tábua Opon-Ifá.<br />
<br />
O jogo de Opele-Ifá é o mais praticado por ser a forma mais rápida, pois a
pessoa não necessita perguntar em voz alta, o que permite o resguardo de sua
privacidade, também de uso exclusivo dos Babalawos, com um único lançamento do
rosário divinatório aparecem 2 figuras que possuem um lado côncavo e outro
convexo, que combinadas, formam o Odú. O Òpelè-Ifá ou Rosário de Ifá é um colar
aberto composto de um fio trançado de palha-da-costa ou fio de algodão, que tem
pendentes oito metades de fava de opele, é um instrumento divinatório dos
tradicionais sacerdotes de Ifá. Existem outros modelos mais modernos de
Opele-Ifá, feitos com correntes de metal intercaladas com vários tipos de
sementes, moedas ou pedras semi-preciosas.<br />
<br />
A determinação do Odú é a quantidade de Ikin que sobrou na mão esquerda, o
resultado seja qual for, terá que ser riscado sobre o ierosun que está
espalhado no Opon-Ifa, para um risco usa o dedo médio da mão direita e para
dois riscos usa dois dedos o anular e o médio da mão direita. Deverá repetir a
operação quantas vezes forem necessárias até obter duas colunas paralelas
riscadas da direita para a esquerda com quatro sinais, se não sobrar nenhum
ikin na mão esquerda, a jogada é nula e deve ser repetida. O Jogo de Ikin só é
utilizado em cerimônias relevantes, só pode ser consultado pelo babalawo. O
jogo compõe-se de 21 nozes de dendezeiro Ikin, são manipuladas pelo babalawo
com a finalidade de se apurar o Odú a ser interpretado e transmitido ao
consulente. Dos 21 Ikins, 16 são colocados na palma da mão esquerda, com a mão
direita rapidamente o babalawo tenta retirá-los de uma vez.<br />
<br />
O sistema inteiro traz uma semelhança superficial com os sistemas ocidentais de
geomancia. Suspeita-se que a geomancia ocidental é um empréstimo de um sistema
criado pelos Árabes e trazida para o norte da África, onde foi aprendida pelos
europeus durante as Cruzadas. Muito embora possua um número diferente de
símbolos, o sistema carrega também alguma semelhança com sistema chinês do I
Ching. Quatro caídas ou búzios fazem um dos dezesseis padrões básicos (um odu,
na língua Yoruba); dois de cada um destes se combinam para criar um conjunto
total de 256 odus. Cada um destes odus é associado com um repertório
tradicional de versos (Itan), freqüentemente relacionados à Mitologia Yoruba,
que explica seu significado divinatório. O sistema é consagrado aos orixás
Orunmila-Ifa, orixá da profecia e a Exu que, como o mensageiro dos Orixás,
confere autoridade ao oráculo. O oráculo consiste em um grupo de côcos de
dendezeiro ou Búzios, ou réplicas destes, que são lançados para criar dados
binários, dependendo se eles caem com a face para cima ou para baixo. Os côcos
são manipulados entre as mãos do adivinho , e no final são contados, para
determinar aleatoriamente se uma certa quantidade deles foi retida. As conchas
ou as réplicas são freqüentemente atadas em uma corrente divinatória, quatro de
cada lado.<br />
<br />
Existem 256 odù, correspondendo cada um a uma série lendas (Itan). O babalawo
detecta esse odù manipulando caroços de dendê (Ikin) ou jogando o rosário de
Ifá chamado (Opele-Ifa). Cada odù é formado por um conjunto constituído por
duas colunas verticais e paralelas de quatro índices cada. Cada um desses
índices compoem-se de um traço vertical ou de dois traços verticais paralelos
que o babalawo traça no pó (iyerosun) espalhado sobre um tabuleiro de madeira
esculpida (Opon-Ifá) à medida em que vai extraindo os resultados pela
manipulação dos côcos de dendezeiro ou ikin-ifá.<br />
<br />
O Culto de Ifá tem um rígido e complexo sistema de conduta moral relativo a
seus adeptos, expresso no Odu Ikafun, onde surgem os dezesseis mandamentos de
Ifá. O culto de Ifá é um sistema divinatório, empregado na África e nos países
para onde foi disseminado para decisões de cunho religioso ou social. Utiliza
três técnicas diferentes (Opelê, Ikins e Merindilogun), que têm em comum os
Odú-Ifá, os signos. O Culto de Ifá é oriundo da África, das culturas jeje e
nagô, e está ligado ao Orixá Orunmilá-Ifá da Religião Yorùbá. Com a ida destas
culturas para Brasil e Caribe, nos períodos do tráfico negreiro, alguns
sacerdotes (chamados babalawo (yoruba) e Bokono (ewe/fon).) foram levados para
estes países, estando ligados às religiões Candomblé (Brasil) e Santeria
através da Regla de Ocha (Cuba). As mulheres também podem ser iniciadas no
culto, quando passam a ser chamadas apetebis (esposas de Orunmilá), mas os
sacerdotes - babalawôs - sempre são homens heterossexuais, sendo vedado às
apetebis jogar Opelê ou Ikins. Apenas o Merindilogun é permitido a elas.<br />
<br />
Um comentário de Pierre Verger, citado por Mestre Didi, no livro Axé Opô
Afonjá, dá conta da surpresa do rei de Osogbo ao presenciar um ritual para Oxum
no Opó Afonjá. Ele "se mostrou impressionado pelo profundo conhecimento
que ainda se tem na Bahia dos detalhes do ritual do culto àquela
divindade", conta. O próprio título de Iyá Nassô de Mãe Senhora" é um
posto destinado em Oyo, à sacerdotisa encarregada do culto a Xangô, no interior
do Palácio do Àláàfin de Oyó", completa Mestre Didi, que era filho carnal
de Mãe Senhora. Outro Sacerdote, dedicado ao Merindilogun e muito
respeitado foi o professor Agenor Miranda Rocha, angolano de nascimento.
Iniciado aos 5 anos de idade por Mãe Aninha, Iyálorixá fundadora dos Terreiros
Ilê Axé Opô Afonjá de Salvador e do Rio de Janeiro. Pai Angenor vivia no Rio de
Janeiro, trabalhando como professor. Foi autor de muitos livros importantes
para a compreensão do Oráculo de Ifá no país. Agenor Miranda Rocha, o Pai
Agenor, (Luanda, Angola, 8 de setembro de 1907 — Rio de Janeiro, 17 de julho de
2004) foi um babalorixá do Candomblé. Era professor catedrático aposentado do
Colégio Pedro II, estudioso e adivinho do candomblé, o brasileiro que mais
conheceu a herança e a Cultura afro-brasileira.<br />
<br />
Hoje já existem muitos Babálawós iniciados em Cuba e no Brasil, outros tiveram
que viajar para a África para se iniciarem e com isto originando um interesse
renovado pelo Culto de Ifá no Brasil. Recentemente se tem notícia de Babálawós
Africanos e Cubanos que vieram para o Brasil com a finalidade de abertura de
casas Templo do Culto de Ifá. Adilson de Oxalá, Adilsom Antônio Martins Awó Omó
Odu Ogbebara, brasileiro, foi iniciado como consta acima Awófakan pelo Babálawó
Cubano, Rafael Zamora Diaz Ogunda Kete, que criou o grupo msn-[1] e Adilsom de
Oxalá/ Adilsom Antônio Martins, atualmente Awó Ni Orúnmilá Ifáleke Omó Odu
Ogbe-Bara, fundou o Grupo MSN Obi Ordem Brasileira de Ifá.<br />
<br />
Na Santeria um Babálawó ou "pai do segredo" é o equivalente a um
Sacerdote. Ele é capaz de fazer rituais e interpretar oráculos. Além disso um
Babálawó é também um líder espiritual e aconselhador das pessoas que ele
iniciou na religião. Originalmente, o Babálawó era o ancião de sua tribo na
África. Em Cuba, durante o período colonial, o seu papel mudou.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 12.0pt; line-height: 107%;"><span style="color: white;">Texto extraído do http://purytere.blogspot.com.br/2013/02/ifa-e-seus-segredos-beleza-profundidade_8.html</span><o:p></o:p></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-58481064902861019932016-09-27T16:35:00.002-03:002016-09-27T16:35:33.229-03:00Que mito você está vivendo? - Carl Jung<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCfg4q2QfxTkdHCfw_r1E4cIAk1ObTlvXD976-O6nTp82L7p2PWVJD5ah62CKL_i-5dMW4cXx2iFlwdNlIvuJWv0Km7mA6dIJQTZ6y6oy9uD7CbXedbk9ctTQkQ7TKQYsOxFbAuGjIYss/s1600/exu+escultura.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="320" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhCfg4q2QfxTkdHCfw_r1E4cIAk1ObTlvXD976-O6nTp82L7p2PWVJD5ah62CKL_i-5dMW4cXx2iFlwdNlIvuJWv0Km7mA6dIJQTZ6y6oy9uD7CbXedbk9ctTQkQ7TKQYsOxFbAuGjIYss/s320/exu+escultura.jpg" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="font-size: 14.0pt; line-height: 107%;"><span style="color: white;">Da apropriação e reiteração de
discursos iorubas: uma leitura sígnica<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os mitos dos orixás apontam para uma
longa memória - mesmo que construída dialeticamente, e reportam seus adeptos
para tempos longínquos em que os deuses habitavam a terra. Na dinâmica dos
terreiros de candomblé, os cultuadores dos orixás, o povo do santo, entende
esses textos em seu aspecto religioso, o que lhes confere instrumento que
transcende o material, o concreto, o científico, tornando os mitos, nesta
perspectiva, instrumento que comunica deuses e homem, terra (àiyé) e céu
espiritual (órun).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os textos mitológicos aos quais
fazemos referência são os chamados ìtàn àtowódówó , que nos contam sobre os
mitos cosmogônicos, a epopéia dos deuses, sua relação com o mundo e com a nossa
humanidade. De uma riqueza ímpar, esses textos aprofundam o entendimento de
quem somos, do que fazemos, ao discutir as questões da existência humana e suas
eternas dúvidas. São ao mesmo tempo influência e influenciados pelos rituais,
que os reiteram, cada vez que um iniciado lança água à terra, umedecendo-a,
cada vez que uma oferenda é dedicada aos orixás, solicitando-lhes o axé; ou
quando os babalaôs, “guardiões do segredo”, se debruçam sobre o complexo jogo
oracular de Ifá (Orumilá) para fazer suas adivinhações. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Para o povo do santo, os mitos são
aceitos como “absolutamente verdadeiros” , pois deles se apropriam não como
fatos, mas como metáforas, não em seu valor referencial, científico, mas em seu
teor metafísico, promovendo um relacionamento com as energias o mais próximo, o
mais visceral possível, que, neste sentido, con-fundem mito e ritual. Por isso,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Quando o oráculo do Ifá é lançado, o
que consiste em jogar dezesseis conchas de búzio no chão, como se fossem dados,
se a pessoa receber o sinal chamado de Ossá-Ogumda , é essa história que será
contada pelo babalaô. A pessoa afligida poderia assim receber o diagnóstico de
que sofre de um problema de impotência sexual ou incapacidade, provável mas não
necessariamente sexual, e as ervas medicinais prescritas são chamadas de
“remédios de luta”, consistindo principalmente de uma planta conhecida como
“folha de búfalo”, apreciada por seus “chifres grandes”. Porém, o propósito
fundamental desse procedimento é desenvolver um relacionamento com a Deusa
[Oyá-Iansã].<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Todavia, o debate em torno dos mitos
tem sido legado a um plano de descaso: são tratados como “estorinhas” que têm
valor pouco significativo em nossa cultura: ocidental, eurocêntrica, cristã,
que privilegia outras formas de conhecer o mundo: telescópio, computador,
satélite, microscópio, e o intelecto do homem moderno. Aliás, é visível a
política de apagamento dos mitos africanos em comparação com a utilização
canônica que as instituições - escolas, universidades - tem legado aos mitos
gregos, romanos, egípcios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não devemos esquecer que desde os
séculos XV e XVI, no imaginário coletivo já estava sedimentada uma mitologia
européia de deificação e de demonismos: “os deuses tinham pele branca, os
diabos, pele negra, e era dever dos deuses subjugar os diabos.” Mais ainda,
discutir mitologia africana é remontar a história de um povo massacrado,
vilipendiado, que sofreu diversas pilhagens ao longo de sua história. De modo
objetivo: (i) o tráfico negreiro e a escravidão dos africanos nas Américas;
(ii) a colonização dos territórios africanos; (iii) o recrutamento de pessoas
para o desenvolvimento militar e científico dos países do Ocidente, que teve
seu início nas décadas finais do século XX.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Neste contexto, é a influência dos negros
iorubás (nagôs), principalmente pós-escravidão, que vai difundir no Brasil seu
modo muito particular de ver o mundo, através de seus mitos e rituais de
adoração dos deuses. O professor Reginaldo Prandi diversas vezes declarou a
força dos iorubás, ressaltando as atividades de casas de santo tradicionais na
Bahia: a Casa Branca do Engenho Velho, o candomblé de Alaqueto, o Axé Opô
Afonjá e o Gantois. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Além disso, os últimos anos assistiram
a uma preocupação sistemática em resgatar os textos mitológicos, com a vinda de
babalaôs nigerianos trazidos ao Brasil por instituições, como o Centro de
Estudos Africanos da Universidade do Estado de São Paulo, onde ministram cursos
sobre mitologia, cultura, língua e ritos iniciáticos. , além do chamado
processo de reafricanização, em que os sacerdotes peregrinam à África em busca
de “uma literatura sagrada contendo os poemas oraculares de Ifá”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pierre Verger se apóia na pesquisa de
Gisèle Cossard para discutir arquétipos, segundo o que, os iniciados,
geralmente, possuem traços comuns a seu orixá, tanto no biótipo, quanto em
características psicológicas. O corpo do filho de santo, bem como suas ações em
sociedade parecem ser espelho do orixá, tal qual seus mitos apresentam. Neste
sentido, se Xangô é vigoroso, forte e elegante, Oxum possui feminilidade
extrema e elegância, Iansã apresenta-se com força, energia e sensualidade,
Oxossi com vivacidade e independência, Ogum com extrema força, rapidez e não
muito bom humor, isso será reproduzido no arquétipo. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A pesquisadora Betty Mindlin citando
Mircea Eliade (1907-86) diz que o mito é “um fenômeno religioso”, como
tentativa de o homem retornar ao ato original da criação. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Acreditam os cultuadores de orixás
que, cada vez que os mitos são acionados por meio de seus rituais, produz-se a
ligação entre o sagrado e o profano, fazendo com que o homem escape do tempo
profano, adquirindo a possibilidade de existir em um outro espaço, o Tempo
Primordial, “tempo forte, prodigioso, sagrado em que algo de novo,
significativo e forte, ocorreu pela primeira vez. ” <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">E como teriam surgido os mitos? Ford
opta pela teoria da “difusão e da origem simultânea”; ou seja, os mitos têm uma
origem simultânea em diversas culturas porque são elementos essenciais do homem
e estão presentes em toda parte. Além disso, é bastante complexo precisar suas
raízes, haja vista que, a mitologia africana surgiu oralmente, como todas as
mitologias; e seu conhecimento é transmitido oralmente, o que lhe confere,
segundo Verger, caráter de portadora de axé:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">As palavras, para que possam agir,
precisam ser pronunciadas. O conhecimento transmitido oralmente tem o valor de
uma iniciação pelo verbo atuante, uma iniciação que não está no nível mental da
compreensão, porém na dinâmica do comportamento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outras características dos mitos é que
não são datados, não se confundem com um discurso histórico, não produzem um
fio narrativo, e não se preocupam com linearidade ou “coerência”. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Eles se
apresentam como uma necessidade de explicação da vida, dos fatos, das ações de
um povo. Deste modo, o povo do santo se utiliza de um grande repertório de
mitos que versam sobre um conjunto de fatos acontecidos no passado, com o
intuito de iluminar a vida no tempo presente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Os mitos dos orixás: a voz que
(in)surge dos terreiros e/ou sobre como é saboroso o saber dos mitos em Verger.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Pierre Fatumbi Verger (1902-1996),
fotógrafo, etnólogo e babalaô do culto aos orixás, teve como objeto de
interesse e universo de trabalho a cultura afro-brasileira, especialmente o
candomblé da Bahia. Dedicado a Orumilá, o deus da adivinhação, iniciou-se no
culto a Ifá, o oráculo iorubano, o que lhe valeu o nome Fatumbi, ou seja,
“renascido de Ifá”. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em seu Orixás: deuses iorubás na
África e no novo mundo, apresenta uma série de mitos coletados na África e no
Brasil sobre os deuses iorubás. Esses textos encontram respaldo nos terreiros e
são recontados, com alterações em um ou outro ponto, com a manipulação e
ressignificação de certas passagens, mas, sobremodo, se fazem sentir nos
rituais que são produzidos nos terreiros de candomblé por todo o Brasil. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Georgia, "Times New Roman", serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Fatumbi chama a atenção para as
diferenças que os textos apresentam quando contados e recontados ao longo do
tempo:</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">se algumas destas variações são o
resultado de esquecimentos ou do acréscimo de elementos novos, não podemos
afirmar, entretanto, que os aspectos de um mito, fixados há um século, sejam
mais próximos de sua concepção original que os levantados atualmente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em suma, trabalharemos neste artigo
com três mitos referentes a Exu, conforme apresentados por Verger. Tal escolha
se justifica, haja vista que este orixá, o primogênito do Universo, é o
responsável por toda a dinâmica dos rituais, sem o qual, nada acontece.
Efetivamente, tudo nos rituais depende de Exu; de seu alto poder mágico e
cosmogônico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Assim, apresentamos os mitos e os
modos como são apropriados pelos terreiros, para que conversem entre si,
dialeticamente, proporcionando-nos ricos significados. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Cremos que, mesmo que não conheçam os
mitos em detalhes, mesmo que inconscientemente, os terreiros expressam o posto
nos mitos e remontam sua gênese. Ruy Póvoas, professor de literatura e zelador
no culto aos orixás, com casa de axé em Ilhéus, me dá condições de defesa:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Num terreiro de candomblé, jamais se
atribuirá a uma pessoa cabeça de Oxum a tarefa de remover o corpo morto de um
animal em decomposição ou qualquer atividade que implique lidar com cheiros
nauseabundos ou que promovam rejeição. Oxum é moça rica, rainha do brilho, do
perfume e assim são também os seus filhos. Desrespeitar o humano é também
desrespeitar o orixá, pois essas coisas não se separam.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Oxum é mulher graciosa, símbolo do
feminino e da beleza, rainha excelsa, delicada. Para ela seria agressão lidar
com elementos em putrefação. De mesma sorte, jamais se pedirá a um filho de
Oxalá que manipule o dendê ou o sal. Esses elementos fomentam a ira do orixá,
porque são símbolos que vão de encontro ao axé particular de Oxalá, deus do
branco, da paz, da alvura, orixá relacionado à criação, fomentando nele e em
seu filho atitudes incomensuráveis. Ford (1999:211) destaca que Obatalá, outro
nome para Oxalá, é o “Rei das Vestes Brancas, em parte porque o branco
simboliza o líquido seminal, o poder criador masculino”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em contrário, Ogum, Xangô, Oyá e Exu
são energias que se apropriam em demasia do axé do “sangue vermelho”,
inclusive, dele se alimentando em grandes quantidades, como o epô, azeite de
dendê, o osùn, pó vermelho, mel; bem como do axé do “sangue preto”: carvão,
ferro, o sumo escuro de certos animais; o ilú, índigo, extraído de diferentes
tipos de árvores. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não à toa, termos nos mitos de Exu a
manipulação do axé do vermelho e do branco, o qual, conta como ele semeou
discórdia entre dois amigos que estavam trabalhando em campos vizinhos. Ele
colocou um boné vermelho de um lado e branco de outro e passou ao longo de um
caminho que separava os dois campos. Ao fim de alguns instantes, um dos amigos
fez alusão a um homem de boné vermelho; o outro retrucou que o boné era branco e
o primeiro voltou a insistir mantendo a sua informação; o segundo permaneceu
firme na retificação. Como ambos eram de boa fé, apegavam-se a seus pontos de
vista submetendo-os com ardor e, logo depois, com cólera. Acabaram lutando
corpo a corpo e mataram-se um ao outro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Exu é indicado em diversos mitos como
o senhor dos caminhos, aquele a quem se deve oferecer salvas muito antes do que
a qualquer outra energia para que nada de ruim aconteça, para que os amigos não
se tornem inimigos e a colheita, da qual, Exu, conosco é participante ativo,
pois está em todo e qualquer ritual, renda frutos benéficos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O texto chama a atenção para o fato de
que os amigos eram tão amigos e seu laço tão próximo que seus terrenos eram
“vizinhos”. Ou seja, Exu é aquele que pode desfazer o que já está estruturado,
dado como certo, inviolável. Exu é o que destrói o inexorável. O termo “passou
ao longo de um caminho” é empregado, como índice de ser Exu o que transita
tranquilamente entre os espaços, qualquer espaço. Lembremos que é ele quem
fomenta a comunicação entre o àiyé e o órun: o duplo mítico, assim como, é
duplo - formação de par - o sistema que traz harmonia. Viviam em harmonia os
dois amigos, mas, com o acréscimo do terceiro - Exu -, esta harmonia se desfaz.
Lembremos que o número três é por excelência a força de Exu, o morador do
oritá, encruzilhada de três pontas, e o ímpar é, por sua vez, aquele que
descontextualiza, traz o caos, desarmoniza. É por meio de sua presença e do seu
boné de duas cores, signo do vermelho e do branco que a discordância se
instala, tornando-se uma afronta, que leva a discussão, à cólera, à luta
corporal e à morte um do outro. Não há vitorioso que não seja Exu. Percebamos
também que nenhuma razão há para que Exu apronte esta dissidência. Exu é aquele
que faz o que quer, como quer, com quem quiser. Faz o bem e faz o mal. Exu é
aquele “que joga nos dois times sem constrangimento: Asòtuún se òsì láì ni
ítijú” . Exu pertence tanto à direita - orixás -, quanto à esquerda - ébora -,
daí seu boné branco e vermelho. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Exu transita nos dois hemisférios da cabaça da
criação, veiculando seu poder entre o grupo dos orixás - os òrìsà-funfun,
Obatalá, Òsalufón, Òsaògiyán, Òrisà-oko, Olúwo-fin, Olúorogbo, Orisà Eteko, que
se apresentam sob a forma do poder genitor masculino e do “sangue branco” -, e
os éboras - os omo-òrìsà, Ogum, Xangô, Ossain, Iansã, etc, constituintes do
grupo dos duzentos irúnmalè da esquerda, a metade inferior da cabaça da
criação, cujo poder genitor é feminino. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Exu é orixá de extremo poder, de alta
magia e complexa manipulação, que veicula o axé, intercomunicando o sistema
espiritual, sem o qual, qualquer manifestação ficaria impedida:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">A função de Exu consiste em
solucionar, resolver todos os ‘trabalhos’, encontrar os caminhos apropriados,
abri-los ou fechá-los e, principalmente fornecer sua ajuda e poder a fim de
mobilizar e desenvolver tanto a existência de cada indivíduo como as tarefas
específicas atribuídas e delegadas a cada uma das entidades sobrenaturais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Não à toa, é comum nos rituais, saudar
Exu antes de qualquer atividade, “conversando com ele, colocando-lhe oferendas,
afinal ele é o Síwájú, “o primeiro a ser cultuado”. A ele, no mínimo, uma
quartinha - pote pequeno de barro - com água deve ser colocada e esta água não
deve secar nunca. E a terra deve ser saudada, umedecida, lançando-lhe três
punhados d’água, antes de qualquer ebó, a fim de acalmar as forças de Exu.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em outro texto, menor, mas não menos
indicativo do poder de Exu, outras características deste orixá podem ser abordadas:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Uma mulher se encontra no mercado
vendendo seus produtos. Exu põe fogo na sua casa, ela corre para lá abandonando
seu negócio. A mulher chega tarde, a casa está queimada, e, durante esse tempo,
um ladrão levou suas mercadorias.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Aqui, ele é retratado em seu poder
visceral de alta magia, de controle do fogo. Nada do que a mulher tenta fazer
dá certo. Ela corre para casa e chega tarde. Percebamos que o vocábulo “tarde”,
nos lança para uma idéia de passagem de tempo, faz crer que Exu controla o
tempo, e o faz passar a seu bel prazer. Contra a ira de Exu, não há o que
fazer. Enquanto a mulher tenta salvar sua casa, ele faz com que roubem suas
mercadorias: a mulher está sem trabalho e sem casa. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outro aspecto que salta é a
colocação no texto do vocábulo “mercado”. Sabe-se que ela tem uma importância
semântica fundamental para os iorubás, pois indica um lugar símbolo do jogo
financeiro, do mecanismo de troca, de compra e venda. O mercado é a morada da
riqueza. Não é espanto, ter se reproduzido nos rituais de axé por conta dos
mitos, um ebó no qual a pessoa depois de assentado seu Exu, “passeia com ele
pelo mercado” solicitando sua benção. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Outro destaque é o fato de Exu se
apresentar como manipulador dos caminhos, Ojisé, e do fogo, Inà, uma vez que é
Ogum, quem, por excelência “percorre os caminhos, é o seu dono”; Xangô, por
outro lado, é o “deus que conhece as manhas do fogo”. Se podemos dizer que Exu
consegue manipular tanto os “caminhos”, quanto o “fogo”, elementos índices de
outros orixás, podemos afirmar que ele não “anda” sozinho, sua energia se
apresenta em comunhão com as outras energias; ele tem contato muito íntimo com
os outros orixás. Neste sentido, agredi-lo é agredir aos outros ébora, pois,
simboliza, sintetiza os poderes dos outros éboras.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Em outro texto sobre Exu, temos que ele
foi procurar uma rainha abandonada já há algum tempo por seu marido e lhe
disse: “Traga-me alguns fios da barba do rei e corte-os com esta faca. Eu lhe
farei um amuleto que lhe trará de volta o seu marido”. Em seguida, Exu foi à
casa do filho da rainha, que era o príncipe herdeiro. Este vivia numa
residência situada fora dos limites do palácio do rei. O costume assim o
determinava, a fim de prevenir toda tentativa de assassinato de um soberano por
um príncipe impaciente por subir ao trono. “O rei vai partir para a guerra”,
disse-lhe ele, “e pede o seu comparecimento esta noite ao palácio, acompanhado
de seus guerreiros.” Finalmente, Exu foi ao rei e disse-lhe: “A rainha, magoada
pela sua frieza deseja matá-lo para se vingar. Cuidado, esta noite”. E a noite
veio. O rei deitou-se, fingiu dormir e viu, logo depois, a rainha aproximar uma
faca de sua garganta. O que ela queria era cortar um fio da barba do rei, mas
ele julgou que ela desejava assassiná-lo. O rei desarmou-a e ambos lutaram,
fazendo grande algazarra. O príncipe, que chegava ao palácio com seus
guerreiros, escutou gritos nos aposentos do rei e correu para lá. Vendo o rei
com uma faca na mão, o príncipe pensou que ele queria matar sua mãe. Por seu
lado, o rei ao ver o seu filho penetrar nos seus aposentos, no meio da noite,
armado, e seguido por seus guerreiros, acreditou que eles desejavam
assassiná-lo. Gritou por socorro. A sua guarda acudiu e houve então, grande
luta, seguida de massacre generalizado. (VERGER, 2002: 77).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Neste texto, Exu brinca com todos os
personagens, formando entre os três - fiquemos atentos à importância deste
número para Exu! - um elo, que não une, mas que separa. A idéia de elo,
efetivamente nos leva à imagem da ligação. Em Exu, tudo pode ser diferente, uma
vez que é o paradoxo por excelência. Não esqueçamos que nos orixás moram o
poder de “fazer” e “desfazer”, a relação de causa e efeito, o ataque e a
defesa. O mesmo orixá que pune é o que absolve, o mesmo que ataca com problemas
de saúde é quem conhece a cura. Um mesmo elemento, dendê, por exemplo, pode ser
utilizado tanto para reforçar vibrações negativas, quanto para acalmar. </span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Sàlámì
(1991:25) apresenta este orixá como o “òta òrìsà”, “o inimigo dos orixás”; e,
nos ensina em sua oração, “Esù máse mi, omo elòmíran ni o se”, “Exu, não
manipule a mim. Manipule outra pessoa. Em seu poder mágico, Exu é o manipulador
do ebó, o manipulador do sistema oracular - não há adivinhação sem Exu -, é ele
o manipulador dos indivíduos e os impele à ação. No mito que Verger nos
apresenta, Exu fornece a faca e diz que irá se utilizar de sua magia fazendo um
amuleto para a rainha, cuja força lhe trará de volta seu marido. Ampliando a
visão temos a faca como um objeto que Exu divide com Ogum, deus do ferro, dos
metais - temos posta a ligação entre os dois orixás novamente -, lembremos do
nome de Exu Ol’obé; Senhor do Obé, da faca; por isso mesmo, toda vez que se
produz uma oferenda e nela se utilize uma faca, tanto Exu, quanto Ogum devem
ser louvados, pois participam deste evento, independentemente de para qual
orixá o ritual é produzido. Exu de fato poderia ter viabilizado a união e
produzido o amuleto com alguns fios da barba do rei, uma vez que é detentor de
alta magia, mas a utiliza para fazer exatamente o contrário. Exu é Elegbara: o
manipulador de toda e qualquer energia. Sem ele, os amores não se fazem. Sem
ele Xangô não lança seus raios. Sem ele, os preparados de Ossain tornam-se
inócuos. Sem ele o tempo não corre, ou corre para trás, em descontrole. Esta é
a sua condição dinâmica de agbará, ao mesmo tempo controlador e dono da
representação do sistema mágico. (SANTOS, 1986:134). E sua magia já começa a
ter efeito antes mesmo de iniciá-la, no momento mesmo em que engana, ilude,
trapaceia os seus personagens - soberanos. Pura ironia: Exu não escolhe a quem
atacar, seu poder é exercido sobre a mulher do mercado e sobre o rei. Exu é
aquele que desconstrói o que o homem construiu: “O costume assim o determinava,
a fim de prevenir toda tentativa de assassinato de um soberano por um príncipe
impaciente por subir ao trono”. Não adiantou o fato de o príncipe não morar no
palácio. Exu vai de encontro ao que não foi por ele estabelecido, e coloca o
príncipe, com seus guerreiros, num cenário que não era o seu, causando confusão:
o príncipe ouve gritos e pensa que seu pai quer matar sua mãe. O rei chama a
guarda, e uma carnificina se estabelece. São personagens, neste texto,
manipulados pela vontade de Exu, aquele que consegue piorar ainda mais o que já
está ruim. A rainha queria seu marido de volta, índice de melhoria sentimental
com o retorno para o esposo, a vida em família. Exu lhe tira tudo: a vida dela,
de seu filho e do rei. Isso é resultado do intenso poder que Exu tem de lidar
com vida e morte. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 107%;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;">Assim se dá a dinâmica dos mitos e
rituais. É possível, portanto, afirmar que os mitos dos iorubás permanecem
vivos nos cultos dos candomblés </span>afro-brasileiros<span style="font-size: 12pt;">. Basta observar o modo como o
povo do santo se apropria desses discursos mitológicos, reiterando-os por meio
de seus rituais. Numa visão dialética, há a apropriação e reiteração destes
discursos, numa batalha de representação, numa luta por se fazer representar,
ao invés de ser apenas representado: expressão de política de identidade . De
modo que, ao se apropriar dos mitos, o povo do santo, em seus rituais transita
por meio de um discurso que “fala dele”, ao mesmo tempo em que “fala de si”.
Neste aspecto, são os mitos que, por meio das tramas discursivas, fornecem à
religião padrões de comportamento a seus fiéis, aos seus rituais, que podem
“assim ser usados com modelo a ser seguido, ou como validação social para um
modo de conduta já presente”.<o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="line-height: 107%;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;"><br /></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;"><span style="line-height: 107%;"><span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><span style="font-size: 12pt;">Por </span></span></span>Alexandre de Oliveira Fernandes e Manoel Santos Mota</span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Referência Bibliográfica<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">FORD, Clyde W. O herói com rosto
africano: mitos da África. São Paulo: Summus, 1999. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">MINDLIN, Betty. O fogo e as chamas dos
mitos. Estud. avançados., São Paulo, v. 16, n. 44, 2002. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">PRANDI, Reginaldo. Herdeiras do Axé:
sociologia das religiões afro-brasileiras. São Paulo: Editora da Universidade
de São Paulo, HUCITEC, 1996.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">. Os candomblés de São Paulo: a velha
magia na metrópole nova. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,
HUCITEC, 1991.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">. Referências das religiões
afro-brasileiras: sincretismo, branqueamento, africanização. In: CAROSO,
Carlos, BACELAR, Jéferson (org.). Faces da tradição afro-brasileira:
religiosidade, sincretismo, anti-sincretismo, reafricanização, práticas
terapêuticas, etnobotânica e comida. 2.ed. Rio de Janeiro: Pallas; Salvador,
BA: CEAO, 2006.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">. O jogo dos fragmentos africanos.
Revista Usp, n. 18, p. 80-91, 1993.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">RIBEIRO, Ronilda Iyakemi. Alma
africana no Brasil: os iorubás. São Paulo: Oduduwa, 1996. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">SÀLÁMÌ, Síkírù. Cânticos dos orixás na
África. São Paulo: Oduduwa, 1991.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">SANTOS, Juana Elbein dos. Os Nagô e a
morte: Pàdê, Àsèsè e o culto Égun na Bahia. Petrópolis: Vozes, 1986. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">SILVA, Tomaz Tadeu da Silva.
Documentos de Identidade: uma introdução às teorias do currículo. Belo
Horizonte: Autêntica, 1999. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 107%; mso-bidi-font-family: Calibri; mso-bidi-theme-font: minor-latin;"><span style="color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">VERGER, Pierre. Orixás: deuses iorubás
na África e no novo mundo. Salvador: Corrupio, 2002.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-77396503029990594662016-09-18T18:58:00.005-03:002016-09-18T19:04:06.565-03:00A ritualização dos mitos...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI2oXqXrGvVnZpNs7RYIs2_HyA_2aoHaj48wMPcr1UUg3CO0cFoTMzlmc4fSgQJHeVt5DHjl-7IOsWmIKzUEDK2ob3OsurqZqXdL1KQ1mAsNhzpElq7iXEDR2WkfzWCY5brkpC8ivFQnA/s1600/exu+tocando+flauta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgI2oXqXrGvVnZpNs7RYIs2_HyA_2aoHaj48wMPcr1UUg3CO0cFoTMzlmc4fSgQJHeVt5DHjl-7IOsWmIKzUEDK2ob3OsurqZqXdL1KQ1mAsNhzpElq7iXEDR2WkfzWCY5brkpC8ivFQnA/s1600/exu+tocando+flauta.jpg" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; text-align: center;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; text-align: center;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; text-align: center;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif;"><b>Religião E Migração: Os Cultos Afro Brasileiros A Viagem Do Corpo Dançante O Significado Das Danças Sagradas No Candomblé</b><span style="font-size: 16pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Por:Rosamaria Susanna Barbára<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Resumo:</span></b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O paper relata a importância do corpo e da dança no ritual do candomblé, dança que é experienciada num tempo e num espaço particular, aquele do mito. Através do corpo dançante o fiel alcança o transe e relata a memória e a história daquela comunidade, em quanto o corpo simbólico é o centro da união com o divino e o espelho das energias cósmicas. Sendo a dança uma arte, que vive em direta junção com a música, discutem-se também a estética africana e o aspecto fundamental dela: a dinâmica do movimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">A VIAGEM DO CORPO DANÇANTE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">"Je danse l'autre donque jé sui"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Leopold Sendar Senghor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Esse paper é o resultado de uma pesquisa de campo de três anos, realizada em Salvador, Bahia, finalizada ao Mestrado em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal da Bahia e dos workshops em Expression Primitive, efetuados em Milão em 1996-1997.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Ao longo da pesquisa de campo tornou-se evidente a importância do corpo no caso na dança que não pode ser separada da música, no ritual. Essa preponderância da dança e da música relatada também na mitologia revela a sua função de criadora da ordem e da estabilidade a nível macrocósmico e a nível microcósmico nas culturas africanas, afro brasileiras e também no candomblé. Retomando Eliade (1969:33), cada ameaça à saúde e à vida do indivíduo que pertence às culturas tradicionais é enfrentada com uma: "...repetição do ato cosmogônico e não consiste tanto numa repetição dos processos vitais, mas numa verdadeira e própria recriação dos mesmos processos através da repetição ritual daquele acontecimento primordial, arquetípico, que em illo tempore gerou a mesma vida. Existe um tempo mítico e primordial no qual tudo já aconteceu, um tempo puro que se identifica com o instante da criação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Tambia O candomblé é uma religião fundamentada sobre a crenças em divindade chamadas orixás e sobre a procura do encontro com o sagrado via o fenômeno da possessão. O transe no candomblé, como diz Prandi (1991): "...pelos menos em suas primeiras etapas iniciaticas, é experiência religiosa intensa e profunda, pessoal e intransferível. Como a dor e as paixões não-religiosas experimentadas, não pode ser mensurado nem descrito, a não ser metafórica e indiretamente". Durante o fenômeno do transe o corpo da <i>filha </i>ou <i>filho-de-santo </i>torna -se o próprio orixá superando a dicotomia corpo/espirito, forma/conteúdo. Tambiah (1981:121) procurando superar esta dualidade forma/conteúdo, argumenta: a integração entre relato cultural e análise formal é revelada nesta mutualidade: se os principais rituais de uma sociedade estão fortemente associados com sua cosmologia, então podemos legitimamente perguntar o que a sociedade busca transmitir aos seus aderentes em suas principais performances, o que nos leva a perguntar por que certas formas de comunicação são escolhidas e usadas em preferência a outras, como sendo mais apropriadas e adequadas para essa transmissão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O corpo é assim, como diz Turner (1967:31) um símbolo dominante tendo a propriedade dá polarização do sentido. Num polo encontra-se um agregado de significados, que referem-se aos componentes da ordem social e moral da sociedade, a princípio da organização social, esse chama-se de "polo ideológico". No outro polo, o sensorial, o conteúdo é relacionado com a forma externa do símbolo; nesse se concentram significados que suscitam desejos e sentimentos. No contexto do ritual há uma contaminação de sentido: as ideias e valores morais expressos no polo ideológico se veem penetrados do conteúdo emotivo presente no polo sensorial. Os processos naturais e fisiológicos, expressos no polo emotivo, por sua vez, são elevados por referência aos valores. Na dança ritual, esse processo é facilmente compreendido: os movimentos do corpo transmitem representações e valores impregnados de emoção e não como mera cognição fria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Outro aspecto que evidencia-se no ritual, é o cuidado com a estética seja na preparação da festa, seja nos trajes litúrgicos, estética padronizada em modelos fixos e transmitidos no tempo. A arte ritual funciona como representação do invisível, sendo o seu objetivo aquilo de chamar as forças imateriais. Como relata Huyghe (1967): "A arte é essencialmente um meio material de atingir, de mostrar e mesmo de introduzir no mundo dos sentidos as forças espirituais".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O candomblé por ser uma religião de raiz africana tem a ver com a afirmação de Jahn no que diz respeito a característica holística e simbólica da cultura africana onde cada elemento refere-se a um outro. Assim para compreender a dança torna-se necessário conhecer o contexto, a cosmologia, a crença religiosa, a estética e a visão de mundo da comunidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A dança como viagem simbólica tem duas funções: um lado invisível, a mudança interior quando a <i>filha </i>ou <i>filho-de-santo </i>incorpora o orixá e um lado visível onde o possuído dançando conta e testemunha a memória da comunidade, restabelecendo o "antigo equilíbrio”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">A ESTÉTICA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A arte africana é ligada especialmente a religião, aspecto que permaneceu também entre os afro-brasileiros, junto com a forte união com o mundo místico. Assim não existe o conceito da " <i>art pour l'art" </i>(claramente existe um valor estético), mas qualquer tipo de arte é algo de instrumental para os poetas ou músicos ou dançarinos-sacerdotes, sendo todo o processo de criação inspirado a realização da comunicação com o mundo sobrenatural e a criação daquilo que estão representando. A sacerdotisa-dançarina, por exemplo no transe de Oxum ao dançar cria a fonte d'água doce, cria a onda da agua, transmitindo a imagem, a vibração da natureza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Estudiosos da arte africana, como a historiadora e dançarina Keriamu Welsh Asante (1985:72) e Thompson (1974:30) reconhecem na dinâmica do movimento o aspecto mais importante e profundo da estética dessas culturas, seja na dança, seja na arte visível e gráfica. Na arte plástica, observar-se figuras de homens ou de mulheres no ato de dobrar-se de joelhos, talvez para sentar-se ou levantar-se, mas sempre em perfeito equilíbrio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A centralidade da dinâmica na cultura africana contrasta com a ênfase na postura fixa, característica da cultura ocidental, de facto a dinâmica do movimento faz parte do conceito de beleza africana, que é de grande complexidade, tendo que expressar vários aspectos simbólicos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo ela são sete as dimensões estéticas subjacentes à arte e sobretudo à dança e a música: a polirritmia, o policentrismo, a curvilinearidade, a dimensionalidade, a memória épica, a repetição e o holismo que expressam o universo místico total, seja o lado visível, o cotidiano, seja o invisível, o universo dos espíritos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As danças africanas, como qualquer outro aspecto das culturas e das civilizações africanas, não podem ser consideradas em si, mas como elemento de uma unidade. É importante sublinhar esse aspecto holístico da cultura, porque ele está em nítido contraste com a cultura ocidental. Uma dança realizada para uma simples diversão, pode também remeter a outra coisa, numa corrente simbólica infinita. Portanto os movimentos, a parte do corpo utilizada, as roupas vestidas, a música possuem um sentido próprio, mas, juntos, simbolizam algo outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A característica mais impregnante na dança africana é a da polirritmia. Movimento e ritmo não podem ser separado. O ritmo tem um padrão fixo, na polirritmia tem a junção de vários ritmos. Cada parte do corpo movimenta-se seguindo um ritmo e uma forma diferente de movimento. Por isso o corpo pode ser comparado a uma orquestra, que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O policentrismo indica que o movimento não é a sua deslocação no espaço, mas a ocupação de uma estrutura-tempo. Como explica Waterman: " O africano apreende a ser consciente de cada instrumento empregado na orquestra e isso tem uma grande influência sobre a dança. Cada músculo do corpo atua seguindo os diferentes ritmos da música. Um dos termos no idioma Twi quando falam da música é "dança multi-metrica". Para Thompson a dança africana é determinada por várias interelações, construída através de vários movimentos sobrepostos. Para o estudioso o principal fim desta característica é a representação do cosmo no corpo, a com mais estrutura-tempo. Todas as possibilidades do universo existem só no corpo humano. Os dançarinos interpretam movimentos que veem de várias direções, mas na mesma "estrutura-tempo".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Outro aspecto com um claro significado mágico-religioso é a forma curvilínea. As danças africanas, como em geral as danças populares em muitos lugares do mundo desenvolvem um movimento circular, anti-horário e, nas coreografias, se destaca a forma curvilínea, porque, como contam as lendas, ao círculo é atribuído um poder sobrenatural, uma vez que a ausência de limite implica que não pode quebrar-se e que permanece ao infinito, numa estabilidade e espacialidade fora do tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A dança africana é uma textura de várias camadas de sentidos, a dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimi-las: o olhar, o ouvir, o sentir, o vibrar, que seriam o lado visível dos movimentos, expressos em outra dimensão, a espiritual. No momento da dança do transe não é mais a <i>filha </i>ou o <i>filho-de-santo, </i>mas a própria vibração do orixá, que movimentam-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Outro aspecto, muito salientado ao longo da pesquisa de campo, é aquele da imitação e da harmonia; o primeiro é percebido como reflexo e eco da natureza, mas em um sentido sensual e não material, enquanto a harmonia é vivenciada pelo artista como a sua colocação no cosmo sem causar distúrbios ou destruir o seu equilíbrio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A memória é o aspeto ontológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e da lembrança da antiga harmonia da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação e que tem que ser lembrada e fortalecida num ciclo eterno. A relevância da obra artística é dada pela transmissão da harmonia, que liga algo dentro e algo fora, o corpo e o espírito, a natureza e o homem. Mas sem a inspiração divina o escultor, o dançarino, o musico não poderiam criar o "momento artístico-religioso".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A repetição, entendida como uma reciclagem do momento criativo, o movimento produz o efeito de intensificação que leva ao encontro com a divindade, facilmente observado nos rituais. O mesmo ato ou gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de atemporalidade, de continuação e de criação continua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Outra característica é a ligação com a terra, vivenciada como elemento materno, é ela que nos originou, em vários mitos africanos e no candomblé e a onde voltaremos. Nas danças africanas o contato continuo do pé nu com a terra é fundamental para absorver as energias que se propagam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">TEMPO E ESPAÇO NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Evans-Pritchard (1976) distingue as duas categorias de tempo relativas aos Nuer (uma das tribos da África Oriental): o tempo ecológico e o tempo estrutural; sendo o primeiro o tempo das estações, dos ciclos anuais; enquanto o segundo revela não um <i>continuum</i> , mas uma constante entre dois pólos: a primeira e a última pessoa na linhagem familiar. Edward Hall (1984:96), observa que: "os Nuer, se dão conta, de certo modo, que o tempo passa, mas que é necessário para o funcionamento de suas estruturas culturais tratá-lo como um elemento imóvel - eles consideram que somente as gerações passam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Tomando um outro exemplo, ainda na interpretação de Hall, (1984:96): para os Tiv (um povo da Nigéria) o tempo é como um conjunto de espaços fechados, cada um contendo um atividade diferente. Esses espaços fechados, assim como os canais dos Nuer, parecem ser relativamente fixos: não se pode deslocá-los ou reorganizá-los, nem mudar ou interromper uma atividade em curso no interior desses espaços, como se pode fá-lo na cultura ocidental.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">No candomblé, também o tempo-pensamento para de fluir, porque cada ação, cada cantiga, cada dança tem que ser vivenciada no tempo reversível próprio do mito. Segundo a antropóloga Bernardo: "...Surpreende perceber na festa, através da música e da dança, a existência de um outro tempo - do tempo reversível. Pela audição dos sons e pela percepção dos movimentos dos corpos no espaço atesta-se a existência desta outra temporalidade que reintegra o tempo linear - da produção e da eficiência - ao tempo que não envelhece - característicos dos deuses".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Esse é um tempo circular que começa e acaba no mesmo ponto, ciclicamente e ritmicamente seguindo os ritmos da natureza. O tempo, nesse sentido é movimento, é a materialização do movimento, como diz Duplan (1987): "para marcar o tempo, temos que agir, batendo sobre um tambor com a mão ou sobre o chão com os pés. Criando o tempo, criamos o movimento."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O espaço sagrado é o campo do culto, o lugar no qual o caos transforma-se em cosmo, tornando possível a vida humana, por isso é polissêmico. Segundo Neumann(1981:34), "... O lugar da revelação primária transforma-se em lugar de culto, caverna sagrada, modelo de qualquer templo, e o mesmo caminho percorrido transforma-se numa estrada misteriosa conscientemente repetível, estrada que conduz à sabedoria com o caminho iniciático .<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Toda a <i>roça </i>do candomblé é considerada um lugar sagrado. No momento em que o fiel deixa a rua e entra na <i>roça</i>, ele entra num lugar mágico-sagrado. O mundo de fora é perigoso e cheio de dificuldades. Dentro existem várias provas a superar, mas as filhas de santo encontram aliados na luta pela a sobrevivência e também no caminho místico-religioso. Já na entrada, os fiéis colocam ou assentam espíritos, através de rituais apropriados para defendê-los das energias negativas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Tanto a rua, quanto o próprio terreiro poderiam simbolizar uma peregrinação, um caminho iniciático, lugar de passagem para alcançar o <i>barracão</i>, o lugar sagrado por excelência, onde, nas cerimônias públicas, as divindades se manifestam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Existem dois espaços, um interior, o próprio corpo da <i>filha-de-santo, </i>receptáculo do sagrado, sagrado ele mesmo e um externo o <i>barracão. </i>Esses dois lugares são o teatro da transformação ritual. Neles o fiel deixa o mundo cotidiano e alcança o encontro tão assustador, mas tão desejado, com o divino. É só no espaço sagrado que ele pode voltar à totalidade e comunicar-se com a divindade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A dança desenha não só o percurso do corpo no espaço para chegar ao divino, mas também percorre a planta arquitetônica do lugar sagrado, desenhando o caminho para alcançar o espaço mágico-sagrado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O fiel dança, segundo (Wheatley,1983), ao redor do centro sagrado, um ponto da terra ligado ao céu por um invisível raio energético, o <i>axis mundi</i> . Este é um simbolismo em quase todas as religiões do mundo. Nesse ponto e na entrada estão enterrados os fundamentos da casa. Cada terreiro tem seu próprio <i>fundamento</i>. O centro de um lugar é fundamental nas religiões africanas porque é o lugar, onde, através da "coluna sagrada", o céu se liga com a terra, segundo relata Davidson (1972). É talvez por isso que, nesse lugar, está colocado o <i>fundamento </i>da casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A criação, em toda a sua extensão, se efetuou a partir de um centro. Por isso, tudo aquilo que é fundado, está no centro do mundo. Do centro passam dois eixos, um vertical, o outro horizontal, tempo e espaço. Desse centro, originam-se círculos sempre maiores, que vão ao infinito, à semelhança de uma pedra jogada na água. Mas o caminho é árduo, semeado de perigos, porque é, efetivamente, um rito de passagem do profano ao sagrado; do efêmero e do ilusório à realidade e à eternidade; da morte à vida; do homem à divindade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O espaço sagrado, o <i>barracão, </i>durante a dança, é preenchido com os corpos em movimento. As direções são os caminhos do corpo no espaço. Simbolicamente expressam as várias possibilidades no espaço do divino e do homem se movimentar. A divindade pode utilizar uma estrada curvilínea, ou um caminho que prevê várias mudanças de direções. Come sugere Hall um movimento curvilíneo que segue um caminho direto-circular, como aquilo de Oxum ou Iemanjá mostra o pertencer a uma etnia de agricultores, parados num lugar de onde irradiavam-se. Enquanto os caminhos de Oiá e de Ogum relatam o pertencer a uma etnia nômade, que mudava a direção seguindo a trajetória dos animais. O corpo em movimento assume um significado simbólico, segundo os níveis de verticalidade, alto-médio-baixo. O nível alto relaciona a pessoa com o elemento ar; o nível baixo relaciona o corpo com a energia da terra, que, segundo Oliveira (1994): tem que dar o apoio necessário para sustentar-se; o nível médio inter-relaciona os outros dois. O corpo movimenta-se também na horizontal, ampliando os movimentos semelhantes a uma bola hipotética, como nas danças de Iemanjá, ou desenhando com os braços, uma forma redonda, como na dança de afastamento de Oiá-Iansã. Assim as danças podem desenvolver-se tanto ampliando os movimentos, quanto dançando na vertical, subindo e descendo ao longo de uma linha imaginária, como na dança das ondas de Iemanjá. Frequentemente os orixás jovens pulam, dançando, e interrompem os movimentos com paradas repentinas e nervosas, como Oiá-Iansã ou Ogum, demostrando mais energia, enquanto os orixás mais velhos dançam com mais calma e com movimentos mais contínuos, como Oxalá ou Nanã Buruku.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Os orixás guerreiros dançam com uma postura mais ereta, com pulos nos momentos mais dramáticos e alcançando com o corpo mais espaço seja na linha vertical que na horizontal, enquanto as divindades mais velhas dançam curvadas na direção do chão. É o caso de Omolu ou de Nanã Buruku, cuja gestualidade expressa sua ligação com os ancestrais e com o retorno à terra, <i>aiyé, ao</i> <i>orum</i>, o não conhecivel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">O CORPO E A SUA SIMBOLOGIA NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O homem está em contato continuo e harmônico com a natureza, que fala com os mortais através das suas vibrações, captadas do corpo, por isso o corpo não é negado, mas vive o seu compromisso com o mundo. Os seus ritmos são acompanhados de uma experiência sensual contínua. Eis por que o corpo é decorado para mostrar a sua importância e resguardá-lo dos ataques mágicos externos, protegendo as aberturas com decorações ou jóias, como os brincos cheios de pendentes, para indicar aos outros quem a pessoa é e como os outros devem-se comportar-se na sua frente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O corpo sagrado é o templo por excelência, é simbolicamente o "trono" e, por isso, o das divindades (típica é a representação de Iside sentada) é sempre representado (Newman, 1981:101) como: um trono em si, é característico que o ventre feminino não seja só a parte dos genitais, mas também as largas coxas da mulher sentada, sobre as quais fica o menino nascido daquele ventre. Portanto as cadeiras são uma área sagrada do corpo humano, onde a bacia e as nádegas representam a fertilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Centro da irradiação simbólica portanto é o corpo, expressão das energias da natureza e em unidade com o mundo natural que o abrange. Daí a sua função de busca das energias cósmica e de expressão delas, vivenciando-as.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Sendo o corpo humano uma cópia das formas e das energias do cosmo, os próprios elementos (fogo, ar, água e terra) juntam-se segundo arquétipos diferentes. As palavras do biólogo Pelosini (1994:94) aplicam-se bem à concepção africana do corpo humano : ...o universo (macrocosmo) e o homen (microcosmo) são criaturas similares, que obedecem às mesmas leis como um tipo de fantástico e perfeito relógio cósmico que escande harmoniosamente os ritmos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Tendo como base o contexto cultural holistico do candomblé, o corpo encontra-se diretamente relacionado a uma divindade e, por extensão, a um dos elementos naturais primordiais e aos demais elementos a ele associados, como relatam Barros e Teixeira (1992:43). É percebido como manifestação da ação sobrenatural. A partir da predominância de um dado elemento na composição do corpo, é determinado o principal orixá da pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As divindades femininas, as <i>iabás, </i>Nanã Buruku, Iemanjá, Oxum, Euá e Obá estão associadas ao elemento água; Oxalá (masculino) e Oiá-Iansã (feminina) ao elemento ar; Ogum, Oxóssi, Omolu, Iroko e Ossâim (masculino) ao elemento terra e por isso ao mato; Exu e Xangô (masculinos) e também Oiá-Iansã (feminino) ao fogo. Os orixás Oxumaré e Logunedé são considerados metá-metá" e estão associados tanto à água como à terra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">No corpo está inscrita a história da familiar, dos ancestrais <i>Esa</i>, numa sofisticada composição de formas, matérias e energias opostas, que devem equilibrar-se e complementar-se. Como relataram-me na pesquisa, simbolicamente a parte frontal do corpo é relacionada ao futuro; a parte posterior, sobretudo a nuca, ao passado. As pernas estão relacionadas aos ancestrais, porque são a base do corpo humano, quer dizer, aquilo ao qual refere-se sempre e que é o sustento, quer dizer a hereditariedade, os antepassados. Também as mãos são consideradas como um dos pontos onde é possível receber energia, de fato quando um orixá passa perto dos fieis botam-se as mãos abertas frente à divindade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O corpo, <i>ara </i>foi modelado com uma porção de lama, porque a terra é a mãe de tudo e o lugar ao qual todos voltaremos, sendo um outro dos lugares simbolizantes o <i>orum, </i>o não conhecido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As partes consideradas mais sagradas são: a cabeça, sede do <i>ori </i>é consagrada a Iemanjá. Ela é a senhora das energias negativas e positivas. É ela que consegue equilibrá-las nas cabeças. Por isso, como me foi explicado pela Ialorixá Mãe Beata de Logunedé, Iemanjá dança botando as mãos na frente e atrás da cabeça, a simbolizar a possibilidade das misturas das energias. Iemanjá como mãe de todos os orixás, tem a função de orientar e cuidar de todo mundo, não só dos filhos dela. Os seios simbolos da nutrição e fonte de vida para o genro humano. O ventre, sede dos órgãos sexuais, é protegido por Oxum, porque ela é a dona do fluxo menstrual, enquanto o útero, como órgão reprodutivo, é protegido por Iemanjá. Dono dos pés é Ogum, símbolo do movimento, também do desenvolvimento, porque indica a capacidade de procurar novos caminhos. O pé direito é relacionado com o ancestral masculino e o pé esquerdo com o ancestral feminino, sendo, como explicado acima, a base do corpo e a herança ancestral que reside na terra. A voz do orixá é o <i>ke</i> ou <i>ila</i> , um grito que às vezes a possuída dá durante a possessão. O <i>ila </i>é o símbolo da individualidade, é a energia pura daquela pessoa, é o som criador e individual que, concentrando-se no interior, testemunha a personalidade mais profunda. Mais que o olhar, é a voz que indica a individualidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As aberturas do corpo são também sagradas porque, através delas, através da alimentação penetram no corpo os alimentos e as energias. O orixá que cuida das aberturas do corpo assim como das entradas do terreiro é Exu, o guardião que, se bem homenageado, traz boas energias, enquanto que, se deixado solto na rua, procura confusões e dificuldades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Os olhos são importantes porque falam, são os espelhos da alma, ao longo da pesquisa percebi o diferente olhar das <i>Maes-de-santo</i> em circunstancia particulares, como por exemplo na divinação. E também merece ressaltar o fato que ao longo do transe, os olhos fechados parecem indicar que os sentidos estão voltados para o interior do corpo, para uma outra dimensão. A coluna humana simboliza a coluna sagrada, com ela relaciona-se o mundo dos espíritos com os dos mortais, assim é através da coluna que liga-se a cabeça e os pés, o <i>ori </i>com o sua base que é a possibilidade de se mover no espaço e no mundo, como a dizer que sem um equilíbrio energético na cabeça o fiel não pode escolher o seu caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Através do corpo em movimento percebem-se os problemas espirituais, porque, quanto mais um fiel conseguir ficar em harmonia consigo mesmo e com o seu orixá, com mais fluidez ele conseguirá soltar-se na dança, expressando a própria natureza profunda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">A DANÇA CÓSMICA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Shiva criou o universo dançando, assim como nos mitos gregos Eurinone, Deusa de Todas as Coisas, emergiu nua do Caos, mas não vendo substancia em redor onde firmar os pés, apartou do céu o mar, dançando solitária por sobre as suas ondas. (Graves, 1990:31). Nas lendas dos Iorubás, os orixás também gostavam muito de dançar durante as festas ou para atrair alguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Entendem-se assim que não só no pensamento africano, mas também no oriental e grego o universo é percebido em continuo movimento, formado por ondas vibratórias organizadas no "verbo" da Divindade Suprema que expressa-se na respiração com os dois movimentos básicos da natureza viva: expansão e contração. Movimentos fundamentais da vida do cosmo, das plantas, dos animais e do homem. Belinga diz (1993:11): "Nas nossas tradições o "verbo" possuí três elementos que o determinam e que permitem a sua colocação seja entre as formas artísticas, seja na comunicação interpessoal. Três são as formas nas quais o "verbo" manifesta-se: a palavra, que caracteriza a expressão interior e exterior do pensamento; a música que expressa a beleza; e pôr fim a dança, que é em função seja dos ritmos dos instrumentos seja do ritmo interior do "verbo".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo os africanos a vida faz parte de um processo rítmico e dinâmico de criação e destruição, de morte e renascimento, onde as danças dos orixás expressam esse eterno e alternado ritmo, que desenvolve-se em ciclos infinitos expressados pelo homens.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Através da dança, o corpo sai da sua individualidade física e insere-se num movimento mais amplo que interessa à coletividade, à divindade e ao cosmo. O fiel, através do rito alcança o infinito. Move-se com atos ou gestos corporais, que permitem realizar aquela identidade substancial que liga o som individual aos ritmos do universo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Assim as danças das divindades tornam-se como um espelho que reflete o ritmo humano, do nascimento, da morte e dos ciclos cósmicos da criação e da destruição. As culturas não ocidentais sabem que a natureza vibra numa onda invisível-rítmica perceptível só através do corpo e da arte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Por isso Morin coloca que: "a sensibilidade estética é, sem dúvida, uma aptidão para entrar em ressonância, em "harmonia", em sincronia com sons, aromas, formas, imagens, cores produzidos em profusão não só pelo universo, mas também, já então pelo <i>sapiens</i> ".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Por isso a religião usa as formas estéticas como comunicação não verbal, porque consegue exprimir sensualmente mensagens profundas que seriam impossíveis expressar com palavras. Daí a importância da arte ritual como linguagem de transmissão para a alma humana. Langer explica este fato (1953:40) quando diz: a arte é a criação de formas que simbolizam os sentimentos humanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O homem é levado pela música expressa na dança para o caminho indicativo da metamorfose, necessária para encontrar o sagrado, experiência dificilmente exprimível com palavras, posto que ela é interna, preciosa e resumível apenas com as imagens simbólicas dos sonhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Existe uma estrutura fixa e organizada e uma linguagem específica, seja para a música, seja para a dança. A aprendizagem das danças e da terminologia é lenta e envolve uma longa vivência nos terreiros e uma longa observação. Nas palavras de Langer (1980:178): o movimento corporal é bem real, mas o que torna o gesto emotivo é a sua origem espontânea, no que Laban chama de movimento-pensamento-sentimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Percebe-se, assim, a importância não dos gestos mecânicos, mas da força do sentimento, do pensar apaixonado que a dança expressa, que seria a essência daquele orixá particular. Mas o homem só pode encontrar o sagrado através de uma iniciação progressiva: a força da divindade sem uma adequada preparação seria de fato forte demais para o comum mortal, como disseram meus informantes. Por isso o ritual desenrola preparando o fiel para encontro com o divino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O homem dançando, ritualiza a confiança numa vitória sobre o heracliteo "eterno fluir" e a celebra para revivê-la e para continuar, ele mesmo, a viver eternamente, consagrando-se, assim, um dia como antepassado na memória dos familiares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A angústia de não sobreviver à caducidade da vida e à passagem do tempo é antiga como o mundo e todos os povos tentaram exorcizá-la. O homem, através da dança ritual, acredita sair do tempo e entrar em contato com a essência primordial, na qual não existe o fluxo do tempo. Lévi-Strauss (1971:590-659) e Durand (1972:35) salientam a necessidade do homem de parar o tempo no ritual e de celebrá-lo dançando, de não deixá-lo decorrer em sua passagem, acalmando, desse modo, a angústia existencial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">No ritual, os fiéis do candomblé vivem de novo o momento atemporal do mito da criação, dançando ao contrario voltam a origem e, ao antigo equilíbrio, agindo assim, exorcizam a morte, o tédio e o sofrimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">A MÚSICA NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo Mukuna (1996), a música africana tem a função de fazer socializar a comunidade, de passar o conhecimento sobre o grupo étnico desde uma geração á outra e de abrir um canal de comunicação entre o mundo físico e o espiritual. O som é o resultado de uma interação dinâmica, som que sendo condutor de <i>axé, </i>poder de realização, aparece em todo seu conteúdo simbólico nos instrumentos musicais. Por isso os <i>atabaques </i>são instrumentos sagrados e recebem todos os anos rituais apropriados, assim como são tocados só por sacerdotes-musicos, os <i>alabés. </i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo o músico Carneiro(1994), a música africana está caracterizada por uma ciclicidade da frase musical. Quer dizer que o padrão rítmico repete-se ao infinito. Não é como na música ocidental, em que se cria uma história temporal. Aqui não: a frase musical é repetida sem um começo ou um final. A repetição da frase anula a expectativa do acontecimento de algo de novo, de imprevisto, mas recria todas as vez a frase musical. Existe a tentativa de parar o tempo e o seu fluxo na busca de um centro único, fixo e eterno. A música é dividida em unidade de tempo que organizam-se num "modelo-padrão", repetido numa nova re-ciclagem. No ritual cada <i>atabaque </i>tem seu "modelo-padrão" que liga-se àquele dos outros tambores num "ensamble thematic cycle" (Meki Nzewi) que levam os vários instrumentos num mesmo momento de início ou de fim. A música simbolicamente expressa o andamento circular do tempo e do espaço do mito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O atabaque maior, <i>rum</i> <b>,</b> que é a base rítmica e é o único que permita-se variações, toma conta da cabeça, porque e o "som-identidade" e a nível simbólico, manda sobre o resto do corpo. Seria o fundamento religioso, a parte mais sagrada. A nível corporal, manda sobre os pés, que são a base do corpo e em direta ligação com a cabeça através do canal energético representado pela coluna humana. Os braços contam a mitologia e estão dirigidos pelo ritmo do <i>rumpi</i> . Enquanto a última percussão, o <i>lé</i> , dirige o movimento dos ombros, que é continuo e o mais solto possível, talvez para ajudar a passagem da energia através da coluna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Tanto a música, quanto a dança que a acompanha expressam o caráter do orixá e os acontecimentos da sua vida. As histórias míticas, as qualidades, as virtudes e as falhas dos orixás são passadas aos fiéis através das letras das cantigas. A concentração e a busca interior permitem expressar a própria música e a própria gestualidade, que é única e pessoal e que corresponde à "qualidade" de cada orixá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Assim, por exemplo a música de Oiá é caracterizada por grande rapidez, agressividade, determinação e grande variabilidade, porque o <i>rum </i>nunca repete os mesmos esquemas rítmicos, percebe-se assim a personalidade da deusa que expressa o elemento ar em movimento. O uso da <i>sincope </i>no brano de Oiá tira a possibilidade de encontrar uma isocronia no ritmo e dá ao ritmo musical a impossibilidade de botar os pés no chão. Enquanto a música de Iemanjá é caracterizada por movimentos lentos e amplos, que expressam o movimento das ondas do mar. Por sendo em ritmo binário a sensação é aquela de um movimento circular, expressado na dança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Como a música é tão importante, assim é a função dos sacerdotes-musicos, os <i>alabés </i>que aprendem o repertório durante muito tempo. São eles que podem chamar a comunidade e sobretudo os orixás a descer na festa, são eles que ajudam os fiéis a 'cair no santo' acelerando os ritmos e que encerram a festa com um toque especial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Como mostra Luhning (1990:197), a música, na sua maior parte, está direta e inseparavelmente ligada com a dança das <i>filhas-de-santo </i>ou dos orixás manifestados nelas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">AS DANÇAS NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Nos rituais de candomblé, a função da dança é múltipla: por um lado, é expressão do sagrado e cria o próprio orixá, por outro, é o meio e o conteúdo entre a divindade e os fiéis, entre o <i>aiyé</i> , a terra e o <i>orum</i> <b>,.</b> Como já foi observado acima, a dança sagrada expressa a própria energia da natureza, materializada no corpo da filha-de- santo em transe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Na festa pública do candomblé são reconhecíveis dois tipos de dança:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">a) um primeiro tipo, no começo da festa, o <i>xirê</i> (literalmente brincar), onde se canta para todos os orixás um mínimo de três cantigas, acompanhadas pelas danças. Cada orixá possui cantigas e gestualidades particulares, pertencentes só a ele. Essas danças são previsíveis, porque são executadas ainda em estado consciente e seguem um padrão fixo, a depender do orixá dono da festa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Todas as filhas e os filhos-de-santo participam dessas danças, formando, no início, um grande círculo sagrado, que é um símbolo encontrado em várias religiões. Essa primeira parte da festa pode ser considerada uma cosmovisão: todas as energias da natureza são chamadas a descer para restabelecer o antigo equilíbrio entre as energias da natureza e os homens. Em geral, os fiéis dançam um atrás do outro, em sentido anti-horário, exceto nas rodas de Xangô, de Oxóssi, de Obá ou de Oxalá", onde as filhas olham para o centro do barracão, concentrando-se nessa direção. Nesse lugar, está colocado o fundamento da casa, a raiz material da casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Quando se dança o <i>xirê</i>, segundo Oliveira(1995): os movimentos são de dimensão pequena e chamam-se dançar pequenino, porque são movimentos de dimensão pequena e servem para concentrar as energias, mas também para as pessoas se centrarem e para prepararem-se a receber o orixá;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">b) um segundo tipo, são danças realizadas durante o transe; é o próprio orixá que dança nesse momento, seguindo o ritmo sagrado dos tambores. Nessa segunda parte, o andamento da festa é imprevisível porque, apesar de existir um esquema fixo, não se sabem exatamente quais serão as coreografias, porque isso depende das cantigas entoadas pelos fiéis presentes, da memória para lembrar as antigas cantigas e também da presença das <i>Iá-tebexê </i>ou das <i>Baba-tebexê</i> quer dizer, das filhas ou filhos que têm a tarefa de entoar as cantigas e de continuá-las, quando os outros não se lembram mais delas. Além disso, o desenvolvimento da festa depende de outros elementos complicadíssimos, como a relação entre o orixá dono da festa e o da mãe-de-santo, ou de outras relações entre os orixás.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Assim, por exemplo, numa cerimônia para Oyá-Iansã, assistem-se às danças típicas dela: da guerra, como mãe ou rainha dos Eguns, e a coreografias ligadas a outros orixás, como Ogum, Xangô, Oxóssi, seus maridos. Nessa segunda parte da festa, a energia é chamada a manifestar-se em todas as suas formas possíveis e também junto com as outras forças da natureza. Quando Oyá-Iansã dança com Xangô, sua dança é a manifestação do movimento do ar, que gera o fogo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O orixá mostra ao público a sua história mitológica, redistribuindo a energia vital, <i>axé</i> e trazendo o mundo sagrado de volta ao cotidiano. Quando os orixás apresentam-se nesse momento, entram no barracão em fila, seguindo a hierarquia dos <i>mais velhos no santo, </i>quer dizer que as filhas mais velhas vêm na frente, seguidas daquelas com menos tempo de iniciação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As danças dos orixás são muito diferente. Por exemplo nas coreografias de Oiá, os passos são pequenos e rápidos, como se os pés não pudessem posar-se no chão, ela representa o elemento ar em movimento, enquanto os braços movimenta-se com força afastando qualquer da sua frente. O corpo pode ser dobrado para o chão, com uma carga muito ameaçadora, mais frequentemente é direcionado para o alto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As danças de Iemanjá são constituídas por movimentos amplos, os pés posam no chão, a demostrar o equilíbrio, enquanto os braços movimenta-se com grande fluidez. O corpo está levemente dobrado para o chão em uma forma redonda a lembrar a forma materna da deusa e a sua disponibilidade em acolher e em conduzir, o corpo todo expressa o movimento das ondas, a ritmicidade continua, mas também o mistério a água que está em baixo sobe por cima levando as coisas que encontra por baixo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Existem algumas danças que são parecidas, como as chamadas <i>primeira de dar rum</i> , primeira coreografia dos orixás, que funciona como uma apresentação através da qual os orixás, se apresentam ao público. Nas danças executadas em transe o corpo e o rosto juntam-se numa única plasticidade como se o corpo tornasse uma estadua e adquirisse uma nova qualidade de movimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Cada orixá dançando transmite a própria vibração interna: Ogum, nervoso anda no espaço todo abrindo o caminho com as mãos que já viraram espadas. Oxossi, o caçador dança com o <i>aguere, </i>tranquilo, esperando os animais e movimentando-se com muita atenção no mato, ele tem na mãos arco e flechas. Xangô, com o ritmo <i>avanija, </i>toma posse do barracão, mostra ser o vaidoso rei de Oio, mexendo o corpo todo e ampliando a largura das costas. Omolu dança dobrado para o chão, o seu ritmo<i>opanijé, </i>tremendo pela sua doença. Oiá nervosa, voa com o <i>ilú, </i>enchendo todo o barracão, Iemanjá mais calma expressa a grandeza do mar e o seu lado maternal, enquanto a Oxum com o <i>ijexá, </i>captura os olhares dos fiéis, mostrando todo o seu lado coquete. Nanã também dança dobrada, tendo na mão uma bengala com a qual bate o milho, ela é a mais velha e a mais ligada ao mundo dos ancestrais, Oxalá, o pai de todos dança com dignidade, com a sua ferramenta na mão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">No final, existe uma coreografia de despedida, em geral igual para todos os orixás. Estes saúdam o público, a mãe de santo e os atabaques, restabelecendo a ordem inicial. Então as forças da natureza, chamadas a concentrar-se no espaço sagrado, são espalhadas novamente e repartidas no seu lócus originário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;">OS DESENHOS DAS DANÇAS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As danças são estruturadas em coreografias executadas no <i>xirê</i> , ou durante a incorporação. As danças são muitos e diferentes e só uma longa convivência permite reconhece-las. Como pude observar, os movimentos são os mesmos que repetem as características dos orixás. A mudança da coreografia acontece porque mudam as cantigas. A forma coreografica de algumas repetem-se, por isso tentarei encontrar o sentido simbólico delas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Primeira entre todas, é a forma do círculo, a antiga roda sagrada, que pode ser encontrada em várias culturas; de fato, em todas as danças extáticas, os dançarinos rodam em torno de um centro, ao tempo em que rodam também sobre si mesmos num duplo movimento de rotação e translação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A forma do círculo tem uma grande importância na África, Neumann (1981:214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os elementos masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes as divindades da Água: Oxum e Iemanjá possuem um movimento circular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">É interessante observar que as danças extáticas rodam em sentido anti-horário, mas é difícil dar uma interpretação desse fato, porque, nas entrevistas as <i>filhas </i>só diziam que é bom para o espirito. Este movimento ao contrário, é feito no mundo inteiro, talvez porque abre a brecha entre sagrado e profano, simbolizando a volta a origem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As danças começam em um grande e lento círculo que vai diminuindo ao longo do ritual com giros sobre si, feitos durante as incorporações, a simbolizar uma direção para si mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Como o círculo, a espiral é um símbolo antiquíssimo, encontrado em todas as culturas, e também na natureza, incluindo a molécula do DNA, a espiral aparece nas rotações que as <i>filhas-de-santo</i> fazem sobre si mesmas, quando incorporam ao longo da performance. Esse mesmo movimento é repetido em várias danças. Assim fazendo uma analogia com a proibição do incesto para Levi-Strauss, pode-se dizer que a espiral possui um caráter universal que é o próprio DNA da espécie-sapiens e um caráter particular que possui significados diversos dependendo da cultura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A espiral é símbolo da comunicação (Santos:1977; Pelosini:1994). Assim, quando o orixá possui o corpo da <i>filha-de-santo</i> , realiza-se uma comunicação entre o homem e a divindade. Enquanto o corpo material vira sobre si mesmo, a energia do orixá penetra, virando do outro lado e entra no corpo, formando uma dupla espiral, como me foi explicado por uma mãe de santo, Mãe Teresinha da Liberdade. Não é por acaso que Exu, a divindade da comunicação, roda sobre si mesmo desse modo, quando se transforma num ciclone e acaba com tudo que está em sua volta, porque ele é a própria comunicação, simbolizada pela espiral, que expressa o movimento circular que, saindo do ponto da origem, movimenta-se ao infinito. Ela expressa a evolução a partir de um centro; simboliza a vida, porque indica o movimento numa unidade de ordem ou, ao inverso, a permanência do ser na mobilidade. Durand (1972) sugere que, simboliza a permanência do ser, através das flutuações da mudança da vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo Pelosini (1994:181): a função simbólica das rotações helicoidais seria a de aproximar, por etapas, o homem ao infinito e juntar a terra ao céu. Essas inter-relações, entre o corpo humano (microcosmo) e o universo (macrocosmo), entre o infinitamente pequeno (microcosmo) e o espaço interstelar infinitamente grande (macrocosmo), já eram, em muitos casos, conhecidas ou percebidas por civilizações do passado, que as tinham codificadas em mitos e símbolos de espiral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A espiral poderia simbolizar a procura do próprio espírito ao longo do difícil caminho espiritual. Partindo de um ponto firme, alcança, com voltas ao mundo do sagrado. A mesma forma encontra-se na dupla hélice do DNA, que é responsável não só pela programação da atividade celular, mas também pela hereditariedade das características genéticas e da própria evolução das especies: é a verdadeira quintessência da vida, é o eterno que sempre se transmite. Essa molécula é o mensageiro da hereditariedade biológica e das características hereditárias, assim como Exu é o mensageiro entre os homens e as divindades. Não é por acaso que, no candomblé, a espiral encontra-se no <i>okoto</i> , associado a Exu, orixá que expressa a dinâmica da vida, o movimento interno na criação e na expansão do mundo. Segundo Santos (1977:133), o <i>okóto</i> é uma espécie de caracol e aparece nos motivos das esculturas e como emblema entre os que fazem parte do culto de Exu. Ele consiste numa concha cônica cuja base é aberta, utilizada como um pião. O <i>okóto </i>representa a história ossificada do desenvolvimento do caracol e reflete a regra, segundo a qual, se deu o processo de crescimento espiritual; um crescimento constante e proporcional, uma continuidade evolutiva de ritmo regular. O <i>okóto</i> simboliza um processo de crescimento. É o pião que, apoiado na ponta do cone um só pé, um único ponto de apoio rola, espiraladamente, abre-se a cada revolução mais e mais, até converter-se numa circunferência aberta para o infinito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Assim como o DNA é o significante e o significado da vida - todas as funções vitais da célula dependem dele, sobretudo a reprodução, ou seja, o perpetuar-se da vida. Exu é o princípio dinâmico da evolução e o mensageiro entre o homem e a divindade, sem ele, nada pode ser comprido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">CONCLUSÕES</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Os versos de Senghor esclarecem a importância da dança, a dança é a possibilidade de conhecer o outro, dançando exprimem-se o lado mais profundo do ser e também liga-se na essência do outro. Um outro que pode ser preso dentro de nós dançando-o ou pode ser olhado como um espelho. Eis o conceito do "duplo", a sacerdotisa-dançarina está criando o outro e também neste processo de criação-incorporação o vivência intensamente em si mesma e adquire a sua pulsação-ritmo interno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A arte africana está ligada profundamente á religião. O belo não é só prazer estético, mas é percebido como uma participação a um sistema dinâmico de comunicação entre o mundo visível e o invisível. A arte não existe como conceito para se, mas adquire sentido só na determinação da visão dinâmica do mundo africano. Uma das muitas palavras ioruba para dizer "arte" é <i>ogbon, </i>"sabedoria", para indicar que o artista é um sábio que escuta as mensagens da natureza. Os artistas-sacerdotes tem a tarefa de perceber e transmitir as comunicações das divindades com a criação simbólica no ritual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A dança tem um sentido particular porque é a expressão da divindade e da identidade mais verdadeira da <i>filha </i>ou do <i>filho-de-santo. </i>Cada um possui a própria "identidade-sonora", o próprio duplo no O<i>run</i>, que o fiel encontra no momento da possessão e que aprende a reconhecer e a conhecer através da dança e da música. Em várias culturas é pelo corpo que o homem começa o caminho do conhecimento e o papel por ele desempenhado no cosmo e na sociedade. Sendo no corpo que o homem vivência a própria experiência da vida e junta as várias informações simbólicas sobre o mundo, é no corpo divino, que vivenciando as energias sagradas, ele pode se comunicar com o sagrado, pode juntar o lado sensível com aquele material, porque não dados cognitivos, mas as cores, as formas, os sentimentos internos dão forma á matéria. Os ritmos dos <i>atabaques </i>levam o fiel numa viagem simbólica que o-transforma, porque toma posse do tempo que flui e do espaço que não tem mais lugar definido, o fiel volta ao tempo da origem. A percussão dos <i>atabaques, </i>como sustenta Duplan é a materialização do tempo e tomar consciência do tempo é conhecer a nossa linhagem, é saber de ser um aneu de uma corrente infinita que originou-se com nosso ancestral-mitico. O corpo age no mundo sagrado através dos movimentos da dança e interagindo com o espaço simbólico e com o tempo da origem. Espaço que refere-se a uma tipografia sagrada onde cada objeto, cada planta remetem a outros planos da existência. Assim como a coluna sagrada representa a ligação entre o mundo sobrenatural, o <i>orum </i>e o mundo da terra, o <i>aiyé, </i>os <i>fundamentos</i> remetem ao tempo da origem, na mesma forma a coluna humana liga a cabeça, o <i>ori, </i>o <i>orum, com</i> os pés, nossos fundamento pessoal, nossa ancestralidade, voltando durante a possessão ao tempo do mito quando ainda não existia a interrupção entre o mundo dos homens e aquele dos deuses. Depois do momento do "chamado do orixá", o orixá se apossa da materialidade do corpo e transforma o fiel em divindade, o fiel torna-se o seu duplo divino. As danças afirmam assim a presenca da divindade entre os homens. A dança e a música expressam a identidade sonora e corporal da divindade numa única imagem de conteúdo e forma. Essa unidade adquirida só naquele momento a-temporal e a-espacial, pelo corpo atravessado pelas energias divinas, energias que encontram-se tanto no macrocosmo como no microcosmo. Unidade construída e expressada só através um simbolismo corporal, porque os conteúdos são tão profundos que não poderiam ser comunicados através das palavras, o corpo tem que vivenciar a "origem" e não conhece-la como meros conceitos frios. Os sinais não-verbais remetem a imagens e sentimentos e por isso eles possuem um grande poder. Como afirma Firth (1970): " os gestos tem um significado, uma faculdade, um efeito restaurador, um tipo de forca creativa que só as palavras não podem dar".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Retomando Prandi (1991): "As religiões do transe também operam de modo a integrar as dimensões íntimas e públicas do eu social, podendo se valer, como no candomblé, do uso de papeis referidos religiosamente, eus sagrados, que aparecem como se fossem independentes do eu social da pessoa".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As danças dos orixás tem todas as características das danças africanas, reconhecidas através da importância do grupo, que fortifica a ligação entre os fiéis e tem a função de um espelho que reflete a própria imagem-identidade; a relação com o elemento terra, a mãe terra que sustenta seus filhos e e manda energias por eles sendo também o lugar dos ancestrais; a importância do ritmo, que tem a função de chamar a divindade e de organizar a desordem a nível macrocósmico e a nível microcósmico; a simplicidade dos movimentos que permitem as suas repetições cíclicas que ajudam a incorporação dos do deus e a sua fixação no corpo do fiel <i>.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Bibliografia<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">La notion de la person e en Afrique Noire, </span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Cnrs, Paris.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">ASANTE, K. Welsh. Commonalities in African Dance: an aesthetic foundation. Rithms of unity, Wesport, Connecticut:Greenwoad Press, 1985.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">BARBARA, Rosamaria. <i>A dança do vento e da tempestade, </i>tesi di Mestrado, Ufba, 1995<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">BARROS, José Flávio de & TEIXEIRA, Maria Lina Leao, O Código do corpo: Inscrições dos Orixás, in MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>Meu sinal está no seu corpo</i> , São Paulo: Edicon/Edusi, 1992, pp. 36-61.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">BASTIDE, Roger. <i>Les Amériques Noires, </i>Paris: Payot, 1967.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">O Candomblé da Bahia (Rito nagô)</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"> , São Paulo: Nacional, 1978. Trad. Maria Isaura Pereira de Queiroz .<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">As religiões africanas no Brasil</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"> , São Paulo: Pioneira, 1985. Trad. Maria Luisa Capellato e Olivia Krahenbuhl.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">BEHAGUE, Gerard.Correntes regionais e nacionais na música do candomblé bahiano, in: <i>Afro-Asia 12</i>. Salvador, CEAO, 1976, pp.129-140.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Some liturgical functions of afro-brazilian religious music in Salvador, Bahia, in <i>World of music. </i>vol.19/3 e 4, Berlin, 1978, pp.4-23.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Pattern of Candomblé Music Performance an Afro-Brazilian Religious Setting, in: <i>Performance practice, contributions in interculture and comparative studies,</i> n.12. Westport, 1984, pp.223-54.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Músical change: a case study from South America, in: <i>World of Music</i>, vol.28/1. Berlin, 1986, pp.16-28.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">BELINGA SAMUEL-MARTIN ENO, 1994, <i>Música e letteratura nellAfrica Nera</i> , Milano, Jaca Book, trad. Silvia Orsi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">BOAS, Franz. Dance and Music in the Life of the Northwest Coast Indians of North America, in BOAS, Franziska. <i>The Function of Dance in Human Society</i> , New York: The Boas school, 1944.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">BRAGA, Julio. <i>Contos Afro-Brasileiros</i>, Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1989.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">CAPONE, Stefania, <i>A dança dos deuses: uma analise da dança de possessão no Candomblé da Angola Kassanje, </i>Museo Nacional-Ufrj, tesi de Mestardo, Rio de Janeiro, 1991<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">CARYBÉ Iconografia dos deuses Africanos no candomblé da Bahia, São Paolo: Raizes Artes Graficas, 1980.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">CARNEIRO, Edison. <i>Candomblés da Bahia,</i> Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Religiões Negras</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"> , Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">COSTA LIMA, Vivaldo da <i>A familia de santo nos candomblés jêje-nagôs da Bahia: um estudo de relações intra-grupais</i> , Salvador, Ufba, dissertação de Mestrado, 1977.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Os Obás de Xangô, in: Moura, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>Olóòrìsa: Escritos sobre a religião dos orixás,</i> São Paulo: Ágora, 1981.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">COSSARD-BINON, Giséle <i>Contribuition a letude des candomblés au Brésil: Le candomblé angola. </i>Doctorat de Troisième cycle (mimeo), Paris: Faculte des Letres et Sciencies Humaines, s.d.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A filha-de-santo, in MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>Olóòrisa: Escritos sobre a religião dos orixás</i>, São Paulo: Ágora, 1981.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">CUNHA <i>, </i>Marlene. <i>Em busca de um espaço,</i> dissertação de Mestrado, São Paulo: Usp, 1986.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">DAVIDSON, Basil. <i>La civiltá africana</i> , Torino: Einaudi, 1972. (or. The Africans. An Entry to Cultural History, London: Longmans, Green and Co. Ltd, 1969).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">DE MARTINO, Ernesto. <i>La Terra del Rimorso</i> , Milano: Il Saggiatore, 1994.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">DURAND, Gerard. Le strutture antropologiche dellimmaginario, Bari: Dedalo, 1972.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">DURKHEIM, Emile. <i>As Formas elementares da Vida Religiosa</i> , São Paulo: Paulinas, 1989.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">ELIADE, Mircea. <i>O mito do eterno ritorno</i> , Lisbõa: Edições 70, 1969.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">FALDINI, Luisa. Umanitá e Animalitá tra i Carajá del Mato Grosso <i>,</i> in CERULLI, <i>Tra uomo e animale</i> , Bari: Laterza, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">GALIMBERTI, Umberto. <i>Il corpo,</i> Milano: Feltrinelli, 1993.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">HALL, T. Edward. <i>Au-delá de la culture</i> , Paris: Seuil, 1979. (Tit.orig. Beyond Culture, New York: Doubleday, 1976).Trad. Marie-Hélène Hatchuel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">La danse de la vie, temps culturel, temps vécu</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"> , Paris: Seuil, 1984. (tit.orig. The Dance of Life, New York: Doubleday, 1983). Trad. Anne-Lise Hacker.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">JANH, John. <i>Muntu, La civiltá africana moderna</i> , Torino: Einaudi, 1975. (Tit.orig. Umrisse der neoafrikanischen Kultur, Eugen Diederichs Verlag, Dusseldorf, 1958).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">JUNG, Carl Gustav. <i>L uomo e i suoi simboli</i> , Milano: Mondadori, 1988. (Tit. orig. Man and his symbols).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">JUNG, Carl Gustav e KERÉNYI, Karl. <i>Prolegomeni allo studio della mitologia</i> , Torino: Einaudi, 1948.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">KAEPPLER, Adrienne. Folclore as Expressed, in: The Dance in Tonga. <i>JAF </i>80 (316): 160-68, 1967a.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">The Structure of Tongan dance</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"> . University of Hawaii: Ph.D. Dissertation (antropology), 1967b.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">KAZADI wa MUKUNA. Aspectos Panorâmicos de Musica no Zaire, in: <i>Africa: Revista do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo </i>, 8 (1985): 77-87<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">KEALIINOHOMOKU, Joann. A Comparative Study of dance as a Constellation of Motor Behaviors among African and United States Negroes. Northwest University: M.A. thesis (anthropology), 1965.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">LABAN, Rudolf. <i>Dominio do Movimento, </i>São Paulo: Summus, 1980. ( <i>Language of the Movement</i> , A guide book to Choreology).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">LANGER, Suzanne. <i>Sentimento e Forma</i> , São Paulo: Perspectiva, 1980. (Tit.orig. Feeling and Form, 1953). Trad. M. Goldberger.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><b><i>LÉVI-STRAUSS, Claude. Mythologiques IV, </i></b>face=Arial <b>L Homme Nu</b> face=Arial <b><i>, Paris: PUF, 1967</i></b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">LORENZETTI, Loredano. <i>La dimensione estetica dellesperienza,</i> Milano: Angeli, 1995.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">LUNHING, Angela. Die Musik im candomblé nagô-ketu. Studien zur afrobrasilianischen Musik in Salvador, Bahia, in <i>Beitrage zur Ethnomusikologe</i> , n.24, Hrsg.J.Kuckertz Musikverlag Karl Dieter Wagner, Hamburg, 1990 a.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Música: coração do candomblé, in <i>Rivista USP</i>, n.7, São Paulo, 9-11, 1990b, pp.115-125.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">MARTINS, Suzanna. <i>A study of the dance of Iemanjá,</i> Dissertation to the Temple University, 1995.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">NEUMANN, Erich. <i>La grande madre</i>, Roma: Astrolabio, 1981. (Tit.orig. Die Grosse Mutter, Zurich: Verlag, 1991).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">NKETIA, Kwabena. <i>The Music of Africa. </i>New York: WW. Norton & Company, 1974<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">OMARI, Michelle, S. <i>From the inside to the outside: the Art of Candomblé</i> , Monograph Series (Number 24), Los Angeles: University of California, 1990.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">PELOSINI, Gaetano. <i>La magia della spirale. L equilibrio totale in un ordine cosmico</i> , Roma: Esoterica, 1994.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">PRANDI, Reginaldo <i>. Os Candomblés de São Paulo,</i> São Paulo Hucitec: Editora da universidade de<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Sao Paulo, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">A Religião e a multiplicação do eu, in <i>Revista</i> <i>USP, </i>1991<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Mitos dos poemas de Ifa, in: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>As senhoras do pássaros da noite, </i>São Paulo: USP, 1994,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">RAMOS, Artur. <i>O folclore negro do Brasil</i> , Rio de Janeiro: Casa do estudante do Brasil, 1935.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Introdução à antropologia brasileira, </span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">2 vol., Rio de Janeiro: Edições da C.e B., 1943.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">ROYCE ANNYA P., Field Guide for the Collection of Ethnic Dance, MS, 1969 b.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">The Antropology of Dance</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"> , Bloomington: Indiana Unversity Prees, 1980.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">ROUGET, Gilbert. <i>Musica e transe</i> , Torino:Einaudi, 1985.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">SACHS, Curt. <i>World History of the Dance</i> , New York: W.W. Norton & Co., Inc., 1937.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">SANTOS, Juana Elbein dos <i>Os Nagô e a morte,</i> Petropolis: Vozes, 1977.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">SANTOS, Maria Stella de Azevedo <i>Meu Tempo é agora,</i> São Paulo: Oduduwa, 1993.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">SENGHOR LEOPOLD-SEDAR, 1956, Lesprit de la civilization ou les lois de la culture Negro- Africaine. <i>Présence Africaine, n.</i> VIII/X, Paris, 1956, pp.60.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">TAMBIAH, Stanley. The Magic Power of words, in <i>Man 3 (2),</i> 1968, A performative approch to Ritual, Proceeding , the British Academy, v.LXV: pp.113-169, 1979.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">THOMPSON, Robert Farris. <i>African Art in Motion</i>, Nacional Gallery of Washington DC, 1974.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">TURNER, Victor. <i>The forest of symbols,</i> Ithaca: Cornell University Press, 1967.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">VERGER, Pierre. <i>Note sur le culte des Orisa et Vodun,</i> Ifan-Dakar, Memorie de LInstitut Francais dAfrique Noir, 1957.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;">Orixás</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"> , Salvador: corrupio, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<br style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;" />
<div class="MsoNormal" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="background-color: black;">WHEATLEY, Joan <i>La cittá come simbolo.,</i> Saggi sullordinamento e sulla percezione dello spazio urbano nelle societá tradizionali, Brescia: Marcelliana, 1983.</span></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-40289843239578597192016-09-18T18:58:00.004-03:002016-09-18T19:00:55.044-03:00A ritualização dos mitos...<div class="post-body entry-content" id="post-body-8452856497724249574" itemprop="description articleBody" style="background-color: #141414; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; line-height: 1.4; position: relative; width: 586px;">
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxpROEO45POSPkA1M1LtjH4EVMj3nRJoiPguNKjxM6ahmVZAGT2w5hce1Mtm5jsbeVqw4_vY0lBDZH7AcHVytQXFSMMkjGsMnX1CFsJrw3bHIvY9e0WzHPEHqDp7pxL8hY73ynmQ12K4k/s1600/exu+tocando+flauta.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgxpROEO45POSPkA1M1LtjH4EVMj3nRJoiPguNKjxM6ahmVZAGT2w5hce1Mtm5jsbeVqw4_vY0lBDZH7AcHVytQXFSMMkjGsMnX1CFsJrw3bHIvY9e0WzHPEHqDp7pxL8hY73ynmQ12K4k/s1600/exu+tocando+flauta.jpg" /></a></div>
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif;"><b><br /></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif;"><b>Religião E Migração: Os Cultos Afro Brasileiros A Viagem Do Corpo Dançante O Significado Das Danças Sagradas No Candomblé</b><span style="font-size: 16pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Por:Rosamaria Susanna Barbára<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><b><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Resumo:</span></b><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O paper relata a importância do corpo e da dança no ritual do candomblé, dança que é experienciada num tempo e num espaço particular, aquele do mito. Através do corpo dançante o fiel alcança o transe e relata a memória e a história daquela comunidade, em quanto o corpo simbólico é o centro da união com o divino e o espelho das energias cósmicas. Sendo a dança uma arte, que vive em direta junção com a música, discutem-se também a estética africana e o aspecto fundamental dela: a dinâmica do movimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">A VIAGEM DO CORPO DANÇANTE<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">"Je danse l'autre donque jé sui"<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Leopold Sendar Senghor<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Esse paper é o resultado de uma pesquisa de campo de três anos, realizada em Salvador, Bahia, finalizada ao Mestrado em Sociologia e Antropologia da Universidade Federal da Bahia e dos workshops em Expression Primitive, efetuados em Milão em 1996-1997.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Ao longo da pesquisa de campo tornou-se evidente a importância do corpo no caso na dança que não pode ser separada da música, no ritual. Essa preponderância da dança e da música relatada também na mitologia revela a sua função de criadora da ordem e da estabilidade a nível macrocósmico e a nível microcósmico nas culturas africanas, afro brasileiras e também no candomblé. Retomando Eliade (1969:33), cada ameaça à saúde e à vida do indivíduo que pertence às culturas tradicionais é enfrentada com uma: "...repetição do ato cosmogônico e não consiste tanto numa repetição dos processos vitais, mas numa verdadeira e própria recriação dos mesmos processos através da repetição ritual daquele acontecimento primordial, arquetípico, que em illo tempore gerou a mesma vida. Existe um tempo mítico e primordial no qual tudo já aconteceu, um tempo puro que se identifica com o instante da criação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Tambia O candomblé é uma religião fundamentada sobre a crenças em divindade chamadas orixás e sobre a procura do encontro com o sagrado via o fenômeno da possessão. O transe no candomblé, como diz Prandi (1991): "...pelos menos em suas primeiras etapas iniciaticas, é experiência religiosa intensa e profunda, pessoal e intransferível. Como a dor e as paixões não-religiosas experimentadas, não pode ser mensurado nem descrito, a não ser metafórica e indiretamente". Durante o fenômeno do transe o corpo da <i>filha </i>ou <i>filho-de-santo </i>torna -se o próprio orixá superando a dicotomia corpo/espirito, forma/conteúdo. Tambiah (1981:121) procurando superar esta dualidade forma/conteúdo, argumenta: a integração entre relato cultural e análise formal é revelada nesta mutualidade: se os principais rituais de uma sociedade estão fortemente associados com sua cosmologia, então podemos legitimamente perguntar o que a sociedade busca transmitir aos seus aderentes em suas principais performances, o que nos leva a perguntar por que certas formas de comunicação são escolhidas e usadas em preferência a outras, como sendo mais apropriadas e adequadas para essa transmissão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O corpo é assim, como diz Turner (1967:31) um símbolo dominante tendo a propriedade dá polarização do sentido. Num polo encontra-se um agregado de significados, que referem-se aos componentes da ordem social e moral da sociedade, a princípio da organização social, esse chama-se de "polo ideológico". No outro polo, o sensorial, o conteúdo é relacionado com a forma externa do símbolo; nesse se concentram significados que suscitam desejos e sentimentos. No contexto do ritual há uma contaminação de sentido: as ideias e valores morais expressos no polo ideológico se veem penetrados do conteúdo emotivo presente no polo sensorial. Os processos naturais e fisiológicos, expressos no polo emotivo, por sua vez, são elevados por referência aos valores. Na dança ritual, esse processo é facilmente compreendido: os movimentos do corpo transmitem representações e valores impregnados de emoção e não como mera cognição fria.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Outro aspecto que evidencia-se no ritual, é o cuidado com a estética seja na preparação da festa, seja nos trajes litúrgicos, estética padronizada em modelos fixos e transmitidos no tempo. A arte ritual funciona como representação do invisível, sendo o seu objetivo aquilo de chamar as forças imateriais. Como relata Huyghe (1967): "A arte é essencialmente um meio material de atingir, de mostrar e mesmo de introduzir no mundo dos sentidos as forças espirituais".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O candomblé por ser uma religião de raiz africana tem a ver com a afirmação de Jahn no que diz respeito a característica holística e simbólica da cultura africana onde cada elemento refere-se a um outro. Assim para compreender a dança torna-se necessário conhecer o contexto, a cosmologia, a crença religiosa, a estética e a visão de mundo da comunidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A dança como viagem simbólica tem duas funções: um lado invisível, a mudança interior quando a <i>filha </i>ou <i>filho-de-santo </i>incorpora o orixá e um lado visível onde o possuído dançando conta e testemunha a memória da comunidade, restabelecendo o "antigo equilíbrio”.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">A ESTÉTICA AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A arte africana é ligada especialmente a religião, aspecto que permaneceu também entre os afro-brasileiros, junto com a forte união com o mundo místico. Assim não existe o conceito da " <i>art pour l'art" </i>(claramente existe um valor estético), mas qualquer tipo de arte é algo de instrumental para os poetas ou músicos ou dançarinos-sacerdotes, sendo todo o processo de criação inspirado a realização da comunicação com o mundo sobrenatural e a criação daquilo que estão representando. A sacerdotisa-dançarina, por exemplo no transe de Oxum ao dançar cria a fonte d'água doce, cria a onda da agua, transmitindo a imagem, a vibração da natureza.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Estudiosos da arte africana, como a historiadora e dançarina Keriamu Welsh Asante (1985:72) e Thompson (1974:30) reconhecem na dinâmica do movimento o aspecto mais importante e profundo da estética dessas culturas, seja na dança, seja na arte visível e gráfica. Na arte plástica, observar-se figuras de homens ou de mulheres no ato de dobrar-se de joelhos, talvez para sentar-se ou levantar-se, mas sempre em perfeito equilíbrio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A centralidade da dinâmica na cultura africana contrasta com a ênfase na postura fixa, característica da cultura ocidental, de facto a dinâmica do movimento faz parte do conceito de beleza africana, que é de grande complexidade, tendo que expressar vários aspectos simbólicos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo ela são sete as dimensões estéticas subjacentes à arte e sobretudo à dança e a música: a polirritmia, o policentrismo, a curvilinearidade, a dimensionalidade, a memória épica, a repetição e o holismo que expressam o universo místico total, seja o lado visível, o cotidiano, seja o invisível, o universo dos espíritos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As danças africanas, como qualquer outro aspecto das culturas e das civilizações africanas, não podem ser consideradas em si, mas como elemento de uma unidade. É importante sublinhar esse aspecto holístico da cultura, porque ele está em nítido contraste com a cultura ocidental. Uma dança realizada para uma simples diversão, pode também remeter a outra coisa, numa corrente simbólica infinita. Portanto os movimentos, a parte do corpo utilizada, as roupas vestidas, a música possuem um sentido próprio, mas, juntos, simbolizam algo outro.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A característica mais impregnante na dança africana é a da polirritmia. Movimento e ritmo não podem ser separado. O ritmo tem um padrão fixo, na polirritmia tem a junção de vários ritmos. Cada parte do corpo movimenta-se seguindo um ritmo e uma forma diferente de movimento. Por isso o corpo pode ser comparado a uma orquestra, que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os numa única sinfonia.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O policentrismo indica que o movimento não é a sua deslocação no espaço, mas a ocupação de uma estrutura-tempo. Como explica Waterman: " O africano apreende a ser consciente de cada instrumento empregado na orquestra e isso tem uma grande influência sobre a dança. Cada músculo do corpo atua seguindo os diferentes ritmos da música. Um dos termos no idioma Twi quando falam da música é "dança multi-metrica". Para Thompson a dança africana é determinada por várias interelações, construída através de vários movimentos sobrepostos. Para o estudioso o principal fim desta característica é a representação do cosmo no corpo, a com mais estrutura-tempo. Todas as possibilidades do universo existem só no corpo humano. Os dançarinos interpretam movimentos que veem de várias direções, mas na mesma "estrutura-tempo".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Outro aspecto com um claro significado mágico-religioso é a forma curvilínea. As danças africanas, como em geral as danças populares em muitos lugares do mundo desenvolvem um movimento circular, anti-horário e, nas coreografias, se destaca a forma curvilínea, porque, como contam as lendas, ao círculo é atribuído um poder sobrenatural, uma vez que a ausência de limite implica que não pode quebrar-se e que permanece ao infinito, numa estabilidade e espacialidade fora do tempo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A dança africana é uma textura de várias camadas de sentidos, a dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimi-las: o olhar, o ouvir, o sentir, o vibrar, que seriam o lado visível dos movimentos, expressos em outra dimensão, a espiritual. No momento da dança do transe não é mais a <i>filha </i>ou o <i>filho-de-santo, </i>mas a própria vibração do orixá, que movimentam-se.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Outro aspecto, muito salientado ao longo da pesquisa de campo, é aquele da imitação e da harmonia; o primeiro é percebido como reflexo e eco da natureza, mas em um sentido sensual e não material, enquanto a harmonia é vivenciada pelo artista como a sua colocação no cosmo sem causar distúrbios ou destruir o seu equilíbrio.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A memória é o aspeto ontológico da estética africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e da lembrança da antiga harmonia da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação e que tem que ser lembrada e fortalecida num ciclo eterno. A relevância da obra artística é dada pela transmissão da harmonia, que liga algo dentro e algo fora, o corpo e o espírito, a natureza e o homem. Mas sem a inspiração divina o escultor, o dançarino, o musico não poderiam criar o "momento artístico-religioso".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A repetição, entendida como uma reciclagem do momento criativo, o movimento produz o efeito de intensificação que leva ao encontro com a divindade, facilmente observado nos rituais. O mesmo ato ou gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de atemporalidade, de continuação e de criação continua.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Outra característica é a ligação com a terra, vivenciada como elemento materno, é ela que nos originou, em vários mitos africanos e no candomblé e a onde voltaremos. Nas danças africanas o contato continuo do pé nu com a terra é fundamental para absorver as energias que se propagam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">TEMPO E ESPAÇO NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Evans-Pritchard (1976) distingue as duas categorias de tempo relativas aos Nuer (uma das tribos da África Oriental): o tempo ecológico e o tempo estrutural; sendo o primeiro o tempo das estações, dos ciclos anuais; enquanto o segundo revela não um <i>continuum</i> , mas uma constante entre dois pólos: a primeira e a última pessoa na linhagem familiar. Edward Hall (1984:96), observa que: "os Nuer, se dão conta, de certo modo, que o tempo passa, mas que é necessário para o funcionamento de suas estruturas culturais tratá-lo como um elemento imóvel - eles consideram que somente as gerações passam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Tomando um outro exemplo, ainda na interpretação de Hall, (1984:96): para os Tiv (um povo da Nigéria) o tempo é como um conjunto de espaços fechados, cada um contendo um atividade diferente. Esses espaços fechados, assim como os canais dos Nuer, parecem ser relativamente fixos: não se pode deslocá-los ou reorganizá-los, nem mudar ou interromper uma atividade em curso no interior desses espaços, como se pode fá-lo na cultura ocidental.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">No candomblé, também o tempo-pensamento para de fluir, porque cada ação, cada cantiga, cada dança tem que ser vivenciada no tempo reversível próprio do mito. Segundo a antropóloga Bernardo: "...Surpreende perceber na festa, através da música e da dança, a existência de um outro tempo - do tempo reversível. Pela audição dos sons e pela percepção dos movimentos dos corpos no espaço atesta-se a existência desta outra temporalidade que reintegra o tempo linear - da produção e da eficiência - ao tempo que não envelhece - característicos dos deuses".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Esse é um tempo circular que começa e acaba no mesmo ponto, ciclicamente e ritmicamente seguindo os ritmos da natureza. O tempo, nesse sentido é movimento, é a materialização do movimento, como diz Duplan (1987): "para marcar o tempo, temos que agir, batendo sobre um tambor com a mão ou sobre o chão com os pés. Criando o tempo, criamos o movimento."<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O espaço sagrado é o campo do culto, o lugar no qual o caos transforma-se em cosmo, tornando possível a vida humana, por isso é polissêmico. Segundo Neumann(1981:34), "... O lugar da revelação primária transforma-se em lugar de culto, caverna sagrada, modelo de qualquer templo, e o mesmo caminho percorrido transforma-se numa estrada misteriosa conscientemente repetível, estrada que conduz à sabedoria com o caminho iniciático .<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Toda a <i>roça </i>do candomblé é considerada um lugar sagrado. No momento em que o fiel deixa a rua e entra na <i>roça</i>, ele entra num lugar mágico-sagrado. O mundo de fora é perigoso e cheio de dificuldades. Dentro existem várias provas a superar, mas as filhas de santo encontram aliados na luta pela a sobrevivência e também no caminho místico-religioso. Já na entrada, os fiéis colocam ou assentam espíritos, através de rituais apropriados para defendê-los das energias negativas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Tanto a rua, quanto o próprio terreiro poderiam simbolizar uma peregrinação, um caminho iniciático, lugar de passagem para alcançar o <i>barracão</i>, o lugar sagrado por excelência, onde, nas cerimônias públicas, as divindades se manifestam.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Existem dois espaços, um interior, o próprio corpo da <i>filha-de-santo, </i>receptáculo do sagrado, sagrado ele mesmo e um externo o <i>barracão. </i>Esses dois lugares são o teatro da transformação ritual. Neles o fiel deixa o mundo cotidiano e alcança o encontro tão assustador, mas tão desejado, com o divino. É só no espaço sagrado que ele pode voltar à totalidade e comunicar-se com a divindade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A dança desenha não só o percurso do corpo no espaço para chegar ao divino, mas também percorre a planta arquitetônica do lugar sagrado, desenhando o caminho para alcançar o espaço mágico-sagrado.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O fiel dança, segundo (Wheatley,1983), ao redor do centro sagrado, um ponto da terra ligado ao céu por um invisível raio energético, o <i>axis mundi</i> . Este é um simbolismo em quase todas as religiões do mundo. Nesse ponto e na entrada estão enterrados os fundamentos da casa. Cada terreiro tem seu próprio <i>fundamento</i>. O centro de um lugar é fundamental nas religiões africanas porque é o lugar, onde, através da "coluna sagrada", o céu se liga com a terra, segundo relata Davidson (1972). É talvez por isso que, nesse lugar, está colocado o <i>fundamento </i>da casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A criação, em toda a sua extensão, se efetuou a partir de um centro. Por isso, tudo aquilo que é fundado, está no centro do mundo. Do centro passam dois eixos, um vertical, o outro horizontal, tempo e espaço. Desse centro, originam-se círculos sempre maiores, que vão ao infinito, à semelhança de uma pedra jogada na água. Mas o caminho é árduo, semeado de perigos, porque é, efetivamente, um rito de passagem do profano ao sagrado; do efêmero e do ilusório à realidade e à eternidade; da morte à vida; do homem à divindade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O espaço sagrado, o <i>barracão, </i>durante a dança, é preenchido com os corpos em movimento. As direções são os caminhos do corpo no espaço. Simbolicamente expressam as várias possibilidades no espaço do divino e do homem se movimentar. A divindade pode utilizar uma estrada curvilínea, ou um caminho que prevê várias mudanças de direções. Come sugere Hall um movimento curvilíneo que segue um caminho direto-circular, como aquilo de Oxum ou Iemanjá mostra o pertencer a uma etnia de agricultores, parados num lugar de onde irradiavam-se. Enquanto os caminhos de Oiá e de Ogum relatam o pertencer a uma etnia nômade, que mudava a direção seguindo a trajetória dos animais. O corpo em movimento assume um significado simbólico, segundo os níveis de verticalidade, alto-médio-baixo. O nível alto relaciona a pessoa com o elemento ar; o nível baixo relaciona o corpo com a energia da terra, que, segundo Oliveira (1994): tem que dar o apoio necessário para sustentar-se; o nível médio inter-relaciona os outros dois. O corpo movimenta-se também na horizontal, ampliando os movimentos semelhantes a uma bola hipotética, como nas danças de Iemanjá, ou desenhando com os braços, uma forma redonda, como na dança de afastamento de Oiá-Iansã. Assim as danças podem desenvolver-se tanto ampliando os movimentos, quanto dançando na vertical, subindo e descendo ao longo de uma linha imaginária, como na dança das ondas de Iemanjá. Frequentemente os orixás jovens pulam, dançando, e interrompem os movimentos com paradas repentinas e nervosas, como Oiá-Iansã ou Ogum, demostrando mais energia, enquanto os orixás mais velhos dançam com mais calma e com movimentos mais contínuos, como Oxalá ou Nanã Buruku.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Os orixás guerreiros dançam com uma postura mais ereta, com pulos nos momentos mais dramáticos e alcançando com o corpo mais espaço seja na linha vertical que na horizontal, enquanto as divindades mais velhas dançam curvadas na direção do chão. É o caso de Omolu ou de Nanã Buruku, cuja gestualidade expressa sua ligação com os ancestrais e com o retorno à terra, <i>aiyé, ao</i> <i>orum</i>, o não conhecivel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">O CORPO E A SUA SIMBOLOGIA NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O homem está em contato continuo e harmônico com a natureza, que fala com os mortais através das suas vibrações, captadas do corpo, por isso o corpo não é negado, mas vive o seu compromisso com o mundo. Os seus ritmos são acompanhados de uma experiência sensual contínua. Eis por que o corpo é decorado para mostrar a sua importância e resguardá-lo dos ataques mágicos externos, protegendo as aberturas com decorações ou jóias, como os brincos cheios de pendentes, para indicar aos outros quem a pessoa é e como os outros devem-se comportar-se na sua frente.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O corpo sagrado é o templo por excelência, é simbolicamente o "trono" e, por isso, o das divindades (típica é a representação de Iside sentada) é sempre representado (Newman, 1981:101) como: um trono em si, é característico que o ventre feminino não seja só a parte dos genitais, mas também as largas coxas da mulher sentada, sobre as quais fica o menino nascido daquele ventre. Portanto as cadeiras são uma área sagrada do corpo humano, onde a bacia e as nádegas representam a fertilidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Centro da irradiação simbólica portanto é o corpo, expressão das energias da natureza e em unidade com o mundo natural que o abrange. Daí a sua função de busca das energias cósmica e de expressão delas, vivenciando-as.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Sendo o corpo humano uma cópia das formas e das energias do cosmo, os próprios elementos (fogo, ar, água e terra) juntam-se segundo arquétipos diferentes. As palavras do biólogo Pelosini (1994:94) aplicam-se bem à concepção africana do corpo humano : ...o universo (macrocosmo) e o homen (microcosmo) são criaturas similares, que obedecem às mesmas leis como um tipo de fantástico e perfeito relógio cósmico que escande harmoniosamente os ritmos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Tendo como base o contexto cultural holistico do candomblé, o corpo encontra-se diretamente relacionado a uma divindade e, por extensão, a um dos elementos naturais primordiais e aos demais elementos a ele associados, como relatam Barros e Teixeira (1992:43). É percebido como manifestação da ação sobrenatural. A partir da predominância de um dado elemento na composição do corpo, é determinado o principal orixá da pessoa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As divindades femininas, as <i>iabás, </i>Nanã Buruku, Iemanjá, Oxum, Euá e Obá estão associadas ao elemento água; Oxalá (masculino) e Oiá-Iansã (feminina) ao elemento ar; Ogum, Oxóssi, Omolu, Iroko e Ossâim (masculino) ao elemento terra e por isso ao mato; Exu e Xangô (masculinos) e também Oiá-Iansã (feminino) ao fogo. Os orixás Oxumaré e Logunedé são considerados metá-metá" e estão associados tanto à água como à terra.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">No corpo está inscrita a história da familiar, dos ancestrais <i>Esa</i>, numa sofisticada composição de formas, matérias e energias opostas, que devem equilibrar-se e complementar-se. Como relataram-me na pesquisa, simbolicamente a parte frontal do corpo é relacionada ao futuro; a parte posterior, sobretudo a nuca, ao passado. As pernas estão relacionadas aos ancestrais, porque são a base do corpo humano, quer dizer, aquilo ao qual refere-se sempre e que é o sustento, quer dizer a hereditariedade, os antepassados. Também as mãos são consideradas como um dos pontos onde é possível receber energia, de fato quando um orixá passa perto dos fieis botam-se as mãos abertas frente à divindade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O corpo, <i>ara </i>foi modelado com uma porção de lama, porque a terra é a mãe de tudo e o lugar ao qual todos voltaremos, sendo um outro dos lugares simbolizantes o <i>orum, </i>o não conhecido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As partes consideradas mais sagradas são: a cabeça, sede do <i>ori </i>é consagrada a Iemanjá. Ela é a senhora das energias negativas e positivas. É ela que consegue equilibrá-las nas cabeças. Por isso, como me foi explicado pela Ialorixá Mãe Beata de Logunedé, Iemanjá dança botando as mãos na frente e atrás da cabeça, a simbolizar a possibilidade das misturas das energias. Iemanjá como mãe de todos os orixás, tem a função de orientar e cuidar de todo mundo, não só dos filhos dela. Os seios simbolos da nutrição e fonte de vida para o genro humano. O ventre, sede dos órgãos sexuais, é protegido por Oxum, porque ela é a dona do fluxo menstrual, enquanto o útero, como órgão reprodutivo, é protegido por Iemanjá. Dono dos pés é Ogum, símbolo do movimento, também do desenvolvimento, porque indica a capacidade de procurar novos caminhos. O pé direito é relacionado com o ancestral masculino e o pé esquerdo com o ancestral feminino, sendo, como explicado acima, a base do corpo e a herança ancestral que reside na terra. A voz do orixá é o <i>ke</i> ou <i>ila</i> , um grito que às vezes a possuída dá durante a possessão. O <i>ila </i>é o símbolo da individualidade, é a energia pura daquela pessoa, é o som criador e individual que, concentrando-se no interior, testemunha a personalidade mais profunda. Mais que o olhar, é a voz que indica a individualidade.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As aberturas do corpo são também sagradas porque, através delas, através da alimentação penetram no corpo os alimentos e as energias. O orixá que cuida das aberturas do corpo assim como das entradas do terreiro é Exu, o guardião que, se bem homenageado, traz boas energias, enquanto que, se deixado solto na rua, procura confusões e dificuldades.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Os olhos são importantes porque falam, são os espelhos da alma, ao longo da pesquisa percebi o diferente olhar das <i>Maes-de-santo</i> em circunstancia particulares, como por exemplo na divinação. E também merece ressaltar o fato que ao longo do transe, os olhos fechados parecem indicar que os sentidos estão voltados para o interior do corpo, para uma outra dimensão. A coluna humana simboliza a coluna sagrada, com ela relaciona-se o mundo dos espíritos com os dos mortais, assim é através da coluna que liga-se a cabeça e os pés, o <i>ori </i>com o sua base que é a possibilidade de se mover no espaço e no mundo, como a dizer que sem um equilíbrio energético na cabeça o fiel não pode escolher o seu caminho.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Através do corpo em movimento percebem-se os problemas espirituais, porque, quanto mais um fiel conseguir ficar em harmonia consigo mesmo e com o seu orixá, com mais fluidez ele conseguirá soltar-se na dança, expressando a própria natureza profunda.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">A DANÇA CÓSMICA<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Shiva criou o universo dançando, assim como nos mitos gregos Eurinone, Deusa de Todas as Coisas, emergiu nua do Caos, mas não vendo substancia em redor onde firmar os pés, apartou do céu o mar, dançando solitária por sobre as suas ondas. (Graves, 1990:31). Nas lendas dos Iorubás, os orixás também gostavam muito de dançar durante as festas ou para atrair alguém.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Entendem-se assim que não só no pensamento africano, mas também no oriental e grego o universo é percebido em continuo movimento, formado por ondas vibratórias organizadas no "verbo" da Divindade Suprema que expressa-se na respiração com os dois movimentos básicos da natureza viva: expansão e contração. Movimentos fundamentais da vida do cosmo, das plantas, dos animais e do homem. Belinga diz (1993:11): "Nas nossas tradições o "verbo" possuí três elementos que o determinam e que permitem a sua colocação seja entre as formas artísticas, seja na comunicação interpessoal. Três são as formas nas quais o "verbo" manifesta-se: a palavra, que caracteriza a expressão interior e exterior do pensamento; a música que expressa a beleza; e pôr fim a dança, que é em função seja dos ritmos dos instrumentos seja do ritmo interior do "verbo".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo os africanos a vida faz parte de um processo rítmico e dinâmico de criação e destruição, de morte e renascimento, onde as danças dos orixás expressam esse eterno e alternado ritmo, que desenvolve-se em ciclos infinitos expressados pelo homens.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Através da dança, o corpo sai da sua individualidade física e insere-se num movimento mais amplo que interessa à coletividade, à divindade e ao cosmo. O fiel, através do rito alcança o infinito. Move-se com atos ou gestos corporais, que permitem realizar aquela identidade substancial que liga o som individual aos ritmos do universo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Assim as danças das divindades tornam-se como um espelho que reflete o ritmo humano, do nascimento, da morte e dos ciclos cósmicos da criação e da destruição. As culturas não ocidentais sabem que a natureza vibra numa onda invisível-rítmica perceptível só através do corpo e da arte.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Por isso Morin coloca que: "a sensibilidade estética é, sem dúvida, uma aptidão para entrar em ressonância, em "harmonia", em sincronia com sons, aromas, formas, imagens, cores produzidos em profusão não só pelo universo, mas também, já então pelo <i>sapiens</i> ".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Por isso a religião usa as formas estéticas como comunicação não verbal, porque consegue exprimir sensualmente mensagens profundas que seriam impossíveis expressar com palavras. Daí a importância da arte ritual como linguagem de transmissão para a alma humana. Langer explica este fato (1953:40) quando diz: a arte é a criação de formas que simbolizam os sentimentos humanos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O homem é levado pela música expressa na dança para o caminho indicativo da metamorfose, necessária para encontrar o sagrado, experiência dificilmente exprimível com palavras, posto que ela é interna, preciosa e resumível apenas com as imagens simbólicas dos sonhos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Existe uma estrutura fixa e organizada e uma linguagem específica, seja para a música, seja para a dança. A aprendizagem das danças e da terminologia é lenta e envolve uma longa vivência nos terreiros e uma longa observação. Nas palavras de Langer (1980:178): o movimento corporal é bem real, mas o que torna o gesto emotivo é a sua origem espontânea, no que Laban chama de movimento-pensamento-sentimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Percebe-se, assim, a importância não dos gestos mecânicos, mas da força do sentimento, do pensar apaixonado que a dança expressa, que seria a essência daquele orixá particular. Mas o homem só pode encontrar o sagrado através de uma iniciação progressiva: a força da divindade sem uma adequada preparação seria de fato forte demais para o comum mortal, como disseram meus informantes. Por isso o ritual desenrola preparando o fiel para encontro com o divino.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O homem dançando, ritualiza a confiança numa vitória sobre o heracliteo "eterno fluir" e a celebra para revivê-la e para continuar, ele mesmo, a viver eternamente, consagrando-se, assim, um dia como antepassado na memória dos familiares.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A angústia de não sobreviver à caducidade da vida e à passagem do tempo é antiga como o mundo e todos os povos tentaram exorcizá-la. O homem, através da dança ritual, acredita sair do tempo e entrar em contato com a essência primordial, na qual não existe o fluxo do tempo. Lévi-Strauss (1971:590-659) e Durand (1972:35) salientam a necessidade do homem de parar o tempo no ritual e de celebrá-lo dançando, de não deixá-lo decorrer em sua passagem, acalmando, desse modo, a angústia existencial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">No ritual, os fiéis do candomblé vivem de novo o momento atemporal do mito da criação, dançando ao contrario voltam a origem e, ao antigo equilíbrio, agindo assim, exorcizam a morte, o tédio e o sofrimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">A MÚSICA NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo Mukuna (1996), a música africana tem a função de fazer socializar a comunidade, de passar o conhecimento sobre o grupo étnico desde uma geração á outra e de abrir um canal de comunicação entre o mundo físico e o espiritual. O som é o resultado de uma interação dinâmica, som que sendo condutor de <i>axé, </i>poder de realização, aparece em todo seu conteúdo simbólico nos instrumentos musicais. Por isso os <i>atabaques </i>são instrumentos sagrados e recebem todos os anos rituais apropriados, assim como são tocados só por sacerdotes-musicos, os <i>alabés. </i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo o músico Carneiro(1994), a música africana está caracterizada por uma ciclicidade da frase musical. Quer dizer que o padrão rítmico repete-se ao infinito. Não é como na música ocidental, em que se cria uma história temporal. Aqui não: a frase musical é repetida sem um começo ou um final. A repetição da frase anula a expectativa do acontecimento de algo de novo, de imprevisto, mas recria todas as vez a frase musical. Existe a tentativa de parar o tempo e o seu fluxo na busca de um centro único, fixo e eterno. A música é dividida em unidade de tempo que organizam-se num "modelo-padrão", repetido numa nova re-ciclagem. No ritual cada <i>atabaque </i>tem seu "modelo-padrão" que liga-se àquele dos outros tambores num "ensamble thematic cycle" (Meki Nzewi) que levam os vários instrumentos num mesmo momento de início ou de fim. A música simbolicamente expressa o andamento circular do tempo e do espaço do mito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O atabaque maior, <i>rum</i> <b>,</b> que é a base rítmica e é o único que permita-se variações, toma conta da cabeça, porque e o "som-identidade" e a nível simbólico, manda sobre o resto do corpo. Seria o fundamento religioso, a parte mais sagrada. A nível corporal, manda sobre os pés, que são a base do corpo e em direta ligação com a cabeça através do canal energético representado pela coluna humana. Os braços contam a mitologia e estão dirigidos pelo ritmo do <i>rumpi</i> . Enquanto a última percussão, o <i>lé</i> , dirige o movimento dos ombros, que é continuo e o mais solto possível, talvez para ajudar a passagem da energia através da coluna.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Tanto a música, quanto a dança que a acompanha expressam o caráter do orixá e os acontecimentos da sua vida. As histórias míticas, as qualidades, as virtudes e as falhas dos orixás são passadas aos fiéis através das letras das cantigas. A concentração e a busca interior permitem expressar a própria música e a própria gestualidade, que é única e pessoal e que corresponde à "qualidade" de cada orixá.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Assim, por exemplo a música de Oiá é caracterizada por grande rapidez, agressividade, determinação e grande variabilidade, porque o <i>rum </i>nunca repete os mesmos esquemas rítmicos, percebe-se assim a personalidade da deusa que expressa o elemento ar em movimento. O uso da <i>sincope </i>no brano de Oiá tira a possibilidade de encontrar uma isocronia no ritmo e dá ao ritmo musical a impossibilidade de botar os pés no chão. Enquanto a música de Iemanjá é caracterizada por movimentos lentos e amplos, que expressam o movimento das ondas do mar. Por sendo em ritmo binário a sensação é aquela de um movimento circular, expressado na dança.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Como a música é tão importante, assim é a função dos sacerdotes-musicos, os <i>alabés </i>que aprendem o repertório durante muito tempo. São eles que podem chamar a comunidade e sobretudo os orixás a descer na festa, são eles que ajudam os fiéis a 'cair no santo' acelerando os ritmos e que encerram a festa com um toque especial.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Como mostra Luhning (1990:197), a música, na sua maior parte, está direta e inseparavelmente ligada com a dança das <i>filhas-de-santo </i>ou dos orixás manifestados nelas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">AS DANÇAS NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Nos rituais de candomblé, a função da dança é múltipla: por um lado, é expressão do sagrado e cria o próprio orixá, por outro, é o meio e o conteúdo entre a divindade e os fiéis, entre o <i>aiyé</i> , a terra e o <i>orum</i> <b>,.</b> Como já foi observado acima, a dança sagrada expressa a própria energia da natureza, materializada no corpo da filha-de- santo em transe.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Na festa pública do candomblé são reconhecíveis dois tipos de dança:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">a) um primeiro tipo, no começo da festa, o <i>xirê</i> (literalmente brincar), onde se canta para todos os orixás um mínimo de três cantigas, acompanhadas pelas danças. Cada orixá possui cantigas e gestualidades particulares, pertencentes só a ele. Essas danças são previsíveis, porque são executadas ainda em estado consciente e seguem um padrão fixo, a depender do orixá dono da festa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Todas as filhas e os filhos-de-santo participam dessas danças, formando, no início, um grande círculo sagrado, que é um símbolo encontrado em várias religiões. Essa primeira parte da festa pode ser considerada uma cosmovisão: todas as energias da natureza são chamadas a descer para restabelecer o antigo equilíbrio entre as energias da natureza e os homens. Em geral, os fiéis dançam um atrás do outro, em sentido anti-horário, exceto nas rodas de Xangô, de Oxóssi, de Obá ou de Oxalá", onde as filhas olham para o centro do barracão, concentrando-se nessa direção. Nesse lugar, está colocado o fundamento da casa, a raiz material da casa.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Quando se dança o <i>xirê</i>, segundo Oliveira(1995): os movimentos são de dimensão pequena e chamam-se dançar pequenino, porque são movimentos de dimensão pequena e servem para concentrar as energias, mas também para as pessoas se centrarem e para prepararem-se a receber o orixá;<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">b) um segundo tipo, são danças realizadas durante o transe; é o próprio orixá que dança nesse momento, seguindo o ritmo sagrado dos tambores. Nessa segunda parte, o andamento da festa é imprevisível porque, apesar de existir um esquema fixo, não se sabem exatamente quais serão as coreografias, porque isso depende das cantigas entoadas pelos fiéis presentes, da memória para lembrar as antigas cantigas e também da presença das <i>Iá-tebexê </i>ou das <i>Baba-tebexê</i> quer dizer, das filhas ou filhos que têm a tarefa de entoar as cantigas e de continuá-las, quando os outros não se lembram mais delas. Além disso, o desenvolvimento da festa depende de outros elementos complicadíssimos, como a relação entre o orixá dono da festa e o da mãe-de-santo, ou de outras relações entre os orixás.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Assim, por exemplo, numa cerimônia para Oyá-Iansã, assistem-se às danças típicas dela: da guerra, como mãe ou rainha dos Eguns, e a coreografias ligadas a outros orixás, como Ogum, Xangô, Oxóssi, seus maridos. Nessa segunda parte da festa, a energia é chamada a manifestar-se em todas as suas formas possíveis e também junto com as outras forças da natureza. Quando Oyá-Iansã dança com Xangô, sua dança é a manifestação do movimento do ar, que gera o fogo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O orixá mostra ao público a sua história mitológica, redistribuindo a energia vital, <i>axé</i> e trazendo o mundo sagrado de volta ao cotidiano. Quando os orixás apresentam-se nesse momento, entram no barracão em fila, seguindo a hierarquia dos <i>mais velhos no santo, </i>quer dizer que as filhas mais velhas vêm na frente, seguidas daquelas com menos tempo de iniciação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As danças dos orixás são muito diferente. Por exemplo nas coreografias de Oiá, os passos são pequenos e rápidos, como se os pés não pudessem posar-se no chão, ela representa o elemento ar em movimento, enquanto os braços movimenta-se com força afastando qualquer da sua frente. O corpo pode ser dobrado para o chão, com uma carga muito ameaçadora, mais frequentemente é direcionado para o alto.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As danças de Iemanjá são constituídas por movimentos amplos, os pés posam no chão, a demostrar o equilíbrio, enquanto os braços movimenta-se com grande fluidez. O corpo está levemente dobrado para o chão em uma forma redonda a lembrar a forma materna da deusa e a sua disponibilidade em acolher e em conduzir, o corpo todo expressa o movimento das ondas, a ritmicidade continua, mas também o mistério a água que está em baixo sobe por cima levando as coisas que encontra por baixo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Existem algumas danças que são parecidas, como as chamadas <i>primeira de dar rum</i> , primeira coreografia dos orixás, que funciona como uma apresentação através da qual os orixás, se apresentam ao público. Nas danças executadas em transe o corpo e o rosto juntam-se numa única plasticidade como se o corpo tornasse uma estadua e adquirisse uma nova qualidade de movimento.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Cada orixá dançando transmite a própria vibração interna: Ogum, nervoso anda no espaço todo abrindo o caminho com as mãos que já viraram espadas. Oxossi, o caçador dança com o <i>aguere, </i>tranquilo, esperando os animais e movimentando-se com muita atenção no mato, ele tem na mãos arco e flechas. Xangô, com o ritmo <i>avanija, </i>toma posse do barracão, mostra ser o vaidoso rei de Oio, mexendo o corpo todo e ampliando a largura das costas. Omolu dança dobrado para o chão, o seu ritmo<i>opanijé, </i>tremendo pela sua doença. Oiá nervosa, voa com o <i>ilú, </i>enchendo todo o barracão, Iemanjá mais calma expressa a grandeza do mar e o seu lado maternal, enquanto a Oxum com o <i>ijexá, </i>captura os olhares dos fiéis, mostrando todo o seu lado coquete. Nanã também dança dobrada, tendo na mão uma bengala com a qual bate o milho, ela é a mais velha e a mais ligada ao mundo dos ancestrais, Oxalá, o pai de todos dança com dignidade, com a sua ferramenta na mão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">No final, existe uma coreografia de despedida, em geral igual para todos os orixás. Estes saúdam o público, a mãe de santo e os atabaques, restabelecendo a ordem inicial. Então as forças da natureza, chamadas a concentrar-se no espaço sagrado, são espalhadas novamente e repartidas no seu lócus originário.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;">OS DESENHOS DAS DANÇAS<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 10.5pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As danças são estruturadas em coreografias executadas no <i>xirê</i> , ou durante a incorporação. As danças são muitos e diferentes e só uma longa convivência permite reconhece-las. Como pude observar, os movimentos são os mesmos que repetem as características dos orixás. A mudança da coreografia acontece porque mudam as cantigas. A forma coreografica de algumas repetem-se, por isso tentarei encontrar o sentido simbólico delas.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Primeira entre todas, é a forma do círculo, a antiga roda sagrada, que pode ser encontrada em várias culturas; de fato, em todas as danças extáticas, os dançarinos rodam em torno de um centro, ao tempo em que rodam também sobre si mesmos num duplo movimento de rotação e translação.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A forma do círculo tem uma grande importância na África, Neumann (1981:214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os elementos masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes as divindades da Água: Oxum e Iemanjá possuem um movimento circular.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">É interessante observar que as danças extáticas rodam em sentido anti-horário, mas é difícil dar uma interpretação desse fato, porque, nas entrevistas as <i>filhas </i>só diziam que é bom para o espirito. Este movimento ao contrário, é feito no mundo inteiro, talvez porque abre a brecha entre sagrado e profano, simbolizando a volta a origem.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As danças começam em um grande e lento círculo que vai diminuindo ao longo do ritual com giros sobre si, feitos durante as incorporações, a simbolizar uma direção para si mesmo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Como o círculo, a espiral é um símbolo antiquíssimo, encontrado em todas as culturas, e também na natureza, incluindo a molécula do DNA, a espiral aparece nas rotações que as <i>filhas-de-santo</i> fazem sobre si mesmas, quando incorporam ao longo da performance. Esse mesmo movimento é repetido em várias danças. Assim fazendo uma analogia com a proibição do incesto para Levi-Strauss, pode-se dizer que a espiral possui um caráter universal que é o próprio DNA da espécie-sapiens e um caráter particular que possui significados diversos dependendo da cultura.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A espiral é símbolo da comunicação (Santos:1977; Pelosini:1994). Assim, quando o orixá possui o corpo da <i>filha-de-santo</i> , realiza-se uma comunicação entre o homem e a divindade. Enquanto o corpo material vira sobre si mesmo, a energia do orixá penetra, virando do outro lado e entra no corpo, formando uma dupla espiral, como me foi explicado por uma mãe de santo, Mãe Teresinha da Liberdade. Não é por acaso que Exu, a divindade da comunicação, roda sobre si mesmo desse modo, quando se transforma num ciclone e acaba com tudo que está em sua volta, porque ele é a própria comunicação, simbolizada pela espiral, que expressa o movimento circular que, saindo do ponto da origem, movimenta-se ao infinito. Ela expressa a evolução a partir de um centro; simboliza a vida, porque indica o movimento numa unidade de ordem ou, ao inverso, a permanência do ser na mobilidade. Durand (1972) sugere que, simboliza a permanência do ser, através das flutuações da mudança da vida.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Segundo Pelosini (1994:181): a função simbólica das rotações helicoidais seria a de aproximar, por etapas, o homem ao infinito e juntar a terra ao céu. Essas inter-relações, entre o corpo humano (microcosmo) e o universo (macrocosmo), entre o infinitamente pequeno (microcosmo) e o espaço interstelar infinitamente grande (macrocosmo), já eram, em muitos casos, conhecidas ou percebidas por civilizações do passado, que as tinham codificadas em mitos e símbolos de espiral.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A espiral poderia simbolizar a procura do próprio espírito ao longo do difícil caminho espiritual. Partindo de um ponto firme, alcança, com voltas ao mundo do sagrado. A mesma forma encontra-se na dupla hélice do DNA, que é responsável não só pela programação da atividade celular, mas também pela hereditariedade das características genéticas e da própria evolução das especies: é a verdadeira quintessência da vida, é o eterno que sempre se transmite. Essa molécula é o mensageiro da hereditariedade biológica e das características hereditárias, assim como Exu é o mensageiro entre os homens e as divindades. Não é por acaso que, no candomblé, a espiral encontra-se no <i>okoto</i> , associado a Exu, orixá que expressa a dinâmica da vida, o movimento interno na criação e na expansão do mundo. Segundo Santos (1977:133), o <i>okóto</i> é uma espécie de caracol e aparece nos motivos das esculturas e como emblema entre os que fazem parte do culto de Exu. Ele consiste numa concha cônica cuja base é aberta, utilizada como um pião. O <i>okóto </i>representa a história ossificada do desenvolvimento do caracol e reflete a regra, segundo a qual, se deu o processo de crescimento espiritual; um crescimento constante e proporcional, uma continuidade evolutiva de ritmo regular. O <i>okóto</i> simboliza um processo de crescimento. É o pião que, apoiado na ponta do cone um só pé, um único ponto de apoio rola, espiraladamente, abre-se a cada revolução mais e mais, até converter-se numa circunferência aberta para o infinito.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Assim como o DNA é o significante e o significado da vida - todas as funções vitais da célula dependem dele, sobretudo a reprodução, ou seja, o perpetuar-se da vida. Exu é o princípio dinâmico da evolução e o mensageiro entre o homem e a divindade, sem ele, nada pode ser comprido.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">CONCLUSÕES</span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Os versos de Senghor esclarecem a importância da dança, a dança é a possibilidade de conhecer o outro, dançando exprimem-se o lado mais profundo do ser e também liga-se na essência do outro. Um outro que pode ser preso dentro de nós dançando-o ou pode ser olhado como um espelho. Eis o conceito do "duplo", a sacerdotisa-dançarina está criando o outro e também neste processo de criação-incorporação o vivência intensamente em si mesma e adquire a sua pulsação-ritmo interno.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A arte africana está ligada profundamente á religião. O belo não é só prazer estético, mas é percebido como uma participação a um sistema dinâmico de comunicação entre o mundo visível e o invisível. A arte não existe como conceito para se, mas adquire sentido só na determinação da visão dinâmica do mundo africano. Uma das muitas palavras ioruba para dizer "arte" é <i>ogbon, </i>"sabedoria", para indicar que o artista é um sábio que escuta as mensagens da natureza. Os artistas-sacerdotes tem a tarefa de perceber e transmitir as comunicações das divindades com a criação simbólica no ritual.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A dança tem um sentido particular porque é a expressão da divindade e da identidade mais verdadeira da <i>filha </i>ou do <i>filho-de-santo. </i>Cada um possui a própria "identidade-sonora", o próprio duplo no O<i>run</i>, que o fiel encontra no momento da possessão e que aprende a reconhecer e a conhecer através da dança e da música. Em várias culturas é pelo corpo que o homem começa o caminho do conhecimento e o papel por ele desempenhado no cosmo e na sociedade. Sendo no corpo que o homem vivência a própria experiência da vida e junta as várias informações simbólicas sobre o mundo, é no corpo divino, que vivenciando as energias sagradas, ele pode se comunicar com o sagrado, pode juntar o lado sensível com aquele material, porque não dados cognitivos, mas as cores, as formas, os sentimentos internos dão forma á matéria. Os ritmos dos <i>atabaques </i>levam o fiel numa viagem simbólica que o-transforma, porque toma posse do tempo que flui e do espaço que não tem mais lugar definido, o fiel volta ao tempo da origem. A percussão dos <i>atabaques, </i>como sustenta Duplan é a materialização do tempo e tomar consciência do tempo é conhecer a nossa linhagem, é saber de ser um aneu de uma corrente infinita que originou-se com nosso ancestral-mitico. O corpo age no mundo sagrado através dos movimentos da dança e interagindo com o espaço simbólico e com o tempo da origem. Espaço que refere-se a uma tipografia sagrada onde cada objeto, cada planta remetem a outros planos da existência. Assim como a coluna sagrada representa a ligação entre o mundo sobrenatural, o <i>orum </i>e o mundo da terra, o <i>aiyé, </i>os <i>fundamentos</i> remetem ao tempo da origem, na mesma forma a coluna humana liga a cabeça, o <i>ori, </i>o <i>orum, com</i> os pés, nossos fundamento pessoal, nossa ancestralidade, voltando durante a possessão ao tempo do mito quando ainda não existia a interrupção entre o mundo dos homens e aquele dos deuses. Depois do momento do "chamado do orixá", o orixá se apossa da materialidade do corpo e transforma o fiel em divindade, o fiel torna-se o seu duplo divino. As danças afirmam assim a presenca da divindade entre os homens. A dança e a música expressam a identidade sonora e corporal da divindade numa única imagem de conteúdo e forma. Essa unidade adquirida só naquele momento a-temporal e a-espacial, pelo corpo atravessado pelas energias divinas, energias que encontram-se tanto no macrocosmo como no microcosmo. Unidade construída e expressada só através um simbolismo corporal, porque os conteúdos são tão profundos que não poderiam ser comunicados através das palavras, o corpo tem que vivenciar a "origem" e não conhece-la como meros conceitos frios. Os sinais não-verbais remetem a imagens e sentimentos e por isso eles possuem um grande poder. Como afirma Firth (1970): " os gestos tem um significado, uma faculdade, um efeito restaurador, um tipo de forca creativa que só as palavras não podem dar".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Retomando Prandi (1991): "As religiões do transe também operam de modo a integrar as dimensões íntimas e públicas do eu social, podendo se valer, como no candomblé, do uso de papeis referidos religiosamente, eus sagrados, que aparecem como se fossem independentes do eu social da pessoa".<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As danças dos orixás tem todas as características das danças africanas, reconhecidas através da importância do grupo, que fortifica a ligação entre os fiéis e tem a função de um espelho que reflete a própria imagem-identidade; a relação com o elemento terra, a mãe terra que sustenta seus filhos e e manda energias por eles sendo também o lugar dos ancestrais; a importância do ritmo, que tem a função de chamar a divindade e de organizar a desordem a nível macrocósmico e a nível microcósmico; a simplicidade dos movimentos que permitem as suas repetições cíclicas que ajudam a incorporação dos do deus e a sua fixação no corpo do fiel <i>.</i><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<b><span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Bibliografia<o:p></o:p></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">La notion de la person e en Afrique Noire, </span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Cnrs, Paris.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">ASANTE, K. Welsh. Commonalities in African Dance: an aesthetic foundation. Rithms of unity, Wesport, Connecticut:Greenwoad Press, 1985.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">BARBARA, Rosamaria. <i>A dança do vento e da tempestade, </i>tesi di Mestrado, Ufba, 1995<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">BARROS, José Flávio de & TEIXEIRA, Maria Lina Leao, O Código do corpo: Inscrições dos Orixás, in MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>Meu sinal está no seu corpo</i> , São Paulo: Edicon/Edusi, 1992, pp. 36-61.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">BASTIDE, Roger. <i>Les Amériques Noires, </i>Paris: Payot, 1967.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">O Candomblé da Bahia (Rito nagô)</span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"> , São Paulo: Nacional, 1978. Trad. Maria Isaura Pereira de Queiroz .<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">As religiões africanas no Brasil</span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"> , São Paulo: Pioneira, 1985. Trad. Maria Luisa Capellato e Olivia Krahenbuhl.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">BEHAGUE, Gerard.Correntes regionais e nacionais na música do candomblé bahiano, in: <i>Afro-Asia 12</i>. Salvador, CEAO, 1976, pp.129-140.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Some liturgical functions of afro-brazilian religious music in Salvador, Bahia, in <i>World of music. </i>vol.19/3 e 4, Berlin, 1978, pp.4-23.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Pattern of Candomblé Music Performance an Afro-Brazilian Religious Setting, in: <i>Performance practice, contributions in interculture and comparative studies,</i> n.12. Westport, 1984, pp.223-54.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Músical change: a case study from South America, in: <i>World of Music</i>, vol.28/1. Berlin, 1986, pp.16-28.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">BELINGA SAMUEL-MARTIN ENO, 1994, <i>Música e letteratura nellAfrica Nera</i> , Milano, Jaca Book, trad. Silvia Orsi.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">BOAS, Franz. Dance and Music in the Life of the Northwest Coast Indians of North America, in BOAS, Franziska. <i>The Function of Dance in Human Society</i> , New York: The Boas school, 1944.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">BRAGA, Julio. <i>Contos Afro-Brasileiros</i>, Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1989.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">CAPONE, Stefania, <i>A dança dos deuses: uma analise da dança de possessão no Candomblé da Angola Kassanje, </i>Museo Nacional-Ufrj, tesi de Mestardo, Rio de Janeiro, 1991<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">CARYBÉ Iconografia dos deuses Africanos no candomblé da Bahia, São Paolo: Raizes Artes Graficas, 1980.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">CARNEIRO, Edison. <i>Candomblés da Bahia,</i> Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Religiões Negras</span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"> , Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">COSTA LIMA, Vivaldo da <i>A familia de santo nos candomblés jêje-nagôs da Bahia: um estudo de relações intra-grupais</i> , Salvador, Ufba, dissertação de Mestrado, 1977.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Os Obás de Xangô, in: Moura, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>Olóòrìsa: Escritos sobre a religião dos orixás,</i> São Paulo: Ágora, 1981.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">COSSARD-BINON, Giséle <i>Contribuition a letude des candomblés au Brésil: Le candomblé angola. </i>Doctorat de Troisième cycle (mimeo), Paris: Faculte des Letres et Sciencies Humaines, s.d.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A filha-de-santo, in MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>Olóòrisa: Escritos sobre a religião dos orixás</i>, São Paulo: Ágora, 1981.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">CUNHA <i>, </i>Marlene. <i>Em busca de um espaço,</i> dissertação de Mestrado, São Paulo: Usp, 1986.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">DAVIDSON, Basil. <i>La civiltá africana</i> , Torino: Einaudi, 1972. (or. The Africans. An Entry to Cultural History, London: Longmans, Green and Co. Ltd, 1969).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">DE MARTINO, Ernesto. <i>La Terra del Rimorso</i> , Milano: Il Saggiatore, 1994.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">DURAND, Gerard. Le strutture antropologiche dellimmaginario, Bari: Dedalo, 1972.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">DURKHEIM, Emile. <i>As Formas elementares da Vida Religiosa</i> , São Paulo: Paulinas, 1989.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">ELIADE, Mircea. <i>O mito do eterno ritorno</i> , Lisbõa: Edições 70, 1969.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">FALDINI, Luisa. Umanitá e Animalitá tra i Carajá del Mato Grosso <i>,</i> in CERULLI, <i>Tra uomo e animale</i> , Bari: Laterza, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">GALIMBERTI, Umberto. <i>Il corpo,</i> Milano: Feltrinelli, 1993.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">HALL, T. Edward. <i>Au-delá de la culture</i> , Paris: Seuil, 1979. (Tit.orig. Beyond Culture, New York: Doubleday, 1976).Trad. Marie-Hélène Hatchuel.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">La danse de la vie, temps culturel, temps vécu</span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"> , Paris: Seuil, 1984. (tit.orig. The Dance of Life, New York: Doubleday, 1983). Trad. Anne-Lise Hacker.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">JANH, John. <i>Muntu, La civiltá africana moderna</i> , Torino: Einaudi, 1975. (Tit.orig. Umrisse der neoafrikanischen Kultur, Eugen Diederichs Verlag, Dusseldorf, 1958).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">JUNG, Carl Gustav. <i>L uomo e i suoi simboli</i> , Milano: Mondadori, 1988. (Tit. orig. Man and his symbols).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">JUNG, Carl Gustav e KERÉNYI, Karl. <i>Prolegomeni allo studio della mitologia</i> , Torino: Einaudi, 1948.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">KAEPPLER, Adrienne. Folclore as Expressed, in: The Dance in Tonga. <i>JAF </i>80 (316): 160-68, 1967a.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">The Structure of Tongan dance</span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"> . University of Hawaii: Ph.D. Dissertation (antropology), 1967b.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">KAZADI wa MUKUNA. Aspectos Panorâmicos de Musica no Zaire, in: <i>Africa: Revista do Centro de Estudos Africanos da Universidade de São Paulo </i>, 8 (1985): 77-87<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">KEALIINOHOMOKU, Joann. A Comparative Study of dance as a Constellation of Motor Behaviors among African and United States Negroes. Northwest University: M.A. thesis (anthropology), 1965.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">LABAN, Rudolf. <i>Dominio do Movimento, </i>São Paulo: Summus, 1980. ( <i>Language of the Movement</i> , A guide book to Choreology).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">LANGER, Suzanne. <i>Sentimento e Forma</i> , São Paulo: Perspectiva, 1980. (Tit.orig. Feeling and Form, 1953). Trad. M. Goldberger.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><b><i>LÉVI-STRAUSS, Claude. Mythologiques IV, </i></b>face=Arial <b>L Homme Nu</b> face=Arial <b><i>, Paris: PUF, 1967</i></b><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">LORENZETTI, Loredano. <i>La dimensione estetica dellesperienza,</i> Milano: Angeli, 1995.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">LUNHING, Angela. Die Musik im candomblé nagô-ketu. Studien zur afrobrasilianischen Musik in Salvador, Bahia, in <i>Beitrage zur Ethnomusikologe</i> , n.24, Hrsg.J.Kuckertz Musikverlag Karl Dieter Wagner, Hamburg, 1990 a.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Música: coração do candomblé, in <i>Rivista USP</i>, n.7, São Paulo, 9-11, 1990b, pp.115-125.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">MARTINS, Suzanna. <i>A study of the dance of Iemanjá,</i> Dissertation to the Temple University, 1995.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">NEUMANN, Erich. <i>La grande madre</i>, Roma: Astrolabio, 1981. (Tit.orig. Die Grosse Mutter, Zurich: Verlag, 1991).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">NKETIA, Kwabena. <i>The Music of Africa. </i>New York: WW. Norton & Company, 1974<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">OMARI, Michelle, S. <i>From the inside to the outside: the Art of Candomblé</i> , Monograph Series (Number 24), Los Angeles: University of California, 1990.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">PELOSINI, Gaetano. <i>La magia della spirale. L equilibrio totale in un ordine cosmico</i> , Roma: Esoterica, 1994.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">PRANDI, Reginaldo <i>. Os Candomblés de São Paulo,</i> São Paulo Hucitec: Editora da universidade de<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Sao Paulo, 1991.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">A Religião e a multiplicação do eu, in <i>Revista</i> <i>USP, </i>1991<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Mitos dos poemas de Ifa, in: MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de, <i>As senhoras do pássaros da noite, </i>São Paulo: USP, 1994,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">RAMOS, Artur. <i>O folclore negro do Brasil</i> , Rio de Janeiro: Casa do estudante do Brasil, 1935.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Introdução à antropologia brasileira, </span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">2 vol., Rio de Janeiro: Edições da C.e B., 1943.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">ROYCE ANNYA P., Field Guide for the Collection of Ethnic Dance, MS, 1969 b.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">The Antropology of Dance</span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"> , Bloomington: Indiana Unversity Prees, 1980.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">ROUGET, Gilbert. <i>Musica e transe</i> , Torino:Einaudi, 1985.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">SACHS, Curt. <i>World History of the Dance</i> , New York: W.W. Norton & Co., Inc., 1937.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">SANTOS, Juana Elbein dos <i>Os Nagô e a morte,</i> Petropolis: Vozes, 1977.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">SANTOS, Maria Stella de Azevedo <i>Meu Tempo é agora,</i> São Paulo: Oduduwa, 1993.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">SENGHOR LEOPOLD-SEDAR, 1956, Lesprit de la civilization ou les lois de la culture Negro- Africaine. <i>Présence Africaine, n.</i> VIII/X, Paris, 1956, pp.60.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">TAMBIAH, Stanley. The Magic Power of words, in <i>Man 3 (2),</i> 1968, A performative approch to Ritual, Proceeding , the British Academy, v.LXV: pp.113-169, 1979.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">THOMPSON, Robert Farris. <i>African Art in Motion</i>, Nacional Gallery of Washington DC, 1974.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">TURNER, Victor. <i>The forest of symbols,</i> Ithaca: Cornell University Press, 1967.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black; font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">VERGER, Pierre. <i>Note sur le culte des Orisa et Vodun,</i> Ifan-Dakar, Memorie de LInstitut Francais dAfrique Noir, 1957.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="background-color: black;"><i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;">Orixás</span></i><span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"> , Salvador: corrupio, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="font-size: 13px;">
<span style="font-family: "verdana" , sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="background-color: black;">WHEATLEY, Joan <i>La cittá come simbolo.,</i> Saggi sullordinamento e sulla percezione dello spazio urbano nelle societá tradizionali, Brescia: Marcelliana, 1983.</span></span></div>
</div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-65942404250783166932016-02-12T17:13:00.000-02:002016-02-12T17:13:04.319-02:00Carta resposta a Papus de Saint Yves D'Alveydre...imperdivel!<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7QU-12b3eNwmh95niTa6q_uUnfbJnFZRrJn_TIq17LGv_HWuJsf-_DO3zWr-wOAg3o772XXFU24TZGbibjtrrYpsoXOWPsAEAXTzNm0yiYtltpFjqlDbGnn5JHjM2UuLCqsbwSDccZeI/s1600/Nubia_exercito.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg7QU-12b3eNwmh95niTa6q_uUnfbJnFZRrJn_TIq17LGv_HWuJsf-_DO3zWr-wOAg3o772XXFU24TZGbibjtrrYpsoXOWPsAEAXTzNm0yiYtltpFjqlDbGnn5JHjM2UuLCqsbwSDccZeI/s1600/Nubia_exercito.jpg" /></a></div>
<br />
<br />
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;">Meu querido amigo,<br />tenho um grande prazer em responder a vossa excelente carta. Não tenho nada que acrescentar a vosso notável livro sobre a Cabala judaica. Pode ser classificado entre os de primeira linha pela eminente e merecida apreciação feita pelo saudoso Sr. Frank, do Instituto, o homem mais capacitado a tecer um juízo sobre esse tema.<br />Vossa obra completa a dele, não somente quanto à erudição mas também na bibliografia e na exegese dessa tradição especial, e, mais uma vez, crio este livro definitivo. Mas, sabendo meu respeito pela tradição e, ao mesmo tempo, minha necessidade de universalidade e de verificação por todos os processos dos métodos atuais, conhecendo, além do mais, o resultado dos meus trabalhos, não deveis temer que eu venha a ampliar o tema, e, ao contrário quereis pedi-lo.<br />Não aceitei até agora devido ao benefício que pode trazer ao inventário dos livros sobre a Cabala judaica, apesar do seu interesse.<br />Porém, uma vez feito o inventário, as minhas pesquisas pessoais encaminharam-se para a universalidade anterior, de onde procedem esses documentos arqueológicos, desde o começo, bem como as leis que puderam provocar esses feitos do espírito humano.<br />Para os judeus, a Cabala provém dos caldeus, elaborada por Daniel e Esdras.<br />Entre os israelitas anteriores à dispersão das dez tribos não judias, a Cabala provinha dos egípcios, composta por Moisés.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;">Tanto para os caldeus como para os egípcios, a Cabala formava parte do que todas as Universidades metropolitanas chamavam de Sabedoria, isto é, a síntese das Ciências e das artes reintegradas ao seu Princípio comum. Esse Princípio era a Palavra do Verbo.<br />Um precioso testemunho da antigüidade patriarcal pré-mosaica confirma essa sabedoria perdida ou transformada aproximadamente 3.000 anos antes de Nosso Senhor Jesus Cristo. Esse testemunho é Jó, e a antigüidade desse livro é autologicamente confirmada pela posição das constelações que ele menciona: "Que foi da Sabedoria, onde, pois, está?", disse esse Santo patriarca.<br />Em Moisés, a perda da unidade anterior e o desmembramento da sabedoria patriarcal são indicados com o nome de divisão da línguas e época de Nimroud. </span><br /><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;">Essa época caldéia corresponde à época de Jó.<br />Outro testemunho da antigüidade patriarcal é o Brahmanismo. Ele conservou todas as tradições do passado, superpostas com os diferentes acontecimentos geológicos da Terra. Todos os que o estudaram do ponto de vista moderno ficaram surpreendidos pela riqueza de seus documentos e a impossibilidade de uma classificação mais satisfatória, tanto do ponto de vista cronológico como do científico. Suas divisões em seitas bramânicas, vishnavistas, sivaistas, por não falar mais daquelas, contribuíram da mesma forma para essa confusão.<br />Não é menos certo que os brámanes do Nepal remontam ao começo da época do Kaly-Yuga, à ruptura da antiga universalidade e à unidade primordial de ensino.<br />Essa síntese primitiva levava, muito antes do nome de Brahma, o de Isvha-Ra, Jesus Rei: Jesus Rex Patriarcarum, contam as nossas letanias.<br />É a essa síntese primordial que São João faz alusão no início de seu Evangelho; porém, os brámanes estão longe de duvidar que seu Isoua-Ra seja nosso Jesus, Rei do Universo, como Verbo Criador e Princípio da Palavra Humana. Sem isso, seriam todos cristãos.<br />O esquecimento da Sabedoria Patriarcal de Isvha-Ra data da época de Krishna, o fundador do Brahmanismo e de sua Trimurti. Aí também existe concordância entre os brámanes, Jó e Moisés, tanto quanto aos fatos como à época.<br />Desde esse tempo babélico, nenhum povo, nenhuma Universidade, tem possuído mais do que restos de pequenos fragmentos da velha Universidade dos Conhecimentos divinos, humanos e naturais, reduzidos a seu princípio: o Verbo Jesus. Santo Agostinho define como Religio Vera essa síntese Primordial do Verbo.<br />A Cabala dos Rabinos, relativamente de redação recente, era conhecida do começo ao fim pelos adeptos judeus, em suas fontes escritas ou orais, no primeiro século de nossa era. Certamente não havia segredos para um homem de valor da ciência de Gamaliel. Porém, não os havia também para seu primeiro e proeminente discípulo, São Paulo, que se tornou o apóstolo do Cristo Ressuscitado.</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"> </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><br />Vejamos agora o que diz São Paulo na sua Primeira Epístola aos Corintios, capítulo 2, </span><br /><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;">versículos 6-8:<br /><i>"Predicamos a sabedoria aos perfeitos, não a sabedoria deste mundo, nem dos principais deste mundo, que se destroem; mas, predicamos a sabedoria de Deus, encerrada em seus Mistérios; sabedoria que havia permanecido oculta, que Deus, antes de todos os séculos, havia predestinado e preparado para a nossa glória; </i></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><i>que nenhum dos primeiros deste mundo a tem conhecido; pois se a tivessem conhecido, nunca teriam crucificado ao Senhor da Glória."</i><br />Essas palavras são pesadas em quilates como o ouro e os diamantes, e não existe uma só dentre elas que não seja infinitamente precisa e preciosa. Elas proclamam a insuficiência da Cabala judaica. Antes de tudo, verifiquemos a origem do termo Cabala: ele tem dois sentidos de acordo com a forma em que é escrito, conforme os judeus. Se o escrevemos com Q, isto é, adotando a vigésima letra do alfabeto assírio, a que corresponde ao número 100, ou com a letra C, a décima primeira letra do mesmo alfabeto, que corresponde ao número 20.<br />No primeiro caso, o nome significa transmissão, tradição, e a coisa fica assim indecisa, pois, tanto vale o transmissor quanto a transmissão; tanto vale o traditivo quanto vale a tradição.<br />Acreditamos que os judeus nos transmitiram bastante fielmente o que receberam de seus sábios em sua escrita caldéia original, e que foi refundido nos livros anteriores por Esdras, guiado pelo Grande Mestre Daniel, da Universidade dos magos de Caldéia. Mas do ponto de vista científico, isso não amplia muito a questão, que foi recuando no tempo por meio do levantamento dos documentos assírios, e assim subseqüentemente até chegar à fonte primordial.<br />No segundo caso, Ca-Ba-Lá, significa a potência das XXII letras, CaBa, já que C = 20 e B = 2.<br />Mas, então, a questão é resolvida exatamente, pois se trata do caráter científico determinado pelos antigos patriarcas ancestrais para os alfabetos de vinte e duas letras numerais.<br />Temos que considerar esses alfabetos como um monopólio das raças chamadas semitas? Talvez seja realmente um monopólio, ou muito pelo contrário.<br />Segundo as minhas pesquisas sobre os antigos alfabetos da Ca-ba-Lá, de XXII letras, o mais oculto, o mais secreto, que me serviu de protótipo não tão-somente para todos os outros do mesmo gênero mas também aos signos védicos e às letras sânscritas, trata-se do alfabeto ário. É aquele alfabeto que fui feliz em transmitir e que obtive de eminentes bramanes, os quais nunca, nem em sonho, exigiram-me guardar segredo dele.<o:p></o:p></span><br /><br /></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;">Esse alfabeto se distingue dos outros chamados semitas porque suas letras são morfológicas, isto é farlantes exatamente pelas suas formas, o que o transforma num alfabeto absolutamente único. Mais ainda, um estudo cuidadoso me levou a descobrir que as mesmas letras são o protótipo dos signos zodiacais e planetários, o que é também de máxima importância.<br />Os bramanes chamam a esse alfabeto de vattan; e parece que se remonta à primeira raça humana, pois, pelas suas cinco formas matrizes, rigorosamente geométricas, confirma ele mesmo: Adão, Eva e Adamah.<br />Moisés parece apontá-lo no versículo 19 do capítulo II de seu Sepher Bereshit. Mais ainda, esse alfabeto se escreve de baixo para cima, e suas letras se agrupam de tal maneira que formam imagens morfológicas falantes. Escrevem-no da esquerda para a direita e de cima para baixo.</span><span style="font-family: 'Times New Roman', serif; font-size: 13.5pt;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="-webkit-text-size-adjust: auto; color: white; font-family: Arial, Tahoma, Helvetica, FreeSans, sans-serif; font-size: 13px; line-height: normal;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"> Por todas as razões precedentes, esse alfabeto protótipo de todos os Kaba-Lim pertence à raça ária. Não podemos continuar a denominar com o nome de semitas os alfabetos desse gênero, pois não são o monopólio das raças que se denomina assim, com razão ou erradamente.<br />E possível, e deve-se, chamar esses alfabetos de esquemáticos. Agora, bem, o esquema não significa somente signos da palavra, mas também signos da glória. Esses alfabetos existem também em outras línguas, como o eslavo; assim, por exemplo, a etimologia do termo eslavo é slovo e slava, que significam palavra e glória.<br />Esses sentidos nos conduzem a significados muito altos. O sânscrito costuma corroborar essa elevação. <b>Sama</b>, que encontramos também nas línguas de origem celta, significa similar, identidade, proporcionalidade, equivalência, etc.<br />O termo Cabala, tal como o compreendemos, significa o Alfabeto das XXII Potências, ou a Potência das XXII letras desse alfabeto. Esse tipo de alfabeto tem um protótipo ário ou jafético, que pode ser designado, certamente por direito, com o nome de Alfabeto da Palavra ou da Glória.<br />Palavra e Glória! Por que estes dois termos estão relacionados em duas línguas antigas tão distantes uma da outra como o eslavo e o caldeu? Isso é sustentado por uma constituição primordial do espírito humano, em um Princípio comum ao mesmo tempo científico e religioso: o Verbo, a Palavra cosmológica e seus equivalentes.<br />Jesus, em sua última oração tão misteriosa, lança nisso, como em tudo, uma luz esclarecedora sobre o mistério histórico que nos ocupa agora:<br />"Oh Pai! coroa-me com a glória que tive antes de que este mundo fosse!"<br />O Verbo Encarnado faz alusão, com isso, à Sua Obra, à Sua Criação direta como Verbo Criador.<br />Criação designada com o nome de Mundo divino e eterno da Glória, protótipo do mundo astral e temporal, criado pelos Alahim sobre este modelo incorruptível.<br />Que o Princípio Criador seja o Verbo, a antigüidade não possui sobre este ponto mais que uma voz unânime. Falar e criar são, aqui, o sinônimo de todas as línguas.<br />Entre os brâmanes, os documentos anteriores ao culto de Brahma apresentam a ISOu-ra, Jesus Rei, como Verbo Criador.<br />Entre os egípcios, os livros de Hermes Trismegisto dizem a mesma coisa, e OShI-Ri é Jesus Rei, lido da direita para a esquerda.<br />Entre os trácios, Orfeu, iniciado nos Mistérios do Egito pela mesma época que Moisés, escreveu um livro intitulado "O Verbo Divino". Enquanto para Moisés, o Princípio é o motivo da primeira frase de seu Sepher. Não se trata da Essência de Deus, IHOH, que é nomeado somente no sétimo dia, mas de seu Verbo Criador da héxada divina: BaRa-Shith, em que Bara significa falar e criar; Shith, significa a héxada. Em sânscrito, temos o mesmo significado para BaRa-Shith.<br />Este termo, BaRa-Shith, tem dado lugar a polêmicas e inúmeras discussões. São João não defende o termo como Moisés desde o começo de seu Evangelho, e escreve em Siríaco, língua cabalística de XXII letras: "O Princípio é o Verbo. Jesus tinha dito: 'Eu sou o Princípio'".<br />O sentido exato é fixado assim por Jesus, que confirma toda a universalidade pré-mosaica anterior. O que precede explica por que as Universidades verdadeiramente antigas consideraram o Verbo Criador como a incidência, da qual a palavra humana é o reflexo exato, quando o processo alfabético se encaixa perfeitamente no planisfério do Cosmos.<br />O processo alfabético, junto com todos os seus equivalentes, representa, então, o Mundo Eterno da Glória; e o processo cósmico representa o mundo dos Céus astrais.<br />E por isso que o Rei Profeta, eco de toda a antigüidade patriarcal, disse: "CÉli enarrant Dei Gloriam", ou, em francês: "O mundo astral reflete o mundo da Glória divina." O Universo invisível fala por meio do Universo visível.<br />Permanecem assim dois casos a serem resolvidos: primeiro, o processo cósmico das escolas antigas; segundo, o dos alfabetos correspondentes.<br />Para o primeiro ponto, III Formas matrizes: O centro, o rádio ou diâmetro e o círculo; XII signos involutivos; VII signos evolutivos.<br />Em ambos os casos: III + XII + VII = XXII = CaBa, pronunciando-se: C = 20, B = 2, dando um total de 22, C, Q, F, D.<br />Os alfabetos das 22 letras correspondiam, pois, a um Zodíaco solar ou solar-lunar, montado a partir de um setenário mais evoluído. Eram os alfabetos esquemáticos.<br />Os outros, de acordo com o mesmo método, provinham das 24 letras, dos horários dos precedentes, de 28 letras seus lunares; por 30, seus mensais solar-lunares; por 36, seus decânicos, etc. Sobre os alfabetos das 22 letras, a regia, a emissiva da ida, a remissiva da volta, era o I, o Y e o J, e colocada sobre o primeiro triângulo eqüilátero inscrito, devia formar antologicamente, com as outras duas, o nome do Verbo e o de Jesus, IshVa-(Ra), OshI-(Ri).<br />Pelo contrário, todos os povos que têm adotado o Cisma Naturalista e Lunar escolhem a letra M como Regia, que governa o segundo trígono elemental.<br />Todo o sistema védico, e depois o brahmânico, tem sido regulado posteriormente por Krishna dessa forma, a partir do Kaly-Youg. Essa é a chave do Livro das Guerras de IEVE, guerra da letra Regia I ou Y contra a ursupadora M.<br />Tendes visto, meu querido amigo, as moderníssimas provas, fruto da simples observação e da experiência científica, pelas quais a mais antiga tradição foi ao mesmo tempo restabelecida e verificada por mim. Portanto, não falarei mais do que o estritamente necessário para o esclarecimento do fato histórico da Cabala.<br />Conforme os patriarcas que os têm precedido, os brâmanes têm dividido as línguas humanas em dois grandes grupos: (1º) Devanagáricas, são as línguas da cidade celestial ou da civilização reintegrada ao seu Princípio Cosmológico divino; (2º) Prácritas, são as línguas das civilizações selvagens ou anárquicas. O sânscrito é uma língua devanagárica de quarenta e nove letras; o veda, igualmente, com suas oitenta letras e signos, derivados do ponto do AUM, ou seja, da letra M.<br />Essas duas imagens são cabalísticas em seu sistema particular, no qual a letra M é o ponto de partida e de retorno. Porém, têm sido, desde sua origem e continuando até os nossos dias, articuladas sobre uma fatia do templo de vinte e duas letras, da qual a letra Regia primeira é o I.<br />Todas as retificações se tornam possíveis e fáceis graças a esta chave, no triunfo e maior glória de Jesus, verbo de IEVE, dito de outra forma, da síntese primordial dos primeiros patriarcas.<br />Os atuais brâmanes conferem a seu alfabeto de vinte e duas letras uma virtude mágica; porém esses termos não possuem para nós mais do que uma conotação de superstição e ignorância.<br />Superstição, decadência e superestação de elementos arqueológicos e de fórmulas mais ou menos alteradas, porém, com um estudo mais profundo se poderia, como neste caso, relacionar uma experiência ou um ensinamento anterior de forma científica e consciente e não de forma metafísica ou mística. Esse ensinamento primordial foi motivado principalmente pela maior ou menor ignorância dos fatos, das leis e dos princípios.<br />Por outra parte, a Escola lunar vedo-brahmânica não é a única na qual a ciência com sua síntese solar, a religião do Verbo, tem degenerado em Magia. Basta que se explore um pouco a universalidade terrestre a partir da época babélica para ver uma crescente decadência, atribuída cada vez mais à influência envolta de um caráter de superstição e magia, que exercem cada vez mais os alfabetos antigos.<br />Da Caldéia até a Tessália, da Escitia até a Escandinávia, dos Kouas de Fo-Hi e dos Musnads da antiga Arábia aos Runas dos Varaighes, podemos observar a mesma degeneração.<br />A verdade, nisso como no todo, é infinitamente mais maravilhosa que o erro, e conheceis, querido amigo, esta admirável verdade.<br />Por último, como nada se perde na humanidade terrestre, da mesma forma que no Cosmos inteiro, o que tem acontecido ainda é testemunho da antiga universalidade da que nos fala Santo Agostinho, em suas Retrações.<br />Os brâmanes cabalizam com os oitenta signos védicos, com as quarenta e nove letras do sânscrito devanagárico, com as dezenove vogais, semivogais e ditongos, isto é, toda a mistura de Krishna, acrescentada por ele ao alfabeto vattan ou adâmico.<br />Os árabes, os persas e os soubbas cabalizam com seus alfabetos lunares de vinte e oito letras e os marroquinos com seu Koreish.<br />Os tártaros manchus cabalizam com seu alfabeto mensal de trinta letras. As mesmas observações podem ser feitas entre os tibetanos e os chineses, etc, as mesmas reservas podem ser feitas quanto às alterações da ciência antiga dos equivalentes cosmológicos da palavra.<br />Resta saber em que ordem devem ser dispostos funcionalmente esses XXII equivalentes sobre o Planisfério do Cosmos.<br />Querido amigo, tendes sob os olhos o modelo de acordo com aquele que foi legalmente depositado sob o nome de Arqueômetro.<br />Vos sabeis que as chaves deste instrumento de precisão, para serem usadas em elevados estudos, têm sido dadas pelo Evangelho, por certas palavras precisas ditas por Jesus e comparadas com as de São Paulo e São João.<br />Todas as Universidades religiosas, asiáticas e africanas, abastecidas pelos alfabetos cosmológicos, solares, solar-lunares, horários lunares, mensais, etc, servem-se de suas letras de forma cabalística.<br />Trata-se da ciência pura, da poesia interpretando a ciência ou da inspiração divina, todos os livros antigos, escritos em línguas devanagáricas e não prácritas, que não podem ser compreendidas se não fosse a Cabala dessas línguas.<br />Porém, aquelas devem ser reintegradas às XXII equivalentes esquemáticas, e estas, às suas posições cosmológicas exatas.<br />A Cabala dos Judeus está, pois, motivada por toda a constituição anterior do espírito humano; porém, ela tem necessidade de ser arqueométrica, isto é, medida por um princípio regulador, controlada sobre o instrumento de precisão do Verbo e de sua síntese primordial.<br />Não sei, querido amigo, se estas páginas respondem a vossa afetuosa espera. Não pude mais do que resumir capítulos inteiros em algumas linhas.<br />Rogo-vos, pois, desculpar as imperfeições e olhar o que precede como um testemunho da minha boa vontade e da minha velha amizade.<o:p></o:p></span></div>
<div>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><br /></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-72106546961319135912015-10-22T13:45:00.003-02:002016-12-17T17:59:23.383-02:00Umbanda sem racismo e outros preconceitos...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<br /></div>
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/y74VSx5BVGQ/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/y74VSx5BVGQ?feature=player_embedded" width="320"></iframe><br />
<br />
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "times" , "times new roman" , serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ao acordar nessa manhã, procurei
pensar nas coisas que tinha a fazer e enumerá-las para focar os objetivos que tracei.
Muitas destas atividades estão veiculadas ao dia a dia, sustento financeiro, filhos,
casa e etc., mas como a vida não se prende a só isso, repensei o espiritual e revi
em minha mente alguns vídeos e textos que nosso Babá – Pai Rivas tem postado em
seu blog nas redes sociais.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Apesar de estar presente aos seus
ritos, e coadunar com tudo que é feito, chamou-me especial atenção onde ele
fala sobre a Umbanda Esotérica de W.W.da Matta e Silva e suas obras, e que ele
estaria retificando erros e valores e ratificando outros como o uso dos métodos
do Ifa. Lembro que nosso Babá é o sucessor legítimo de Matta e Silva desde 1987,
tendo ordens e direitos para fazer estes ajustes e que atendem a novos momentos
da Umbanda Esotérica.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Mas muitos poderiam agora estar
se perguntando: o que chamou à atenção do Ygbere?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E respondo; depois de conviver a
trinta e sete anos com nosso Babá e ter tido a oportunidade em estar com o
mestre Yapacani – Matta e Silva em sua casa/terreiro em Itacuruça e em ritos
que o mesmo realizou na OICD – São Paulo, ter lido todas suas obras e até ter
feito minha dissertação de mestrado sobre a magia na Umbanda Esotérica de Matta
e Silva, percebi que aquilo que tinha lido, estudado e até escrito, não
condiziam com as novas fases da mesma.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Más como assim, poderiam
perguntar os amigos? Então procurarei ser mais claro:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Em um dos vídeos postados por
nosso Babá, ele cita o livro Segredo da Magia de Umbanda, em especial a página
14 e que fala o seguinte:<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">...Porque, a Corrente Astral de
Umbanda, nessa 1ª Fase de Ação no Brasil e por dentro dessa coletividade
chamada dos cultos afro-brasileiros, teve um objetivo e se apresentou assim:
com “caboclos, pretos-velhos etc”; porém, na 2ª Fase de Ação, a se iniciar
dentro de poucos anos, essa Corrente vai revelar novos aspectos...novos
horizontes. É só, senhores “magistas, esoteristas, ocultistas etc.”...<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Depois de ler isso, continuei a
leitura do livro todo, e para minha surpresa comecei a ver e entender coisas que
nunca tinha passado em minha cabeça, lembrando que este livro vi e revi várias
vezes. Pude ver com total clareza que o mesmo tem abordagens extremamente
diferentes que a obra do homem/iniciado/sacerdote Matta e Silva e que foram
citadas pelo nosso Babá - Pai Rivas exaustivamente. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Percebi uma dicotomia entre o que
eu tinha plena convicção e o que lá estava. No primeiro instante, atirei o
livro ao chão, tamanha aversão que senti pelos temas falados e em especial
quando falava do negro. Assuntos totalmente ultrapassados e que só existiram na
metade do século passado com a insistência do embranquecimento da população
brasileira, como se a cor da epiderme pudesse tornar alguém melhor ou pior. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Na sequência dos textos pude
constatar aspectos de misoginia, homofobia, xenofobia, evolucionismo cultural,
evolucionismo social, elitismo, conservadorismo, etnocentrismo, temas que nosso
mestre ou Babá chamou de vergonhosos e que deveriam ser alterados e
transformados em suas partes visíveis e invisíveis.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Más os amigos poderiam continuar
a perguntar: más o Babá já falou sobre isso a tempos e só agora você está
falando isso?<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sim, concordo, a leitura do livro
novamente fez com que eu me visse, tal qual em um espelho, e ao me ver, percebi
que estive enganado quando não me achava preconceituoso, fazendo parte de uma
elite de pensadores do Santo.... Tola ilusão.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Só agora vislumbro o que o Babá
já viu há muito tempo, e que vêm falando, ensinando, corrigindo e vivenciando,
bastando ver suas realizações.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">A nova fase está aí, basta ver o
TUO, com seu templo devidamente adequado para o estudo e aplicação do destino
dos seres, por intermédio de Orunmilá Ifá. O mesmo Ifá que Matta e Silva falou
no livro Macumbas e Candomblés na Umbanda em 1969 e que a maioria não entendeu
que o mesmo não tinha solução de continuidade em relação a diversidade das
religiões afro brasileiras, pelo contrário, afinal tudo é um grande encadeamento
de saberes e viveres obedecendo um grande <i>continuum</i>.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Neste “novo” momento, existe o
respeito a todas as formas de entender e compreender o sagrado, não há uma
verdade única, uma totalidade, há sim múltiplas formas de acesso ao real, tais
como a memória, a vivência, o afeto, a percepção, a oralidade, a ética, a
episteme, os métodos e tudo centrados na ancestralidade sobrenatural (Orixás e
entidades que possibilitam o transe do imanente para o transcendente dos seus
adeptos).<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">E foi com esta profusão de
pensamentos que me vi sem pré-conceitos, sem mascaras, ou seja, desnudo de
tolas vaidades, pois naquele momento percebi o “outro” que muitas vezes estava
em meu falar, mas não no coração. Confesso que senti em meu corpo uma intensa
aflição e busquei naquele momento até o auxílio de maracujinas, valerianas e
etc., pois saía de uma zona de conforto de muitos anos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Hoje depois destes momentos e ao
ver comentários de muitos nas redes sociais, contrários a mudanças daquilo que
conheceram apenas no que ouviram falar do mestre Matta e Silva, peço que
releiam suas obras, mas não se detivessem apenas no momento cronológico que as
mesmas foram escritas e sim naquilo que ele sabia e escreveu que viria em um
futuro breve e por isso fez um sucessor legítimo para essas transformações. <o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Aranauam,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Sarava,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Motumbasé,<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Saudações a todos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="color: white; font-family: "trebuchet ms" , sans-serif;">Ygbere<o:p></o:p></span></div>
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<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<iframe allowfullscreen="" class="YOUTUBE-iframe-video" data-thumbnail-src="https://i.ytimg.com/vi/y74VSx5BVGQ/0.jpg" frameborder="0" height="266" src="https://www.youtube.com/embed/y74VSx5BVGQ?feature=player_embedded" width="320"></iframe></div>
<o:p></o:p></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-48245667336482074912014-10-13T14:21:00.002-03:002014-10-13T14:21:24.316-03:00A ESCOLA DE MILETO<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2iQ6JC99qObSHkpAYyGVEihxZ3bEMhx_NemXYK7eS-93KiqgSO9uOb9VyWYr13VU0yR0-eq9tgzqzCZ5ACcFXmruNRIN-UWQTsOpfc-_5iQLHHxDgPhCzThbTmme1MwfOpsdfVIKbyOY/s1600/tales+de+mileto.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEi2iQ6JC99qObSHkpAYyGVEihxZ3bEMhx_NemXYK7eS-93KiqgSO9uOb9VyWYr13VU0yR0-eq9tgzqzCZ5ACcFXmruNRIN-UWQTsOpfc-_5iQLHHxDgPhCzThbTmme1MwfOpsdfVIKbyOY/s1600/tales+de+mileto.jpg" height="295" width="400" /></a></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
<br /></div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px;">
A Substância Primordial</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Tales, foi um dos primeiros a enunciar a idéia da existência de um elemento fundamental, de uma substância primordial. Segundo ele, todas as coisas seriam feitas de água. Como a água contém átomos de hidrogênio, essa concepção não está em contradição com as idéias modernas de astrofísica: da observação de material cósmico, deduz-se que os elementos predominantes no estágio inicial do Universo eram o hidrogênio e o hélio, em uma proporção de abundância de hidrogênio dez vezes superior à do hélio. Já Anaximandro, outro filósofo da escola de Mileto, afirmava que a substância primordial de todas as coisas não é a água, nem, efetivamente, nenhum outro corpo material conhecido. Para ele, o elemento fundamental de todas as coisas é infinito e eterno e está subjacente em todos os mundos. Essa substância se transforma em objetos materiais que nós percebemos.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Segundo Anaximandro, no mundo material existe uma proporção definida de ar, de fogo, de água e de terra. A competição entre esses elementos concebidos como deuses, ou seja, a proporção de tais elementos, é regulamentada por uma fatalidade, por uma certa necessidade necessidade de proporção entre esses elementos que constituiria, segundo certos filósofos, a origem da noção da lei da natureza. Para Anaxímenes, terceiro pensador da Escola de Mileto, a substância primordial é o ar. A alma do homem é feita de ar, o fogo é o ar rarefeito; ao condensar, o ar se transforma em água que, por sua vez, se condensa em terra, em pedras.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Segundo essas especulações, por assim dizer, pioneiras da química, as forças de coesão seriam uma espécie de respiração: visto que nossa alma, feita de ar, nos mantém unidos e estáveis, também o ar e a respiração universal asseguram a coesão, a estabilidade do mundo o ar seria substituído no século XIX pelo éter, que transmitiria as ações físicas.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
As especulações dos filósofos de Mileto são, aliás, vistas por Bertrand Russel como verdadeiras hipóteses científicas, visto que nelas não encontramos nenhuma idéia de moral nem concepções antropomórficas.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Ao lado desse espírito científico pioneiro, os filósofos gregos estavam impregnados de certo espírito de religiosidade: os que estavam influenciados pela religião de Baco ou Dioniso, os discípulos de Orfeu, buscavam oentusiasmo, que significa união com o deus; interessavam-se pela aquisição de conhecimentos místicos, não-acessíveis pela percepção dos sentidos. A partir dos cultos de Dioniso e Orfeu, o componente místico da filosofia grega foi importante especialmente em Pitágoras e, em seguida, ganhou, através de Platão, a filosofia da Idade Média.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Belas divagações filosóficas também nos foram legadas por Heráclito (século V a.C.). Ele considerava o fogo como substância primordial, visto que ele tem as propriedades da menos corporal e mais sutil matéria. Tal a chama do fogo, tudo nasce da morte de algo; diríamos hoje: fótons são emitidos (nascem) na aniquilação (morte) elétron-pósitron; pares partícula-antipartícula nascem da morte de um fóton. Assim, afirmava Heráclito, os seres mortais são imortais, os imortais são mortais, um vive a morte do outro e morre a vida de um outro.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
No mundo existe unidade, mas essa unidade é o resultado da combinação de opostos: o Um é feito de todas as coisas e todas as coisas resultam do Um. A oposição dos contrários é fundamental, uma harmonização de tensões opostas, como o arco e a lira; talvez possamos, então, dizer que tanto a noção de conjugação de carga como a de aniquilação matéria-antimatéria, para produzir energia, remontam a Heráclito.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-bottom: 6px; margin-top: 6px;">
Com Parmênides de Eléa, um pitagórico dissidente, foi introduzida a noção do Um, de um ser substancial eterno e imutável. Ele rejeitou o postulado de Pitágoras segundo o qual do Um original provêm dois e, em seguida, vários.</div>
<div style="background-color: white; color: #141823; display: inline; font-family: Helvetica, Arial, 'lucida grande', tahoma, verdana, arial, sans-serif; font-size: 14px; line-height: 19.3199996948242px; margin-top: 6px;">
Link do qual parte do texto foi retirado:<br /><a href="http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141991000200007&script=sci_arttext" rel="nofollow" style="color: #3b5998; cursor: pointer; text-decoration: none;" target="_blank">http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141991000200007&script=sci_arttext</a></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-7554338960362580572014-09-24T10:31:00.002-03:002014-09-24T10:31:22.872-03:00Hermes Trismegisto, mito ou figura histórica?<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8ijcXulIaCbOjnICEWwGpGIQjPFRirK5OXiZcoxdIGD5EIuVBgc3YQdil2y000rpX2SZ06uHZM5euRrQas83PszYsBVrrAe9GtBmeKOknb4lhXb53wRNc3Wr-LZ1JYnVCH7iw4paNI7E/s1600/hermes.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg8ijcXulIaCbOjnICEWwGpGIQjPFRirK5OXiZcoxdIGD5EIuVBgc3YQdil2y000rpX2SZ06uHZM5euRrQas83PszYsBVrrAe9GtBmeKOknb4lhXb53wRNc3Wr-LZ1JYnVCH7iw4paNI7E/s1600/hermes.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">O lendário sacerdote egípcio <b>Hermes
Trismegisto</b>, fundador da doutrina hermética, teria vivido por volta do ano
30 A.C., ao contrário do que se acreditava na Idade Média e Renascença, que lhe
atribuiam a mais remota antigüidade. A sua famosa lei, segundo a qual “o que
está em cima é igual ao que está em baixo”, tornou-se um dos chavões prediletos
dos astrólogos e dos praticantes das “ciências ocultas”. Atribui-se também a
ele a classificação astrológica dos sete tipos humanos, correspondentes aos
sete planetas (Sol, Lua, Mercúrio, Vênus, Marte, Júpiter, Saturno), presentes
nos manuais clássicos de astrologia, e também a divisão do zodíaco em 12
signos, que na verdade foi invenção dos caldeus.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; text-align: justify;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">A figura de Hermes (Mercúrio entre os
latinos), foi associada ao deus egípcio <b>Toth</b>, escriba dos deuses e
divindade da sabedoria. Segundo Cícero, havia cinco Mercúrios, sendo que o
quinto e último fugiu para o Egito depois de matar Argos, onde adotou o nome de
Teut ou Tot, levando a este povo suas leis e suas letras. Acreditava-se que era
o mais sábio sacerdote egípcio, o maior filósofo por seus extensos
conhecimentos, o mais santo de todos, razões pelas quais foi chamado <i>Termaximus</i>,
ou Três Vezes Grande.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif;">Inspirado nesta figura mítica desenvolveu-se uma extensa
literatura em grego, consagrada à astrologia, às ciências ocultas, às virtudes
das plantas e das pedras e, sobretudo, à fabricação de talismãs para atrair o
poder das estrelas. Os escritores da época helenista consideravam Toth o
patrono de todas as ciências, o inventor dos hieróglifos e um poderoso mágico.
Teria criado o mundo por meio da palavra. Já os estóicos haviam identificado
Hermes com o <i>logos</i>.<br />
O interesse dos autores cristãos por Hermes Trismegisto deve-se em grande parte
às referências e comentários de Lactâncio e Clemente de Alexandria, que o
consideraram o primeiro autor de Teologia, fonte e origem de uma tradição de
sabedoria anterior a Orfeu, Platão e Pitágoras, e antecipador do cristianismo.
Roger Bacon chamava-o de “pai dos filósofos”, e uma obra de Alquimia do século
XII afirmava a existência de três Hermes, chamados de Enoch, Noé e Hermes
Triplex, rei, filósofo e profeta, que reinou no Egito após o Dilúvio. A mesma
explicação aparece também em outro tratado de astrologia do século XIII. Havia
pois a crença de que o seus livros revelavam um conhecimento divino e mistérios
profundos, e neles Hermes não se mostrava apenas como filósofo, mas também como
profeta falando do futuro. Atribuiu-se a ele a previsão do fim da religião
antiga, o nascimento de uma nova fé e o advento de Cristo. Santo Agostinho creditou
essas previsões às estrelas ou à revelação dos demônios. Já Lactâncio o situou
entre as sibilas e os verdadeiros profetas. Na Idade Média, o nome de Hermes
tornou-se muito conhecido e ligado à alquimia, à astrologia e à magia, em
particular às imagens mágicas e talismãs.<br />
O <i>Corpus Hermeticum</i>, conjunto de suas obras, foi objeto de estudos
por muitos autores durante a Idade Média, como Tomás de Aquino e Alberto o
Grande, entre outros, apesar da proibição da prática da magia pela Igreja
medieval. Depois da tradução feita por Marsilo Ficino em 1463, a obra teve
grande repercussão na Europa e incontáveis edições que atestam o profundo
interesse e entusiasmo despertado por Hermes na Renascença. Mas, apesar de todo
o mito criado em torno de sua antigüidade, a obra é bem mais recente do que se
supunha, tendo sido composta entre 100 e 300 d. C. Segundo a maioria dos
especialistas modernos, como Frances Yates, o <i>Corpus Hermeticum</i> não
foi escrito na antigüidade remota por um onisciente sacerdote egípcio e sim por
vários autores desconhecidos, todos possivelmente gregos, em datas variadas.
Trata-se na verdade de uma mistura de “filosofia grega popular, platonismo e
estoicismo, combinado com influências hebraicas e persas”. Os vários tratados
que compõem o livro são muitas vezes contraditórios entre si e não se pode
deduzir deles um sistema filosófico coerente. Toda a obra é baseada em
referências astrológicas, mesmo quando ela não é explícita; o mundo material se
encontra sob o domínio das estrelas e dos sete planetas, os “Sete Governadores”
e as leis da natureza são as leis astrológicas.<br />
Os escritos do <i>Corpus Hermeticus</i> foram classificados como
pertencentes a dois tipos de gnose, uma do tipo pessimista e outra otimista. A
gnose pessimista, ou dualista, vê o mundo material impregnado pela influência
fatal das estrelas e mau por si mesmo. Assim, é preciso escapar dele através do
ascetismo e evitar o contato com a matéria, para que a alma iluminada se eleve
através das esferas dos planetas até alcançar o seu verdadeiro lar, localizado
no mundo imaterial divino. Já para o gnóstico otimista, o divino impregna toda
a matéria, a Terra é viva, impulsionada pela vida divina, e as estrelas
são imensos seres vivos. O sol brilha com poder divino e não há parte da
natureza que não seja boa, pois tudo pertence a Deus. Na hierarquia dos deuses
herméticos, Júpiter é o senhor dos céus e distribuidor da vida para todos os
seres; o Sol difunde a Luz para todos e ilumina as outras estrelas, sendo considerado
um segundo deus que governa tudo o que vive. Seguem-se depois os trinta e seis
deuses chamados Horóscopos ou Decanos, que são estrelas fixas, distribuídos de
dez em dez graus dentro dos trezentos e sessenta graus em que o círculo do
zodíaco está dividido. Os egípcios haviam divinizado o tempo não apenas no
sentido abstrato, mas concretamente, de modo que cada momento do dia tinha o
seu próprio deus, a ser invocado ou cultuado no decorrer dos momentos. Estes
deuses egípcios que regiam o tempo, absorvidos pela astrologia grega sob o nome
de decanos, acabaram assimilados pela astrologia caldéia e filiados ao zodíaco.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">Magia Astral</span></b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br />
</span></b><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;">O culto religioso
ensinado por Hermes envolvia a prática da magia astral, capaz de animar as
estátuas dos templos através do conhecimento das propriedades ocultas das
substâncias, arranjadas “conforme os princípios da magia da simpatia e por
introdução no interior das estátuas, mediante invocação, da vida dos deuses
celestiais”. Segundo a doutrina hermética, “eflúvios de infuências” jorram das
estrelas para a Terra, e podem ser canalizados por um operador que domine o
conhecimento oculto. Essa “magia astral” associa aos planetas uma complicada
pseudociência de simpatias ocultas e feitura de imagens. Os doze signos do zodíaco
possuíam suas plantas, animais e imagens correspondentes, o mesmo acontecendo
com todas as constelações e estrelas do céu. Neste sistema infinitamente
complexo de relações, tudo se tornava Um. Ao mago caberia pois entrar neste
sistema e fazer uso dele, “usando corretamente as simpatias ocultas nas coisas
terrestres, as imagens celestiais, as invocações e nomes”. Assim, cada decano
tinha a sua imagem própria, bem como vários aspectos, e presidiam as formas de
vida nascidas nos períodos governados por eles. Considerados como poderosas
forças divinas ou demoníacas situadas acima do círculo do zodíaco e dos
planetas, atuavam na Terra através dos demônios, ou ainda dos planetas.<br />
Há notáveis semelhanças entre o texto hermético e o Gênesis, o que levou
autores como Ficino a conjecturar se Hermes não teria sido o próprio Moisés. No
século dezesseis, muitos entusiastas religiosos ainda viam o sacerdote egípcio
como uma figura de antigüidade remota e precursor do cristianismo. Mas em 1614,
o helenista e teólogo calvinista francês Isaac Casaubon (1559-1614), embora
reconhecendo a possibilidade de ter existido algum dia um homem chamado Hermes
Trismegisto, provou que o <i>Corpus Hermeticum</i> não poderia ter
sido escrito por ele, e lançou a suspeita de que esta obra, ou parte dela,
tenha sido forjada pelos cristãos. Mas esta descoberta demorou a ser aceita, e
a crença na sua antigüidade perdurou até o século seguinte.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="font-size: x-small;"><span style="line-height: 150%;">Autor: </span><span style="line-height: 24px;">http://serpenteverde.blogspot.com.br/</span></span><br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--><span style="font-size: small;"><span style="line-height: 150%;"><o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br />
<b>Fontes:</b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><b><br /></b>
Encyclopaedia Universalis, Éditeur À Paris, 1990<br />
Frances Yates, “Giordano Bruno e a Tradição Hermética”, Cultrix, 1987<br />
Mircéa Eliade, Hist. das Crenças e Idéias Religiosas, Tomo II, vol. 2, § 209<o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-40892116087152201792014-06-22T21:56:00.002-03:002014-06-22T22:06:26.650-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRyne2K_pWL2TG7JYCpeoq3W-HY7QUy-MqoTVe5eLBbHiDXAM07Prevj9I1Hlqm15_S-1dNr2DIxensUx8YmL4Z5EwkPxWdK-ISeKikRS6YOQI5W7JIXZk_kP9eQTr_rV7LLFS_OI8loc/s1600/XIRE.jpg" imageanchor="1" style="background-color: black; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiRyne2K_pWL2TG7JYCpeoq3W-HY7QUy-MqoTVe5eLBbHiDXAM07Prevj9I1Hlqm15_S-1dNr2DIxensUx8YmL4Z5EwkPxWdK-ISeKikRS6YOQI5W7JIXZk_kP9eQTr_rV7LLFS_OI8loc/s1600/XIRE.jpg" height="212" width="320" /></a></div>
<h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="color: white; font-family: Trebuchet, 'Trebuchet MS', Arial, sans-serif; font-size: 17px; font-weight: normal; line-height: 1.4em; margin: 0.25em 0px 0px; padding: 0px 0px 4px; position: relative; text-align: center;">
<span style="background-color: black; line-height: 1.4em;">A Tradição Oral e sua Metodologia</span></h3>
<div>
<div style="text-align: right;">
<span style="background-color: black; line-height: 1.4em;"><span style="color: white;">por J. Vansina</span>.</span></div>
</div>
<h3 class="post-title entry-title" itemprop="name" style="font-family: Trebuchet, 'Trebuchet MS', Arial, sans-serif; font-size: 17px; font-weight: normal; line-height: 1.4em; margin: 0.25em 0px 0px; padding: 0px 0px 4px;">
<div>
<span style="color: white;"><em><span style="background-color: black;">Neste artigo, uma análise completa de como utilizar o expediente da História Oral </span><span style="background-color: black;">no caso da História e da Cultura Africana in História Geral da África. São Paulo; Ática, 1981 volume 1</span></em><br /><br /><span style="background-color: black;">As civilizações africanas, no Saara e ao sul do deserto, eram em grande parte civilizações da palavra falada, mesmo onde existia a escrita, como na África ocidental a partir do século XVI, pois muito poucas pessoas sabiam escrever, ficando a escrita muitas vezes relegada a um plano secundário em relação às preocupações essenciais da sociedade. Seria um erro reduzir a civilização da palavra falada simplesmente a uma negativa, "ausência do escrever", e perpetuar o desdém inato dos letrados pelos iletrados, que encontramos em tantos ditados, como no provérbio chinês: "A tinta mais fraca é preferível à mais forte palavra". Isso demonstraria uma total ignorância da natureza dessas civilizações orais. Como disse um estudante iniciado em uma tradição esotérica: "O poder da palavra é terrível. Ela nos une, e a revelação do segredo nos destrói" (através da destruição da identidade da sociedade, pois a palavra destrói o segredo comum).</span><br /><span style="background-color: black;">A civilização oral</span><br /><span style="background-color: black;">Um estudioso que trabalha com tradições orais deve compenetrar-se da atitude de uma civilização oral em relação ao discurso, atitude essa, totalmente diferente da de uma civilização onde a escrita registrou todas as mensagens importantes. Uma sociedade oral reconhece a fala não apenas como um meio de comunicação diária, mas também como um meio de preservação da sabedoria dos ancestrais, venerada no que poderíamos chamar elocuções-chave, Isto é, a tradição oral. A tradição pode ser definida, de fato, como um testemunho transmitido verbalmente de uma geração para outra. Quase em toda parte, a palavra tem um poder misterioso, pois palavras criam coisas. Isso, pelo menos, é o que prevalece na maioria das civilizações africanas. Os Dogon sem dúvida expressaram esse nominalismo da forma mais evidente; nos rituais constatamos em toda parte que o nome é a coisa, e que "dizer" é "fazer".</span><br /><span style="background-color: black;">A oralidade é uma atitude diante da realidade e não a ausência de uma habilidade. As tradições desconcertam o historiador contemporâneo - imerso em tão grande número de evidências escritas, vendo-se obrigado, por isso, a desenvolver técnicas de leitura rápida - pelo simples fato de bastar à compreensão a repetição dos mesmos dados em diversas mensagens. As tradições requerem um retorno contínuo à fonte. Fu Kiau, do Zaire, diz, com razão, que é ingenuidade ler um texto oral uma ou duas vezes e supor que já o compreendemos. Ele deve ser escutado, decorado, digerido internamente, como um poema, e cuidadosamente examinado para que se possam apreender seus muitos significados - ao menos no caso de se tratar de uma elocução importante. O historiador deve, portanto, aprender a trabalhar mais lentamente, é refletir, para embrenhar-se numa representação coletiva, já que o corpus da tradição é a memória coletiva de uma sociedade que se explica a si mesma. Muitos estudiosos africanos, como Amadou Hampâté-Ba ou Boubou Hama, muito eloqüentemente têm expressado esse mesmo raciocínio. O historiador deve iniciar-se, primeiramente, nos modos de pensar da sociedade oral, antes de interpretar suas tradições.</span><br /><span style="background-color: black;">A natureza da tradição oral</span><br /><span style="background-color: black;">A tradição oral foi definida como um testemunho transmitido oralmente de uma geração à outra. Suas características particulares são o verbalismo e sua maneira de transmissão, na qual difere das fontes escritas. Devido à sua complexidade, não é fácil encontrar uma definição para tradição oral que dê conta de todos os seus aspectos. Um documento escrito é um objeto: um manuscrito. Mas um documento oral pode ser definido de diversas maneiras, pois um indivíduo pode interromper seu testemunho, corrigir-se, recomeçar, etc. Uma definição um pouco arbitrária de um testemunho poderia, portanto, ser: todas as declarações feitas por uma pessoa sobre uma mesma seqüência de acontecimentos passados, contanto que a pessoa não tenha adquirido novas informações entre as diversas declarações. Porque, nesse último caso, a transmissão seria alterada e estaríamos diante de uma nova tradição.</span><br /><span style="background-color: black;">Algumas pessoas, em particular especialistas como os griots, conhecem tradições relativas a toda uma série de diferentes eventos. Houve casos de uma pessoa recitar duas tradições diferentes para relatar o mesmo processo histórico. Informantes de Ruanda relataram duas versões de uma tradição sobre os Tutsi e os Hutu: uma, segundo a qual, o primeiro Tutsi caiu do céu e encontrou o Hutu na terra; e outra, segundo a qual Tutsi e Hutu eram irmãos. Duas tradições completamente diferentes, um mesmo informante e um mesmo assunto! É por isso que se inclui "uma mesma seqüência de acontecimentos" na definição de um testemunho. Enfim, todos conhecem o caso do informante local que conta uma história compósita, elaborada a partir das diferentes tradições que ele conhece.</span><br /><span style="background-color: black;">Uma tradição é uma mensagem transmitida de uma geração para a seguinte. Mas nem toda informação verbal é uma tradição. Inicialmente, distinguimos o testemunho ocular, que é de grande valor, por se tratar de uma fonte "imediata", não transmitida, de modo que os riscos de distorção do conteúdo são mínimos. Aliás, toda tradição oral legítima deveria, na realidade, fundar-se no relato de um testemunho ocular. O boato deve ser excluído, pois, embora certamente transmita uma mensagem, é resultado, por definição, do ouvir dizer. Ao fim, ele se toma tão distorcido que só pode ter valor como expressão da reação popular diante de um determinado acontecimento, podendo, no entanto, também dar origem a uma tradição, quando é repetido por gerações posteriores. Resta, por fim, a tradição propriamente dita, que transmite evidências para as gerações futuras.</span><br /><span style="background-color: black;">A origem das tradições pode, portanto, repousar num testemunho ocular, num boato ou numa nova criação baseada em diferentes textos orais existentes, combinados e adaptados para criar uma nova mensagem. Mas somente as tradições baseadas em narrativas de testemunhos oculares são realmente válidas, o que os historiadores do Islã compreenderam muito bem. Desenvolveram uma complicada técnica para determinar o valor dos diferentes Hadiths, ou tradições que se pretendiam palavras do Profeta, recolhidas por seus companheiros. Com o tempo, o número de Hadiths tomou-se muito grande, e foi necessário eliminar aqueles para os quais a cadeia de informantes (lsnad) que ligava o erudito que as havia registrado por escrito a um dos companheiros do Profeta não podia ser estabelecida. Para cada ligação, o cronista islâmico determinava critérios de probabilidade e credibilidade idênticos aos empregados na crítica histórica atual. Poderia a testemunha intermediária conhecer a tradição? Poderia compreendê-la? Era seu interesse distorcê-la? Poderia tê-la transmitido? E, se fosse o caso, quando, como e onde?</span><br /><span style="background-color: black;">Notaremos que a definição de tradições apresentada aqui não implica nenhuma limitação, a não ser o verbalismo e a transmissão oral. Inclui, por- tanto, não apenas depoimentos como as crônicas orais de um reino ou as genealogias de uma sociedade segmentária, que conscientemente pretenderam descrever acontecimentos passados, mas também toda uma literatura oral que fornecerá detalhes sobre o passado, muito valiosos por se tratar de testemunhos inconscientes, e, além do mais, fonte importante para a história das idéias, dos valores e da habilidade oral.</span><br /><span style="background-color: black;">As tradições são também obras literárias e deveriam ser estudadas como tal, assim como é necessário estudar o meio social que as cria e transmite e a visão de mundo que sustenta o conteúdo de qualquer expressão de uma determinada cultura. f:. por isso que nas seções seguintes trataremos respectivamente da crítica literária e da questão do ambiente social e cultural, antes de passarmos ao problema cronológico e à avaliação geral das tradições.</span><br /><span style="background-color: black;">A tradição como obra literária</span><br /><span style="background-color: black;">Numa sociedade oral, a maioria das obras literárias são tradições, e todas as tradições conscientes são elocuções orais. Como em todas elocuções, a forma e os critérios literários influenciam o conteúdo da mensagem. Essa é a principal razão das tradições serem colocadas no quadro geral de um estudo de estruturas literárias e serem avaliadas criticamente como tal.</span><br /><span style="background-color: black;">Um primeiro problema é o da forma da mensagem. Há quatro formas básicas, resultantes de uma combinação prática de dois conjuntos de princípios. Em alguns casos, as palavras são decoradas, em outros, a escolha é entregue ao artista. Em alguns casos, uma série de regras formais especiais são sobrepostas à gramática da língua comum, em outros, não existe tal sistema de convenções.</span><br /><br /><br /><a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyw-EPXLUMmpRcHcetjIwwEK_BUQKOTsErlVEo6BQahZhrc7GlwDebpxIpCtUpB-EN8WKkdIEp1NkkQ5tuhryh-Iul_TOfW9rHsgduDiwifcKBi916j9CPArUwdDbeo966Zgj3r5KRFvg/s1600-h/tab.bmp" style="background-color: black; text-decoration: none;"><img alt="" border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhyw-EPXLUMmpRcHcetjIwwEK_BUQKOTsErlVEo6BQahZhrc7GlwDebpxIpCtUpB-EN8WKkdIEp1NkkQ5tuhryh-Iul_TOfW9rHsgduDiwifcKBi916j9CPArUwdDbeo966Zgj3r5KRFvg/s400/tab.bmp" id="BLOGGER_PHOTO_ID_5179548950812859858" style="border: 1px solid rgb(204, 204, 204); display: block; margin: 0px auto 10px; padding: 4px; text-align: center;" /></a><br /><br /><span style="background-color: black;">O termo "poema" é apenas um rótulo para todo o material decorado e dotado de uma estrutura específica, incluindo canções. O termo "fórmula" é um rótulo que freqüentemente inclui provérbios, charadas, orações, genealogias, isto é, tudo que é decorado, mas que não está sujeito a regras de composição, a não ser às da gramática corrente. Em ambos os casos, as tradições compreendem não só a mensagem, mas também as próprias palavras que lhe servem de veículo. Teoricamente, portanto, um arquétipo original pode ser reconstruído, exatamente como no caso das fontes escritas. Podem-se construir argumentos históricos sobre as palavras e não apenas sobre o sentido geral da mensagem. Todavia, acontece muitas vezes com as fórmulas, e menos com os poemas, ser impossível reconstruir arquétipos devido ao grande número de interpolações. Por exemplo, quando se reconhece que o lema de um clã é o produto de uma série de empréstimos de outros lemas, sem que se possa identificar aquilo que constituía o enunciado original e específico. Pode-se muito bem compreender por que as fórmulas se prestam tão facilmente à interpolação. Na realidade, não existe nenhuma regra formal que impeça esse processo.</span><br /><span style="background-color: black;">As fontes fixas são, em princípio, as mais valiosas, pois sua transmissão é mais precisa. Na prática, raras são as que têm o propósito consciente de transmitir informações históricas. Além disso, é nesse caso que encontramos arcaísmos por vezes inexplicados. Nas línguas bantu, seu significado pode ser descoberto, pois é grande a probabilidade de uma língua vizinha. ter conservado uma palavra com a mesma raiz que o arcaísmo em questão. Em outros casos, devemos nos conformar com o comentário do informante, que pode repetir um comentário tradicional ou... inventá-lo. Infelizmente, esse tipo de registro oral vem carregado de alusões poéticas, imagens ocultas, jogo de palavras com múltiplos significados. Não só é impossível compreender qualquer coisa dessa elocução "hermética" sem um comentário, mas também, muitas vezes, só o autor conhece todos os aspectos do seu significado. Mas ele não transmite tudo no comentário explicativo, de qualidade variável, que acompanha a transmissão do poema. Essa peculiaridade é bastante comum, especialmente no que se. refere aos poemas ou canções panegíricos da África meridional (Tsuana, Sotho), oriental (a região lacustre), central (Luba, Congo) ou ocidental (Ijo).</span><br /><span style="background-color: black;">A denominação "epopéia" significa que o artista pode escolher próprias palavras dentro de um conjunto estabelecido de regras formais, como as rimas, os padrões tonais, o número de sílabas, etc. Esse caso específico não deve ser confundido com as peças literárias longas, de estilo heróico, como as narrativas de Sundiata, Mwindo (Zaire) e muitas outras. No gênero de que tratamos, a tradição inclui a mensagem e a estrutura formal, nada mais. Muitas vezes, entretanto, encontramos versos característicos, que, servem para preencher espaço ou que simplesmente lembram ao artista o quadro ou a estrutura formal. Alguns desses versos provavelmente datam da criação da epopéia. Tais "epopéias" existem na África? Acreditamos que sim e que algumas formas poéticas, de Ruanda especialmente, assim como as canções-fábulas dos Fang (Camarões-Gabão), pertencem a essa categoria. Devemos notar que não se pode reconstruir um verdadeiro arquétipo para esses poemas épicos porque a escolha das palavras é deixada ao artista. Todavia, é preciso salientar que os requisitos da forma são tais que, provavelmente, todas as versões de uma "epopéia" baseiam-se num único original, o que freqüentemente é demonstrado pelo estudo das variantes.</span><br /><span style="background-color: black;">A última categoria é a das "narrativas", que compreendem a maioria das mensagens históricas conscientes. Nesse caso, a liberdade deixada ao artista permite numerosas combinações, muitas remodelações, reajustes dos episódios, ampliação das descrições, desenvolvimentos, etc. Torna-se, então, difícil reconstruir um arquétipo. O artista é completamente livre, mas somente do ponto de vista literário: o seu meio social pode, às vezes, impor-lhe uma fidelidade rígida às fontes. Apesar dessas dificuldades, é possível descobrir a origem híbrida de uma tradição, pela coleta de todas as suas variantes, inclusive das que não são consideradas históricas, e recorrendo-se às variantes originárias dos povos vizinhos. Assim, pode-se, por vezes, passar imperceptivelmente do mundo da história para o país das maravilhas; por outro lado, eliminam-se as versões orais que não são baseadas em narrativas de testemunho ocular. Essa abordagem crítica é essencial.</span><br /><span style="background-color: black;">Toda literatura oral tem sua própria divisão em gêneros literários. O historiador não só tentará apreender o significado desses gêneros para a cultura que está estudando, mas também colherá ao menos uma amostra representativa de cada um, pois em todos eles pode-se esperar encontrar informações históricas, além do que, as tradições que o interessam particularmente são mais fáceis de se compreender quando analisadas no contexto geral. Já a própria classificação interna fornece indicações valiosas. Assim, podemos descobrir se os transmissores de uma obra literária fazem distinção, por exemplo, entre as narrativas históricas e as de outros tipos.</span><br /><span style="background-color: black;">Os gêneros literários também estão sujeitos a convenções literárias, cujo conhecimento é fundamental para se compreender o verdadeiro sentido da obra. A questão nesse caso não é mais de regras formais, mas de escolha de termos, expressões, prefixos pouco usuais, vários tipos de licença poética. Uma atenção maior deve ser dada às palavras ou expressões que possuem múltiplas reverberações. Além disso, os termos-chave, intimamente ligados à estrutura social, à concepção do mundo, e praticamente intraduzíveis, exigem que se faça uma interpretação à luz do contexto literário no qual aparecem.</span><br /><span style="background-color: black;">É impossível coligir tudo. O historiador vê-se obrigado, portanto, a levar em consideração requisitos práticos e deverá se dar por satisfeito uma vez obtida uma amostra representativa de cada gênero literário.</span><br /><span style="background-color: black;">Somente através da catalogação dos vários tipos de narrativa pertencentes ao grupo étnico em estudo, ou a outros grupos, é possível discernir não só imagens ou expressões favoritas, mas também os episódios estereotipados, Como nas narrativas que se poderia classificar como "lendas migratórias" (Wandersagen). Por exemplo, uma narrativa luba das margens do lago Tanganica conta como um chefe livrou-se de outro, convidando-o a sentar-se num tapete sob o qual havia sido cavado um poço contendo estacas com pontas afiadas. O chefe sentou-se e morreu. O mesmo quadro pode ser encontrado dos grandes lagos até o oceano, e também entre os Peul do Liptako (Alto Volta), os Haussa (Nigéria) e os Mossi de Yatenga (Alto Volta). A importância desses episódios-clichês é óbvia. Infelizmente, não possuímos nenhum livro de referências útil que trate deles, embora H. Baumann mencione muitos temas-clichês que ocorrem em narrativas sobre as origens de diversos povos 1. Já é tempo de se estabelecerem catálogos práticos para a pesquisa desses estereótipos. Os chamados índices de motivos populares (Folk Motiv Index) são de difícil manuseio, e confusos, pois se baseiam em características de menor importância, escolhidas arbitrariamente, enquanto, nas narrativas africanas, o episódio representa uma unidade natural em um catálogo.</span><br /><span style="background-color: black;">Uma vez encontrado um clichê. desse tipo, não é correto rejeitar toda a tradição, ou mesmo a parte que contém essa seqüência de eventos, como destituída de valor. Devemos, sim, explicar por que o clichê foi utilizado. No caso mencionado, ele simplesmente explica que um chefe elimina outro e acrescenta uma descrição de como isso foi feito, que é fictícia mas agrada aos ouvintes. Com mais freqüência, perceberemos que esse tipo de clichê constrói explicações e comentários para dados que podem ser perfeitamente legítimos.</span><br /><span style="background-color: black;">A crítica literária levará em consideração não apenas os significados literal e pretendido de uma tradição, mas também as restrições impostas, para a expressão da mensagem, por requisitos formais e estilísticos. Avaliará o efeito da distorção estética, muito freqüente. Afinal, mesmo as mensagens do passado não devem ser enfadonhas demais! É neste ponto que a observação das representações sociais relativas à tradição é de fundamental importância. Dizemos representação em lugar de reprodução, porque na maioria dos casos está em jogo um elemento estético. Se os critérios estéticos prevalecerem sobre a fidelidade da reprodução, ocorrerá uma forte distorção estética, refletindo o gosto do público e a arte da pessoa que transmite a tradição. Mesmo em outros casos, encontramos arranjos de textos que chegam a vestir as tradições de conteúdo histórico específico com o uniforme dos padrões artísticos correntes. Por exemplo, nas narrativas, uma série de episódios que levam a um clímax formam a trama principal, enquanto outros constituem repetições paralelas sofisticadas e outros, ainda, representam apenas transições de uma etapa da narrativa para outra. Como regra geral, pode-se admitir que, quanto mais uma narrativa se conforma ao modelo-padrão de excelência e quanto mais é admirada pelo público, mais é distorcida. Numa série de variantes, pode-se, às vezes, discernir a variante correta pelo fato de ir contra esses padrões, assim como uma variante que contradiz a função social de uma tradição tem mais probabilidade de ser verdadeira que as outras. Não devemos esquecer, entretanto, que nem todos os artistas da palavra são excelentes. Há os de pouco talento, e suas variantes serão sempre sofríveis. Mas a atitude do púbico, como o cenário de uma representação, não é exclusivamente um fato artístico. É acima de tudo um fato social, e isso nos obriga a considerar a tradição em seu meio social.</span><br /><span style="background-color: black;">Contexto social da tradição</span><br /><span style="background-color: black;">Tudo que uma sociedade considera importante para o perfeito funcionamento de suas instituições, para uma correta compreensão dos vários status sociais e seus respectivos papéis, para os direitos e obrigações de cada um, tudo é cuidadosamente transmitido. Numa sociedade oral isso é feito pela tradição, enquanto numa sociedade que adota a escrita, somente as memórias menos importantes são deixadas à tradição. É esse fato que levou durante muito tempo os historiadores, que vinham de sociedades letradas, a acreditar erroneamente que as tradições eram um tipo de conto de fadas, canção de ninar ou brincadeira de criança.</span><br /><span style="background-color: black;">Toda instituição social, e também todo grupo social, têm uma identidade própria que traz consigo um passado inscrito nas representações coletivas de uma tradição que o explica e o justifica. Por isso, toda tradição terá sua "superfície social", utilizando a expressão empregada por H. Moniot. Sem superfície social, a tradição não seria mais transmitida e, sem função, perderia a razão de existência e seria abandonada pela instituição que a sustenta.</span><br /><span style="background-color: black;">Poderíamos ser tentados a seguir alguns estudiosos que acreditavam poder dizer a priori qual a natureza ou perfil do corpus de tradições históricas de uma determinada sociedade, a partir da classificação das coletividades em tipos como "Estados", "sociedades sem Estado", etc. Embora seja verdade que as diversas sociedades africanas possam ser, grosso modo, classificadas de acordo com tais modelos, é fácil demonstrar que essas tipologias podem se estender ao infinito, pois cada sociedade é diferente, e os critérios utilizados são arbitrários e limitados. Não existem dois Estados idênticos ou mesmo semelhantes nos detalhes. Há imensas diferenças entre as linhas-mestras da organização das sociedades Massai (Quênia- Tanzânia), Embu (Quênia), Meru (Quênia) e Galla (Quênia- Etiópia), embora todas elas possam ser classificadas como sociedades baseadas em classes etárias e estejam situadas na mesma região da África. Se se desejasse examinar um caso de uma sociedade dita simples, sem Estado, composta de pequenos grupos estruturados por múltiplas linhagens, poder-se-ia pensar que os Gouro (Costa do Marfim) constituíssem bom exemplo. Esperando encontrar um perfil de tradições contendo somente histórias de linhagens e genealogias - e realmente o encontramos -, deparamo-nos também com uma história esotérica transmitida por uma sociedade secreta. Tomemos o caso dos Tonga do Zâmbia: encontramos novamente a história da linhagem, mas também histórias de centros rituais animados pelos fazedores de chuva. Não há uma única sociedade desse tipo que não apresente uma instituição importante "inesperada". Entre os Estados, o caso extremo é, certamente, o do reino dos Bateke (Tio), em que a tradição real. não remonta a mais do que duas gerações, embora os reinos devam ter tradições muito antigas. Podemos ir mais longe no tempo coligindo as tradições, dos símbolos mágicos dos nobres do que seguindo as tradições relativas ao símbolo real! Generalizações apressadas sobre o valor das tradições seriam absolutamente despropositadas. O perfil de um determinado corpus de tradições só pode ser determinado a posteriori.</span><br /><span style="background-color: black;">É evidente que as funções preenchidas pelas tradições tendem a distorce-las. É impossível estabelecer uma lista completa dessas. funções, em parte porque uma tradição pode assumir diversas funções e pode desempenhar um papel mais ou menos preciso ou difuso em relação a elas. Mas principalmente porque a palavra "função" é por si só confusa. É utilizada com freqüência para descrever tudo o que serve para fortalecer ou manter a instituição da qual depende. Como a relação não é tangível, a imaginação pode produzir uma lista infinita de funções "a preencher", não sendo possível nenhuma escolha. Entretanto, não é difícil distinguir certos propósitos precisos, manifestos ou latentes, assumidos por algumas tradições. Há, por exemplo, as "cartas míticas", as histórias das dinastias, genealogias, listas de reis, que podem ser consideradas como verdadeiras constituições não-escritas. Podemos ampliar essa categoria pela inclusão de todas as tradições que tratam dos assuntos públicos legais, por exemplo, as que mantêm os direitos públicos sobre a propriedade. Trata-se, geralmente, de tradições oficiais, uma vez que aspiram a uma legitimidade universal para a sociedade. As tradições particulares, associadas a grupos ou instituições incorporados a outros grupos, não serão tão bem conservadas, pois têm menor importância, embora, em geral, estejam mais próximas da verdade que as demais tradições. Todavia, convém destacar que as tradições particulares são oficiais para o grupo que as transmite. Assim, uma história de família é particular em comparação à história de todo um Estado, e o que ela diz sobre o Estado está menos sujeito a controle do Estado que uma tradição pública oficial. Mas dentro da própria família, a tradição particular torna-se oficial. Em tudo o que diz respeito à família, ela deve, portanto, ser tratada como. tal. Compreende-se, assim, por que é tão importante utilizar histórias familiares ou locais para esclarecer questões de história política geral. Seu testemunho está menos sujeito a distorção e pode oferecer uma verificação efetiva das asserções feitas pelas tradições oficiais. Por outro lado, como dizem respeito somente a subgrupos, a profundidade e o cuidado com que são transmitidas são, de modo geral, pouco satisfatórios, como atestam as inúmeras variantes.</span><br /><span style="background-color: black;">Entre outras funções comuns, podemos mencionar sucintamente a religiosa e a litúrgica (como realizar um ritual), as funções jurídicas particulares (precedentes), as estéticas, didáticas e históricas, a função do comentário de um registro oral esotérico e a que os antropólogos chamam de função mítica. As funções e o gênero literário considerados em conjunto podem constituir para o historiador uma tipologia válida, que lhe permitirá fazer uma avaliação geral das prováveis distorções que suas fontes podem ter sofrido, fornecendo-lhe indicações relativas à transmissão. Para tomar apenas os tipos que são obtidos por esse processo de seleção, podemos distinguir os nomes, os títulos, os slogans ou lemas, fórmulas rituais, fórmulas didáticas (provérbios), listas de topônimos, de antropônimos, genealogias, etc. Do ponto de vista da forma básica, podemos classificar todos esses casos como "fórmulas". Poemas históricos, panegíricos, litúrgicos ou cerimoniais, religiosos, pessoais (líricos e outros), canções de todos os tipos (canções de ninar, de trabalho, caça e canoagem, etc.) são "poemas", também do mesmo ponto de vista. A "epopéia" como forma básica é representada por certos poemas que não correspondem ao que o termo normalmente conota. Por último, a "narrativa" inclui a narrativa geral, histórica ou outras, narrativas locais, familiares, épicas, etiológicas, estéticas e memórias pessoais. Devemos também incluir aqui precedentes legais que raramente são transmitidos pela tradição oral, comentários sobre registros orais e as notas ocasionais, que são essencialmente respostas curtas a perguntas do tipo: "Como começamos a cultivar milho?", "De onde veio a máscara de dança?", etc.</span><br /><span style="background-color: black;">Dessa lista pode-se imediatamente observar o que pode ser a ação deformadora de uma instituição em cada um desses tipos. Mas ainda é preciso demonstrar que essa ação realmente ocorreu ou que a probabilidade de distorção é muito grande. Geralmente, é possível mostrar que uma tradição é válida porque não sofreu as distorções esperadas. Por exemplo, um povo diz que é "mais novo" que outro, uma crônica real admite uma derrota, uma fórmula particular que deveria explicar a geografia física e humana de um país não se conforma mais à realidade. Em todos esses casos a análise comprova a validade da tradição, pois esta resistiu ao processo nivelador.</span><br /><span style="background-color: black;">Em seu trabalho sobre o fenômeno da escrita (capacidade de ler e escrever), Goody e Watt afirmam que uma sociedade oral tende, constante e automaticamente, à homeostase, que apaga da memória coletiva - daí a expressão "amnésia estrutural" - qualquer contradição entre a tradição e sua superfície social. Mas os casos mencionados acima mostram que essa homeostase é só parcial. Não se pode negar, portanto, o valor histórico das tradições unicamente por desempenharem certas funções. Segue-se, ainda, que cada tradição deve ser submetida a estrita crítica sociológica. No mesmo trabalho, esses autores afirmam que a cultura de uma sociedade verbal é homogeneizada, isto é, que o conteúdo, em termos de conhecimento, do cérebro de cada adulto é aproximadamente o mesmo. Isso não é totalmente verdadeiro. Especialistas artesãos, políticos, legistas e religiosos sabem muitas coisas que seus contemporâneos do mesmo grupo étnico desconhecem. Cada grupo étnico tem seus pensadores. Entre os Kuba (Zaire), por exemplo, encontramos três homens que, com base num mesmo sistema de símbolos, haviam estabelecido três filosofias diferentes, e supomos que o mesmo se dá entre os Dogon. Quanto às tradições, observamos que em muitos grupos há tradições esotéricas secretas, que são privilégio de um grupo restrito, e tradições exotéricas públicas. Por exemplo, a família real ashanti sabia a história secreta de sua origem, enquanto o grande público conhecia somente a versão oficial. Em Ruanda, somente os especialistas biiru conheciam os rituais da realeza, e, mesmo assim, eles só os conheciam na sua totalidade quando estavam todos juntos, já que cada grupo de biiru tinha conhecimento apenas de uma parte deles. Em quase todos os rituais de entronização na Africa encontramos práticas e tradições secretas. Isso significaria que a tradição esotérica é necessariamente mais acurada que a tradição exotérica? Depende do contexto. Afinal, as tradições esotéricas também podem ser distorcidas por razões imperativas, que serão ainda mais imperativas se o colégio que possui o segredo foi um grupo-chave da sociedade. Devemos ressaltar que, empiricamente, conhecemos até agora muito poucas tradições esotéricas, e porque a antiga ordem em que têm suas raÍzes não desapareceu por completo. As que conhecemos provêm de sociedades que têm sofrido importantes transformações, e muitas tradições sem dúvida desaparecerão sem deixar registro. Todavia, a partir de fragmentos que possuímos, podemos afirmar que certas tradições ogboni da nação Ioruba têm sido tão distorcidas que não mais constituem mensagens válidas no que diz respeito às origens do ogboni, enquanto as tradições biiru, por exemplo, parecem ter maior validade. Isso se deve não ao caráter esotérico, mas ao propósito dessas tradições: as primeiras legitimam um poder forte detido por um pequeno grupo de homens, enquanto as segundas são apenas a memorização de um ritual prático.</span><br /><span style="background-color: black;">Cada tradição tem sua própria superfície social. Para encontrar as tradições e analisar a qualidade de sua transmissão, o historiador deve, portanto, conhecer, o mais detalhadamente possível, o tipo de sociedade que está estudando. Deve examinar todas as suas instituições para isolar as tradições, e também esmiuçar todos os gêneros literários para obter informações históricas. É o grupo dirigente de uma sociedade que retém a posse das tradições oficiais, e sua transmissão é geralmente realizada por especialistas, que utilizam meios mnemotécnicos (geralmente canções) para reter os textos. Às vezes há o controle de colegas em ensaios privados ou na representação pública associada a uma cerimônia importante. Os especialistas, entretanto, nem sempre estão ligados ao poder. É o caso dos genealogistas, dos tamborileiros de chefes ou de reis, dos guardas de túmulos 2 e dos pregadores de religiões nacionais. Mas há também especialistas em outros níveis. Entre os Xhosa (África do Sul), há mulheres especializadas na arte de representar histórias engraçadas, ntsomi. Há também outros que sabem fazê-lo, mas não se especializam nisso. Estes geralmente tomam parte em espetáculos populares. Alguns celebrantes de ritos religiosos também são especialistas em tradições orais: os guardas dos mhondoro shona (Zimbabwe) conhecem a história dos espíritos confiados à sua guarda. Alguns, como os griots, são trovadores que reúnem tradições em todos os níveis e representam os textos convencionados, diante de uma audiência apropriada, em certas ocasiões - casamento, morte, festa na residência de um chefe, etc. É raro não haver especialização, mesmo no nível da história da terra ou da família. Sempre há indivíduos socialmente superiores (os abashinga ntabe do Burundi para questões de terra, por exemplo) ou de maior aptidão encarregados da memorização e transmissão das tradições. Enfim, uma última categoria de pessoas bem-informadas (para as quais dificilmente podemos aplicar o termo especialista) é constituída por indivíduos que vivem perto de lugares históricos importantes. Nesse caso, o fato de se viver exatamente no local, por exemplo, onde uma batalha foi travada, atua como meio mnemotécnico no registro da tradição.</span><br /><span style="background-color: black;">Um exame da "superfície social" torna possível, portanto, descobrir tradições existentes, colocá-las em seu contexto, achar especialistas responsáveis por elas e estudar as transmissões. Esse exame também toma possível descobrir indicações valiosas sobre a freqüência e a forma das próprias representações. A freqüência é um indicador da fidelidade da transmissão. Entre os Dogon (Mali), o ritual do Sigi é transmitido somente uma vez a cada sessenta anos aproximadamente. Isso favorece o esquecimento; são muito raros os que já viram dois Sigi e apreenderam o suficiente na primeira representação para serem capazes de dirigir a segunda. Somente as pessoas com 75 anos, pelo menos, podem fazê-lo. Podemos supor que o conteúdo do Sigi e a informação fornecida variarão mais radicalmente que uma forma de tradição como a de um festival no sul da Nigéria que é repetido todo ano. Mas, por outro lado, uma freqüência elevada de representações não significa necessariamente uma fidelidade acentuada na transmissão. Isso vai depender da sociedade em questão. Se a sociedade necessita de uma fidelidade estrita, a freqüência ajudará a mantê-la. E o caso das fórmulas mágicas, como, por exemplo, certas fórmulas para exorcizar a bruxaria. Explica-se, assim, porque algumas fórmulas mboon (Zaire) para fazer parar a chuva situam-se num contexto geográfico tão arcaico que nenhum dos elementos mencionados pode ser encontrado na região Mboon atual. Por outro lado, se a sociedade não atribui nenhuma importância à fidelidade da transmissão, a grande freqüência da representação altera a transmissão mais rapidamente do que uma freqüência menor. Temos, por exemplo, o caso das canções à moda e especialmente das narrativas populares mais apreciadas. Tudo isso pode e, de fato, deve ser verificado pelo estudo das variantes coletadas. Seu número é um reflexo direto da fidelidade da transmissão.</span><br /><span style="background-color: black;">Ao que parece, as alterações tendem invariavelmente a aumentar a homeostase entre a instituição e a tradição que a acompanha; nesse ponto Goody e Watt têm certa razão. Se as variantes existem e mostram uma tendência bem definida, podemos deduzir que as menos conformistas em relação aos objetivos e funções da instituição são as mais válidas. Além disso, é possível, por vezes, mostrar que uma tradição não é válida, seja em caso de ausência de variantes, quando a tradição tornou-se um clichê do tipo: "Viemos todos de X", X correspondendo perfeitamente às necessidades da sociedade; seja quando, como na narrativa popular, as variantes são tão divergentes que é quase impossível reconhecer o que constitui uma tradição e a separa das outras. Nesse caso, torna-se evidente que a maioria das versões são elaborações mais ou menos recentes, que têm por base outras narrativas populares. Nesses dois casos extremos, entretanto, é preciso poder demonstrar que a ausência de variantes realmente corresponde a uma forte motivação da sociedade, assim como a proliferação de variantes corresponde a considerações estéticas ou a uma necessidade de divertimento que suplanta qualquer outra consideração. Ou, então, deve-se poder demonstrar que os postulados inconscientes da civilização homogeneizaram a tradição de maneira tal que esta se tornou um clichê sem variantes. E precisamente essa influência da civilização que deve ser examinada agora, feita a crítica sociológica.</span><br /><span style="background-color: black;">Estrutura mental da tradição</span><br /><span style="background-color: black;">Por estrutura mental entendemos as representações coletivas inconscientes de uma civilização, que influenciam todas as suas formas de expressão e ao mesmo tempo constituem sua concepção do mundo. Essa estrutura mental varia de uma sociedade para outra. A nível superficial, é relativamente fácil descobrir parte dessa estrutura, através da aplicação de técnicas clássicas da crítica literária ao conteúdo de todo o corpus de tradições e da comparação desse corpus com outras manifestações, sobretudo as simbólicas, da civilização. A tradição sempre idealiza; especialmente no caso de poemas e narrativas. Ela cria estereótipos populares. Toda história tende a tornar-se paradigmática e, conseqüentemente, mítica, seja o seu conteúdo "verdadeiro" ou não. Assim, encontramos modelos de comportamentos ideais e de valores. Nas tradições de reis, os personagens tomam-se estereotipados, como num western, e, portanto, facilmente identificáveis. Um rei é o "mágico", um outro governante é o "justo", outra pessoa é o "guerreiro". Mas isso distorce a informação; algumas guerras, por exemplo, são atribuídas ao rei guerreiro, quando as campanhas foram de fato conduzidas por outrem. Além disso, todos os reis possuem, em comum, características que refletem uma noção idealizada da realeza. Também não é difícil encontrar estereótipos de diferentes personagens, especialmente de líderes, em outras sociedades. É o caso do "herói cultural", freqüentemente encontrado, que transforma o caos numa sociedade bem ordenada. A noção estereotipada de caos é, no caso, a descrição de um mundo literalmente às avessas. Encontramos também mais de um estereótipo do herói fundador. Entre os Igala (Nigéria), alguns fundadores são caçadores, outros são descendentes de reis. Os primeiros representam um status adquirido, os últimos, um status hereditário (atribuído). Na tentativa de explicar por que há dois tipos de status, sugeriu-se que o primeiro estereótipo oculta a ascensão ao poder de novos grupos e que os dois estereótipos refletem duas situações históricas bastante diferentes.</span><br /><span style="background-color: black;">Uma explicação verdadeiramente satisfatória deveria, entretanto, revelar o sistema completo de valores e ideais relacionados a status e papéis sociais, que constituem a própria base de toda ação social e de todo sistema global. Isso só foi possível recentemente, quando McGaffey descobriu que os Kongo (Zaire, República Popular do Congo) possuem um sistema estereotipado simples de quatro status ideais - feiticeiro, adivinho, chefe, profeta - que são complementares. É fácil descobrir um valor geral positivo ou negativo: a apreciação da generosidade, a rejeição da inveja como sinal de feitiçaria, ou o papel do destino - são todos valores imediatamente observáveis nas tradições do golfo de Benin e da região interlacustre. Mas os valores são descobertos um por um e não como sistema coerente que compreende todas as representações coletivas, pois valores e ideais descrevem somente as normas para um comportamento ideal ou por vezes cinicamente realista, que devem guiar o comportamento real e os papéis esperados de cada um. Os papéis estão relacionados às posições sociais, e estas às instituições, e o conjunto constitui a sociedade. Teoricamente, portanto, é preciso "desmontar" uma sociedade para encontrar seus modelos de ação, seus ideais e valores. Em geral, o historiador faz isso inconscientemente e de modo superficial. Evita as armadilhas evidentes, mas involuntariamente tende a adotar as premissas impostas pelo sistema como um todo. Não consegue separar suas fontes do meio que as envolve. Falamos por experiência própria, após ter passado dezoito anos tentando detectar relações desse tipo na distorção das tradições de origem kuba (Zaire)!</span><br /><span style="background-color: black;">Entre as representações coletivas que mais influenciam a tradição, notaremos sobretudo uma série de categorias de base que precedem a experiência dos sentidos. São as do tempo, do espaço, da verdade histórica, da causalidade. Há outras de menor importância como, por exemplo, a divisão do espectro em cores. Todo povo divide o tempo em unidades, baseando-se em atividades humanas ligadas à ecologia ou em atividades sociais periódicas (tempo estrutural). As duas formas de tempo são utilizadas em toda parte. O dia é separado da noite; é dividido em partes que correspondem ao trabalho ou refeições, e as atividades são relacionadas com a altura do sol, a voz de certos animais (para dividir as horas da noite), etc. Os meses (lunares), as estações e o ano são geralmente definidos pelo ambiente e as atividades que dele dependem, mas, além disso, deve-se contá-los em unidades de tempo estrutural.. Mesmo nesse caso, a semana é determinada por um ritmo social, como, por exemplo, a periodicidade dos mercados, que também é associada, em muitos casos, a uma periodicidade religiosa.</span><br /><span style="background-color: black;">Períodos mais longos que o ano são contados pela iniciação a um culto, a um grupo de idade, por reinos ou gerações. A história das famílias pode ser estabelecida com base nos nascimentos, que constituem um calendário biológico. Fazem-se referências a acontecimentos excepcionais, como grandes fomes, grandes deflagrações de doença animal, ou epidemias, cometas, pragas de gafanhotos, mas esse calendário de catástrofes é forçosamente vago e irregular. À primeira vista, esse tipo de computação parece ser de pouca utilidade para a cronologia, enquanto os acontecimentos recorrentes parecem possibilitar a conversão da cronologia relativa em cronologia absoluta, uma vez conhecida a freqüência das genealogias, grupos de idade, reinos, etc. Voltaremos a esse assunto posteriormente.</span><br /><span style="background-color: black;">A profundidade temporal máxima alcançada pela memória social depende diretamente da instituição que está ligada à tradição. Cada instituição tem sua própria profundidade temporal. A história da família não remonta à um passado muito distante porque esta conta apenas três gerações, e porque, de modo geral, há pouco interesse em lembrar acontecimentos anteriores. Portanto, as instituições que englobam maior número de pessoas se prestam melhor a nos fazer mergulhar mais fundo no tempo. Isso se verifica para o clã, a linhagem máxima de descendência, o grupo de idade do tipo massai e a realeza. Na savana sudanesa, as tradições dos reinos e impérios de Tecrur, Gana e Mali, retomadas por autores árabes e sudaneses, remontam ao século XI. Às vezes, entretanto, todas as instituições são limitadas pela mesma concepção da profundidade do tempo como, por exemplo, entre os Bateke (República Popular do Congo), onde tudo é remetido à geração do pai ou do avô. Tudo, inclusive a história da família real, é dividido entre par e ímpar, o ímpar pertencendo ao tempo dos "pais", e o par, ao dos "avós".</span><br /><span style="background-color: black;">Esse exemplo mostra que a noção da forma do tempo é muito importante. Na região interlacustre, há casos em que o tempo é visto como um cIclo. Mas, como os ciclos se sucedem, o conceito vai dar numa espiral. Numa outra perspectiva, para as mesmas sociedades, distinguem-se eras, principalmente a era do caos e a era histórica. Para outras, como entre os Bateke, o tempo não é linear: oscila entre gerações alternadas. As conseqüências sobre o modo como se apresentam as tradições são evidentes.</span><br /><span style="background-color: black;">Já não é tão óbvio que a noção de espaço seja de interesse nesse contexto. Mas há uma tendência geral a situar a origem de um povo num lugar ou direção de prestígio: direção "sagrada" ou "profana" de acordo com o pensamento de que o homem evolui do sagrado para o profano ou vice-versa. Cada povo impôs um sistema de direções à sua geografia. São geralmente os rios que dão o eixo das direções cardinais. A maioria das sociedades então fixa a direção de suas aldeias, às vezes de seus campos (Kukuya, República Popular do Congo), segundo esse sistema de eixos, que utilizam também para orientar seus túmulos. As conseqüências são às vezes inesperadas. Um espaço ordenado segundo um único eixo que faz parte do relevo muda com a disposição relativa dos elementos do relevo. Aqui, a jusante é a oeste, ali, a norte; aqui, ir em direção ao cume é ir para leste, ali, para oeste. Não só observamos que as migrações podem vir de direções privilegiadas, como é o caso dos Kuba (Zaire) ou dos Kaguru (Tanzânia), e que a narrativa correspondente é mais uma cosmologia que uma história, como também chegamos a encontrar variações nos pontos de origem dependendo dos acidentes do relevo geográfico. Somente as sociedades que se baseiam nos movimentos do sol para determinar o eixo do espaço podem dar informação exata a respeito dos movimentos migratórios gerais; esses povos infelizmente são uma minoria, exceto talvez na África ocidental, onde a maioria refere-se ao leste como seu lugar de origem.</span><br /><span style="background-color: black;">A noção de causa está implícita em toda tradição oral. Geralmente, é apresentada na forma de causa imediata. e separada para cada fenômeno. Cada coisa tem uma origem, que se situa diretamente no início dos tempos. Pode-se compreender melhor o que é a causalidade examinando-se as causas atribuídas ao mal. Muito freqüentem ente elas têm relação direta com a feitiçaria, os ancestrais, etc., e a relação é imediata. Resulta desse tipo de causalidade que a mudança é percebida sobretudo em alguns campos claramente definidos, como a guerra, sucessão real, etc., em que os estereótipos intervêm. Para terminar, salientamos que esse esboço da noção de causa é muito sumário e deve ser complementado por noções de causa mais complexas mas paralelas a estas e que afetam somente instituições sociais menores.</span><br /><span style="background-color: black;">Quanto à verdade histórica, está sempre estreitamente ligada à fidelidade do registro oral transmitido. Assim, ela pode ser ou o consenso dos governantes (Idoma, Nigéria), ou a constatação de que a tradição está em conformidade com o que disse a geração anterior.</span><br /><span style="background-color: black;">As categorias cognitivas combinam-se e unem-se a expressões simbólicas de valor, para produzir um registro que os antropólogos qualificam de "mito". As tradições mais sujeitas a uma reestruturação mítica são as que descrevem a origem e, conseqüentemente, a essência, a razão de ser de um povo. Assim, um grande número de complexas narrativas kuba, que tratam da origem desse povo e descrevem migrações em canoas, pôde finalmente ser explIcado com a descoberta de um conceito latente de migração: para o povo Kuba, a migração se faz em canoas, da jusante (sagrado) para o montante (profano). Da mesma forma se explicaram nomes de migrações e de regiões de origem apresentados em termos de cosmogonia. Na narrativa kuba a correlação não estava clara, mas em muitos outros grupos étnicos, aparece explicitamente. É assim que muitos etnólogos, seguindo infelizmente o exemplo de Beidelman, estruturalistas ou sociólogos funcionalistas terminaram por negar qualquer valor às tradições narrativas porque, dizem eles, são a expressão das estruturas cognitivas do mundo, que sustentam todo o pensamento a priori, como categorias imperativas. O mesmo julgamento deveria então ser aplicado ao texto que você está lendo ou ao do próprio Beidelman... Obviamente, esses antropólogos exageram. Além disso, muitas de suas interpretações parecem hipotéticas. O historiador deve lembrar que, para cada caso particular, é preciso especificar as razões que se tem para rejeitar ou questionar uma tradição. Só se pode rejeitar uma tradição quando a probabilidade de uma criação de significado puramente simbólico é realmente forte e se possa provar. Pois, em geral, as tradições refletem tanto um "mito", no sentido antropológico do termo, como informações históricas. Nessas circunstâncias, os manuais de história são textos de mitologia, já que todo estereótipo que se origina de um sistema de valores e interesses é não só uma mensagem mítica, mas também um código secreto histórico à espera de decifração.</span><br /><span style="background-color: black;">A cronologia</span><br /><span style="background-color: black;">Sem cronologia, não há história, pois não se pode distinguir o que precede do que sucede. A tradição oral sempre apresenta uma cronologia relativa, expressa em listas ou em gerações. Em geral, essa cronologia permite situar todo o conjunto de tradições da região em estudo no quadro da genealogia ou da lista de reis ou de grupos de idade que abrange a mais ampla área geográfica, mas não permite estabelecer a seqüência relativa aos acontecimentos exteriores àquela região particular. Grandes movimentos históricos e mesmo certas evoluções locais passam despercebidos ou restam duvidosos, porque a unidade disponível para a cronologia é geograficamente muito restrita. A genealogia familiar é válida apenas para determinada família e para a aldeia ou aldeias que ela habita. A cronologia dos Embu (Quênia), por exemplo, é baseada em grupos de idade que cobrem apenas uma diminuta área territorial, na qual os jovens são iniciados ao mesmo tempo. As cronologias relativas devem, portanto, ser associadas e, se possível, convertidas em cronologias absolutas. Mas antes há um outro problema a ser resolvido: o de se assegurar que as informações utilizadas cor respondem a uma realidade não distorcida pelo tempo.</span><br /><span style="background-color: black;">Torna-se cada vez mais claro que a cronologia oral está sujeita a processos de distorção concomitantes e que agem em sentidos opostos: às vezes encurtam e às vezes prolongam a verdadeira duração dos acontecimentos passados. Há também uma tendência a regularizar as genealogias, as sucessões e a seqüência de grupos de idade, para conformá-las às normas ideais da sociedade no momento. Do contrário, os dados forneceriam precedentes para litígios de todo tipo. O processo homeostático é bastante real. Em certos casos especiais, como em Ruanda, por exemplo, a tarefa de gerir a tradição recai sobre um complexo grupo de especialistas, cujas afirmações têm sido corroboradas por escavações arqueológicas.</span><br /><span style="background-color: black;">Etnólogos mostraram que as sociedades chamadas segmentárias tendem a eliminar ancestrais "inúteis", isto é, os que não deixaram descendentes que ainda vivam e constituam um grupo separado. Isso explica por que a profundidade genealógica de cada grupo numa determinada sociedade tende a permanecer constante. Somente os ancestrais "úteis" são utilizados para explicar o presente. Isso leva, por vezes, a uma grande condensação da profundidade genealógica. Além do mais, acidentes demográficos às vezes reduzem um ramo de descendentes a um número tão pequeno, em comparação com outros ramos descendentes dos irmãos e irmãs do fundador do primeiro ramo, que este não pode mais existir paralelamente aos grandes grupos vizinhos, sendo então absorvido por um deles. A genealogia será reajustada, e o fundador do grupo pequeno substituído pelo do grupo maior (que o absorve). A genealogia é, assim, simplificada. A identidade de um grupo étnico em geral é expressa por um único ancestral colocado na origem de uma genealogia. e, o "primeiro homem", um herói fundador, etc. Será o pai ou a mãe do primeiro ancestral "útil". Desse modo, a lacuna entre a origem e a história consciente fica escamoteada. A operação de todo esse processo infelizmente levou, muitas vezes, a uma situação em que é praticamente impossível remontar, com segurança, a mais do que umas poucas gerações. Acreditava-se que muitas sociedades africanas, e especialmente as monarquias, tivessem escapado a esse processo. Não havia razão para que a lista de sucessão dos reis estivesse incorreta, que sua genealogia fosse duvidosa, exceto que, algumas vezes, era falsificada quando uma dinastia substituía outra e se apoderava da genealogia da precedente a fim de se legitimar. O número de reis e gerações continuava aparentemente correto. Estudos recentes, mais detalhados, mostram que essa posição não se justifica inteiramente. Os processos de condensação, alongamento e regularização podem afetar as tradições dinásticas tanto quanto as outras. Em listas de reis, por exemplo, os nomes de usurpadores, isto é, os que são considerados usurpadores naquele momento, ou em qualquer época após seu reinado, são às vezes omitidos, assim como os de muitos reis que não passaram por todas as cerimônias de iniciação que, em geral, são muito longas. O reinado de um rei que abdica e em seguida retoma ao poder é às vezes contado como um único governo. Tudo isso encurta o processo histórico.</span><br /><span style="background-color: black;">Onde a sucessão é patrilinear e primogenitiva, como na região interlacustre, a tendência à regularização dos fatos resultou num surpreendente número de sucessões regulares - isto é, o filho sucedendo ao pai -, que ultrapassa de muito a média, e mesmo os recordes observados em outras partes do mundo. Esse processo de regularização produziu uma genealogia típica, retilínea, desde os mais antigos tempos até o século XIX aproximadamente, quando se tomou arborescente. O resultado é o alongamento da dinastia pelo aumento do número de gerações, uma vez que os colaterais são apresentados como pais e filhos. A confusão entre homônimos e entre nome de reino ou título e nome pessoal, assim como outros detalhes desse tipo, pode estender ou encurtar a lista. Como, durante os tempos coloniais, especialmente em regiões sob administração indireta, era forte a pressão para alongar as dinastias (pois as sociedades européias - como muitas africanas - têm um grande respeito pela antiguidade), empregaram-se todos os meios possíveis. mesmo ambíguos, com aquela finalidade. Todos os nomes foram, então, utilizados; ciclos de nomes reais foram desdobrados, se necessário, ou agrupados; podaram-se os ramos colaterais a fim de alongar-se o tronco.</span><br /><span style="background-color: black;">Por último, e sempre no caso dos reinos, encontram-se comum ente lacunas entre o herói fundador, que pertence à cosmogonia, e o primeiro rei histórico "útil". Somente uma investigação muito cuidadosa pode determinar se nesses casos particulares os processos descritos realmente ocorreram. A esse respeito, a presença de irregularidades na sucessão e nas genealogias é a melhor garantia de autenticidade, pois denota uma resistência ao nivela- mento homeostático.</span><br /><span style="background-color: black;">Sociedades de classes de idade ainda não foram submetidas a esse tipo de exame sistemático. Alguns casos mostram que os processos de regularização intervêm para organizar os ciclos ou para reduzir a confusão produzida pelos homônimos. Mas os diferentes tipos de sucessão de classes de idade ainda têm que ser estudadas. Não podemos generalizar, exceto para dizer que o problema suscitado é a análogo ao das genealogias, porque também aqui a geração é a unidade.</span><br /><span style="background-color: black;">Um estudo estatístico completo, que forneceu grande parte das informações acima mencionadas, constatou que a duração média de uma geração dinástica está entre 26 e 32 anos. A amostra era principalmente patrilinear, mas as dinastias matrilineares não se agrupam, por exemplo, no segmento inferior da distribuição estatística, e a informação, portanto, seria válida para elas também. A duração média dos reinados varia tanto com o sistema de sucessão que nenhuma informação genérica de valor pode ser fornecida. Mesmo no caso de tipos idênticos de sucessão, são encontradas divergências consideráveis entre diferentes dinastias.</span><br /><span style="background-color: black;">Com base nas informações acima expostas, pode-se converter uma cronologia relativa de gerações em cronologia absoluta, a menos que a distorção genealógica seja tal que torne o exercício inútil. Primeiramente, calcula-se a média entre a primeira referência cronológica absoluta fornecida por uma data escrita e o presente e projeta-se essa média no passado caso ela se situe entre 26 e 32 anos. No entanto, médias são apenas médias. Sua probabilidade aumenta com o número de gerações envolvidas, e o cálculo só fornece datas razoáveis para os inícios de seqüências ou, quando muito, uma vez por século. Qualquer precisão maior cria um erro. De todo modo, datas absolutas calculadas dessa maneira devem ser precedidas por uma sigla para indicar o fato. Assim, T 1635 para a fundação do Reino Kuba indicaria que a data foi calculada com base em genealogias e listas de reis.</span><br /><span style="background-color: black;">O mesmo procedimento pode ser aplicado para determinar a duração média de um reinado. Mostrou-se por que essa média é menos válida que a medIa das gerações. Uma das razões é que, ao se projetar a média no passado, pressupõe-se que não houve mudança nos sistemas de sucessão. Ora, estes podem ter mudado ao longo dos anos. Certamente sofreram mudanças desde a fundação da dinastia, porque fundar é inovar, e as sucessões sem dúvida levaram algum tempo para se normalizarem. Além disso, devemos considerar as mudanças que podem ter ocorrido na esperança de vida. Já que a margem de erro é maior, será particularmente útil dispor de datas absolutas, determinadas por documentos escritos ou por outros meios que remontem a um passado longínquo.</span><br /><span style="background-color: black;">Todavia, continuando no campo da cronologia relativa, é possível tentar coordenar diferentes seqüências vizinhas, separadas e relacionadas, pelo estudo dos sincronismos. Uma batalha entre dois reis citados fornece um sincronismo. Torna possível harmonizar as duas cronologias relativas em questão, e combiná-las em uma. Demonstrou-se empiricamente que sincronismos entre mais de três unidades isoladas não mais são válidos. Pode-se mostrar que A e B viveram na mesma época, ou que A e C viveram na mesma época, porque ambos conheceram B. Portanto, A = B = C, mas não podemos ir além disso.</span><br /><span style="background-color: black;">O fato dos encontros de A e C com B poderem ter ocorrido em qualquer época durante a vida ativa de B explica por que A = C é o limite. Estudos sobre a cronologia do antigo Oriente Médio provaram empiricamente esse ponto. No entanto, utilizando prudentemente os sincronismos, podemos reconstruir campos únicos razoavelmente grandes com uma cronologia relativa comum.</span><br /><span style="background-color: black;">Após o exame dos dados geneal6gicos, pode-se obter uma data absoluta se a tradição mencionar um eclipse do sol. Se há mais de uma data possível para o eclipse, deve-se mostrar qual é a mais provável. Podemos proceder do mesmo modo com outros fenômenos astronômicos ou climáticos extraordinários que tenham causado catástrofes. A certeza é menor nesse caso do que no dos eclipses solares, porque há, por exemplo, mais fomes na África oriental que eclipses do sol. Com exceção dos eclipses solares, outras informações desse tipo são úteis principalmente para os últimos dois séculos, ainda que poucos povos tenham preservado a memória de eclipses muito mais antigos.</span><br /><span style="background-color: black;">Avaliação das tradições orais</span><br /><span style="background-color: black;">Uma vez submetidas a minuciosa crítica, literária e sociológica, podemos atribuir às fontes um grau de probabilidade. Essa apreciação não pode ser quantificada, mas não é, por isso, menos real. A veracidade de uma tradição será mais facilmente constatada se a informação que contém puder ser comparada com a informação fornecida por outras tradições independentes ou por outras fontes. Duas fontes independentes concordantes trans- formam uma probabilidade em algo mais próximo da certeza. Mas deve-se comprovar a independência das fontes. Infelizmente, contudo, tem-se constatado uma tendência muito grande em acreditar na pureza e estanquidade inequívocas da transmissão de um grupo étnico para outro. Na prática, caravanas de comerciantes, como as dos Imbangala de Angola, ou talvez as dos Diula e dos Haussa, podem ter levado consigo fragmentos de história, que foram incorporados à história local por encontrar terreno apropriado. No início do período colonial estabeleceram-se vínculos entre representantes de diferentes grupos, que trocaram informações a respeito de suas tradições. Esse é notadamente o caso nas regiões sob administração indireta, onde interesses de ordem prática encorajavam especialmente os reinos a produzirem suas histórias. Além disso, todas essas histórias foram influenciadas pelos primeiros modelos escritos por africanos, como o livro de Johnson sobre o Reino Oyo (Nigéria) ou o de Kaggwa (Uganda) para Buganda. Deu-se uma contaminação geral de todas as histórias tardiamente colocadas em forma escrita no país Ioruba e na região interlacustre de fala inglesa, com tentativas de sincronização visando forçar as listas dinásticas a se igualarem, em extensão, às dos modelos. Esses dois exemplos mostram o quanto se deve ser prudente ao afirmar que as tradições são realmente independentes. Deve-se pesquisar os arquivos, estudar os contatos pré-coloniais e ponderar tudo cuidadosamente, antes de se fazer qualquer julgamento.</span><br /><span style="background-color: black;">A comparação com dados escritos ou arqueológicos pode fornecer a confirmação de independência desejada. Mas, ainda neste caso, é preciso que a independência seja comprovada. O fato de autóctones atribuírem tradicionalmente um sítio visível aos primeiros habitantes do país, devido à presença no local de traços de ocupação humana muito diferentes dos deixados pelos habitantes atuais, não significa que se possa automaticamente fazer a mesma atribuição. As fontes não são independentes pois o sítio é atribuído a essas populações por um processo lógico e apriorístico. É um caso de iconatrofia. Essa constatação dá origem a Interessantes especulações, especialmente no que diz respeito aos chamados vestígios de Tellem do país Dogon (Mali) assim como aos sítios Sirikwa (Quênia) , para citar somente dois exemplos bem conhecidos. Contudo, os casos famosos dos sítios de Kumbi Saleh (Mauritânia) e do lago Kisale (Zaire) mostram que a arqueologia pode, às vezes, fornecer provas surpreendentes da validade de uma tradição oral.</span><br /><span style="background-color: black;">Geralmente, estabelecer uma concordância entre fonte oral e escrita fica difícil porque tratam de coisas diferentes. Um estrangeiro que escreve sobre um país habitualmente se restringe a fatos econômicos e políticos, muitas vezes ainda mal compreendidos. A fonte oral voltada para o interior menciona os estrangeiros apenas de passarem; quando o faz. Assim sendo, em muitos casos as duas fontes não têm nada em comum, ainda que se refiram ao mesmo período. Casos de concordância, cronológica principalmente, são encontrados em locais onde os estrangeiros se estabeleceram por tempo suficientemente longo para se interessarem pela política local e entendê-la. Tem-se um exemplo disso no vale do Senegal a partir do século XVIII.</span><br /><span style="background-color: black;">Em caso de contradição entre fontes orais, deve-se escolher a mais provável. A prática, muito difundida, de tentar encontrar um acordo, não faz sentido. Uma contradição flagrante entre uma fonte oral e uma fonte arqueológica se resolve em favor da última, se esta for um dado imediato, isto é, se a fonte for um objeto e não uma inferência, pois neste caso a probabilidade da fonte oral pode ser maior. Um conflito entre uma fonte escrita e uma oral se resolve exatamente como se se tratasse de duas fontes orais. Devemos ter em mente que a informação quantitativa escrita, de modo geral, é mais dIgna de confiança, mas que a informação oral relativa aos motivos é geralmente mais precisa que a das fontes escritas. Por fim, cabe ao historiador tentar estabelecer o que é mais provável. Num caso extremo, se dispomos de apenas uma fonte oral, cujas prováveis deformações pudemos demonstrar, devemos interpretá-la tendo em conta as deformações e utilizá-la.</span><br /><span style="background-color: black;">Enfim, acontece freqüentem ente de o historiador não se sentir satisfeito com as informações orais de que dispõe. Pode registrar o seu descrédito em relação à validade das informações, mas, na falta de algo melhor, é obrigado a utilizá-las, enquanto outras fontes não forem descobertas.</span><br /><span style="background-color: black;">Coletânea e publicação</span><br /><span style="background-color: black;">Conclui-se de tudo que foi dito acima que todos os elementos que permitiam aplicar a crítica histórica às tradições devem ser reunidos em campo. Isso implica num bom conhecimento da cultura, sociedade e língua ou línguas envolvidas. O historiador pode adquirir esse conhecimento ou solicitar a ajuda de especialistas. Mas, mesmo nesse caso, ele deve realmente absorver todas as informações oferecidas pelo etnólogo, pelo lingüista e pelo tradutor que o estão ajudando. Por último, é preciso adotar urna atitude sistemática diante das fontes, das quais devem ser recolhidas todas as variantes. Tudo isso implica numa longa permanência em campo, que será tanto mais demorada quanto menor for a familiaridade do historiador com a cultura em questão. Devemos destacar que o conhecimento instintivo de alguém que estuda a história de sua própria sociedade não é suficiente. A reflexão sociológica é indispensável. O historiador deve redescobrir sua própria cultura. A experiência lingüística; mostrou que, às vezes, mesmo sendo um nativo do país, o historiador não compreende facilmente certos registros, corno os poemas panegíricos, ou encontra dificuldade porque as pessoas falam um dialeto diferente do seu. Além do mais, é aconselhável que ao menos parte das transcrições feitas em seu dialeto materno seja examinada por um lingüista, para se assegurar que a transcrição comporta todos os sinais necessários à compreensão da narrativa, incluindo-se aí, por exemplo, os tons. A coleta das tradições requer, portanto, muito tempo, paciência e reflexão. Depois de um período inicial de experiência, é preciso estabelecer um plano racional de trabAlho, que leve em consideração as características particulares de cada caso. De qualquer forma, devemos visitar os sítios associados aos processos históricos em estudo. Às vezes, será necessário utilizar uma amostragem de fontes populares, mas uma amostra não pode ser utilizada; casualmente. Devemos estudar, numa área restrita, quais as regras que determinam o nascimento de variantes e estabelecer, a partir delas, os princípios da amostragem a serem adotados. Coletar urna vasta quantidade de material de forma indiscriminada não pode produzir o mesmo resultado, ainda que se possa trabalhar mais rapidamente. O pesquisador deve ter cuidado ao estudar a transmissão. É cada vez mais comum encontrar informantes que adquiriram seu conhecimento a partir de trabalhos publicados sobre a história da região: livros escolares, jornais ou publicações científicas; assim corno podem tê-lo adquirido em conferências transmitidas pelo rádio ou pela televisão. O problema acentuar-se-á, inevitavelmente, com a ampliação da pesquisa.</span><br /><span style="background-color: black;">Hoje em dia percebe-se que existe urna contaminação mais sutil. Alguns manuscritos, às vezes muito velhos, e especialmente relatórios dos primeiros tempos da administração colonial foram tornados pela tradição corno verdades "ancestrais". Fontes arquivísticas devem, portanto, ser cuidadosamente examinadas, assim corno a possível influência de trabalhos científicos, livros escolares, transmissões de rádio, etc. Pois, se o fato é verificado em campo, pode-se freqüentemente corrigir esses dados insidiosos buscando-se outras versões e explicando-se aos informantes que o livro ou o rádio não estão necessariamente certos no que diz respeito àquele assunto. Mas, uma vez longe do campo, será tarde demais.</span><br /><span style="background-color: black;">É preciso estruturar a pesquisa de acordo com uma nítida tomada de consciência histórica. Não é possível recolher "todas as tradições"; tentar fazê-lo só nos levaria a uma massa confusa de informações. É necessário primeiramente saber quais os problemas históricos que se quer estudar e então procurar as fontes correspondentes. Ao eleger um objeto de estudo, o pesquisador deve, evidentemente, ter interiorizado a cultura em questão. Ele pode, então, como acontece freqüentemente, voltar seu interesse para a história política. Mas pode também optar por questões da história social, econômica, religiosa, cultural ou artística, etc. Para cada caso, a estratégia utilizada na coleta da tradição será diferente. A maior deficiência das pesquisas que se fazem atualmente é a falta de consciência histórica. Há uma forte tendência em se deixar guiar pelo que se encontra.</span><br /><span style="background-color: black;">Falta de paciência é outro perigo. Reputa-se, por vezes, necessário dar conta o mais depressa possível de uma grande parte do trabalho. Nessas circunstâncias, as fontes coletadas são difíceis de se avaliar; apresentam-se discrepantes e incompletas; faltam variantes; há pouca informação sobre a transformação de uma fonte, sua representação, sua transmissão. O trabalho é malfeito. Uma conseqüência particularmente nefasta é a impressão criada entre outros pesquisadores de que essa "área" já foi estudada, o que diminui a probabilidade de se fazer uma pesquisa melhor no futuro. Não se deve esquecer que as tradições orais desaparecem, embora felizmente com menos rapidez do que se costuma pensar. A urgência da tarefa não é razão para atamancá-la. Pode-se replicar, como tem ocorrido, que o que advogamos aqui é utopia, perfeccionismo, coisa impossível. Contudo, é o único modo de se fazer um bom trabalho com os meios disponíveis num determinado lapso de tempo. Não há atalhos. Se acreditamos que, em alguns casos, todo esse trabalho produz somente uma safra muito pobre para a história, não percebemos que contribui para enriquecer, ao mesmo tempo, o conhecimento geral da língua, da literatura, do pensamento coletivo e das estruturas sociais da civilização estudada.</span><br /><span style="background-color: black;">A menos que seja publicado, o trabalho não estará completo, por não se encontrar disponível para a comunidade dos estudiosos. Deve-se ter em vista pelo menos uma classificação das fontes investigadas, com introdução, notas e índice, que constitua um arquivo aberto a todos. Muitas vezes, o trabalho é combinado com a publicação de um estudo baseado, em parte ou completamente, nesse corpus. Nenhum editor publicaria todo o material, variantes inclusive, e a interpretação dos dados. Além disso, uma síntese não comporta uma vasta massa de documentos em bruto. Assim, cada trabalho deverá explicar como as tradições foram coletadas e fornecer uma breve lista de fontes e informantes, que possibilitará ao leitor formar uma opinião sobre a qualidade da coleta e compreender por que o autor escolheu uma determinada fonte em vez de outra. Pela mesma razão, cada fonte oral deve ser citada separadamente no trabalho. O trabalho que diz "A tradição conta que..." faz uma generalização perigosa.</span><br /><span style="background-color: black;">Resta um tipo especializado de publicação: as edições de textos. Neste caso, seguimos as mesmas normas utilizadas na publicação de manuscritos. Na prática, isso geralmente conduz a uma colaboração entre vários especialistas. Nem todo pesquisador é, ao mesmo tempo, historiador, lingüista e etnólogo. De fato, as melhores edições de textos disponíveis até agora são quase todas trabalhos interdisciplinares de colaboradores, dos quais ao menos um é lingüista. A edição de textos é uma tarefa árdua e ingrata, o que explica por que há tão poucos publicados. Entretanto, seu número vem aumentando, graças à colaboração de especialistas em literatura oral africana.</span><br /><span style="background-color: black;">Conclusão</span><br /><span style="background-color: black;">Atualmente a coleta de tradições orais está se processando em todos os países africanos. A massa de dados recolhidos refere-se principalmente ao século XIX e é somente uma das fontes para a reconstrução histórica, sendo a outra principal fonte para esse período os documentos históricos. Há cinco ou seis trabalhos, a cada ano, apresentando estudos baseados quase inteiramente em tradições. Tipologicamente, eles tratam, sobretudo, da história política e da história dos reinos, e, no que diz respeito à geografia, estão concentrados principalmente na África oriental, central e equatorial, onde as tradições, freqüentemente, são as únicas fontes. As cronologias remontam raramente além de 1700; se anteriores a essa data, tornam-se duvidosas. Entretanto, o conhecimento cada vez mais aprofundado da natureza das tradições permite avaliar melhor as que foram recolhidas em épocas anteriores. Assim, a exploração das tradições registradas por Cavazzi no século XVII só se tornou possível após o estudo em campo realizado em 1970!</span><br /><span style="background-color: black;">Além das tradições recentes, existe um vasto corpo de informações literárias, como as narrativas épicas, e de dados cosmogônicos, que podem ocultar informações históricas às vezes relativas a épocas bastante remotas. A epopéia de Sundiata é um exemplo. A tradição, por si mesma, não permite estabelecer datas. Por exemplo, a memória deformada relativa a certos sítios históricos na região interlacustre conservou uma lembrança que data dos primeiros séculos, ou mesmo de antes da Era Cristã. Mas a fonte oral nada diz quanto à data. Somente a arqueologia foi capaz de solucionar o problema. Assim também as tradições de Cavazzi, às quais acabamos de nos referir, parecem conter um sedimento histórico que é do maior interesse para o passado dos povos de Angola. Há referências sucintas a dinastias que se sucederam, a formas de governo que se seguiram; em resumo, sumarizam, para a região do Alto Cuango, mudanças sócio-políticas que podem datar de vários séculos ou até de um milênio antes dê 1500. Mas não há nenhuma data como ponto de referência para essa perspectiva.</span><br /><span style="background-color: black;">Existe uma última armadilha a ser notada. Muito freqüentemente a coleta de tradições ainda parece superficial, e sua interpretação muito literal, muito "colada" à cultura em questão. Esse fenômeno vem reforçar a imagem de uma África cuja história consiste apenas em origens e migrações, o que, sabemos, não é verdade. Mas devemos admitir que essa é a imagem refletida pelas tradições que procuram estabelecer uma "identidade". A superficialidade da interpretação e a coleta pouco sistemática de material, além do mais, dão margem à maioria das críticas dirigidas contra a utilização das tradições orais, especialmente entre os etnólogos.</span><br /><span style="background-color: black;">A experiência prática provou que o valor maior das tradições reside em sua explicação das mudanças históricas no interior de uma civilização. Isso é tão verdadeiro que, como se pode comprovar em quase toda parte, apesar da abundância de fontes escritas relativas ao período colonial, temos de recorrer constantemente aos testemunhos oculares ou à tradição para completá-Ias, a fim de tornar inteligível a evolução do povo. Mas constatamos também que as tradições são geralmente enganadoras no que diz respeito à cronologia. e aos dados quantitativos. Além disso, qualquer mudança inconsciente, porque lenta demais - uma mutação associada a uma ideologia religiosa, por exemplo - escapa à memória da sociedade. Podemos encontrar apenas indicações fragmentárias de mudanças nos registros que não tratam explicitamente da história e, ainda assim, através de um complicado exercício de interpretação. Isso mostra que a tradição oral não é uma panacéia para todos os males. Mas, na prática, ela se revela uma fonte de primeira ordem para os últimos séculos. Para um período anterior, seu papel se reduz, tornando-se mais uma ciência auxiliar da arqueologia. Em relação às fontes lingüísticas e etnográficas, ainda não foi suficientemente explorada, embora em princípio esses três tipos de fontes devessem, em conjunto, trazer importante contribuição ao nosso conhecimento da África antiga, assim como faz a arqueologia. As tradições têm comprovado seu valor insubstituível. Não é mais necessário convencer os estudiosos de que as tradições podem ser fontes úteis de informação. Todo historiador está ciente disso. O que devemos fazer agora é melhorar nossas técnicas de modo a extrair das fontes toda a sua riqueza potencial. Essa é a tarefa que nos espera.</span><br /><span style="background-color: black;">Notas</span><br /><span style="background-color: black;">1 BAUMANN, H., 1936.</span><br /><span style="background-color: black;">2 Em alguns países, essas pessoas fazem parte da classe governante; é o caso, por exemplo, do Bend-naba (chefe dos tambores) dos Mossi.</span></span></div>
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Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-62135040512636136102014-06-13T12:01:00.000-03:002014-06-13T12:01:02.234-03:00MAGIA: <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6XGSkSE-yek0dEJWUPL8CgGJYfjVCtcH16JkFr2SKp9vDu6Xauwooy5Rcp52yu9YomT5Ju5Bq0JkHW1arCcFj080mkS39e_55l8su89S3vksIiXjBmLkDmsN0l-IYxqvSseJqSzyo0bI/s1600/magiccircle2.gif" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEj6XGSkSE-yek0dEJWUPL8CgGJYfjVCtcH16JkFr2SKp9vDu6Xauwooy5Rcp52yu9YomT5Ju5Bq0JkHW1arCcFj080mkS39e_55l8su89S3vksIiXjBmLkDmsN0l-IYxqvSseJqSzyo0bI/s1600/magiccircle2.gif" height="320" width="213" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-line-height-alt: 13.65pt;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-line-height-alt: 13.65pt;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm; mso-line-height-alt: 13.65pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 14.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A RELIGIÃO DO “OUTRO”</span></b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Francisco Santos Silva<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Centro de História da Cultura, Faculdade De
Ciências Sociais e Humanas, Universidade Nova de Lisboa<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Resumo: Este artigo procura explorar a palavra
“magia” no contexto do estudo científico da religião e, mais geralmente, no
contexto das ciências sociais e humanas. Como tal, é procurado, neste artigo,
fazer uma pequena história do uso do termo, de forma a compreender a sua carga
política, social e histórica. Como se verá ao longo do artigo, o termo “magia”
tem sido utilizado historicamente quase sempre de forma pejorativa de forma a
descrever a “religião dos outros”. Esta carga xenófoba, bem como o fato de
aquilo que é descrito como “magia” poder ser facilmente integrável dentro do
fenômeno geralmente descrito como religião, leva à conclusão de que o termo
“magia” é um termo sem utilidade ética no estudo do fenômeno religioso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt; line-height: 13.65pt;"><span style="color: white;">Quando o antropólogo Bronislaw Malinowski escreveu
o ensaio "Magic, Science and Religion"2, em 1925, estes três termos -
Magia, Ciência e Religião - parecem ser possuídos de uma identidade própria e
estanque. No entanto, este nem sempre foi o caso - não o era quando da escrita
de Malinowski, nem o é hoje. A distinção entre ciência e religião, bem como
entre ciência e magia parece, pelo menos na modernidade, ser pouco contenciosa;
a ciência trata do mundo físico e natural, enquanto os outros dois termos se
interessam pelo metafísico e sobrenatural. Esta é uma distinção bastante
recente na história da humanidade, visto que no período pré-iluminismo as
ideias de ciência e religião estavam bastante misturadas. No período do
Renascimento, a ciência estava também bastante unida à chamada "magia
natural", ou seja, a utilização de processos naturais para fins mágicos,
no qual se incluem ideias hoje vistas como "mágicas" cva cristã,
desenhar um círculo no chão e queimar incenso, de forma a contatar com anjos ou
deus é uma prática mágica, enquanto ajoelhar, juntar as mãos e rezar para o
mesmo fim é uma prática religiosa. No mesmo princípio, a transmutação do chumbo
em ouro é magia, enquanto que a transmutação de pão e vinho em carne e sangue é
religião. Este último exemplo levou, de fato, durante a reforma protestante, a
acusações pela parte de alguns protestantes de práticas mágicas pela Igreja
Católica. Como mencionado em cima, é uma questão de perspectiva.</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Não é a intenção deste artigo minimizar a religião
ou a magia, mas, sim, colocar a questão de se existe de fato a necessidade
desta distinção entre magia e religião. Será uma distinção útil? Devemos manter
distinções que servem como acusação, sendo o termo “magia” utilizado quase como
insulto para práticas pela parte daqueles que não compreendem ou desaprovam do
ato a que chamam “mágico”? De forma a podermos dar uma resposta a estas
perguntas teremos de começar por analisar como as relações entre a religião, e
aquilo a que se escolheu chamar “magia”, num contexto histórico, tanto no
período pré-moderno como na época moderna e contemporânea. Seguidamente,
veremos como as ideias de religião e magia foram distinguidas no contexto
acadêmico no séculos XIX e XX, e, por último, determinar como a utilização
destes termos foi usada como uma ferramenta de poder cultural social e
político. Apenas após examinarmos estes fatores poderemos chegar a uma
conclusão, no que respeita à utilidade da palavra “magia” como a descrição de
qualquer fenômeno independente ou até se este fenômeno sequer existe como algo independente
da religião.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Relação entre magia e religião: Antiguidade ao séc.
XVII<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Desde a antiguidade clássica, que os termos
“magia”, para a prática, ou “mago”, para o praticante, se referem a práticas
religiosas realizadas por outros que não aqueles que utilizam o termo. O termo
tem origens Persas e refere-se às práticas Zoroastrianas da Pérsia Antiga, e é
portanto um termo utilizado pelos gregos como forma de descrever as práticas de
alguém que é visto como “outro”. A palavra é utilizada na Grécia Antiga como
designação de ritos cuja “legitimidade era contestada e, frequentemente, pelo
menos em alturas posteriores, marginalizada e proibida”4. É, portanto, uma
palavra que demonstra um certo desprezo pela atividade religiosa do “outro” –
os gregos defendem a sua superioridade espiritual definindo as religiões não
gregas como magia. Outro termo com o mesmo significado, tanto denotativo como
conotativo, é o termo chaldaioi/chaldaei que, tendo o mesmo significado de
magia e mago, se refere neste caso aos caldeus, sendo outra vez um termo que
revela uma xenofobia religiosa pela parte dos gregos antigos. É interessante
ver como esta utilização do termo é semelhante à forma como ele será utilizado
ao longo da história, tanto pelas religiões dominantes como pelos poderes
coloniais. O termo “magia” revela, então, desde a sua origem, uma afinidade com
um desprezo pela religião ou práticas daqueles que são considerados
estrangeiros ou “outros” pela cultura dominante. Rapidamente, o termo “magia”
deixa de ser especificamente descritivo de práticas de outros povos para passar
a designar práticas religiosas dentro das próprias culturas greco-latinas que
não se coadunam com a perspectiva da maioria culturalmente dominante. Aparecem,
então, na Grécia os termos goétia, para descrever a arte de se comunicar com os
mortos (e, mais tarde, demônios), e pharmakeútria, que descreve “uma mulher que
usa ervas e drogas”. No latim, os termos saga (bruxa), veneficus (pessoa que
usa venenos) e, mais tarde, maleficus (pessoa que faz o mal) servem ao mesmo
propósito de descrição de práticas não reconhecidas pela maioria culturalmente
dominante5.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Poder-se-ia dizer que, na Era Medieval, o “feitiço
volta-se contra o feiticeiro” e é, principalmente, no ataque pela parte de
cristãos aos resquícios do paganismo clássico que o termo magia é utilizado. O
mesmo paganismo clássico que utilizou o termo como descrição de religiões
estrangeiras é agora sujeito à acusação de magia por um novo paradigma cultural
representado pelo cristianismo. Santo Agostinho é um dos mais influentes
expoentes das ideias anti-magia; no livro X da Cidade De Deus, o próprio
Agostinho fala sobre a utilização do termo magia quando descreve os pensadores neoplatônicos:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">[...]pois eles desejam diferenciar entre aqueles a
que as pessoas chamam magos, que praticam necromancia, e estão viciados em
artes ilícitas e condenados, e aqueles outros que parecem ser dignos de elogio
pela sua prática de teurgia, – a verdade, no entanto, sendo que ambas as
classes são escravas dos ritos enganadores dos demônios que invocam sob o nome
de anjos.6<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Agostinho reforça então a perspectiva de que a
atribuição da etiqueta “magia” é dependente do ponto de vista do escritor -
para Agostinho, como cristão, a teurgia é também magia, tal como a necromancia,
pois não está inserida no contexto cristão e, logo, as práticas utilizam forças
demoníacas. Outra contribuição importante de Santo Agostinho, para a definição
daquilo que veio a ser visto como magia, está na sua associação da magia à
“teoria dos sinais” no texto De Doctrina Christiana no qual associa a Magia à
idolatria e demonolatria:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">devido ao uso de sinais direcionados ambiguamente,
que demônios podem manipular e usar para enganar humanos, a magia pode ser
vista como uma espécie de linguagem que os humanos e demônios têm em comum7.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Nasce aqui, então, a ideia estereotipada do mago
como aquele que faz sinais misteriosos de forma a contatar seres sobrenaturais,
uma ideia que informa as percepções de magia até aos dias de hoje e que leva a
grande parte das distinções entre o que é religião e magia. É, no entanto, no
fim da época medieval e no Renascimento, que começam a aparecer perspectivas
mais positivas no que diz respeito à magia, e isto sucede devido a criação de
uma nova subdivisão dentro do campo chamado de “magia” - para além da “magia
ritual” de que Agostinho fala, desenvolvem-se teorias agora respeitantes à
“magia natural”. Esta “magia natural” não utiliza a mediação de seres
sobrenaturais como a ritual, mas, sim, as propriedades ocultas no mundo físico.
Bons exemplos desta “magia natural” estão presentes em fenómenos como a
astrologia, alquimia e também certas formas de medicina. Estas ideias supõem
uma relação de correspondência e inter-relação entre elementos naturais, o ser
humano, e o mundo metafísico, mas não dependem da intervenção direta do
sobrenatural. Nesta perspectiva, a “magia” torna-se quase uma ponte entre a
religião e a ciência, utilizando métodos que mais tarde se tornarão parte
integrante do método científico, mas a cuja eficácia subjazem teorias derivadas
do hermetismo e neoplatonismo pagão, no que respeita à interligação dos vários
planos de existência (o que justifica até aos dias de hoje, por exemplo, as
influências planetárias nas vidas humanas, segundo os crentes nas ideias astrológicas).
O Renascimento é uma época em que muitos dos textos da Antiguidade Clássica são
redescobertos pelos europeus, levando a um ressurgimento das ideias herméticas
e neoplatônicas que garantem essa justificação à nova “magia natural”. É,
também nesta época, que os primeiros estudos sistemáticos daquilo a que se
chama magia começam a surgir abertamente na Europa, como a De Occulta
Philosophia Libri Tres de Cornelius Agrippa ou a Magia Naturalis de
Giambattista della Porta, mostrando uma maior abertura cultural e social a
novas ideias relacionadas com a “magia”, que pela primeira vez deixa de ter um
sentido completamente pejorativo, passando também a ser associada ao
renascimento das ideias clássicas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Relação entre magia e religião: séc. XVIII a XXI<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">A modernidade herda do renascimento as várias
ideias de magia desenvolvidas anteriormente, agora, já com uma forte distinção
entre a “magia sobrenatural” e a “magia natural”, que passa a ser vista como
uma proto-ciência, visto que, a partir da Idade Média e até à Modernidade
foi-se, progressivamente, afastando da “magia ritual” ou sobrenatural. No
entanto, a noção de magia como a “superstição dos outros” continua bem firme;
na Encyclopédie de Diderot e d'Alembert publicada em 1765, a definição de magia
inclui o seguinte excerto:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Como uma ciência negra, é honrada em países onde o
barbarismo e a rudeza governam. Os Lapões e, em geral, os povos selvagens
cultivam a magia, e têm-na em grande consideração8.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Os editores da Encyclopédie dividem a ideia de
“magia” em três grupos:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10.0pt; mso-ascii-font-family: Verdana; mso-bidi-font-family: Arial; mso-char-type: symbol; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Verdana; mso-symbol-font-family: Symbol;">-</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Primeiro, “magia divina”, que consiste de
revelações divinas ao homem santo, vista de forma positiva se bem que
levantando grandes dúvidas aos editores da Encyclopédie;<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10.0pt; mso-ascii-font-family: Verdana; mso-bidi-font-family: Arial; mso-char-type: symbol; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Verdana; mso-symbol-font-family: Symbol;">-</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Segundo, “magia natural”, que é vista também de
forma positiva, como tendo trazido avanços inestimáveis à humanidade através do
estudo aprofundado da natureza e que consideram estar a ser, corretamente,
substituída pela ciência, e que os cientistas de hoje (séc. XVIII) irão também
parecer magos para sociedades mais avançadas no futuro (note-se que a ideia de
mago aqui implica atraso).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10.0pt; mso-ascii-font-family: Verdana; mso-bidi-font-family: Arial; mso-char-type: symbol; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-hansi-font-family: Verdana; mso-symbol-font-family: Symbol;">-</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> Terceiro, “magia sobrenatural”, a que se chama
propriamente magia. Esta última merece ter a sua definição extensamente citada
de forma a compreendermos a perspectiva iluminista em relação à magia:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Esta magia negra, que ofende sempre, que leva ao
orgulho, ignorância e à rejeição da ciência; é esta que Agrippa incluiu sob as
etiquetas “celestial” e “cerimonial” [ou ritual]. Não é ciência se não no nome
e não é nada se não um amontoado confuso de princípios obscuros, ambíguos e
inconclusivos, práticas que eram geralmente arbitrárias e infantis, a
inutilidade das quais é demonstrada pela natureza das coisas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Agrippa que era também um filósofo para além de
mago, utilizou o termo “magia celestial” para descrever a astrologia judiciária
que atribuía a espíritos algum domínio sobre os planetas, e aos planetas algum
domínio sobre os homens. Também afirmou que as diferentes constelações
influenciavam as tendências, destino e boa ou má fortuna dos homens. Baseado
nestas fracas fundações, construiu um sistema ridículo, que não se atreve a
aparecer hoje em dia exceto no “Almanaque de Liége” e outros livros similares.
Estas patéticas coleções de material alimentam preconceitos e erros populares9.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Nessa citação, quase se ouvem os ecos distantes dos
argumentos anti-religião utilizados por escritores contemporâneos do séc. XX e
XXI como Richard Dawkins. A visão da magia como entrave à ciência e como algo
que alimenta erros e preconceitos nas mentes populares foi hoje substituída,
numa época mais permissiva, pelas mesmas ideias aplicadas à religião em vez da
magia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">É, no entanto, na fase pós-iluminismo,
particularmente, a partir da segunda metade do séc. XIX, que surgem autores e
grupos organizados que se começam a definir como sendo magos ou praticando
magia, frequentemente, como forma complementar à religião ou, mais raramente,
como reação à religião imposta. Um dos primeiros exemplos desta reabilitação da
magia como sistema está presente no escritor francês Eliphas Lévi (1810-1875),
que através das suas obras desenvolve uma ideia coerente de magia em que a
força de vontade do homem tem o poder de alterar o mundo, baseado em ideias de
microcosmo e macrocosmo que advêm do hermetismo dos primeiros séculos da nossa
era, e filtradas pelo Renascimento. Será este mesmo Eliphas Lévi a influenciar
tremendamente a primeira ordem secreta que se intitula de ordem magica, a
Aurora Dourada ou Golden Dawn inglesa; o fundador da ordem, Samuel Mathers, era
um profundo admirador de Lévi, como se pode ver pelas introduções das suas
obras, que citam Lévi frequentemente. Vários membros da ordem, que terão um
impacto forte no desenvolvimento das ideias de magia no séc. XX e XXI, são
também admiradores de Lévi. A.E.Waite, escritor e co-criador do baralho de
tarot Raider-Waite traduziu uma grande parte dos livros de Lévi para inglês e
um dos mais famosos membros da ordem da Golden Dawn, Aleister Crowley, acreditava
ser uma reencarnação de Lévi. Mas se Lévi influenciou a Golden Dawn e o seu
currículo mágico, a própria Golden Dawn foi ainda substancialmente mais
influente do que os escritos de Eliphas Lévi, como afirma Hanegraaff:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">A “Hermetic Order of the Golden Dawn” [Ordem
Hermética da Aurora Dourada] é uma ordem ocultista do virar do século [XIX para
XX]. Todos os grupos que praticam magia ritual no séc. XX são dependentes do
impressionante sistema de rituais que foi desenvolvido pelo seu membro mais
criativo, Samuel Liddell McGregor Mathers11.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">O que esta afirmação implica é uma dívida pela
parte de grupos religiosos Neo-Pagãos, Wiccans, membros de grupos de Magia
Cerimonial, Thelemitas, entre outros, à Golden Dawn devido à sua cristalização
do ritual mágico no contexto desta ordem. Estas práticas continuam a ser
populares hoje, e, desde o advento da Internet, estes grupos religiosos/mágicos
têm-se espalhado a um ritmo bastante rápido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Deparamo-nos aqui com uma questão nova no caso da
relação entre religião e magia. Neste caso, temos grupos que se auto
identificam, orgulhosamente, com a magia, em vez de a palavra ser um termo
pejorativo dado por outros. Este fenômeno é, de certa forma, semelhante ao que
acontece com a palavra “pagão”, também adotada pelos Neo-Pagãos, e que tem uma
história semelhante de uso pejorativo, quando aplicada, por exemplo, pela
maioria cristã. Em ambos os casos, existe um elemento de “recuperação” de
palavras que foram feitas impuras pela forma como foram utilizadas, bem como um
elemento de distanciamento da maioria culturalmente dominante - um certo
elemento de “choque”. Não deixa, no entanto, de ser um termo êmico,
aplicado pelos praticantes àquilo que eles próprios praticam, e que, por isso,
deve ser respeitado. Isto, no entanto, não implica a sua distinção do conceito
de religião, visto que Neo-Pagãos, Wiccans e Thelemitas se considerariam
membros de religiões que expressam a sua religião através de práticas mágicas.
O mesmo não acontece quando, por exemplo, no contexto de estudos antropológicos,
se aplica o termo “magia” a povos que não utilizam esse mesmo termo para
definir as suas práticas religiosas. Veremos alguns exemplos disto na secção
seguinte.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Como o mundo acadêmico tem visto a distinção entre
magia e religião<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">No seu artigo introdutório sobre “Magia”, no
Dictionary of Gnosis and Western Esotericism, Wouter Hanegraaff divide as
perspectivas que levaram ao conceito de magia utilizado correntemente no mundo
académico em três teorias12. A primeira destas teorias é representada por E.B.
Tylor (1832-1917) e J.G. Frazer (1854-1941), tendo Tylor desenvolvido uma
teoria “evolucionista” da sociedade humana, segundo a qual o homem evoluiria de
um estado animista, para um estado politeísta, monoteísta e por fim culminaria
no triunfo da ciência. A prática de magia estaria então relacionada com os dois
primeiros estados da humanidade (animismo e politeísmo). No entanto, para
Tylor, “magia” é independente da religião, sendo vista mais como “má ciência”
do que como “má religião”, como se pode ver pela seguinte descrição da “ciência
oculta” da astrologia:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">[…] a astrologia depende de um erro da primeira
ordem, o erro de confundir uma analogia ideal com uma relação real. A
astrologia, pela imensidão da sua influência ilusória na humanidade, e pelo
período relativamente moderno até ao qual se manteve como um ramo honrado da
filosofia, pode-se arrogar do lugar mais elevado entre as ciências ocultas. Não
pertence aos níveis mais baixos de civilização, apesar de um dos seus conceitos
fundamentais, a das almas ou inteligências animadas dos corpos celestiais,
estar enraizado no mais profundo da vida selvagem13.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Mais uma vez, a “ciência oculta” e, por analogia, a
magia, estão associadas a processos mentais “selvagens”. Frazer viria a
simplificar as ideias de Tylor criando um ciclo evolutivo com três passos:
magia-religião-ciência. A humanidade, no seu estado mais primitivo, pratica
magia; no seu estado intermédio, segue a religião e, num estado mais evoluído,
seguirá a ciência. No entanto, nunca é dada uma distinção satisfatória entre
religião e magia; para Frazer, a magia é distinta da religião devido à ideia de
“simpatia” ou seja, que existem correspondências entre coisas semelhantes e
que, afetando umas, as outras serão também afetadas (um exemplo simples seria
espetar agulhas num boneco de forma a afectar uma pessoa). Isto não explica, no
entanto, como pode, então, ser considerada religião o rezar perante uma imagem
da divindade, por exemplo, sendo a imagem também um caso de processo simpático,
um crucifixo sendo uma imagem daquilo que se pretende contatar, algo semelhante
ou “simpático” ao alvo da oração.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Uma segunda teoria da magia discutida por
Hanegraaff no artigo acima mencionado foi desenvolvida por Marcel Mauss
(1872-1950) e Émile Durkheim (1858-1917). Em oposição a Frazer e Tylor, Mauss
define magia não como simplesmente a ação “simpática”, mas, sim, como o ato
ritual privado:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">um rito mágico é qualquer rito que não faça parte
do culto organizado – é privado, secreto, misterioso e aproxima-se dos limites
do rito proibido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Esta teoria, que é depois suportada por Durkheim,
parece, à primeira vista, evitar alguns dos problemas de eurocentrismo
presentes na teoria Tylor/Frazer. No entanto, parece ter pouca base empírica,
como escreve Hanegraaff:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">(…) as premissas básicas para a sua teoria [de
Mauss] são de facto derivadas inteiramente das categorias tradicionais da
heresiologia Cristã: sendo adotados, de forma acrítica, preconceitos paranoicos
em relação à magia como as práticas do “outro” não-socializado, como fundação
para um estudo supostamente acadêmico daquilo que a magia é.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Conseguimos ver, então, como a teoria de
Mauss/Durkheim cai, não só no mesmo erro que Tylor/Frazer, mas também nos
mesmos preconceitos de S. Agostinho e de Diderot - a magia é a “crença ilógica
do outro” seja o outro o “selvagem” ou “primitivo” ou, no caso de
Mauss/Durkheim, o que existe nas margens da sociedade e da instituição
religiosa. Este princípio parece ser aceite, tacitamente, sem uma discussão
convincente ou profunda que defina a magia em oposição à religião através de
conceitos externos ou éticos16 à própria religião dominante.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">A terceira teoria da magia tem as suas origens em
Lévy-Bruhl e na ideia de “participação”, uma ideia que Lévy-Bruhl associa à
mente Pré-Moderna em que causas e efeitos estão, de tal forma associados, que
são vistos como idênticos e consubstanciais, logo participando um do outro.
Apesar de Lévy-Bruhl não ter desenvolvido esta teoria com a ideia de magia em
mente, foi, no entanto, adaptada por outros escritores, como Malinowski, de
forma a identificar “participação” com “magia”, de certa forma, voltando à
ideia de Frazer da magia como um processo de “simpatia”. A identificação de
magia com processos mentais pré-modernos reforça a ideia evolucionária, que põe
a magia num ponto evolutivo anterior ao do homem moderno, bem como os seus
praticantes num ponto inferior ao “homem moderno”. A força política desta ideia
foi de grande utilidade para as potências coloniais e para a sua “missão
civilizadora”: o colonialista que define a si próprio como mais evoluído é
justificado através destas definições na conversão e controle daquilo a que
chamavam povos “primitivos”, pois a sua ação é benéfica para os colonizados.
Note-se, também, que todas estas teorias são desenvolvidas por pensadores
oriundos de países colonizadores, seja o Reino Unido ou a França, dos quais as
teorias irradiaram para o resto da Europa colonialista durante a primeira
metade do séc. XX. Não é, até ao início do séc. XXI, que a aceitação tácita da
dicotomia magia/religião começa a ser seriamente posta em causa, visto que
nenhuma das teorias, anteriormente desenvolvidas, é intelectualmente
satisfatória no que diz respeito à distinção magia/religião. Hanegraaff<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">16 Ético é aqui utilizado no sentido da dicotomia
êmico/ético, ou "insider/outsider", um conceito êmico sendo um
conceito que tem as suas origens dentro da própria perspectiva religiosa e um
conceito ético sendo um conceito externo à concepção religiosa. Para a religião
ser analisada de um ponto de vista das ciências humanas os conceitos devem
então ser éticos de forma a não estarem comprometidos com nenhuma perspectiva
religiosa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">faz uma boa síntese desta nova perspectiva, neste
caso, em relação à ideia de magia num contexto ocidental, mas que é igualmente
aplicável a povos não ocidentais:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Uma abordagem mais consistente e historicamente
mais produtiva seria começar por reconhecer o pluralismo religioso que sempre
caracterizou a cultura ocidental, e analisar a magia como um conceito em grande
parte polemico, que tem sido usado por vários grupos comprometidos
religiosamente ou para descrever as suas próprias crenças e práticas
religiosas, ou – mais frequentemente – para desacreditar as dos outros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">A utilidade da palavra magia resume-se então à
utilidade de um termo émico, que apenas faz sentido no contexto do discurso de
um grupo religioso, e não como categoria de analise acadêmica. É no fundo uma
palavra que define uma opinião teológica sobre as práticas dos outros, ou em
casos particulares (como Neo-Paganismo, Wicca ou Thelema por exemplo) sobre
suas próprias práticas. Na secção seguinte, analisaremos, então, as razões para
rejeitar a palavra “magia” como termo ético independente do termo “religião”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Como utilizar a palavra “magia”<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Como temos visto, ao longo de todo este artigo, a
palavra “magia” apresenta-se, quase sempre, como uma palavra problemática
utilizada como munição teológica ou política seja pela religião instituída ou
pelo poder político dominante (como no caso dos poderes coloniais, ou até
governos centrais, como forma de atacar ou negar a validade das crenças de
minorias). Como vimos acima, é, também, por vezes, utilizada como um termo de
auto-descrição por religiões minoritárias no mundo ocidental, muitas das quais
têm uma ideia de contra-cultura como uma das fundações do seu pensamento,
fazendo então sentido a utilização de termos que são desprezados pela cultura
dominante (compare-se o termo “magia” aos termos “pagão” e “bruxa” ou
“bruxaria”, termos com histórias e conotações semelhantes e utilizados por
estes mesmos grupos). Torna-se, então, aparente a dificuldade na utilização da
palavra “magia”, como um termo de utilidade descritiva no estudo científico da
religião ou a sua utilização em qualquer ciência social e humana. Não se trata,
sequer, de uma questão sobre o fato de a magia ser ou não independente da
religião como conceito, ou se deve ser vista como uma sub-divisão do fenômeno
religioso. De facto, a palavra “magia”, como é geralmente utilizada, não pode
ser vista senão como religião ou ritual religioso, ou seja, deve ser
completamente fundida dentro do termo “religião”. Mesmo quando descrita pelos
praticantes como “magia”, tal termo deve ser visto como um descritor émico, ou
seja, uma descrição que o grupo faz de si próprio, mas não um termo de
utilidade categorizante e descritiva do ponto de vista científico, tal como um
grupo que se descreve como o “verdadeiro cristianismo”, por exemplo, deve ser
visto como um grupo que êmicamente se descreve como tal, sem que isto implique
que a categoria e descrição científica do grupo seja realmente a do “verdadeiro
cristianismo”. O termo “magia” pode então ser tratado como qualquer outro termo
que descreva um juízo de valor, importante quando da análise do discurso êmico,
mas irrelevante para a descrição acadêmica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Outro elemento importante, que leva ao descarte da
palavra “magia”, como termo útil à descrição analítica, é a própria metodologia
moderna para o estudo do fenômeno religioso. O estudioso acadêmico que adota
uma posição ética (externa ou de “outsider”), de forma a ser o mais imparcial
possível na sua análise do fenômeno religioso, não se pode identificar
pessoalmente com o seu objeto de estudo. Em vez disso, o estudioso tenta chegar
a conclusões que sejam tanto quanto possível “científicas”, ou seja,
observáveis e falseáveis18. Por esta mesma razão, o estudioso ético não deve
fazer julgamentos de valor, no que diz respeito à verdade ou inverdade de
afirmações metafísicas, sendo estas afirmações que não podem, pela sua própria
natureza, nem ser observadas nem falseadas por outros estudiosos. Como tal, a
realidade dessas afirmações pode ser um assunto para o discurso êmico, mas não
é passível de ser resolvido através da discussão acadêmica. O estudo científico
da religião procura estudar aquilo que é determinável, através dos meios
disponíveis ao cientista neste mundo e não fazer conjecturas sobre o “outro
mundo”. Isto leva a que a atitude adotada, geralmente para o estudo da
religião, seja uma de agnosticismo metodológico, ou seja, a suspensão do
julgamento pessoal do estudioso sobre um fenômeno religioso, enquanto está no
seu papel de estudioso. É importante, também, notar que a palavra, aqui
utilizada, é “agnosticismo” e não “ateísmo”, não implicando portanto uma
atitude hostil em relação à religião, apenas numa suspensão do julgamento sobre
aquilo que é impossível de provar ou “desaprovar”. A ideia, que subjaz ao termo
“magia”, depende, sempre, de um julgamento de valor sobre a validade da prática
religiosa e como tal é incompatível com a perspectiva do agnosticismo
metodológico; quando o estudioso utiliza a palavra magia para descrever um
fenômeno está a fazer um julgamento de valor, mesmo que inconsciente, em
relação à efetividade metafísica do ato mágico. Do ponto de vista do agnosticismo
metodológico a prática, dita mágica, ou, por exemplo, o ritual praticado no
contexto da eucaristia cristã tem igual validade, pois a diferença que faz de
um magia e do outro religião, é uma diferença ao nível metafísico e, logo, não
mensurável de um ponto de vista científico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Para além destes problemas metodológicos, existe
também uma carga histórica e política do termo, que leva a que seja preferível
para o estudioso pô-lo de parte, de forma a não ser associado não só às
atitudes xenófobas que levaram à origem e utilização do termo desde a Grécia
Antiga até ao Período Colonial, mas também às próprias políticas de
diferenciação e de justificação da “missão civilizadora” utilizadas pelos
poderes coloniais. O termo “magia”, que historicamente pode ser definido como
“a religião dos outros”, é sempre politicamente incorreto, a não ser quando
este é utilizado em relação aos grupos que utilizam o termo para se descrever a
si próprios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Por último, surge-nos a particularidade daquilo a
que se chamou “magia natural”, sendo um conjunto de sistemas do período
medieval tardio e do Renascimento que, segundo os seus defensores, não
utilizava métodos sobrenaturais para os seus resultados efetivos. No entanto,
esta “magia natural” não é também um termo independente, visto que em certos
casos (astrologia, por exemplo), dependia de ideias neoplatônicas e herméticas
que eram, sem dúvida, religiosas e, em outros casos (alguns resultados
alquímicos e medicinais), eram proto-científicas, sendo muitas vezes resultados
que mais tarde vieram a ser codificados e explicados através da ciência. Ao
invés da magia, no seu sentido mais amplo, a “magia natural” dissolve-se não só
na religião, mas também na ciência.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Conclusão<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Toda a carga política, social e cultural da palavra
"magia", acima discutida, leva à conclusão que, embora seja uma
palavra que tem de ser reconhecida como fazendo parte integrante do discurso
êmico sobre religião e, logo, é um sujeito de análise como tal para o estudioso
das religiões, não pode ser vista como uma categoria com existência
independente da religião. De fato, podemos facilmente chegar à conclusão que
toda a "magia" que lida com elementos sobrenaturais é, de fato,
motivada pelo sentimento religioso e, como tal, é parte integrante do largo e
variado fenômeno da religião. Como vimos, também acima, existem alguns casos em
que algo que se descreve como "magia" não lida com esses elementos
sobrenaturais, sejam alguns elementos da "magia natural", que podem
ser considerados como proto-ciência ou até a própria magia como arte de palco
ou ilusionismo. Esta ideia da magia, como ilusionismo no contexto de palco,
ajuda também a ilustrar a forma como a palavra foi historicamente usada. Neste
caso, não estritamente como "a religião do outro", mas como ilusão, a
realização de falsos milagres para o entretenimento de um público. Esta ideia
de falsos milagres, ou falsa religião é uma ideia que esteve sempre colada à
etiqueta "magia", sendo portanto uma palavra que descreve um ponto de
vista teologicamente informado que só faz sentido na perspectiva do crente, na
separação que faz entre a sua religião e o que lhe é estranho, ou
"mágico". Para um investigador que tente ser isento na sua apreciação
do fenômeno religioso, adotando o agnosticismo metodológico, esta distinção
deixa rapidamente de fazer qualquer sentido, quando separada da perspectiva
teológica que lhe é associada. A verdade é que acabamos por não ter uma
definição abrangente e não pautada por perspectivas teológicas que se aplique
ao fenômeno de "magia" como algo realmente distinto do fenômeno
religioso em geral. A única definição constante para o fenômeno de magia, desde
a Grécia Antiga até ao séc. XX, parece ser a expressão religiosa daqueles que
se encontram à margem da sociedade culturalmente dominante, sejam estes os
persas ou caldeus em relação aos gregos, os povos colonizados em relação a<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Inglaterra, França ou Portugal, a religião popular
das mezinhas e remédios tradicionais em relação à elite cultural, ou mais
recentemente a autodescrição da expressão religiosa daqueles que se consideram
a si próprios como existindo nas margens da cultura dominante (Pagãos, Wiccans,
Thelemitas, praticantes de Magia Ritual entre outros). É a religião à margem
daqueles que escrevem a história, é a religião dos outros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;"><br />
Referências Bibliográficas<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">AGOSTINHO. The City of God. Livro X, Capítulo 9.
(online) http://www.newadvent.org/fathers/120110.htm<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">CROWLEY, Aleister. The
Confessions of Aleister Crowley: An Autohagiography.</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Londres: Penguin, 1979.
[original 1929]</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">DIDEROT, Denis; D'ALEMBERT,
Jean-Baptiste, "Magic" In: ______. The Encyclopedia of Diderot &
d'Alembert Collaborative Translation Project. Traduzido por Steve Harris. Ann
Arbor: Scholarly Publishing Office of the University of Michigan Library, 2010.
http://hdl.handle.net/2027/spo.did2222.0000.730. </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Publicado
originalmente como "Magie," Encyclopédie ou Dictionnaire raisonné des
sciences, des arts et des métiers, 9:852 (Paris, 1765).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">FANGER, Claire; KLAASSEN,
Frank. Magic III: Middle Ages In: ______. Dictionary of Gnosis and Western
Esotericism. Leiden: Brill, 2006.</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">GRAF, Fritz. Magic II:
Antiquity. In: ______. Dictionary of Gnosis and Western Esotericism. Leiden:
Brill, 2006.</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">HANEGRAAFF, Wouter. Magic
I: Introduction In: ______. Dictionary of Gnosis and Western Esotericism.
Leiden: Brill, 2006.</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">HANEGRAAFF, Wouter. New Age
Religion and Western Culture: Esotericism in the Mirror of Secular Thought.
Nova Iorque: SUNY 1998.</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">MALINOWSKI, Bronislaw.
Magic, Science and Religion and Other Essays. Nova Iorque: Doubleday Anchor
Books, 1948.</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">MAUSS, Marcel. A General
Theory of Magic. </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Londres: Routledge, 1972. [originalmente 1902]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 13.65pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span lang="EN-US" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-ansi-language: EN-US; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">TYLOR, Edward
Burnett. </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Primitive Culture. Nova Iorque: Cambridge
University Press 2010 [originalmente 1871]<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-69422274148921056052014-05-28T13:15:00.001-03:002014-05-29T09:01:01.517-03:00Sango - Perspectiva histórica da nação Ioruba.<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 9.95pt 0cm 0.0001pt; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<b><span style="color: #242424; font-size: 24.0pt; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br /></span></b></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 9.95pt 0cm 0.0001pt; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin: 9.95pt 0cm 0.0001pt; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWtsBS3pnM-tibDUkwG06f7VFD8KHI8heQH29hiMzOtLrEffclYTOkGk_0K7bukZC3IZHWt3W9Ne6awRMMKg7DtWiRKbLFx0C60jlHSznJ_lM-gHS6J9IMIOsR1NMaF3w4J9rJpbWq-Po/s1600/santuario+de+sango.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjWtsBS3pnM-tibDUkwG06f7VFD8KHI8heQH29hiMzOtLrEffclYTOkGk_0K7bukZC3IZHWt3W9Ne6awRMMKg7DtWiRKbLFx0C60jlHSznJ_lM-gHS6J9IMIOsR1NMaF3w4J9rJpbWq-Po/s1600/santuario+de+sango.jpg" height="268" width="400" /></span></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; color: white;"> <span style="font-size: 10pt; text-align: center;">Sango Santuário</span></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: center; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Os iorubas são um grupo altamente pesquisado étnicamente em África, devido à
sua rica herança cultural que se manifesta em sua história, sociologia e
espiritualidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Evidências arqueológicas indicam que os iorubás da viviam em sociedades
urbanas no primeiro milênio antes de Cristo, começando a usar ferro para criar
ferramentas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">As semelhanças genéticas entre os iorubás e as pessoas que falam Nupe,
Edo, Ijo, Efik, Fon, etc tiveram uma origem comum.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Por tradição, as comunidades iorubás traçou sua origem a Oduduwa e da
cidade de Ile-Ife.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">A história oral afirmou que, após a morte de Oduduwa, seus sete netos
(Ogun Onire, Ogiso, Alaketo, Onisabe, Onipopo, Olowu e Oranyan), espalhados por
todo, encontrar seus respectivos reinos na área hoje a ser conhecido como
Nigéria Ocidental.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">O neto mais velho era a mãe do Owus, a segunda mãe do Alaketu,
progenitor de Ketu, o terceiro se tornou o rei de Benin, a quarta Orangun, rei
de Ila, o quinto rei da Sabes, o sexto rei da Popos e o sétimo Oranyan.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-size: 10pt;"><!--[if gte vml 1]><v:shape
id="Imagem_x0020_6" o:spid="_x0000_i1029" type="#_x0000_t75" alt="Old Oyo Rei"
style='width:220.5pt;height:333.75pt;visibility:visible;mso-wrap-style:square'>
<v:imagedata src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image002.jpg"
o:title="Old Oyo Rei"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--></span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIochYTWWH0G2gxk-EzArccclp5VFszq1IxOiU_L76htbs2V0zqajH3jxgVqWeCQk9fouFn8YvIGv4VMKqgyfmy61LbQrdSthZtkOuPvwrFOq7jRjQES7WPuN3Zv_E3-SOe4dBuUN6Cqw/s1600/alaafin+Adeyemi.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjIochYTWWH0G2gxk-EzArccclp5VFszq1IxOiU_L76htbs2V0zqajH3jxgVqWeCQk9fouFn8YvIGv4VMKqgyfmy61LbQrdSthZtkOuPvwrFOq7jRjQES7WPuN3Zv_E3-SOe4dBuUN6Cqw/s1600/alaafin+Adeyemi.jpg" height="320" width="211" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Alaafin Adeyemi I -
1875-1905<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Oranyan era o príncipe caçula, que herdou a terra, sendo o primeiro
Alaafin, progenitor do Oyos, que transferiu o poder político para Oyo Ile.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Sango, o segundo filho de Oranyan, tornou-se o mais forte rei Africano,
com muito poder e influência.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Sango reforçou a um ponto do domínio histórico, a construção de glória,
vitalidade e expansão do império mais formidável em África no momento,
dominando todos os outros reinos iorubás ou seja, Ife, Ekiti, Ijesa, Egba,
Ijebu, Ondo, SABE e Owu.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Ela se estendia além Ilorin e Offa em Igbomina no Norte; Egbado no
Sudoeste; Rio Ogun no Sul; Osun e Daomé no Oriente<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Sob a influência de Sango, a cultura Oyo espalhou dentro do Império,
indo além do Oceano Atlântico e hoje é conhecido no mundo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">América do Norte, Caribe (Porto Rico, Trinidad e Tobego, Cuba), América
do Sul, (Brasil, Equador, Chile, Venezuela) e Europa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Hoje em dia, essa influência cultural podem ser encontrados por toda a
terra ioruba e além, a palavra; Kabiesi originou da palavra, KABI
KOSI, forma de saudação para Sango, nos velhos tempos, que é usado até hoje por
todos os chefes tradicionais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Bem como a disseminação da arte antiga e arte, que foi originado em Oyo
como o dundun, Sekere, Aro, Bata, Adade, Ganku, Koso, Gangan, gbedu e IGBA Titi
percussão, e o Etica, Esa, Lauku, Gbamo, Elesi e Latikipa dança.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Hoje a maioria dos principais dirigentes tradicionais do país iorubá
deve traçar sua relação com o Alaafin de Oyo, porque a maioria das coroas em terra
Yoruba são criação de Sango.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">A história oral afirmou que Sango nasceu por Torosi de Tapa Kwara State,
mas criado por uma velha chamada Yemonja,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC9Rfjja-Z60TN6QJn18-VoGlbBBrj5sJj793sZsS3KpegY2W5lxEa-LsW5rJyd911KFG3T3lz_q8xmaA7DgXN_EQFenL2ozhCKJXRGrakeP9Neoyo5eofCwGRbvMH15HEfO9z5aq829w/s1600/alafin2.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhC9Rfjja-Z60TN6QJn18-VoGlbBBrj5sJj793sZsS3KpegY2W5lxEa-LsW5rJyd911KFG3T3lz_q8xmaA7DgXN_EQFenL2ozhCKJXRGrakeP9Neoyo5eofCwGRbvMH15HEfO9z5aq829w/s1600/alafin2.jpg" height="320" width="202" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Alaafin Adeyemi I
(1875-1905), com suas mulheres usando a coroa real<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-size: 10.5pt;">Ao nascer, ele foi nomeado </span><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;">Tella</span></b><span style="font-size: 10.5pt;"> entre outros nomes como </span><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;">Ayi Legbe Orun</span></b><span style="font-size: 10.5pt;"> , alguém cumprimenta
a mãe dentro da barriga;</span><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;">Arabambi</span></b><span style="font-size: 10.5pt;"> , todos ficaram
juntos para apoiar o nascimento; </span><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;">Afonjá</span></b><span style="font-size: 10.5pt;"> contratada palavra
Afa ko ja intencionados não é fácil de separar, o bebê estava coberto com um
pano vermelho, a fim de cortar o cordão umbilical; </span><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;">Sango</span></b><span style="font-size: 10.5pt;"> , um ser com uma força
sobrenatural.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Ele se
casou com cinco mulheres, Osun que transformou-se em água em Osogbo; Oya que se voltou para Igala em ra Ile; Oba que desapareceu em Odo Oba, Awa e
Gambiolu. Sango era um guerreiro forte se tornando um símbolo de poder e de
verdade, servindo como o juiz supremo do Império Oyo e sendo o tribunal final.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Sua
OSE, representando dois eixos, era um símbolo de justiça. Sendo o rei de
Justiça e não entendida por seu povo, ele decidiu se enforcar em uma árvore
chamada IGBA, mas seu amigo Aladekun o conveceu de continuar, com
esta decisão tornou-se OBA KOSO, o que significa o rei pendurado na árvore.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Ele
desapareceu para a terra deixando para trás a sua coroa e um Edun Ara (Oni epon
lara) retirado de seu corpo, que foi dado a Aladekun para convidá-lo a qualquer
momento quando cidade estivesse precisando.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Aladekun
tornou-se o apoio de Oyo a qualquer momento quando a cidade estivesse</span></span><span style="background-color: black; color: white; font-size: 10.5pt;"> em necessidade, sendo
chamado Oni le Ogba, que se originou a palavra Mogba. Hoje em
dia, Mogba ainda está em Koso na </span><span style="background-color: black; color: white; font-size: 14px;"> </span><span style="background-color: black; color: white; font-size: 14px;">cidade de </span><span style="background-color: black; color: white; font-size: 10.5pt;">Oyo. Mogba Koso até hoje é o Chefe maior, que coroa
todos os Alaafins e o guardião da coroa do Alaafin.</span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-size: 10.5pt;">Todos Alaafin são chamados de
"omo Ekun" o filho de um tigre, ome </span><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;">derivado de Sango. </span></b></span><br />
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;">"Sango foi
descoberto morto quando criança e quando o corpo foi jogado no mato o tigre
cuidou dele como um de seus filhotes." Esta foi a origem de chamar todos
os Alaafins de "omo Ekun" o filho de um tigre.</span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<b><span style="background-color: black; border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrgUgEqQyVxm3Oh2SsNi9C0m1dyENDKpUOuxvJu_JoVPLrEdAtgj6VVAtTj7EAqMCh5MhnkPhdnw1WsJ4EAffTXKYDmJYDkbjoL25alMo0J22cL72uon0f6rj0sEsroJO_5nZ7wFTaIc4/s1600/elegun.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjrgUgEqQyVxm3Oh2SsNi9C0m1dyENDKpUOuxvJu_JoVPLrEdAtgj6VVAtTj7EAqMCh5MhnkPhdnw1WsJ4EAffTXKYDmJYDkbjoL25alMo0J22cL72uon0f6rj0sEsroJO_5nZ7wFTaIc4/s1600/elegun.jpg" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<b><span style="background-color: black; border: 1pt none windowtext; font-size: 10.5pt; padding: 0cm;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
</div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Elegun SANGO OLUOBAKOSO<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">Além do Alaafin é considerado como um representante do mundo do espírito
", <i><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">alase Ekeji orisa</span></i> ", que significa" <i><span style="border: none windowtext 1.0pt; mso-border-alt: none windowtext 0cm; padding: 0cm;">aquele com autoridade, perdendo apenas para o criador</span></i>";<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">O
Império Yoruba se destacado no mundo, com três modelos muito distintos e
únicos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: -18pt; vertical-align: baseline;">
<!--[if !supportLists]--><span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt;">·<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt;">
</span></span><!--[endif]--><b><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Primeiro</span></b>, ele estabeleceu uma constituição
desenvolvida e boa, embora não escrita. O homem Yoruba é regido por
uma forte convenção.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: -18pt; vertical-align: baseline;">
<!--[if !supportLists]--><span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt;">·<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt;">
</span></span><!--[endif]--><b><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Em </span></b>segundo lugar, desenvolveram um
sistema militar que permite o desenvolvimento de armamentos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoListParagraph">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt; text-indent: -18pt; vertical-align: baseline;">
<!--[if !supportLists]--><span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Symbol; font-size: 10pt;">·<span style="font-family: 'Times New Roman'; font-size: 7pt;">
</span></span><!--[endif]--><b><span style="border: 1pt none windowtext; padding: 0cm;">Em
terceiro lugar,</span></b> desenvolveram
um método prático de administração, adotando o sistema de gabinete de governo. Desde
o Alaafin (rei), do Primeiro-Ministro e os vários chefes de divisão, todos têm
seus papéis e responsabilidades e respeitados com separação de poderes, e insumos
para freios e contrapesos.<o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;">Os ganhos do império de Oyo
eram únicos como um regime de monarquia com o seu poder, beleza, tradição e
constituição por exemplo Oyo Mesi, São Kakanfo e outros títulos da chefia; As
artes, percussão, poesia, música, escultura, produtos de argila, escultura em
cabaça e obras de couro; Agricultura, comércio e indústrias; A arte
da guerra, arcos e flechas, lanças, espadas, sabres, cavalos;Arte Sartorial - A
qualidade dos materiais nativos como Etu, Sanyan e Aso Alaro;Arquitetura-O palácio
em Oyo é único em tamanho e estilo.<o:p></o:p></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir5EmOQacVBFuSpu2GlMO5U5cA5hxLW6oitF_DjXK2mLB3XJrctClsKlMW2GlqK5e_jAFISDZDGJ5Rl0REui-8hYCUBAVVa56VF36egSCluzgTaXiEqPwWbnpivS9H0isAIk1j5QVvyG4/s1600/alafinIII.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEir5EmOQacVBFuSpu2GlMO5U5cA5hxLW6oitF_DjXK2mLB3XJrctClsKlMW2GlqK5e_jAFISDZDGJ5Rl0REui-8hYCUBAVVa56VF36egSCluzgTaXiEqPwWbnpivS9H0isAIk1j5QVvyG4/s1600/alafinIII.jpg" height="400" width="263" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-size: 10pt;"><!--[if gte vml 1]><v:shape
id="Imagem_x0020_3" o:spid="_x0000_i1026" type="#_x0000_t75" alt="Old King de Oyo"
style='width:220.5pt;height:333.75pt;visibility:visible;mso-wrap-style:square'>
<v:imagedata src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image005.jpg"
o:title="Old King de Oyo"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--></span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Alaafin Adeyemi III na sua
instalação em 1971<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">OYO continua a ser um ponto importante de preservação histórica da
cultura do património, onde as crenças, ritos tradicionais e arte antiga como
tinturaria, tecelagem, escultura, agricultura, caça, percussão, dança, louvor,
saudação, vestir, penteado, maneiras de alimentos, etc, ainda são vivos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic329BgG6TuAa5Gmcuf73TmfRn7TQj0Ud6SnaFPbxyH8j9OtQLd0WvfhDzN9LmmjDcDlNImsa6jx5ho9E7TuFOvVJxz6CyV8Jr33-G4B1R4n7hBSMr5PI17aDbsG-BocMs6WwAICn3-ag/s1600/alafin+hoje.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><span style="background-color: black; color: white;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEic329BgG6TuAa5Gmcuf73TmfRn7TQj0Ud6SnaFPbxyH8j9OtQLd0WvfhDzN9LmmjDcDlNImsa6jx5ho9E7TuFOvVJxz6CyV8Jr33-G4B1R4n7hBSMr5PI17aDbsG-BocMs6WwAICn3-ag/s1600/alafin+hoje.jpg" height="320" width="212" /></span></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 8.25pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-size: 10pt;"><!--[if gte vml 1]><v:shape
id="Imagem_x0020_2" o:spid="_x0000_i1025" type="#_x0000_t75" alt="Alaafin de Oyo"
style='width:223.5pt;height:337.5pt;visibility:visible;mso-wrap-style:square'>
<v:imagedata src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image006.jpg"
o:title="Alaafin de Oyo"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><!--[endif]--></span><span style="font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; vertical-align: baseline;">
<span style="background-color: black; font-size: 10pt;"><span style="color: white;">Alaafin de Oyo, Sua
Majestade Imperial Oba (Dr.) Olayiwola Adeyemi III<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-50964284693517960962014-03-24T15:28:00.002-03:002014-03-26T10:33:27.045-03:00A ORIGEM DO CANDOMBLÉ NO BRASIL<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGI1-TAZpIXTedAjTc0J6PiTpUQfrxSthXGbPFvHfyRX4P6Kceh7PTMArhYJh-36l0R2kNTO-PVsmv-RhbHKG4dDkd2SST2NOYfhJkHxsPObVkHgRxu_woGa-PRjNYeCkv_B9q0VeljpE/s1600/Bibiana.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgGI1-TAZpIXTedAjTc0J6PiTpUQfrxSthXGbPFvHfyRX4P6Kceh7PTMArhYJh-36l0R2kNTO-PVsmv-RhbHKG4dDkd2SST2NOYfhJkHxsPObVkHgRxu_woGa-PRjNYeCkv_B9q0VeljpE/s1600/Bibiana.jpg" height="320" width="212" /></a></div>
<span style="color: white;"><br /></span>
<br />
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A guerra contra os daomeanos fora, literalmente, longe demais. Escravizadas na terra-mãe, princesas e sacerdotisas africanas, do país iorubá, acabaram indo parar na Bahia, acorrentadas como animais. Foi assim que Iyá Akalá, Iyá Adetá e Iyá Nassô, nomes preservados pela tradição oral, teriam migrado para o Brasil. Mais tarde, fundariam, na Bahia, a Casa Branca, o mais antigo templo de culto africano do país. Começava assim, no século XVIII, em Salvador, primeira capital da colônia portuguesa, no bairro da Barroquinha, a religião dos orixás. Hoje, o terreiro comandado por Altamira Cecília dos Santos, a mãe Tatá, é símbolo de resistência, fora da África, dos reinos de Ketu e Oyó. Matriarcado ancestral princesas e sacerdotisas africanas plantaram na Bahia o axé do terreiro mais antigo do Brasil. A Casa Branca representa o ponto de partida da fascinante história sobre a origem do candomblé no Brasil. Os traficantes e senhores talvez não soubessem, mas naqueles navios negreiros, acorrentadas como animais, viriam verdadeiras princesas e as mais importantes sacerdotisas africanas do país iorubá, escravizadas durante a guerra contra os daomeanos.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas já durante a longa travessia do Atlântico, e também ao desembarcar na Bahía, as nobres matriarcas foram reconhecidas e veneradas pelos seus conterrâneos. Com sua sabedoria ancestral, elas iriam reconstituir na Bahia os locais sagrados destruídos na terra-mãe.E, em pleno centro da capital baiana, fundariam a mais antiga casa de culto africano do Brasil. A tradição oral preservada pelos iorubás aponta o nome de algumas mulheres como sendo as criadoras da Casa Branca, hoje situada no Engenho Velho da Federação.iyá Akalá, iyá Adetá e iyá Nassô são os mais citados.Mas alguns detalhes se perderam com o passar dos séculos e nem mesmo os atuais representantes da casa sabem ao certo quem de fato foi o principal personagem dessa história. No entanto, alguns depoimentos de velhas senhoras do candomblé, registrados por pesquisadores que se dedicaram ao estudo das religiões africanas na Bahia, deixaram pistas que podem contribuir para a revelação do mistério que envolve a fundação do terreiro.O etnólogo Edison Carneiro, que conviveu com antigas mães de santo da velha tradição iorubá, revela o nome das três mulheres, sem, no entanto, identificar qual delas de fato foi a fundadora do terreiro e se atuaram ao mesmo tempo ou se sucederam no poder. Já Vivaldo da Costa Lima, inspirado pelo depoimento da célebre mãe Senhora, do Ilê Axé Opô Afonjá (fundado em 1910), sugeriu que iyá Akalá era mais um título, um "oiê", de iyá Nassô. Pierre Verger, com base no depoimento de mãe Menininha do Gantois (fundado em 1890), não cita o nome de Iyá Adetá e se refere a iyá Akalá como sendo a primeira mãe-de-santo da Bahia, que seria substituída por iyá Nassô.Para complicar ainda mais, Verger cita um novo nome, Iyalussô Danadana, que teria vindo de Ketu para introduzir o culto a Oxóssi na Bahia. Por fim, há a versão de Roger Bastide, outro etnólogo estudioso das religiões africanas.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Segundo ele, a mãe de Iyá Nassô havia sido escrava no Brasil e depois de alforriada voltou para a África, onde a concebeu. Anos mais tarde, Iyá Nassô teria vindo da Nigéria acompanhada de Marcelina Obatossí, sua sucessora na Casa Branca, com a missão de fundar um candomblé em Salvador.Após 21 anos de pesquisas, o antropólogo Renato da Silveira, autor de artigos sobre a fundação dos terreiros mais antigos da Bahia (e com um livro no prelo sobre a Casa Branca), lança um pouco de luz nessa história até então bastante obscura. Tudo teria começado ainda no país iorubá, no reino de Ketu, durante o governo do Alaketu, Akibiohu, entre 1780 e 1795. De lá vieram alguns integrantes da família real Arô, aprisionados pelos daomeanos na cidade de Iwoye (Iuó-iê), junto com um grupo de cerca de 200 escravos. Entre eles, estavam importantes sacerdotes e também duas princesas, gêmeas, com cerca de 9 anos de idade. Eram netas do Alaketu. Uma delas, Otampê Ojarô - que recebeu o nome cristão de Maria do Rosário Francisca Régis -, foi a fundadora do Terreiro do Alaketu, no Matatu de Brotas, e certamente participou dos rituais de fundação da Casa Branca.Reza a lenda que, ao atingir a maioridade, a princesa foi alforriada pelo próprio Oxumarê, na figura de seu proprietário. Mas, segundo Renato da Silveira, ela era ainda muito jovem quando o terreiro da Barroquinha foi fundado e uma outra sacerdotisa deve ter iniciado os fundamentos de Oxóssi, iniciando a soberania de Ketu na Bahia.Conforme Silveira, iyá Adetá teria sido a sacerdotisa da linhagem Arô a fundar a primeira versão do candomblé baiano, em um culto quase que doméstico a Odé (o caçador, um dos nomes de Oxóssi) e Exu (o orixá mensageiro).Isso teria acontecido não nos fundos da Igreja da Barroquinha, onde mais tarde seria criada a Casa Branca, mas na Rua da Lama (atual Visconde de Itaparica), uma das travessas do bairro próximo à região central de Salvador.SucessãoIyá Akalá pode ter vindo junto com o clã dos Arôs para a Bahia, ou chegado logo depois.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ela deve ter sido a fundadora do culto a Airá Intile, uma das qualidades de Xangô. Iyá Nassô, por sua vez, era uma das figuras mais nobres do império de Oyó, responsável pelo culto ao orixá do rei, mas é provável que ela tenha chegado em terras baianas somente mais tarde, por volta de 1830, com a missão de comandar a união das diversas divindades africanas em um único templo religioso. Muitos adeptos da casa começam a contar, a partir daí, a história da fundação do candomblé, desde que todos os orixás passaram a ocupar o mesmo espaço sagrado. Em homenagem a esta matriarca ancestral, o título africano da Casa Branca ainda hoje é Ilê Iyá Nassô Oká, a casa de iyá Nassô. Reza a tradição iorubá que iyá Nassô retornaria mais tarde à Nigéria, para reconstituir alguns elementos do culto e provavelmente para adquirir tipos vegetais, minerais e animais necessários nas cerimônias religiosas. Com ela levou sua sobrinha Marcelina Obatossí, e retornou com outras figuras eminentes, que ajudariam a compor na Bahia o cenário dos antigos rituais africanos. Marcelina Obatossí sucedeu sua tia. Em seguida, duas mulheres disputaram o trono do terreiro: Maria Julia Figueiredo e Maria Júlia da Conceição Nazaré. O oráculo de Ifá elegeu a primeira e Maria da Conceição partiu com sua família e aliados para as terras de um antigo casal estrangeiro, de sobrenome Gantois. Também por questões de preeminência, mãe Aninha deixaria a Casa Branca anos mais tarde para fundar o Ilê Axé Opô Afonjá, na roça do São Gonçalo do Retiro.Junto ao Alaketu, eles formam o berço do candomblé de origem iorubá na Bahia. Depois de Maria Júlia Figueiredo viriam Ursulina Figueiredo (mãe Sussu), Maximiana Maria da Conceição (tia Massi), Maria Deolinda, Marieta Vitório Cardoso e Altamira Cecília dos Santos (mãe Tatá), atual ialorixá da Casa Branca, hoje reconhecida como o candomblé mais antigo do Brasil, a matriz dos fatos, lendas e mitos que narram a história de mulheres soberanas, que deixaram seus impérios africanos como escravas para reinarem absolutas na Bahia de todos os santos, com a bênção de seus Orixás.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Monumento negro das Américas, Casa Branca é símbolo vivo da história de resistência de um povo. O monumento a Oxum foi idealizado por Oscar Niemeyer e tem escultura de CarybéTestemunho da história de fé e resistência de um povo, onde sobrevive a riquíssima tradição dos reinos de Oyó e de Ketu, o terreiro da Casa Branca foi o primeiro monumento negro das Américas a ser considerado patrimônio da nação. Mas para compreender seus espaços sagrados é preciso levar em conta os rituais desenvolvidos há mais de 150 anos no local. Cerimônias religiosas que, apesar da opressão policial, se mantiveram fiéis às tradições plantadas pelos ancestrais nagôs.No topo do terreno em declive, ao longe se vê a casa branca, a edificação principal que deu nome ao templo religioso. O barracão, como é chamado pelos adeptos do candomblé, domina o cenário que compõe a "roça" e centraliza os cultos mais importantes; é o cérebro do terreiro. No centro do barracão há uma grande coluna, chamada ixê, culminada por uma coroa de madeira em dimensão monumental, dedicada ao orixá Xangô. O limite da coroa é exteriormente marcado com um oxê - o machado duplo, principal símbolo do orixá da justiça -, e uma quartinha de barro. De acordo com o antropólogo Raul Lody, o ixê funciona como uma espécie de cordão umbilical, um elo permanente com o terreiro e o Orum, que para os africanos representa o céu, a morada dos orixás.Em sua volta, estão dispostos os ilês orixás, as diversas casas de santo, construídas em alvenaria, com seus assentamentos a Exu, Ogum, Oxóssi, Omulu, Xangô, Iemanjá, Iansã, Obá e outras divindades que regem o destino do terreiro. Em espaço contíguo está o peji de Oxalá e, ao lado, ficam os aposentos da ialorixá.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Completando os espaços do prédio estão a cozinha, uma pequena sala ocupada pelos ogãs, os banheiros e o roncó, as camarinhas onde ficam confinadas as noviças no período de iniciação, uma espécie de útero do candomblé que vai gestando suas novas filhas-de-santo.Vegetação ritualAbraçando e acolhendo as divindades africanas, se vê o mato, a vegetação ritual e as imensas árvores sagradas - como jaqueiras e gameleiras brancas - que reservam outros assentamentos, como o do orixá Irôco. Por fim, se vê as habitações da comunidade local, de famílias que há mais de um século ocupam o candomblé, reunindo os mortais aos espíritos ancestrais.Na parte baixa da colina, o visitante se surpreende com uma construção imitando um barco, feito de alvenaria, dedicado a Oxum, um dos principais santuários ao ar livre da Bahia. O povo da Casa Branca gosta de lembrar que a água da fonte de Oxum, onde impera uma sereia prateada, corre até o oceano, onde a orixá das lagoas e rios se encontra com Iemanjá, a rainha do mar. Vale destacar que a Praça de Oxum, como é chamada, foi projetada pelo arquiteto Oscar Niemeyer, e a sereia, pelo artista plástico Carybé.A Casa Branca foi tombada em 1984 pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), depois de um esforço conjunto, uma aliança entre intelectuais e adeptos do candomblé, sob a liderança do antropólogo Ordep Serra, que hoje é também ogã (uma espécie de protetor civil) e ex-presidente da Sociedade Beneficente São Jorge do Engenho Velho, entidade que dá conta de alguns procedimentos administrativos e projetos sociais. Atualmente, a associação é dirigida por Arielson Chagas, o ogã Léo, filho de Aeronithes Conceição Chagas, a mãe Nitinha D''Oxum, uma das ialorixás mais respeitadas do Brasil.Depois da Casa Branca, o Terreiro do Gantois, o Ilê Axé Opô Afonjá, do São Gonçalo do Retiro, o Alaketu, do Matatu de Brotas, e o Bate-Folha - este de nação Angola - também já foram tombados como patrimônio da nação.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O antropólogo Ordep Serra explica que é o simbolismo dos elementos que formam o conjunto e as características do culto que devem determinar as diretrizes da preservação do templo matriz do rito nagô no Brasil. O profundo elo da natureza e sua ocupação espacial pelo imaginário religioso cria um perfeito equilíbrio entre paisagem e arquitetura, compartilhando matas, árvores, riachos e demais marcos naturais que se integram à proposta religiosa e às festas do candomblé.Águas de OxaláAs festas da Casa Branca se iniciam no fim de maio ou início de junho, com a celebração a Oxóssi, o onilé, pai do terreiro. Depois, acontece a festa de Xangô, dono do barracão. Já na última sexta-feira de agosto, é realizada uma das mais belas cerimônias: as Águas de Oxalá, rito de purificação que prepara a casa para as cerimônias de todo o período festivo que se intensifica a partir de setembro.Nas primeiras horas da manhã, ainda madrugada, as filhas-de-santo seguem vestidas de branco em procissão até a fonte dedicada a Oxum. As sacerdotisas carregam vasos, potes e outros artefatos de barro, enquanto cantam e dançam ao som dos atabaques. Após encher os vasos de água, as mulheres voltam, em fila, com seus potes nos ombros. O ritual tem uma pausa e depois continua à noite, com uma longa festa no terreiro. Os três domingos seguintes às Águas de Oxalá são dedicados a Oduduá (orixá da criação), Oxalufan (Oxalá velho) e Oxaguian (Oxalá jovem).Na primeira segunda-feira após esse ciclo, o orixá Ogum é celebrado, e, na segunda seguinte, Omolu. O ciclo de festividades termina no final de novembro, com várias cerimônias de iniciação, tributos a Xangô e a Oxum. No dia de sua celebração, o grande barco é enfeitado de amarelo e dourado, onde são depositados as iguarias africanas em oferenda à orixá. Nenhuma dessas festas pode ser fotografada ou filmada no interior do candomblé, por ordem expressa de sua governante, a iyalorixá Altamira dos Santos, filha de Oxum que representa a mais antiga linhagem de mães-de-santo. Uma linhagem de mais de dois séculos.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Que representa 200 anos de resistência e tradição. E de orgulho para toda uma civilização.Perseguição e mudançasAfricanos da Casa Branca foram expulsos do centro da capital e se mudaram para a roça do Engenho VelhoA Bahia estava passando por profundas transformações naquele meado de século XIX. Desde então, a Barroquinha não seria a mesma, passaria por reformas, e não haveria mais espaço para as comunidades negras ali instaladas, tão próximas da sede do poder local. Era preciso fazer uma limpeza geral, "modernizar" era a palavra de ordem entre os governantes. Por volta de 1850, um ano antes de iniciar as obras na região, as autoridades decidiram acabar com aquelas reuniões tidas como "bárbaras" e "primitivas". Profanaram os locais sagrados e expulsaram de vez os africanos e seus orixás do centro da capital. Seria preciso reconstituir um novo templo longe dali, onde os atabaques pudessem clamar por suas divindades distante dos ouvidos e olhares opressores das autoridades vigentes. Nasceria a Casa Branca do Engenho Velho da Federação.Embora os cultos africanos fossem terminantemente proibidos na Bahia de outrora - a liberação definitiva só foi assinada pelo governador Roberto Santos. Em 1976 - a presença do candomblé na Barroquinha conviveu com a passagem de alguns governos, uns mais permissivos, como o do famoso Conde dos Arcos; outros mais intransigentes, a exemplo do temido Conde da Ponte. Em qualquer caso, todos os rituais eram feitos às escondidas, ou pelo menos disfarçados pelo sincretismo religioso que ganhava força na Velha Bahia. As duas principais festas comemorativas da fundação do candomblé fazem referências aos orixás mais venerados: Oxóssi, o senhor da terra, e Xangô, o regente da casa. A primeira acontece no dia de Corpus Cristhi, e a segunda no dia de São Pedro, datas em que não seriam necessários maiores pretextos para os banquetes africanos e a batida dos tambores.Quando as festas para os orixás não eram mascaradas pelo sincretismo, os rituais religiosos eram praticados em segredo absoluto para escapar da repressão. Reza a tradição iorubá que, para realizar o culto de Xangô em sigilo, os adeptos da Casa Branca construíram uma passagem secreta sob uma árvore oca, atingida por um raio.Lá, os altares sagrados poderiam ser cultuados e as oferendas realizadas de maneira discreta e preservada.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Segundo contam, o subterrâneo secreto deixou de existir, assim como outros que haveria por ali, quando o terreno foi aplainado e as árvores sagradas extraídas, durante a reforma da área.Ataque policialNo centro da cidade, o terreiro ficava próximo ao Palácio dos Governadores, ao Mosteiro de São Bento e ainda do Solar do Berquó, na época residência de um dos desembargadores do Tribunal da Relação. Temendo um ataque policial, as sacerdotisas arrendaram as terras do Engenho Velho, longe do governo central.Mas, segundo Pierre Verger, estudioso do assunto, antes de chegar na Avenida Vasco da Gama, onde ainda se encontra, o terreiro mudou-se por diversas vezes, "passando inclusive pelo Calabar, na Baixa de São Lourenço".Depois desse episódio, todos os templos africanos seriam construídos nos arredores da antiga Salvador, onde as cerimônias poderiam ser realizadas de maneira mais discreta.Foi durante o governo do Visconde de São Lourenço, entre 1848 e 1852, que os negros da Casa Branca seriam de uma vez por todas expulsos da Barroquinha.Em 1851, a "modernidade" chegou à capital, com a urbanização da área e pavimentação da Baixa dos Sapateiros, antiga Rua da Vala, por onde esgotos corriam a céu aberto. Alguns anos antes, vários levantes de escravos foram deflagrados em Salvador, até que em 1835 se deu a sangrenta Revolta dos Malês, organizada pelos negros muçulmanos. Era mais um pretexto para desmobilizar os encontros entre os africanos na Bahia. Iyá Nassô, tida ainda hoje como a principal matriarca da história do terreiro, partiu com os seus súditos para plantar o axé na então distante roça do Engenho Velho, "no Rio Vermelho de baixo". Dizem que foi o lendário babalaô Bamboxê Obticô, avô do saudoso Felizberto Sowzer, uma figura importante na reconstituição dos cultos e rituais perdidos no tempo. Sobre Yá Nassô, se sabe que ela morava na Rua das Flores, no Pelourinho, e era comerciante de carnes no Mercado de Santa Bárbara. Mas, já no Engenho Velho, as autoridades novamente tentaram calar os tambores e cânticos africanos da Casa Branca. Uma reportagem publicada no antigo Jornal da Bahia, de 3 de maio de 1855, faz alusão a uma reunião na casa de Yá Nassô que teria sido interrompida por uma diligência policial: "Foram presos e colocados à disposição da polícia Cristovão Francisco Tavares, africano emancipado, Maria Salomé, Joana Francisca, Leopoldina Maria da Conceição, Escolástica Maria da Conceição, crioulos livres; os escravos Rodolfo Araújo Sá Barreto, mulato; Melônio, crioulo, e as africanas Maria Tereza, Benedita, Silvana... que estavam no local chamado Engenho Velho, numa reunião que chamavam de candomblé".Pierre Verger destacou o nome de Escolástica Maria da Conceição, não muito comum, com o qual seria batizada, mais de três décadas depois, a famosa mãe-de-santo Menininha do Gantois.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Isso indica que provavelmente os pais de Menininha também faziam parte ou pelo menos freqüentavam a Casa Branca no período em que ocorreu a ação policial. Mas o fato é que os adeptos da Casa Branca resistiram a mais de dois séculos de vigilância repressora. E em tom de discurso, as palavras do elemaxó do terreiro, Antônio Agnelo Pereira, revelam o sentimento de orgulho comum aos filhos e filhas do candomblé mais antigo do Brasil:"Sim, nossa gente tem sofrido muito. Lutamos contra o cativeiro e continuamos lutando contra outras injustiças, sempre com dignidade. Até há pouco nosso culto era perseguido com cruel violência, mas resistimos. Ainda hoje, há quem despreze nossas tradições, nossa religião, tratando-a, por exemplo, como simples folclore, por ignorância ou preconceituosa má vontade. Isto não nos impede de manter a herança divina que recebemos". Sociedade paralelaHomens proeminentes e `mulheres do partido alto´ criaram organizações secretas de negros na BahiaO culto a Babá Egum é um traço da presença do Estado paralelo criado pelos iorubásDepois de criar as irmandades e confrarias religiosas, e de incorporar novos rituais proibidos pelas autoridades locais, os africanos ligados à Casa Branca seriam ainda mais audaciosos, inaugurando as chamadas "sociedades secretas". Com a chegada de mais e mais líderes nagôs à Bahia escravocrata, o candomblé mais antigo do Brasil passaria a constituir uma espécie de organização paralela à dos brancos do Novo Mundo. Adaptadas aos rigores da clandestinidade, as sociedades secretas representavam o poder ancestral exercido pelos soberanos da mãe África sobre seus súditos baianos.Entre as sociedades secretas criadas pelos negros ligados à velha Casa Branca, a mais importante foi a Ogboni, na visão do antropólogo Renato da Silveira.Ela representava, na Bahia, o conselho de ministros do alto escalão do império de Oyó e de outros reinos iorubás. A sociedade Ogboni estava acima das demais associações e até mesmo dos clãs, defendendo o interesse da sociedade e servindo como poder moderador do Alafin (imperador). Era uma espécie de corte de justiça do país iorubá, responsável pela manutenção da paz, da ordem e pela determinação do consenso nas decisões políticas.A sociedade Ogboni era dirigida por um conselho de seis êssas, chamados de Aramefá na Bahia. Algumas decisões importantes, como o arrendamento das terras da Barroquinha na virada do século XVIII, podem ter sido de sua responsabilidade.Mestre Didi, filho da célebre mãe Senhora, do Ilê Axé Opô Afonjá, se refere à presença do Aramefá como um conjunto composto por homens consagrados "com postos na Casa de Oxóssi", existente ainda nos anos 30.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O líder da Ogboni era o Oluô, cargo que na Bahia foi ocupado por Bamboxê Obticô, africano que desempenhou papel fundamental na criação da Casa Branca e na história dos chamados "terreiros de tradição Ketu".O antropólogo Pierre Verger cita o nome dos demais êssas: Assiká (ou Axipá, filho de Oxóssi ou Ogum), êssa Oburô (filho de Xangô), êssa Kayodé (Oxóssi), e ainda os êssas Ajadi, Adirô e Akessan, servidores de outros orixás importantes presentes no candomblé e também do culto de Babá Egum, o espírito dos mortos. Silveira revela que os êssas baianos eram ex-escravos alforriados que chegaram a prosperar na sua atividade e conquistar prestígio e destaque nas irmandades religiosas, sobretudo a de Bom Jesus dos Martírios, recebendo ainda títulos honrosos no candomblé da Barroquinha.GueledésJá as sociedades Iyalodê e Gueledé eram formadas apenas por mulheres e representavam a influência feminina nas organizações africanas reconstituídas na Bahia.As iyalodês, explica Silveira, foram originárias dos reinos de Ibadan e Abeokuta. O título era o mais elevado que uma mulher poderia alcançar nessas cidades, significando "senhora encarregada dos negócios públicos". As iyalodês baianas, portanto, defendiam os interesses das negras que se tornaram comerciantes, e assim conseguiram fama e dinheiro depois de alforriadas. Na Velha Bahia, elas ficariam conhecidas como "as mulheres do partido alto". Reverenciar os poderes unicamente femininos era a missão da Sociedade das Gueledés, originárias do reino de Ketu. Na Bahia, as gueledés tinham as mesmas funções de origem, exaltando a fecundidade e a magia dos rituais matriarcais. No terreiro na Barroquinha, em seguida no Engenho Velho, e mais tarde em outros pontos da cidade, elas faziam os chamados Festivais gueledés. Um par de máscaras usadas pelas mulheres da sociedade secreta, pertencente à coleção do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, e provavelmente apreendido durante uma diligência policial, revela o caráter carnavalesco das festas promovidas pela associação, com o objetivo de ridicularizar a violência e exaltar a paz entre as nações.Durante alguns anos, a mãe-de-santo Maria Júlia Figueiredo (Omonikê) acumulou os títulos de iyalodê, de ialaxé das gueledés, de ialorixá da antiga Casa Branca e ainda de provedora-mor da Irmandade de Nossa Senhora da Boa Morte, a principal instituição das mulheres iorubás, ativa ainda hoje na cidade de Cachoeira. Era Maria Júlia Figueiredo, portanto, a representante suprema das matriarcas africanas. Através dos ritos misteriosos das sociedades secretas, os adeptos do candomblé criaram na Bahia um novo estado iorubá, extinto após longo período de repressão. E sua existência está intimamente ligada ao mito da criação do candomblé mais antigo do Brasil."Embora tenham perdido o grande poder que representavam na África, esses títulos mantiveram a solenidade e a legitimidade, pois, adaptados às condições locais, foram atribuídos de acordo com méritos, preceitos, ritos e costumes tradicionais, reconhecidos e praticados pela diáspora nagô-iorubá, que começava a tomar consciência de si como nacionalidade", observou Renato da Silveira.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Do Estado paralelo criado pelos iorubás, ficaram apenas vagas lembranças, cânticos cerimoniais e alguns títulos ainda hoje usados, além de máscaras e outros objetos de culto, alguns apreendidos durante a repressão policial que se deu na Bahia, sobretudo nos anos 20 e 30 do século que passou. No entanto, alguns rituais se mantiveram até os dias de hoje, como o culto a Babá Egum, com presença marcante, sobretudo, em candomblés da Ilha de Itaparica. Único panteãoAncestrais africanos foram cultuados no mesmo templo pela primeira vez na BahiaNo Terreiro da Casa Branca eles se encontrariam pela primeira vez, discretamente, para não atrair os olhares vigilantes e repressivos das autoridades locais. Cultuados separadamente em seus reinos de origem, os orixás africanos seriam invocados em um só lugar, na Bahia, pelos negros escravos trazidos para o recôncavo. Por razões de proeminência, em um meticuloso acordo político e espiritual, os fundadores do candomblé mais antigo do Brasil implantariam em Salvador os cultos a Oxóssi, Xangô, Oxum e Oxalá, os quatro pilares de sua fé, representando os quatro cantos do país iorubá.Enquanto o povo de cada reino iorubá mantinha seus cultos orientados às diversas qualidades de um único orixá, na Casa Branca, quando esta ainda funcionava nos fundos da Barroquinha, foi criado o xirê - a roda dos orixás -, permitindo que as santidades fossem reunidas em um único panteão. Mas não por acaso.O início dessa história começa ainda na África, em meados do século XVIII, quando o reino do Daomé (atual República do Benin) inicia sua expansão sobre o território iorubá. Ao passo que os daomeanos invadiam e saqueavam as cidades, profanando os locais sagrados e deixando seu rastro de destruição por onde passavam, os prisioneiros iorubanos eram feitos cativos e vendidos em um dos movimentados portos da Costa da Mina (também conhecida como Costa dos Escravos). De lá, milhares deles viriam para Salvador.Mais do que saudades do seu canto, cada povo trazia na lembrança os rituais sagrados do orixá protetor de seu reino. Assim, à medida que os daomeanos avançavam sobre os iorubás, novos povos iam chegando, com novas características religiosas. Em pouco tempo, o litoral da velha Bahia se transformaria num espelho demográfico da Costa da Mina. Com a fundação do primeiro candomblé do Brasil, seria necessário, portanto, que ele representasse as diferentes nações que a partir de então passaria a integrar.E foi o que fizeram os criadores da Casa Branca.Em segredo absoluto, homens e mulheres africanos pertencentes às irmandades negras do Bom Jesus dos Martírios e de Nossa Senhora da Boa Morte plantariam os fundamentos de cada orixá na terra de todos os santos.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O primeiro a chegar foi Oxóssi, do reino de Ketu. Invocado por seus súditos, ele veio e ocupou a terra, recebendo por isso o título de onilé. Mais tarde, Xangô - cultuado no reino de Shabé e Oyó - tomaria conta da casa, do barracão principal, recebendo o título de onilê. A esposa de Xangô, Iansã, também viria com os oyós.Anos depois Oxum e Oxalá também ganhariam assentos privilegiados, representando a nação Ijexá e o povo de Ifé, capital espiritual dos iorubás.Panteão sagradonão se sabe ao certo quem foi o responsável direto pela união de todos os orixás em um único panteão sagrado. Na tradição oral dos seguidores da Casa Branca se perdeu esse importante detalhe histórico. Mas dois nomes despontam como os mais prováveis; dois homens entre muitas mulheres, dois grandes sacerdotes que vieram para Salvador exclusivamente para participar da reconstituição religiosa que se daria na Barroquinha. Um deles, possivelmente criou o xirê, inaugurou a roda dos orixás, a principal novidade de culto fundada pelo terreiro baiano, e que, anos passados, seria seguida pelos seus filhos e filhas.Os protagonistas dessa história são Babá Assiká (ou Axipá) e Bamboxê Obticô. Ambos vieram da África para ajudar na fundação do terreiro. Os dois têm o título de êssas (ou uêssas), que revelam serem ministros do conselho de Ketu, altos oficiais iniciados no culto a Oxóssi.De acordo com o pesquisador Vivaldo da Costa Lima, Bamboxê significa "ajuda-me a segurar o oxê", sendo oxê o machado duplo, a ferramenta ritual de Xangô. A tradição afirma que Bamboxê era um membro da família real, um príncipe de Oyó, reino devastado pela guerra a partir dos anos 1830, data em que muitos afirmam ter sido fundado "oficialmente" o terreiro na Barroquinha. Ainda hoje sua memória é exaltada no Padê, a cerimônia de abertura do candomblé da Casa Branca, como êssa Obticô.No Brasil recebeu o nome "branco" de Rodolpho Martins de Andrade e, além de ter sido um dos possíveis criadores da roda dos orixás, participou da iniciação de importantes mães-de-santo da Bahia, como a de Aninha, fundadora do Ilê Axé Opô Afonjá.Atualmente seu corpo descansa em um jazigo na Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, depois de ter sido transladado do Cemitério Quinta dos Lázaros, onde foi sepultado primeiramente.</span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div align="justify" style="text-align: start;">
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na sua lápide é possível ler: "Jazigo perpétuo - Rodolpho Bambocher.- Felizberto Sowzer e família - 1926". Registros sobre babá Assiká, o outro homem que deixou seu nome na lembrança da tradição oral que narra a fundação da Casa Branca, existem pouquíssimos registros. Dois etnólogos franceses, estudiosos dos candomblés da Bahia, fazem referência ao seu nome: Roger Bastide e Pierre Verger. Bastide afirma que babá Assiká veio à Bahia em companhia de iyá Nassô, considerada a fundadora de fato do terreiro que hoje leva seu nome, passando por seu escravo para aqui cumprir sua missão. Para Verger, Assiká teria sido o fundador propriamente dito do terreiro. Nos cânticos do Padê da Casa Branca, quando são saudados os seis êssas fundadores do axé, "os senhores do rito", babá Assiká é o primeiro a ser lembrado, sugerindo sua maior antiguidade, de acordo com Juana Elbein dos Santos, outra estudiosa do assunto. Para o antropólogo Renato da Silveira, babá Assiká formou todos os demais, inclusive Bamgbose, e sua missão era organizar a mudança que estava por ser feita a partir de 1830. E essa mudança chegaria para valer. Uma mudança feita em sigilo, com coragem, magia e tradição ancestral. Com a sabedoria das lendárias iya Nassô e Marcelina Obatossí, com a autoridade de babá Assiká e Bamboxê Obticô, e com a ajuda de muitos outros africanos anônimos, os orixás enfim tomariam assento nas terras sagradas da Bahia, primeiro na Barroquinha, de onde foram expulsos pelas autoridades. Mas depois, em definitivo, no Engenho Velho da Federação, onde permanecem ainda hoje, zelando pelo seu povo fiel.</span><br />
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Bibliografia</span><br />
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O candomblé da Barroquinha - Renato da Silveira</span><br />
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span>
<span style="background-color: rgba(255, 255, 255, 0); color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A formação do candomblé - Luís Nicolau Parés</span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-69983320220288092402013-12-19T18:36:00.001-02:002013-12-19T18:37:41.153-02:00O povo da terra da serpente divina...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVxv0UC0rXjjnHDCPffR1IbO1RZdvLZ9SyCHCwqkiStpzdwIkWYczU-cEXW2cx8KprMFJHNmCcoqCnWHA1k8fBu-UqlD1raJcBgKh6t8mLSmBz9-_cSFvbe2x4Xs6ypRIMp2peuA3w0-g/s1600/povo+de+Dahomey.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="229" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEiVxv0UC0rXjjnHDCPffR1IbO1RZdvLZ9SyCHCwqkiStpzdwIkWYczU-cEXW2cx8KprMFJHNmCcoqCnWHA1k8fBu-UqlD1raJcBgKh6t8mLSmBz9-_cSFvbe2x4Xs6ypRIMp2peuA3w0-g/s320/povo+de+Dahomey.jpg" width="320" /></a></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Nestas próximas postagens procurarei descrever as varias Nações africanas que vieram habitar neste país continente que é o Brasil. Poderemos ver nestas postagens alguns aspectos do panteão Divino que estes povos trouxeram e darei início com a nação Jeje Mahi.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">O povo de Dan que habitou por muito tempo o Dahomey e que tem seu significado como: </span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dan = serpente - homey - terra divinizada, ou seja Terra da serpente divina.</span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;"><br /></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 15pt;"><span style="background-color: black; color: white;">Dan para a nação Jeje Mahi, é considerado o maior Vodun dentro do culto.
A família de Dan é composta por muitos Voduns, todos eles com sua importância
para os povos Fon. Dizem os mais antigos que, existem 3 reis e patronos da
nação Jeje Mahi: Dàn Gbè (Bessém), Sògbò e Azansú. Assim como Oxóssi tem sua
importância para o Ketu, e Kitembo tem sua importância para Angola, esses três
reis seriam a grande potência da nação, sendo reverenciados e cultuados por
todos os filhos, independentes de seus voduns. Dentre esses três reis, se
destaca Bessém por ser um dos primeiros deuses a existir e dele tudo nascer.
Bessém é a serpente da vida, aquela cujo morder a própria cauda deu origem ao
movimento de rotação e translação da terra e a partir daí, sendo possível a
existência de vida no planeta. Os patriarcas da família de Dan é o casal Áídò
Wèdò e Dàn gbállà. Àídò Wèdò seria a serpente arco-íris e Dàn gbállà seria seu
reflexo nas águas. Logo Dan seria a origem de tudo no planeta, sendo um dos
responsáveis por sua existência e por sua habitação. Dentro da nação Jeje, Dan
é o maior vodun, e a serpente, seu maior símbolo, sendo a representação viva de
seu poder. A serpente representa o movimento e o dinamismo, uma vez que
consegue se locomover com extrema facilidade e habilidade sem ser provida de
patas ou outros membros; representa também a transformação, a evolução e a
metamorfose, uma vez que troca de pele e se renova com frequência para poder
crescer e se expandir; além de ser uma hábil caçadora e algumas espécies serem
detentoras de poderosos venenos, mostrando seu poder e ao mesmo tempo exigindo
cautela e respeito por parte dos demais animais e até mesmo nós seres humanos.
Dan não é só representado pela serpente mas também pelo arco-íris que da mesma
forma, possui grande significado para os dahomeanos uma vez que, sua presença
nos céus é presságio de que não irá mais chover além de encantar pela sua
beleza. No antigo Dahomey, são inúmeras as lendas que mistificam a natureza
dessa divindade, sempre enaltecendo sua grandeza, sua realeza e seu poder.
Muitos são os voduns que compõe a família Dan, sendo Bessém (também chamado de
Bafono) o mais conhecido e louvado, sendo seu nome sinônimo da própria Dan.
Destacam-se também Frekwén ou Kwénkwén, Ojikún ou Dan Jikún, Bossá ou Bossalabê
e seu irmão gêmeo Bosukó, Dan Ikó ou Dankó, Azannadô ou Azoannadô, dentre
outros, cada um com sua particularidade e mitos. Na iniciação de um vodun Dan o
sacerdote tem todo cuidado para inciar o vodun em sua fase humana pois, sua
fase serpente é muito perigosa e incapaz de entender os sentimentos, sendo
apenas invocada em rituais e determinados atos. A grande festividade para esse
vodun é o Gboitá, ritual realizado no início do ano e que envolve todos os
demais voduns, cada um recebendo as oferendas cabíveis e sacrifícios em seus
Atisás (árvores sagradas com assentos). Após o Zandró, todos os voduns são
invocados e já saem vestidos no arrebate, não existindo roda para invocá-los na
sala. Seu presente, o gbòitá é carregado por Ogun e depois posto aos seus pés,
iniciando assim o ano e agradecendo pela vida e por todo seu poder. O àndè
(poço) é seu principal símbolo e é indispensável dentro de uma casa de Jeje. O
poço simboliza a abundância (uma vez que enquanto tiver poço, se tem água e
nunca faltará), além de representar um portal, entre o mundo subterrâneo e o
nosso mundo, extraindo água do interior da terra, unindo de certa forma, ambos
os elementos. Dan simboliza a riqueza, a prosperidade e a abundância. Une o
macho e a fêmea, sendo sempre cultuado em casal e recebendo como sacrifícios
animais de ambos os sexos. Dizem os mais antigos que serpente nunca anda só,
onde uma está a outra está por perto, a espreita. Para os iorubás Dan é chamado
de Òsúmárè, deixando de exercer função de rei para ser súdito de Xangô
(divindade do fogo e trovões). Segundo os mitos iorubás, Oxumaré leva água para
o castelo de Xangô, no alto das nuvens, representando a devolução, trazendo
água da terra para o céu e vice-versa. Essa transformação de Rei para súdito se
dá pelo fato de conflitos entre povos Dahomeanos e povos iorubás, onde ambos sempre
tentavam invadir suas cidades e escravizar seus habitantes. O fato é que
Dahomey e demais povos iorubás sempre guerrearam, gerando uma aglutinação de
cultos e distorção de fatos. Dan é o grande Deus da transformação, senhor da
vidência juntamente com Fá (vodun similar ao orixá Òrúnmíllá dos povos iorubás)
englobando tudo o que se diz respeito ao presente, passado e futuro. Representa
a sorte, a versatilidade e o conhecimento, sendo a divindade do raciocínio e da
expansão. Tem como colares o brájá (feito de búzios devidamente encaixados
lembrando escamas de serpente, representando a realeza e a riqueza) e o
húnjèvè, sendo este dado apenas aqueles cujo processo de iniciação está
completo, com suas obrigações pagas, representando a maior idade e sendo o único
colar que vai com o neófito mesmo após sua morte, como se fosse uma espécie de
“senha” para ser recebido no mundo dos Voduns. Seu simbolo é o Draká, seta
adornada com duas serpentes mas, não é errado vermos alguns voduns Dàn com
outras insígnias em suas mãos tais como Adaga, òfá, garras, ágbégbé. variando
conforme conhecimento do sacerdote e caminhos do Vodun. Sua vestimenta varia
conforme vodun, mas sua cor preferida é o branco, por simbolizar a união de
todas as cores.</span></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Alguns Voduns Dan<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dàn Gbé, Dàn Gbé Seén ou Gbesén (Bessém): o nome significa
“adorar a vida”, é o Ako Vodun (Vodun Principal) do povo Jeje Mahi, dono do
Sejá Hunde. É o Vodun ligado a vida e a renovação.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 15pt;"><span style="background-color: black; color: white;">Frekwen, Flekwen ou Kwenkwen: Feminina, irmã gêmea de Tokwen e
ambos são filhos</span></span></div>
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: Georgia, 'Times New Roman', serif; line-height: 15pt;"><span style="background-color: black; color: white;">de Aido Wedo e Dangbala. Guardiã do arco-íris em volta do sol. Também conhecida
como Frekenda. Alguns dizem que é representada pelas cobras venenosas.
Considerada pelos Jeje Mahi como a esposa (ou uma das esposas) de Bessém.</span></span></div>
<span style="background-color: black;"><br /></span>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dan Jikú, Ojikún ou Dan Jikun: Junto com Ewá, vive na parte
branca do arco-íris e no arco-íris da lua. É quem trás as chuvas e é
considerada uma das esposas de Bessém.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Azannadô, Azannawodô ou Azonadô (ou ainda Zoonodo): Este é um
vodun ligado aos voduns de morada na árvore, como Loko. Era cultuado em uma
grande árvore no Bogun. É um principe e é o símbolo da fartura.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Bosalabe: Toquem (adolescente) feminina, irmã gêmea de Bosuko e
irmã de Ewá. Muito alegre e faceira vive nas águas doces. É conhecida também
como Vodum Bossá.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Bosuko: Masculino, toquem (adolescente) e gêmeo de Bossá.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dan Ikó: Ligada e por vezes confundida com Lissá e Oxalá.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Aido Wedo ou Dan Aido Wedo: É a “Serpente Arco-Íris”, um Vodun
raro e pouco conhecido, suas escamas tem o poder de refração de luz, formando
assim o arco-íris.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Dangbala ou Dangbala Wedo: Companheiro de Aido Wedo, e são pais
de vários Voduns Dan. Dangbala é um vodun muito antigo, acredita-se que esteve
presente na criação do mundo. Poucas são as casas que tem fundamentos para
fazer Aido Wedo e Dangbala. No culto creole do Haiti (Vodu) são tidos como os
maiores Lwás (deuses do vodu).<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Azli, Naê Aziri ou Aziri Tolá: É tida como uma serpente das
águas, muito confundida com Òsún. Habita o fundo das águas doces e se veste de
amarelo bem clarinho. Também muito confundida com Azli Togbosi (Aziri Tobôssi).<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Georgia, Times New Roman, serif;">Obs.: No Ketu, muitos destes voduns são considerados qualidades
de Oxumaré.<o:p></o:p></span></div>
<div style="line-height: 15pt; margin: 7.5pt 0cm 0.0001pt; overflow: hidden; text-align: justify;">
<span style="color: #2c2b2b;"><span style="background-color: black; font-family: Georgia, Times New Roman, serif; font-size: x-small;">Ps.: os dados foram coletados numa pesquisa a internet sendo que em muitos casos varios blogs falavam a mesma coisa, por isso deixarei de menciona-los.</span></span></div>
<span style="background-color: black;"><br /></span>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-18284840372867837122013-11-18T14:26:00.001-02:002013-11-18T14:28:36.459-02:00O Tempo e o Destino<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-color: black;"><br /></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9LQdCQ_sMdEd4Jno7zrlWMNgs8RiA2g_uTtL_RPypCvm-j1b1Iod8H1nG9VpkNhPQEOu8_zXDHgV43FsTiH2mQqEh1H2BYLeE_hM2oXivNW7dFzC0M0P6bmwC63Vm9HYZkMflUW_zl3g/s1600/tempopassa.jpg" imageanchor="1" style="background-color: black; margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="313" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEg9LQdCQ_sMdEd4Jno7zrlWMNgs8RiA2g_uTtL_RPypCvm-j1b1Iod8H1nG9VpkNhPQEOu8_zXDHgV43FsTiH2mQqEh1H2BYLeE_hM2oXivNW7dFzC0M0P6bmwC63Vm9HYZkMflUW_zl3g/s320/tempopassa.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<span style="background-color: black;"><span style="color: white;"><br /></span>
</span><br />
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="color: white;"><span style="background-color: black;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">Na mitologia grega Cronos é o deus do
tempo e das estações, mas ele não era a única referência</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"> </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt;">imagin</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt;">á</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt;">ria </span></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"><span style="background-color: black;">que os habitantes
da Grécia utilizavam para classificar o tempo, Kairos era a outra. Significando
“o momento certo” ou “oportuno”, Kairos opunha-se ao tempo cronológico, este
tempo </span><span style="background-color: black;">sequencial que medimos por quantidades: em dias, números e horas. Kairos
corresponde ao tempo existencial, à qualidade da experiência vivida e, nesse
sentido, equivale a um momento indeterminado no tempo em que algo especial
acontece. Por sua natureza adaptativa e circunstancial, Kairos era central para
o pensamento sofista. Os sofistas acreditavam que a vida bem vivida dependia da
capacidade de uma pessoa para se adaptar e tirar proveito da mudança e das
circunstâncias contingentes. Essa diferenciação da vivência do tempo, entre
qualitativo e quantitativo, é também utilizada na Teologia, onde Kairos é
definido como o “tempo de Deus” enquanto Cronos é o “tempo dos homens”.<o:p></o:p></span></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">A diferenciação entre tempo
qualitativo e quantitativo feita pelos antigos gregos já não faz parte do
Imaginário humano. Não oficialmente, pelo menos! Vivemos indubitavelmente sob a
égide do deus Cronos, com a vida classificada ordenadamente em períodos e
estágios que se seguem numa sequência pré-definida do que deve ser, como e
onde. Afinal, Cronos se adéqua bem melhor à concepção de um mundo racional, no
qual o planejamento de metas, o autocontrole e a adequada administração do
tempo são definidos como ferramentas essenciais para uma vida bem sucedida.
Kairos, com sua natureza essencialmente emocional e sensorial, que exige a
fruição com a experiência, o acompanhar da oportunidade inesperada e do </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">momento </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">imprevisto, vai sendo paulatinamente
varrido da consciência. Do dia e hora de nascimento das crianças à programação
de lazer no fim de</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"> </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">semana</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">, em cada momento
nos esforçamos para assumir o controle do tempo, alimentando assim a esperança
de que estamos no comando da própria vida.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin-bottom: 0cm; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">A crença de que é possível prever,
programar e planejar o tempo da vida tem suas vantagens, ela nos permite
ordenar as tarefas do dia-a-dia, fazer poupança, constituir patrimônio, erigir
uma carreira e muito mais. Por um lado, em qualquer circunstância na qual a
realização de algo depende de um conjunto de ações encadeadas, a presença de
Cronos se faz necessária e desejável. Por outro, o seu domínio pode escravizar,
engessando a vida numa busca incessante por</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"> </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">controle</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">. A supremacia do
tempo cronológico na regulação da experiência pode nos tornar temerosos a tudo
que foge à ordem pré-estabelecida. Mais do que isso, ao priorizarmos Cronos em
nossa consciência, corremos o risco de sufocar o potencial psicológico de
kairos no inconsciente, negando à mente o espaço necessário para a fruição com
o que não é planejado. Dessa forma, nossa percepção de Cronos, por não se
beneficiar do contraponto adaptativo de Kairos, deixa de ser um instrumento de
integração ao ciclo da vida. Esse desequilíbrio perceptivo nos leva a temer o
fluxo temporal que assinala a experiência biológica e nos prepara física e
emocionalmente para os diversos papeis que devemos representar no decorrer da
existência. Assim, quando relegamos Kairos ao obscurantismo da inconsciência,
Cronos emerge apenas como o ceifador terrível, aquele que nos rouba o tempo de
viver devorando os dias e as experiências neles vividas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin: 7.2pt 0cm 14.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"><span style="background-color: black; color: white;">O temor da passagem
do tempo como símbolo da dominância psicológica de Cronos nas mentes
contemporâneas – afinal, só nos submetemos àquilo que nos aterroriza – pode ser
percebido em vários aspectos. A obsessão com a juventude, e as inúmeras
tentativas de tentar preservá-la em procedimentos cirúrgicos e na
supervalorização de estilos de vida juvenis, é apenas um deles. A crescente
empolgação de um número cada vez maior de pessoas com substâncias que alteram a
percepção do tempo, sejam ilícitas como a cocaína ou a maconha, sejam lícitas
como o álcool ou os antidepressivos, é outro. Na tentativa de fuga do poder
avassalador de Cronos, a fantasia de um tempo não ordenado, não controlável,
vem sendo alimentada compulsivamente em situações de “escape” da realidade
objetiva: nos roteiros de livros e filmes celebrados, onde séculos e mundos
entrelaçam-se magicamente no presente como cenário para seres imortais e jovens
com superpoderes; em festas como o Carnaval ou as Raves, nas quais as noites e
os dias se amalgamam num fluxo contínuo; na sedução do mundo virtual, onde as
horas “voam” e as distâncias não existem… É assim que, em nossa época, Kairos
tenta solapar seu banimento para o inconsciente, emergindo nesses intervalos
forçados nos quais buscamos ludibriar a foice de Cronos e romper com a
inevitabilidade da passagem do tempo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin: 7.2pt 0cm 14.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"><span style="background-color: black; color: white;">O kairos que emerge
do inconsciente nas brechas temporais em que simulamos o distanciamento de
Cronos, porém, não é suficiente para enfrentarmos o medo do avanço do tempo.
Esse Kairos é apenas a pálida sombra de um momento capaz de se contrapor ao
movimento irreversível do calendário, pois ele não oferece de fato a
possibilidade de nos adaptarmos à oportunidade trazida pelo inesperado. Esse
kairos, não reconhecido e não celebrado pela consciência, somente nutre a
desconfortável sensação de que nos enredamos num tempo cuja extensão não somos
realmente capazes de perceber. E, ao nos depararmos com a constatação de que já
não vemos o tempo passar, sentimos que o “momento certo” mais uma vez nos
escapou e que a vida nos atropela. Talvez por isso a mente contemporânea tema
tanto quanto a passagem do tempo o destino. O temor ao destino, e até mesmo à
ideia de sua existência, atormenta quem vive nos tempos atuais como talvez
nunca antes tenha atormentado outro grupo humano. A dominância de Cronos não
apenas nos rouba a confiança na capacidade de adaptação ao desconhecido e
inesperado, ela também nos rouba o sentimento de que os eventos da vida, por
mais inusitados que sejam, atendem a um propósito, a um sentido e a um
significado que faz com que a nossa história seja a expressão do um destino
individual.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin: 7.2pt 0cm 14.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"><span style="background-color: black; color: white;">A ideia de que cada
ser humano possa estar submetido a um destino, a um caminho no qual nossas
escolhas apenas refletem aquilo que já está reservado para nós, é assustadora
para a mente contemporânea. Assim como alimentamos a fantasia de que podemos controlar
o tempo – manipulá-lo, ordená-lo e prolonga-lo ao nosso bel prazer – também nos
apegamos à crença de que a vida é um livro em branco no qual redigimos a nossa
história unicamente a partir do que desejamos fazer com ela. Com isso,
psicologicamente falando, a luta do homem contemporâneo contra o tempo e o
destino torna-se reflexo do seu incômodo diante do inevitável. A idade, a
perda, o fim, a mudança, a transformação e todas as coisas que nos fazem
perceber nossa vulnerabilidade diante dos fluxos da existência, são vistas como
inimigas as quais devemos combater. O medo do desconhecido, do que não é
controlável, sempre acompanhou a humanidade e ela sempre tentou enfrentá-lo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin: 7.2pt 0cm 14.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"><span style="background-color: black; color: white;">Do sacrifício de
animais para negociar com a vontade inquestionável dos deuses à postergação da
gratificação de uma vida mundana em troca da felicidade eterna. De muitas
maneiras, no decorrer de sua história, os seres humanos tentaram lidar com e
conter aquilo que não podem totalmente controlar ou prever. A diferença entre
nós e os humanos de outras épocas é que acreditamos que com o uso da vontade e
da razão podemos driblar as forças incontroláveis que desafiam o nosso desejo
consciente. O tempo e o destino, duas dessas forças, são simbolicamente domados
e adequados ao modelo de um mundo guiado pela racionalidade. Destituímos o
tempo de seu caráter espontâneo e inesperado, que era próprio de Kairos, e
privilegiamos sua face cronológica, ajustável e previsível. Despimos o destino
de seu significado mítico, adornamo-lo com as cores da superstição e da
ignorância, transformando-o em motivo de pilhéria e atribuindo-lhe o valor das
mentes simplórias. Acreditávamos, assim, que estaríamos seguros, livres da
angústia gerada pelas surpresas que podem nos pregar as circunstâncias que não
antevemos ou planejamos. Ledo engano!<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin: 7.2pt 0cm 14.4pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">A biologia com sua
força cíclica nos confronta a todo o momento com nossa fragilidade diante dos
ditames do tempo. O nascimento, o crescimento, o envelhecimento, a vida, enfim,
nos lembra do destino particular de todo ser vivo e de toda criação que dele se
origina: a morte. Cronos em sua magnitude ordenada e previsível nos leva ao
encontro de Kairos, ainda que contra a nossa vontade. No imprevisto do tempo,
seja da duração de um relacionamento ou de uma vida, seja no surgimento de um
temporal ou no aparecimento de uma doença, Kairos emerge na esteira de Cronos e
altera o ritmo das horas, dias e anos que havíamos cuidadosamente planejado.
Infelizmente, nem sempre sabemos tocar as notas do momento rítmico de Kairos, e
perdemos muitas chances de ouvir o destino que se anuncia</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">.</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><a href="http://pt.wikipedia.org/wiki/Carl_Gustav_Jung" target="_blank"><span style="text-decoration: none;">Carl Jung</span></a>, o
psiquiatra suíço idealizador da Psicologia Analítica, acreditava que quando
aceitamos o nosso destino tendemos a ver deus nele, mas quando travamos com ele
um combate passamos a ver o diabo. O que ele queria dizer é que o destino de
uma pessoa é tão somente a expressão da sua individualidade. Dito de outra
forma, ao encontramos o sentido da nossa genuína individualidade, ao nos
tornamos aquilo que somos ou podemos ser, adquirimos a sensação e o sentimento
de que os</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"> </span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.5pt; mso-bidi-font-size: 11.0pt; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">eventos inesperados da vida
possuem um significado</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;">, um objetivo, que pode ser vivenciado e aprendido em acordo com nossa
capacidade de adaptação e de entendimento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin: 7.2pt 0cm 14.4pt; text-align: justify;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12.5pt;"><span style="background-color: black; color: white;">Sendo assim, o
destino seria um desdobramento do tempo, a causa do movimento de Cronos – que
traz do passado a definição dos ciclos, instaurando o que é necessário e
eliminando o que já não serve mais – e cuja consequência é a oportunidade
trazida por Kairos, gerada principalmente por nossa capacidade de entrar em
sintonia com o que vivemos no momento presente visando o instante futuro. Na
visão junguiana, portanto, quanto mais nos afastamos de nós mesmos, quanto mais
nos submetemos aos ditames das regras pré-ordenadas e dos padrões pré-definidos
que visam controlar a experiência, seja em função das restrições coletivas ou
individuais, menos nos sentimos um indivíduo. Ao abdicarmos de nossa
individualidade, entramos em combate com o nosso destino, pois, negligenciamos
a função de Cronos e perdemos o contato com Kairos. Dentro dessa perspectiva
psicológica, podemos dizer que ao nos tornarmos indivíduos, nos tornamos
capazes de exercer o livre arbítrio. O livre arbítrio, por sua vez, seria a
capacidade de fazer de bom grado o que é preciso fazer. Melhor dizendo, o livre
arbítrio seria a capacidade de vivenciar o tempo em sua duplicidade
complementar: aceitando e acolhendo os ciclos de vida determinados por Cronos
para aprender a reconhecer e usufruir das oportunidades inesperadas e
instantâneas de Kairos. Adaptar-se! A regra de ouro dos Sofistas também parece
ser o verbo da individualidade e a palavra na qual se narra um destino no ritmo
dos tempos. E não somente para os antigos Gregos, mas também para nós.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; line-height: 20.85pt; margin: 7.2pt 0cm 14.4pt; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;">Angelita Corrêa Scardua é Mestre em Psicologia Social pela USP/SP,
Psicóloga especializada em Felicidade e Desenvolvimento Adulto e Professora.</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<span style="background-color: black; color: white;"><br /></span>
<br />
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-92082139421060613422013-09-12T17:27:00.001-03:002013-09-12T17:27:25.590-03:00Entre Segredos e Etnografias: O culto de Iyami nos estudos do Candomblé <div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<br />
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit9T3LyQubTvCJu2VLCX_2CcS-KRKb7EnaE8Uz5xwhPet9W01W65PsYDZw37dSEovh2P_KT8s2uk2Uvud6PDJ3Nfr6oExBWTz13AR7w6qlLTtO2Kj_ycARs9OWeLrXZjAdgv1QCuOARxs/s1600/Imagem3.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="232" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEit9T3LyQubTvCJu2VLCX_2CcS-KRKb7EnaE8Uz5xwhPet9W01W65PsYDZw37dSEovh2P_KT8s2uk2Uvud6PDJ3Nfr6oExBWTz13AR7w6qlLTtO2Kj_ycARs9OWeLrXZjAdgv1QCuOARxs/s320/Imagem3.jpg" width="320" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
</div>
<h2>
<img alt="http://www.historiaehistoria.com.br/img/spacer.gif" height="1" src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.gif" style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;" v:shapes="Imagem_x0020_3" width="1" /></h2>
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">
<!--[endif]--><span style="background: white;"><o:p></o:p></span></span>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Se nos
perguntarmos qual o significado do africano que insiste em permanecer no
interior de diversas pr</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ticas culturais, veremos que s</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ó</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> h</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> um, que </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> o de primitivo. Ver resqu</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">cios
africanos onde quer que seja nada mais </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> do que procurar identificar elementos
primitivos no interior de uma sociedade civilizada, ou moderna ou capitalista (BIRMAN,
1980: 18).</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">A construção dos estudos sobre o
Candomblé esteve marcada pela busca da África em seu interior. A pureza e a
impureza são lidas através de uma linguagem simbólica construída através de
relações sociais, que por sua vez, ao serem apropriadas pelo discurso escrito,
traduzem suas distinções, em reduções interpretativas. A impureza do contexto
brasileiro proporcionado pelo contato com as práticas indígenas, caboclas e
angolas, pode ser entendida como um subproduto da organização nagô - construída
como oficial - na medida em que ordenar pressupõe repelir os elementos não
apropriados; fixando-se em um domínio simbólico (DOUGLAS, 1991).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Tal problemática é entendida, como
iniciada pelos estudos de Nina Rodrigues e Artur Ramos no início do séc. XX,
através do modelo litúrgico nagô elaborado como um padrão analítico de
diferenciação entre religião e magia, associando a religião aos terreiros nagôs
africanizados e a magia aos cultos misturados de Candombl</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">s
angolas e caboclos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A antropóloga sergipana Beatriz
Góis Dantas (1988) informa que essa distinção foi produto, da iniciativa
intelectual de transplante fidedigno da organização religiosa africana para
compreensão dos Candomblés. Através de continuidades com a África, a
intelectual afirma que a academia foi responsável pela nagoiza</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o.
Desenvolvendo quadros associativos, a religi</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o estaria relacionada
aos terreiros nag</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ô</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">s puros em contraste com a
magia/feitiçaria dos Bantos (DANTAS, 1988:125).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">A africanidade eleita como
referencial na construção do modelo binário do Candomblé, é um fator
diferencial, um capital simbólico, podendo ser verificada na contemporaneidade
como recurso utilizado por Candomblés antigos para se distinguir dos de
fundação recente. Certamente Beatriz Dantas, merece ressalvas quanto ao seu
posicionamento unilateral de explicação do privilégio nagô na escrita.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Penso a nagoização como uma
experiência tangível, para além de um movimento discursivo nos estudos do
Candomblé. Os processos de identificação foram construídos no próprio devir dos
Candomblés em Salvador, com discursos próprios de distinção, sendo a África, um
elemento entre tantos, utilizado para a legitimação de um circuito de Candomblés
em detrimento dos demais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A produção científica dos
intelectuais brasileiros e não brasileiros sobre os Candomblés em Salvador são
construções fragmentadas de memórias e experiências dos terreiros analisados. A
autoridade da escrita contribui analiticamente, como mais um aspecto para a
interpretação de como os segredos de Iyami foram abordados em seus relatos.
Estas obras exercem certa influ</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ncia sobre os iniciados, que ali
descobrem, por exemplo, caracter</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">sticas m</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ticas
de esp</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ritos que antes desconheciam
(CAPONE, 1999: 82).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Os lugares de escrita ocupados por
Nina Rodrigues (1977, 2005), Edson Carneiro (1961), Deoscóredes dos Santos
(1962), Pierre Verger (1992) e Juana Elbein (1986) são importantes referências
para a compreensão das distintas situações do culto a <i>Iyami</i>,
presente nos estudos sobre o Candomblé baiano. A escrita sobre o culto de <i>Iyami</i> envolve
limites de conhecimentos e restrições em sua observação, a decadência por Edson
Carneiro e a emergência por Deoscóredes dos Santos, demonstra como esses
processos vividos na realidade religiosa dos Candomblés são expressos no
discurso escrito, interferidos por níveis de relacionamento antropológico e
iniciático, definidos como duas metades de um <i>obí</i>(semente africana
de cunho litúrgico).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Por Paul Johnson (2002), o
processo de retenção e aquisição do conhecimento é identificado como secretismo,
garantido pela sociedade mais ampla, que n</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o tem acesso a essas
sabedorias e legitima o longo complexo da inicia</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o, atrav</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">s do
controle dos conhecimentos entre os pares. Se pensarmos essa bibliografia
selecionada, através da perspectiva de Johnson (2002), os segredos do culto de <i>Iyami</i> foram
revelados através de suas etnografias, pois, ao descreverem os processos
rituais e as cerimônias privadas, contribuiu para transmissões de conhecimentos
destituídos de regras/rituais internas, revelando seus conhecimentos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">O segredo é um fenômeno social
cujo valor deriva da sua circulação dentro de comunidades delimitadas, como as
hierarquias rituais do Candomblé, mas, diferentemente da epistemologia
ocidental que o reduz a enigma e a resolução, entre as comunidades de santo,
ele é concebido como <i>awô </i>(fundamento, segredo), manifestando a
partir de sinais diacríticos visualizados em rituais públicos ou internos, sem
perder o mistério que o circula.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Os conhecimentos descritos sobre
as versões do culto a <i>Iyami</i> na bibliografia selecionada, não
poderá ser compreendida como revelação dos mistérios das mães ancestrais, já
que o segredo no Candomblé, de forma particularizada, possui uma dinâmica de
linguagem composta de inúmeros mecanismos comunicacionais que inibem a sua
compreensão, requerendo conhecimento cosmológico situacional para que os
eventos sejam passíveis de interpretação (APTER, 1992).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">O médico, o cientista e Iyami Ajé Chálugá</span></b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Nina Rodrigues (1862-1906) em sua
escrita demonstra ser um leitor interessado nas produções acadêmicas
desenvolvidas na Europa Ocidental, particularmente no eixo de produções
acadêmicas entre França e Inglaterra sobre grupos sociais na África Ocidental,
no início do processo colonialista. <i>O Animismo Fetichista dos Negros
Bahianos</i> foi publicado na Revista Brasileira no Rio de Janeiro em 1896
e traduzido para francês em 1900, considerada como uma elegante monografia por
Marcel Mauss<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6161494671427745825" name="_ftnref2"></a><a href="http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=395#_ftn2"><sup><span style="text-decoration: none;">[2]</span></sup></a> em 1902
(FERRETI, 2006:58). <i>Os Africanos no Brasil</i>, publicado em 1932 foi
deixado na gráfica brasileira antes de Nina Rodrigues viajar e falecer na
França em 1906.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Almejava a inserção de sua obra no
circuito internacional das pesquisas acadêmicas, que no contexto correspondia
ao período de hegemonia do evolucionismo no pensamento antropológico. A escrita
monogênica dos missionários na África Ocidental era alvo de críticas científicas.
Rodrigues acreditava menos na capacidade intencional dos missionários
conferirem erros as suas interpretações, daqueles induzidos através dos
próprios informantes africanos pela natural tend</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ncia do seu esp</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">rito
e educa</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (RODRIGUES,
1977:217).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Nicolau Parés (2006) informa que a
leitura de Ellis (1894) por Nina Rodrigues, foi possivelmente favorecida pela
intervenção de Martiniano do Bonfim (PARÉS, 2006: 27). Não será possível
confirmar tal relação, mas, é certo que as publicações do administrador Ellis
chegaram às mãos de Nina, inferindo em sua produção características
particulares. Nina Rodrigues influenciado diretamente pela obra de Ellis e pelo
pensamento de finais do séc. XIX mapeou as divindades yorubás cultuadas pelos
terreiros fetichistas da Bahia e atribuiu definições sociais a sua presença
nesse sagrado quadro sistemático.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">A obra <i>The yoruba-speaking
people of the slave coast of Africa </i>(ELLIS, 1894) está repleta de preconcepções
baseadas no padrão de moral do período vitoriano na Inglaterra. Nesse período
diferentes formas de materialismos começavam a surgir no cenário acadêmico
europeu; o materialista positivista, o evolucionista, o utilitarista, o
dialético em constante diálogo com uma onda de puritanismo de caráter
religioso, delineando o comportamento social marcado por dogmatismos e
radicalismos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">O
coronel Ellis emprenha-se em mostrar que Olorum n</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o passa de uma personifica</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o do firmamento
com funções puramente meteóricas a quem ele nega todo e qualquer sentido, noção
ou idéia de um ser onipresente (RODRIGUES, 1977:217).</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Entre muitos elogios, Rodrigues
nos indica a proposta de escrita do administrador inglês. O primeiro cientista a
invocar em favor da eleva</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o da concep</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o
religiosa dos nag</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ô</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">s, atrav</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">s de
um brilhante estudo comparativo das cren</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ç</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">as religiosas dos
povos da Costa dos Escravos (RODRIGUES, 1977: 217). O discurso relaciona-se a
uma compreens</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o mais ampla do panorama de
produções escritas no Golfo do Benin, distinguindo Ellis das demais escritas
missionárias, que poderiam ser caracterizadas como uma sobreviv</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ncia
da revela</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o divina do Para</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">so
(RODRIGUES, 1977: 217).<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">O nosso
estudo teve de inspirar-se pura e exclusivamente na observação direta e pessoal
do fenômeno estudado. E é com satisfação que o encontramos agora quase todo
confirmado pelas observações daquele cientista. Em muitos pontos se corroboram
nesta observação independente deduções e reflexões que sempre veio acordo os
mesmos fatos nos surgiram a ele em África e a mim no Brasil. No entanto, são os
trabalhos do coronel Ellis que nos habilitam a discriminar as partes de que se
compuseram no Brasil as práticas fetichista e, ao mesmo tempo, a julgar das
modificações que aqui têm elas experimentado (Rodrigues, 1977: 216)</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">As cosmologias e comportamentos
tendenciaram Rodrigues a entender os princípios da originalidade africana em
detrimento das contamina</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çõ</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">es da nova realidade social do
negro no Brasil. Para tanto, baseado no modelo exposto por Elllis, o panteão
dos orixás foi reproduzido. Fruto de um estupro mítico do ventre de Yemanjá
nasceu Dad</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, Xang</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ô</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">,
Ogum, Olokun, Olox</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, Oy</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, Oxum, Ot</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">,
Oko, Oxossi, Ok</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, Aj</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">-xalag</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">,
Xapon</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, Orun, Oxu, de seus seios monstruosos
nasceram dois rios e uma lagoa. Nina indica problemas no mito por ser
reducionista, como também motivado pelas informações pessoais transmitidas por
africanos que contestaram ou mesmo ignoraram essa versão mítica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Ajê Xalagá</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> e <i>Agê-Chálugá</i> são
nomes para designar a mesma divindade, trata-se de diferentes ortografias
empregadas no processo de transcrição. Essa divindade foi descrita como orixá
da medicina, da saúde, riqueza e dos mercados, muito estimados pelos nagôs
(RODRIGUES, 1977: 230; RAMOS, 2001). Nina Rodrigues desconsiderou o contexto de
feitiçaria que Ellis situou essa divindade. O termo <i>ajé</i> (feiticeira)
não aparece nas duas obras citadas de Nina Rodrigues, sendo silenciada e
desconectada das características atribuídas a <i>Ajé Chálugá</i> no
interior do Gantois.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Outra divindade cultuada no Brasil
como <i>Iyami </i>recebe o nome de<i>Apaoká</i>, a árvore. Ellis
teceu consideráveis informações sobre o seu poder e culto entre os yorubás.
Diferentemente da divindade masculina <i>Iroko, </i>a gameleira <i>(fícus
religiosa)</i>, descrito como objeto de culto fervoroso e sob o título de
planta-deus (RODRIGUES, 2005:36), <i>Apaoká</i>, não é citada por Nina
Rodrigues como existente na cosmogonia no Gantois e nos outros terreiros
observados. Há um misto de segredo e poderes mágicos em sua escrita, quando o
assunto é o inanimado e o culto aos vegetais. Descreve que nos arbustos que
cercam o tronco muita gente tem visto alta noite bruxulear fraca luz que
extingue pela madrugada (RODRIGUES, 2005:37).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Para Nina Rodrigues as </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">rvores
s</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o antes altares ou residências
temporárias dos deuses (...) é bem possível que a árvore seja a um tempo uma e
outra coisa (2005:39), possui acep</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o dupla, a </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">rvore
pode ser um fetiche animado ou representar apenas moradia ou altar. Pontua que
os conhecimentos sobre a fitolatria estavam em franco processo de
desaparecimento com a morte dos últimos africanos na Bahia, pois, não fazia
parte de seus interesses transmitirem esses conhecimentos específicos e formar
discípulos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Os mitos e o pensamento
mágico-religioso do culto aos orixás têm na simbologia da árvore um de seus
temas recorrentes. Na cosmogonia, a árvore, surge como o princípio da conexão
entre o mundo sobrenatural e o mundo material. As árvores estão associadas à <i>ìgbá
ìwà ñû</i> (o princípio da criação), ou seja, em uma época em que o homem
adorava árvores. Conforme o mito de fundação a </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">rvore ao p</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> da
qual o ca</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ç</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ador<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6161494671427745825" name="_ftnref3"></a><a href="http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=395#_ftn3"><sup><span style="text-decoration: none;">[3]</span></sup></a> encontrou mel,
e em cujo redor desenvolveu-se a cidade de Ketu (L</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">É</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">PINE,
1978:252).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Os estudos folclóricos surgidos na
segunda metade do século XIX estavam interessados na sobrevivência dos
elementos inadaptados e nas relíquias de culturas quase desaparecidas,
objetivando através do modelo comparativo a continuidade cultural. Para o
antropólogo Tylor o que poderia ser popularmente visto como mais indefinido e
incontrol</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">vel que os produtos da imagina</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o
revelados em mitos e f</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">bulas? (TYLOR, 1871:90).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Dentro desse questionamento, Nina
Rodrigues adentra nos estudos sobre o folclore (RODRIGUES, 1977:183). Afirma o
médico e pesquisador maranhense que não é possível identificar se foram os
negros que trouxeram de suas terras respectivas, na </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">frica,
ou se aprenderam uns dos outros no Brasil</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (RODRIGUES, 1977:
213).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Entre alguns contos transcritos na
narrativa de Nina Rodrigues, dois se tornam pertinentes. O primeiro conto
intitulado<i> Por que, das mulheres, umas t</i></span><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">m os peitos grandes e outras pequenos (pessoal)</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (RODRIGUES, 1977: 205)
aborda a imagem das mulheres-monstros, associando a condi</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o
feminina aos aspectos anti-sociais que comp</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">õ</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">e a sociedade mais
ampla, designando rela</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çõ</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">es de poder e pap</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">is
sociais particulares. O segundo intitulado <i>A feiticeira que tirava os
olhos e os braços (pessoal)</i> (RODRIGUES, 1977: 207) abarca a
antropofagia das mulheres velhas, a inexistência de aspectos sociais e a
presença de aspectos negativos e malignos na imagem das mulheres segregadas da
vida social.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Ao pensarmos a obra de Nina
Rodrigues em relação à produzida por Ellis, verificamos similaridades na
construção das identidades relacionadas ao gênero feminino, pois tanto no
contexto do sudoeste nigeriano quanto entre os grupos africanos na Bahia, a
imagem antropozoomorfica e antropofágica dessas entidades estão presentes,
mesmo que circunscritas pelo âmbito dos estudos do maravilhoso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A feitiçaria foi identificada como
manifestação de um poder físico anti-social oriundo de pessoas situadas nas
regiões não estruturadas da sociedade. Nina Rodrigues informa que no final do
séc. XIX que </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o feiticeiro, o adivinho, o
sacerdote, o m</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">dico e o s</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">bio
come</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ç</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">aram por se confundir num mesmo
indiv</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">duo</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (RODRIGUES, 2005:64),
pois, para </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o negro tudo pode ser enfeiti</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ç</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ado</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">
(RODRIGUES, 2005:60). A feitiçaria apoiada na interpretação de Nina Rodrigues
ultrapassaria a categoria de instituição social, ampliada e integrada na forma
de se relacionar socialmente com as pessoas e os objetos em um discurso
particularizado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A decadência e a descrição densa de Iyami Apaoká</span></b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Edson Carneiro (1912-1972) foi um
leitor e crítico da obra de Nina Rodrigues. Formado em direito, trabalhava como
jornalista e era muito ativo nas práticas etnográficas em terreiros Ketu de
Salvador. Sua produção escrita é o resultado de seu posicionamento político.
Para ele, a produ</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o do discurso escrito tanto jornal</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">stico
quanto etnogr</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">fico oferecia uma oportunidade
para reconstruir a opini</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o p</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ú</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">blica sobre o Candombl</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, de
uma maneira mais favor</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">vel (CASTILLO, 2008:117). O que
tendia a confundir devido à nova realidade dos africanos no Brasil, como
pontuou Nina Rodrigues se tornou para Carneiro, alvo de distinções; o
feiticeiro não é o sacerdote.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Essa
tentativa de separa</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o entre sacerdote e feiticeiro remete ao esfor</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ç</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o
desenvolvido pelos intelectuais no sentido de mostrar o Candomblé como
verdadeira religião, por oposição à magia, particularmente à magia negra, pois
se reconhecia que a feiti</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ç</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">aria era ilegal no Brasil e tamb</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">m que n</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o havia lugar para ela na atmosfera am</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">vel do
Candomblé da Bahia. (LANDES, 1967: 233).</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Em meados dos anos 40 Edson
Carneiro em <i>Candomblés da Bahia</i>(1948) afirmava que o culto das <i>Iyabás</i>,
como Ap</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ó</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> Ok</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, Yama</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">
Yaamal</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (m</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">e de Xang</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ô</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">),
Eu</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> e </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Ô</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">nil</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">,
est</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o em franco processo de
desaparecimento (CARNEIRO, 1961:80). Diferentemente na década de sessenta
Deoscóredes dos Santos em<i>História de um Terreiro Nagô</i>, verificou algo
distinto do apresentado por Carneiro duas décadas atrás. Deoscóredes dos
Santos, o Mestre Didi, descreve o culto de <i>Apaoká</i> como
integrante do calendário religioso do Ilê Axé Opô Afonjá, formado por ritos e
práticas particulares. Os assentamentos das <i>Iyami </i>permanecem junto
a grandes árvores como a jaqueira e, geralmente são enterradas, pois, a terra
representa o seu ventre (SANTOS, 1986).<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Todos os
anos, após as festas de Oxun, realiza-se a segunda-feira de Rokô e Apaoká,
ainda dentro do ciclo de festas de Oxalá. Rokô é simbolizado por uma gameleira
e Apaoká uma jaqueira, ambas as árvores sagradas. É oferecida aos dois orixás
certa quantidade de obi, orobô, galos e galinhas para a matança. (...) Ao
amanhecer dessa segunda-feira, depois do último domingo das festas de Oxun,
faz-se a limpeza e o asseio nos pés das duas árvores. Depois de tudo bem limpo,
do osé feito com a mudança das águas de todas as vasilhas que ficam entre as
raízes do Apaoká e do Rokô, a pessoa encarregada de tomar conta das oferendas
recebem das mãos da Iyalorixá todos os ingredientes necessários àquela
obrigação. Encaminham-se então todos para as árvores sagradas, amarram em cada
uma delas um grande ojá branco e colocam ali por perto todos os ingredientes da
obrigação. Os festejos começam com a matança. (SANTOS, 1962:71-72)</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">A descrição densa do culto a <i>Apaoká</i> realizada
por Mestre Didi em 1962 foi legitimada por Mãe Senhora, sua mãe genética e
Iyalorixá do Opô Afonjá entre 1940 a 1967, e pelo casamento com a antropóloga
Juana Elbein, que permitiu o seu contato com a escrita acadêmica de forma mais
sistemática. Há que se destacar que Mãe Senhora, Maria Bibiana do Espírito
Santo (1890-1967) era consagrada a Oxum Miwá e possuía o título de <i>Iya
Egbé</i>. Título que representa o princípio e a liderança feminina na
comunidade, como também dos poderes das ancestrais femininas nas decisões
sociais, além de pertencer ao quadro sacerdotal do culto a Baba Egum, onde
Mestre Didi possui o cargo de Alapini.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Iyá mi agbá ijexá orá iyêiyê Eniti
ayabá teni bu omi ô</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Iyá mi kê sóró kê mãmá só</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">bibá égun ayabá ô mo ô</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Ebé ri odô ni kôdô</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Ora iyêiyê ô!</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; margin-left: 4.0cm; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: right; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">(SANTOS, 1962:73-74)</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Em uma cantiga a Oxum reproduzida
por Mestre Didi, termos e definições como <i>Iyá mi Agbá (</i>minha mãe
mais velha)<i>; ayabá (</i>termo honorífico dado às divindades femininas na
região yorubá)<i> </i>e<i> iyami (</i>minha mãe) estão relacionadas a
Oxum. Cânticos e rezas direcionadas a outras divindades femininas, como
Yemanjá, Oba, Oyá, Nanã, demonstram tais associações. As aproximações do culto
as <i>Iyabás</i> e o culto de Iyami podem ser sustentadas, pela
condição feminina ancestral que precede o fenômeno da variação de termos e
nomes para essas divindades.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">O pouso do pássaro na
escrita</span></b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Três anos após a publicação, uma
importante narrativa sobre <i>Iyami</i> se insere nesse cenário pelo
fotógrafo e etnólogo francês Pierre Verger (1902-1996) intitulada <i>Grandeur
et decadence du culte de Ìyámi Òsòròngà <o:p></o:p></i></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">(ma mére sorcière) chez les yorouba</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> publicada em Paris no ano de 1965<a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6161494671427745825" name="_ftnref4"></a><a href="http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=395#_ftn4"><sup><span style="text-decoration: none;">[4]</span></sup></a>, baseada em
histórias de tradição oral. Essa narrativa é resultante das pesquisas
realizadas em Oshogbô na Nigéria, entre os anos 1963 e 1966 como parte de sua
pesquisa de doutoramento, defendida na Sorbonne no ano de 1966 (LUHNING, 1999).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">A compreensão de <i>Iyami </i>no
interior do Candomblé por Pierre Verger é construída através de <i>Iyami
Oxorongá</i>, o pássaro sanguinário que habita a copa das árvores e se alimenta
de intestinos humanos. Localizado em um ritual muito bem preservado, <i>Iyami
Oxorongá</i> está presente em uma cerimônia especial antes das danças
públicas, denominado padê· (VERGER, 1992; SANTOS, 1986; LAWAL, 1996; CUNHA,
1984). Nestas ocasiões, muito freqüentes, orações são feitas sucessivamente a
Exu, o mensageiro dos orixás, aos esa, os antigos africanos que instituíram os
cultos iorubas na Bahia, aos diversos orixás dos cultos em questão, e, enfim, <i>Iyami
Osorongá</i> é saudada com as mesmas palavras usadas na África (VERGER,
1992).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Para Juana Elbein dos Santos
(1986) a imagem do pássaro se identifica com a do peixe, pois, as penas e as
escamas são visualizadas como pedaços do corpo materno, representando o símbolo
da fecundidade e do poder da gestação de <i>Iyami.</i> Rego (1980)
informa que a vagina, cultuada como o </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ó</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">rg</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o
sagrado, a <i>Iya Mapô</i>, cultuada na Bahia como uma qualidade de <i>Iyami </i>(REGO,
1980:270). Referente à <i>Iya Mapô,</i> Makinde (2004), a relaciona
com todas as divindades a partir de sua ligação com a água da vagina (liquido
amniótico), considerada como o local que abriga o segredo do poder da mulher e
por onde a criança emerge. (MAKINDE, 2004:169)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Para Monique Augras (2000) nada
pode aquecer o velho pássaro, pois, ele mesmo é fonte de calor, e assim, o medo
de ficar preso para sempre dentro do corpo materno é claramente assumido
através do órgão sexual feminino, representando o limite, uma barreira,
simbolizando a tampa da cabaça, fechando o ventre da mulher, <i>pois, que
cilada </i></span><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> essa, se n</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o a pr</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ó</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">pria vagina aterradora?</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">(AUGRAS, 2000: 18-19; LAWAL, 1996).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Como persistência de uma memória
que configura as<i> Iyami</i> em mães antropofágicas (REGO, 1980) é
constituída a relação entre <i>Iyami</i> e os órgãos sexuais. A uma
história do <i>odu osá meji</i> que conta como <i>Iya Mapô</i>,
a mãe da vagina, recorreu aos bons ofícios de <i>Iyami Osorongá</i>, para
colocar o sexo </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">no devido lugar na mulher. V</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">rias
partes do corpo tinham sido experimentadas, mas, todas se revelam
inconveniente. Foi Exu que mediante eb</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ó</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, com duas bananas e
um pote, acertou o lugar definitivo. Assim, para a defini</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o do
lugar que os </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ó</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">rg</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">os sexuais ir</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o
assumir no corpo </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> realizado um acordo mítico entre
o princípio feminino e masculino (REGO, 1980:19).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">A antropóloga Juana Elbein dos
Santos confere a sua narrativa o discurso </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">de dentro para fora
(1986:16), justificada pela perspectiva interna que seu discurso escrito esteve
respaldado. Para tanto, em sua tese de doutoramento defendido na França em
1970; <i>Os nagô e a morte</i>, hoje uma refer</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ê</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ncia
nos estudos do Candombl</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (castillo, 2008: 149), afirma que
o aumento do interesse por <i>Iyami</i> e a crescente publicação de
pesquisadores estrangeiros, propiciou a mudança do significado de <i>Iyami</i> de
boa mãe ao sentido mais pejorativo de bruxa (SANTOS, 1986:113),<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">O corpus histórico analisado
abordou unilateralmente os significados da presença e culto de <i>Iyami</i> nos
Candomblés baianos. A antropóloga define as abordagens de Iyami como<i> </i>limitadas
e associadas ao estudo da bruxaria (...) estabelecido em um dito pacto vergonhoso
entre o sacerdote e a bruxa, tendo seu símbolo total confundido com uma
representação persecutória e castradora (SANTOS, 1986: 113-114).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Informa que a dicotomia do s</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">mbolo
Iya-m</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> fez com que o estudo dos
ancestrais femininos fosse separado da religião Nagô, limitado e associado ao
estudo da bruxaria (ibid, 1986:114). A separa</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o de Iyami aos Orix</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">s
por esse pensamento </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> conseq</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ü</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ente
de um processo intencional e n</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o terminol</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ó</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">gico,
pois, conceitos como </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">à</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">se, iw</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">à</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">,
oris</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">à</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ò</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">run, od</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ú</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, <i>iya-mi</i>,
podem ser analisados, mas, não traduzidos (ibid, 1986: 22).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Esse posicionamento dicotômico é
direcionado à pesquisa de Pierre Verger, gerando um contraditório artigo <i>Pierre
Verger e os res</i></span><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span></i><i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">duos coloniais</span></i><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (1982), pois, muitas das cr</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">í</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ticas
inferidas a Verger deveriam ser direcionadas a sua própria escrita, já que é
baseada em categorias sistêmicas e universais, gerando uma confusão intencional
dos contextos citados. O leitor se perde entre as descrições do contexto
africano e a etnografia no Ilê Axé Opô Afonjá.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><!--[if gte vml 1]><v:shape
id="Imagem_x0020_1" o:spid="_x0000_i1027" type="#_x0000_t75" alt="http://www.historiaehistoria.com.br/arquivos/img11_27-9-11.png"
style='width:257.25pt;height:171pt;visibility:visible;mso-wrap-style:square'>
<v:imagedata src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image002.png"
o:title="img11_27-9-11"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><img alt="http://www.historiaehistoria.com.br/arquivos/img11_27-9-11.png" border="0" height="228" src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image002.png" v:shapes="Imagem_x0020_1" width="343" /><!--[endif]--></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Fig. 1 - Assento de Iyami Oxorong</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> -
Olga de Alaketu. Aquarela de Caryb</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">é</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> (1980: 79)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Em entrevista a pesquisadora
Teresinha Bernardo, a Iyalorixá Olga do Alaketu comenta sobre o assentamento de <i>Apaoká</i>.
O assentamento foi registrado por Carybé em (1980: 79) sob o nome de <i>Oxorongá</i>.
A doçura e o afeto estão presentes no tratamento da Iyalorixá para com as
divindades nomeadas de<i>Santa da Barriga,</i> diferentemente do povo de
santo que tem medo de Ia mi (...). Tanto é que a sacerdotisa tem Iapaocá
assentada em seu terreiro e (...) está relacionada com os ovários, o útero, a
gravidez, o aborto e todos os demais aspectos que constituem a singularidade
feminina (BERNADO, 2003: 131)<b><i>.</i></b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">O terreiro do Alaketu em relação
ao Gantois e o Opô Afonjá demonstrou, certa falta de agilidade em atrair a aten</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o
dos produtores do discurso etnogr</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">fico</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">resultando
em uma relativa marginaliza</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">çã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o etnogr</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">á</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">fica
(CASTILLO, 2008: 128). </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">É</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> interessante pensar na relativa
marginalização do terreiro e na exposição material do culto a <i>Iyami</i>.
Considerado tanto pela etnografia quanto pelo povo de santo como um dos mais
secretos da liturgia afro-religiosa. No entanto, o medo das <i>Iyami </i>pelo
povo de santo não pode ser retirado da fala positiva de Mãe Olga, pois, a
superposição de categorias é fruto do discurso escrito, já que na realidade
experienciada dos Candomblés, os orixás cultuados são constituídos como todos
completos e compartilhados de uma mesma natureza sagrada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Considerações finais</span></b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Os segredos que envolvem o culto
de <i>Iyami</i> expressam a interação entre a racionalidade e a magia
desenvolvida pela postura etnográfica. O modo particular como se deu esse
imbricamento possibilita perceber que as religiões mágicas não se opõem como um
todo, às práticas racionais exigidas pelo mundo moderno. O medo e o afeto
coexistem, o respeito e o caos dialogam na postura do povo de santo para com as <i>Iyami</i>,
independente do nome assumido, mas, dependente da situação que lhe é
presenciada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">São muitas as formas de cultuá-las
e de percebê-las. Sua presença nos mitos de criação e nas dinâmicas sociais dos
Candomblés, a que estão presentes, confere as Iyami uma complexidade mítica que
rompe o tempo e o espaço, sendo atualizadas no cotidiano dos Candomblés através
dos sentimentos e posturas prestadas as ancestrais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">Baseada em citações retalhadas e
identificações descontextualizadas, a trajetória etnohistoriográfica do culto a <i>Iyami</i> em
Salvador, realizada por meio do material escrito exposto permitiu questionar as
lacunas e orientar-me com os avanços de suas escritas, que certamente ampliou o
trivial e reduziu potenciais antropológicos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">por Luciana de Castro Nunes Novaes(1)</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><br />
</span><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR; mso-no-proof: yes;"><!--[if gte vml 1]><v:shape id="Imagem_x0020_2"
o:spid="_x0000_i1026" type="#_x0000_t75" alt="http://www.historiaehistoria.com.br/img/spacer.gif"
style='width:.75pt;height:.75pt;visibility:visible;mso-wrap-style:square'>
<v:imagedata src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.gif"
o:title="spacer"/>
</v:shape><![endif]--><!--[if !vml]--><img alt="http://www.historiaehistoria.com.br/img/spacer.gif" border="0" height="1" src="file:///D:\Usuários\Olavo\AppData\Local\Temp\msohtmlclip1\01\clip_image001.gif" v:shapes="Imagem_x0020_2" width="1" /><!--[endif]--></span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify; text-indent: 3.0cm;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">Bibliografia</span></b><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">APTER, Andrew. <i>Black Critics and Kings: The hermeneutics of power
in kings: Yoruba Society. </i>Chicago: University Chicago Press, 1992.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">AUGRAS, Monique. <i>De Iyá mi a Pomba-Gira: Transformações e
Símbolos da Libido.</i>(in) Candomblé: Religião do Corpo e da Alma: tipos
psicológicos nas religiões afro-brasileiras. MOURA, Carlos Eugênio Marcondes de
(org.) Rio de Janeiro: Pallas, 2000.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">BERNARDO, Terezinha. <i>Negras, mulheres e mães. </i>São
Paulo: Pallas-EDUC, 2003.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">BIRMAN, Patricia. <i>Feitiçarias, territórios e resistências
marginais</i>. Mana vol.15 n°.2 Rio de Janeiro oct, 2009.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">CAPONE, Stefania. <i>A busca da África no Candomblé: tradição e
poder no Brasil.</i>Rio de Janeiro: Pallas, Contra Capa. 1999.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">CASTILLO, Lisa Earl. <i>Entre a oralidade e a escrita: a etnografia
nos Candomblés da Bahia.</i> Salvador: EDUFBA, 2008.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">CARYBÉ. <i>Iconografia dos deuses africanos no Candomblé da Bahia</i>.
São Paulo: Raízes, 1980.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">CARNEIRO, E. <i>Candomblés da Bahia. </i>Rio de Janeiro:
Conquista 1961[1948].<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">CUNHA, M. Carneiro da. <i>A feitiçaria entre os Nagô-Yorubá</i>.
Dédado, São Paulo, 32 n 23,1-15,1984.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">DANTAS, Beatriz Góis. <i>Vovó Nagô e papai branco: usos e abusos da
África no Brasil. </i>Rio de Janeiro: Graal, 1988.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">DOUGLAS, Mary. <i>Pureza e perigo</i>. Lisboa: Edições 70, 1991.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">ELLIS, Col. A.B. <i>The yoruba-speaking people of the slave coast
of Africa</i>, Londres, 1894.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">FERRETI. Sergio F. <i>Nina Rodrigues e a religião dos Orixás</i>.
Publicado na Revista Gazeta Médica da Bahia. Salvador: Fac. Méd. da Bahia,
2006, p. 56-61.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">JOHNSON, Paul Christopher. <i>Secrets, Gossip, and Gods: The
Transformation of Brasilian Candomblé. </i>Oxford: Oxford University Press,
2002.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">LANDES, Ruth. <i>A cidade das mulheres</i>. Rio de Janeiro,
Civilização Brasileira, 1967.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">LAWAL, Babatunde. <i>The Gelede Spectacle: Art, Gender, and Social
Harmony in an African Culture</i>.Washington: University of Washington Press,
1996.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">LÉPINE, Claude. Contribuição ao estudo da classificação dos tipos
psicológicos no Candomblé Kêtu de Salvador. Universidade de São Paulo, (Tese de
Doutoramento), 1978.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">LUHNING, Angela. <i>Pierre Fatumbi Verger e sua obra</i>.
Afro-Asia, 21-22, 1999.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">MAKINDE, Taiwo. <i>Motherhood as a source of empowerment of women
in Yoruba.</i>Nigéria: Nordic Journal of African Studies 13(2): 164</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">, </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">174,
2004.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">PARÉS, Luis Nicolau. <i>Shango in Afro-Brazilian Religion:
Aristocracy and Syncretic Interactions. </i>Religioni e Società, 54, pp.
20-39, 2006.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">RAMOS, Artur. <i>O negro brasileiro. 1° volume: etnografia
religiosa</i>. São Paulo, Graphia, 2001[1934].<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">REGO. W. <i>Mitos e ritos africanos na Bahia. </i>In: Carybé,
Iconografia dos deuses africanos. São Paulo: Raízes, 269-277,1980.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">RODRIGUES, Nina. <i>O animismo fetichista dos negros baianos</i>.
Salvador: P555, 2005[1896]<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">__________<i> Os Africanos no Brasil</i>. Companhia Editora
Nacional, São Paulo, 1977[1932].<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">SANTOS, Deoscóredes M. dos.(Asobá do Axé Opô Afonjá) <i>AXE OPÔ
AFONJÁ: Notícia histórica de um terreiro de santo da Bahia</i>. Instituto
Brasileiro de Estudos Afro-Asiáticos, Rio de Janeiro, GB, 1962.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">SANTOS, Juana Albein. <i>Pierre Verger e os resíduos coloniais: o
outro fragmentado. </i>Revista Religi</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">ã</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">o e Sociedade, n. 8,
Julho de 1982.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">__________ <i>Os nagô e a morte. Pàdè, Asèsè e o culto Égun na
Bahia; </i>traduzido pela Universidade Federal da Bahia. Petrópolis:
Vozes, 1986.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">TYLOR, E. <i>A ciência da cultura</i> (1871) in CASTRO, Celso
(org.)<i> </i>O Evolucionismo Cultural: Textos de Morgan, Frazer e Tylor.
Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2004.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">VERGER, Pierre Fatumbi. <i>Esplendor e decadência do culto de Ìyàmi
Osorongá, minha mãe a feiticeira, entre os Iorubas</i>. ARTIGOS. TOMO I. São
Paulo: Corrupio, 1992[1965].<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">
</span></span><br />
<hr align="left" size="1" width="100%" />
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"><span style="color: white;">
</span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6161494671427745825" name="_ftn1"></a><a href="http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=395#_ftnref1"><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; text-decoration: none;">[1]</span></a><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> Licenciada
e Bacharel em História (UCSAL). Mestranda em Estudos Étnicos e Africanos
(PÓS-AFRO/UFBA) . Mestranda em Arqueologia (PROARQ/UFS)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6161494671427745825" name="_ftn2"></a><a href="http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=395#_ftnref2"><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; text-decoration: none;">[2]</span></a><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;">
MAUSS, Marcel. Nina Rodrigues, L´animisme fetichiste des nègres de Bahia. In:
L´Année Sociologique 1900-1901. Paris, Librairie Felix Alcan, 1902.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6161494671427745825" name="_ftn3"></a><a href="http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=395#_ftnref3"><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; text-decoration: none;">[3]</span></a><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> Ver
mito: Oxossi mata o pássaro das feiticeiras; Ode respeita proibição ritual e
morre. Oshosi, que também é um dos que vieram de Iemanjá, é o patrono dos
caçadores. Ele mora na floresta, e leva o jogo para os laços e armadilhas de
seus fiéis seguidores, a quem ele também protege os animais de rapina. (ELLIS,
1894:68)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 19.5pt; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; text-align: justify;">
<span style="background-color: black; color: white;"><a href="http://www.blogger.com/blogger.g?blogID=6161494671427745825" name="_ftn4"></a><a href="http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=395#_ftnref4"><span style="background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; text-decoration: none;">[4]</span></a><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt;"> Mais
tarde publicado duas vezes em português, uma vez excluindo os itans (1992) e a
outra com estes (1994).<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-17050400746780865472013-09-10T10:23:00.001-03:002013-09-10T10:23:48.481-03:00<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw_smNfPpiPAIVnJwvLvRmZgrAg5miuV-euoT9yQFLQ-5o7IP1RNej7H2_WP1qNEmpqNn3vKs8WSR4_XXn9QQ5Hw-RK6bsigsGxbeZwYjp01IZzlvRENlBQ8YyMOqSBrdQhvH3SQJhydQ/s1600/galinha+d'angola.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjw_smNfPpiPAIVnJwvLvRmZgrAg5miuV-euoT9yQFLQ-5o7IP1RNej7H2_WP1qNEmpqNn3vKs8WSR4_XXn9QQ5Hw-RK6bsigsGxbeZwYjp01IZzlvRENlBQ8YyMOqSBrdQhvH3SQJhydQ/s1600/galinha+d'angola.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; mso-outline-level: 1;">
<b><span style="background-color: black; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 16pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto; mso-outline-level: 1;">
<b><span style="background-color: black; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-size: 16pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A RELIGIÃO DA DIÁSPORA: SEUS SÍMBOLOS, SEUS TEMPOS<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><b><span style="font-size: 9.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por: Teresinha Bernardo</span></b><span style="font-size: 9.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Caminhando através do tempo pelo Brasil, à procura de cultos
afro-brasileiros, encontro, no final do século XVII, na Bahia, por intermédio
da poesia de Gregório de Mattos, a presença de manifestações religiosas em que
a participação do negro era visível:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nos Calundus e Feitiços</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Ventura dizem que buscam</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O que sei é que em tais danças</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Satanás anda metido</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Continuando a andar, chego a Minas Gerais, mais precisamente no Arraial
de Paracatu, onde assisto à Dança da Tunda, culto praticado por mulheres forras
ou fugitivas, que festejavam, entre <i>outros santos</i>, Cosme e Damião
em setembro, dançavam ao som dos atabaques, entravam em transe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O autor ao pesquisar na Torre do Tombo - Lisboa -, encontrou documentos
da Inquisição, que relata a história das mulheres de Paracatu, que ao serem
consideradas feiticeiras foram mortas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Neste caminhar, ouço a preocupação da Igreja Católica em função da persistência
de práticas religiosas africanistas em meio aos negros, inclusive entre os
batizados.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Percebo ainda que, durante o século XVIII, os cultos religiosos negros
continuam a existir desorganizadamente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">É importante lembrar que neste momento o regime escravocrata encontra-se
plenamente estabelecido no solo brasileiro, mas também não deve ser esquecido,
que, durante todo o período escravocrata os quilombos existiram: onde houve
escravidão houve Quilombo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A associação da casa de Candomblé com Quilombo não deve surpreender-nos.
Diversos autores afirmam que as seitas desempenharam papel constante nas
insurreições negras.</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, parece que, até o século XIX, o culto aos orixás foi realizado
nas senzalas, nos quilombos. Era subterrâneo, repleto de silêncio e não ditos,
não sendo visível para a sociedade branca.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Neste mesmo século o meu olhar se dirige aos espaços diferenciados: em
Pernambuco, Alagoas e Sergipe encontro Xangô; na Bahia e Rio de Janeiro, o
Candomblé; no Maranhão, o Tambor de Minas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Em São Paulo, porém, durante todo o século XIX até meados do século XX,
os cultos afro-brasileiros permaneceram nas sombras.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Somente através do recurso à memória foi possível captar:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">... <i>a existência de práticas religiosas afro-brasileiras que se
criavam e se reproduziam entre os negros em São Paulo e que era denominado
feitiço. Este parece ter sido sempre praticado por mulheres: as feiticeiras.</i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Os produtos que faziam parte do despacho, entrega ou oferenda eram
farofas, garrafas de cachaça, panos coloridos e certos tipos de animais. Esta
prática religiosa era realizada na casa das feiticeiras que moravam em lugares
distantes, como Casa Verde e Freguesia do Ó, com poucos habitantes, na maioria negros</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se, através do movimento da memória é possível captar apenas fragmentos,
em relação aos cultos praticados pelos negros em São Paulo, a situação torna-se
mais complexa ainda, à medida que, no espaço paulista, tanto o negro como sua
cultura pareciam sofrer ações discriminatórias mais fortes do que em outros
estados brasileiros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A esse respeito, Michael Polak, ao analisar a memória subterrânea
própria dos grupos discriminados, afirma: <i>Existem na memória de uns e
de outros zonas de sombras, silêncios e não-ditos</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Entre a Dança da Tunda, o Xangô, o Candomblé, o Feitiço e o Tambor de
Minas existem diferenças: umas se constituíram como expressões religiosas,
antes que outras, existindo, também, diferenciações internas tanto em termos de
seus rituais como dos seus mitos. No entanto, mais do que isto, o que importa
salientar é que as expressões religiosas afro-brasileiras se constituíram a
partir da diáspora africana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Não pretendo, aqui, discorrer sobre as diversas expressões religiosas
afro-brasileiras, mas dirigir minhas reflexões para o Candomblé. Desta forma,
esta reflexão insere-se no movimento de ir ao passado e voltar ao presente à
procura dos significados do Candomblé na sua origem e na contemporaneidade,
especialmente na vida metropolitana.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Este movimento que tentarei realizar através do tempo torna-se
fundamental porque o Candomblé é uma religião viva. Dessa maneira, deve ser
pensado em sua dinâmica, relacionado com as práticas e representações sociais
nas quais esteve inserido no passado e encontra-se reinventado no presente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ao retornar ao passado africano, encontramos uma diversidade incontável
de grupos étnicos. A esse respeito, Roger Bastide se indaga:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A África enviou ao Brasil criadores e agricultores, homens da floresta e
da savana, portadores de civilizações totêmicas matrilineares e patrilineares,
pretos conhecendo vastos reinados, outros não tendo mais que uma organização
tribal, negros islamizados e outros animistas, africanos possuidores de
sistemas religiosos politeístas e outros sobretudo adoradores de ancestrais de
linhagens. Como essas diversas civilizações não se destruíram mutuamente pelo
simples contato?</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> .a ed., 1985, p. 67.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Só é possível responder ao questionamento de Bastide por intermédio de
hipóteses, uma vez que o contato, no Brasil, entre estes diferentes grupos,
durante a escravidão, foi pouco estudado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Por um lado, pode ser que os negros, ao saírem da África,
indiferentemente ao grupo étnico a que pertenciam, experimentaram o mesmo tipo
de sentimento por não terem a mínima possibilidade de voltar à Terra-Mãe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A respeito da <i>Terra-Mãe</i> , Morin diz:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A Terra-Mãe como metáfora só virá a florescer em toda sua extensão nas
civilizações agrárias, já históricas: o trabalhador-Anteu colhe a sua força no
contacto com a terra, sua matriz e horizonte, simbolizada na grande Deusa-mãe,
Deméter cósmica onde jazem seus antepassados, onde ele se julga fixado desde
sempre. Com essa fixação ao solo virá a impor-se à magia da terra natal; a que
nos faz renascer porque é nossa mãe...</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É bem conhecida a dor do banido grego ou romano, que não só não terá
ninguém que lhe continue o culto depois de morto como ficará separado para
sempre da Terra-Mãe. A ed., p. 114-115.</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A África contém para os escravos no Brasil todas as características da
Terra-Mãe de que fala Morin. Era dela que o africano retirava o alimento com os
seus diferentes significados para a totalidade de sua vida: é nela que se
encontram enterrados os seus antepassados, como Deméter, a deusa grega que
representa <i>os campos onde cresce o cereal</i>, a fertilidade e a
fartura. A África para os negros que aqui aportaram possui os mesmos
significados. Mas a marca mais forte é o amor pela filha Core, também chamada
Perséfone.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Cada uma ama a outra o que ama em si mesma e cada uma ama na outra
aquilo que lhe falta. Perséfone ama em Deméter seu modelo; Deméter em
Perséfone, o seu recomeçar</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">. A ed., 1987, p. 58.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, a continuidade é revelada. Continuidade está tão importante para
o mundo africano, por isto mesmo há a valorização do culto aos ancestrais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No entanto, não somente este sofrimento intenso é experimentado pelo
negro ao ser banido da Terra-Mãe. Há ainda, o encontro de um inimigo comum: o
sistema escravagista que faz com que diferentes etnias, ao entrarem em contato,
se unam, em vez de se destruírem como receava Bastide. Mais do que isto,
algumas delas constituíram aqui o Candomblé.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, para esses grupos étnicos que criaram esta religião, o banimento
da África, a própria escravidão não significou uma ruptura com a Terra-mãe;
pelo contrário, representou a continuidade. Em outras palavras, esta expressão
religiosa reproduziu os principais elementos elencados por Morin, ao discutir
esta questão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Neste aspecto, torna-se importante sublinhar a diferenciação realizada
por Jung entre Pátria e Terra: <i>A pátria supõe limite, isto é,
localização determinada, mas o chão é solo materno em repouso e capaz de frutificar</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">É no solo brasileiro que frutificara, através do Candomblé, a Terra-Mãe
para os africanos e seus descendentes.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Neste sentido, parafraseio Benjamin:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Não se entenderia a religião, nem em sua realidade nem em seu conceito,
se quiséssemos explicá-la isoladamente, a religião não é nenhum Robinson
Crusoé. A religião não constitui nenhuma comunidade separada, mas é parte do
povo que a criou. Por isto existe um diálogo mudo baseado em símbolos entre a
religião e o povo</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> .a ed., pp. 247-249.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A história do negro na África e no Brasil explica, em parte, a
constituição do Candomblé. Deve-se, porém, penetrar além da história para
perceber o diálogo mudo entre a religião e o seu povo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Voltando ao passado africano, encontramos os povos que habitavam a Costa
Ocidental da África onde estão localizadas, atualmente, as repúblicas da
Nigéria e Benin. Os diferentes grupos étnicos cultuavam cada um a sua
divindade, sendo o homem o responsável pelo ritual.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No Brasil, devido ao contato que existiu entre estas diferentes etnias,
o Candomblé cultua vários orixás e a sacerdotisa central é a mulher.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Esta troca do poder religioso entre os sexos está em parte referida à
escravidão que esfacelou a família negra africana e à própria Lei do
Ventre-Livre, promulgada em 1870, que considerava como família a mulher e seus
filhos. Em termos de alforria, a mulher negra foi beneficiada antes e em
maiores proporções que os homens considerados economicamente essenciais na
produção. Assim, as mulheres negras puderam participar antes que os homens do
mercado de trabalho livre, ocupando pequenas brechas que este mercado oferecia,
sendo amas, doceiras, lavadeiras. Ao homem negro as oportunidades de trabalho
apresentaram-se menores se comparadas às de suas parceiras.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Desta forma, as mulheres negras passam a ocupar um papel de destaque no
meio do seu povo, tornando-se chefes de suas famílias e chefes da
família-de-Santo também.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No entanto, se o processo histórico explica plenamente o fato de a
mulher negra chefiar a sua família, este mesmo processo não explicita a
contento o fenômeno da posição da mulher no ápice da hierarquia religiosa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Desvenda-se, plenamente, as causas da troca do poder religioso entre os
sexos na religião afro-brasileira através de Jung e Morin; desvenda-se por que
é a mulher a sacerdotisa central nesta expressão religiosa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na verdade, a mulher simboliza a Terra-Mãe, portanto, representa a
continuidade; como no mito de Deméter e Perséfone, representa a continuidade da
tradição para os africanos e seus descendentes no Brasil.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A esse respeito, mais precisamente sobre a questão do sexo feminino
simbolizar a tradição, Roberto Calasso, ao analisar os mitos gregos mais
importantes, diz:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Aquelas mulheres haviam sido filhas e companheiras de cama dos heróis.
Algumas, de um deus. Todas juntas queriam beber o sangue e falar. A memória, em
estado natural, é aquela horda de mulheres</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Continuando, o mesmo autor afirma:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A época de Odisseu, a era híbrida de heróis, estava toda no
entrecruzar-se daqueles nomes, nascimentos e trabalhos. Se tivesse podido
escutar, por um tempo indefinido, uma a uma, todas aquelas vozes de mulheres,
teria sabido o que nenhum homem sabia: a história, a história de uma época que
com ele estava se extinguindo...</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A Ilíada e a Odisséia narravam, no fundo poucos dias e poucos anos os
últimos espasmos da idade heróica. Enquanto aquela época só podia ser contada
na totalidade como uma sequência de história de mulheres, como o desfolhar de
um álbum de família</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No entanto, não é só para os gregos que a mulher representa a
continuidade, a memória, o álbum de família e ao homem coube simbolizar a
história heróica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Para os africanos, no Brasil, as representações se configuram de modo
semelhante. Tanto é assim que a mulher negra, ao representar a continuidade, a
Terra-Mãe, a tradição, tornou-se a Grande Sacerdotisa do Candomblé e o homem
negro, ao representar a história heróica, tornou-se o líder dos Quilombos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A grande Sacerdotisa do Candomblé é chamada de <i>mãe-de-santo</i> .
Esta denominação não é casual. Jung afirma:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">É a mãe que providencia calor, proteção, alimento; é também a lareira, a
caverna protetora e a plantação em volta. A mãe é também a roça fértil e o seu
filho é o grão divino, o irmão é amigo dos homens. A mãe é a vaca leiteira e o
rebanho</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> .<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Nesse sentido, existe uma relação de profunda intensidade entre a
Terra-Mãe, a Mãe-de-Santo e o Candomblé. Esta profundidade é de tal monta que,
entre estes três termos, não há possibilidade de dissociação. Mais
precisamente, eles se interpenetram.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Desta forma, percebe-se no Candomblé a presença e a representação
feminina em todas as suas instâncias: seja nas relações sociais que constituem
os terreiros, seja nas relações entre os deuses e os homens, seja nas próprias
características destes deuses. Na verdade, através da mulher, era gerada toda a
vida da comunidade. Ela era foco propulsor de todas as relações sociais. Os
terreiros constituíam verdadeiras comunidades no limite: é a Terra-Mãe no dizer
de Morin, a roça fértil na afirmação de Jung. Portanto, não é casualmente que
os terreiros são também denominados de <i>roça</i> .<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O princípio organizador das relações sociais, como nas demais sociedades
conhecidas, era a proibição do incesto. Os critérios que regiam esta norma eram
de dimensão religiosa. Assim, eram proibidas relações sexuais entre os adeptos
que haviam se iniciado no mesmo momento, por serem considerados irmãos. Desta
forma, constituíram-se verdadeiras famílias extensas, tão importantes no mundo
africano, elemento constitutivo da Terra-Mãe, porém, não explicitado por Morin,
que fora perdido devido à escravidão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A iniciação faz com que um grupo de culto se torne um grupo de
parentesco: mãe, filhos, irmãos e avós. Em outras palavras, o grupo possui os
mesmos bens simbólicos. A reciprocidade, como consequência da proibição do
incesto, será o princípio norteador das relações entre os membros do Candomblé.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A relação de reciprocidade, como bem mostrou Lévi-Strauss, é decorrência
da universalidade da norma da proibição do incesto. No entanto, aqui é
importante sublinhar se a relação de reciprocidade implica três obrigações:
dar, receber, retribuir. A mulher simboliza o ser primordial desta relação: é
ela quem gesta, dá a luz e alimenta.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A comunidade-terreiro com a sua família-de-santo é constituída,
portanto, através de relações de reciprocidade, nas quais a pessoa e também os
orixás exercem a obrigação de dar, receber, retribuir. Em outras palavras, o
mesmo princípio de reciprocidade que rege as relações entre os membros do
Candomblé regula também as relações entre os deuses e os homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se a comunidade-terreiro representa a Terra-Mãe, a roça fértil, a mãe, a
mulher e a continuidade da tradição africana no Brasil, é claro que nele se
processa constantemente a construção-reconstrução de uma identidade étnica.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Desta forma, pode-se afirmar que os negros, juntamente com seus deuses,
vivenciaram a escravidão. No entanto, como os deuses não perderam a sua
natureza humana, os orixás não perderam a sua natureza divina. É aqui, no
espaço sagrado por excelência dos africanos e seus descendentes, que os negros reconstroem
a sua identidade étnica e os orixás as suas identidades divinas
afro-brasileiras específicas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Parece ser mesmo esta relação de reciprocidade entre os deuses e os
homens a responsável pela permanência dos deuses africanos, ao longo da
escravidão. Ser escravo, não significava, simplesmente, um dos aspectos de suas
vidas, mas era a sua própria condição humana. Neste sentido, não há
possibilidade: de um lado, de deuses distantes dos homens; de outro, de uma
relação de dependência, onde as divindades tudo resolvem, no qual a consciência
e a ação dos homens não têm acesso a seus mistérios.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A proximidade entre os deuses e os homens é característica da relação de
reciprocidade simbolizada no seu limite pela mulher; esta reciprocidade é
repleta de intimidade, característica fundamental também do feminino, onde a
relação da mãe, ao amamentar o seu filho, mostra o ato fundante da intimidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na verdade, é a mãe que providencia de uma maneira ou de outra o
alimento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na relação de reciprocidade mantida entre os deuses e os homens, é
recorrente a troca de energias. O alimento, em última instância, simboliza
tanto para os orixás quanto para os homens esta força vital. Os dois têm fome.
Necessitam da comida para viver: os homens na Terra-Mãe, os orixás na cabeça
dos homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se através do mito é possível penetrar na realidade psíquica do homem a
análise do mito pode ser encarada também como uma das vias de acesso para
compreender o universo sociocultural de um povo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O fato de o alimento ser fundamental para a existência dos deuses e dos
homens está diretamente referido à mãe-mulher-terra. É neste aspecto que há o
encontro entre o mito grego de Deméter e o mito afro-brasileiro de Iemanjá: se
do grande seio da deusa grega jorra o leite-alimento por excelência que
satisfaz a fome e sacia a sede, do seio negro da orixá afro-brasileira jorra o
leite mas sobretudo a água que forma os mares e os rios, tornando a terra
fértil.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Sobre o mar, Morin diz: <i>A água é a grande comunicadora mágica do
homem no cosmo</i>. Continuando, o mesmo autor afirma:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">o mar é a natureza primeira, a mãe cósmica análoga a mãe real, carnal,
protetora, amorosa. Ao fazer do mar unicamente o símbolo da mãe, ao suprimir a
alternativa e o vice-versa da mãe ao mar, uma determinada Psicanálise deixou
escapar uma verdade antropológica. Efetivamente esqueceu-se que a vida uterina
do feto humano traz em si, e recomeça, a experiência primeira marítima dos
seres vivos... Verdade biológica fundamental que se refracta em todos os planos
do espírito humano. Tanto o mar repercute para a mãe como a mãe repercute para
o mar... As águas comportam um além cosmomórfico que comove no mais íntimo do
homem: falam-lhe na linguagem das origens que ele talvez reconheça confusamente</span></i><span style="font-size: 12.0pt; line-height: 150%; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim a mudança de significado de Iemanjá africana deusa do rio; para
Iemanjá cubana e brasileira deusa do mar, pode representar a união entre os
povos que aportaram no Brasil, e dos que chegaram à Cuba banidos da
Terra-Mãe-África. O mar aqui significa a união entre o povo africano pois a
água representa a comunicação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Por outro lado, o fato das águas falarem a linguagem das origens torna
possível identificar a Terra-Mãe com a Água-Mãe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim as duas deusas, a branca Deméter e a negra Iemanjá, representam a
mãe: a mãe que acolhe, a mãe que protege, a mãe que alimenta: A Grande-Mãe,
arquétipo compartilhado pelo Homo Sapiens. Tem-se, assim, o princípio feminino
realizando a mediação entre os deuses e os homens através do alimento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ainda encontram-se semelhanças entre as divindades grega e
afro-brasileira: de um lado, nas suas relações sexuais incestuosas, as duas
copulam com seus irmãos: Deméter com Zeus e Iemanjá com Aganju; de outro, tanto
Deméter como Iemanjá tiveram filhos gestados em seus próprios ventres.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Contudo, a prole de Iemanjá, diferentemente da de Deméter, não é
constituída somente de filhos consanguíneos. Iemanjá adota Omúlu, que havia
sido abandonado por Nanã, representando, assim, o período da escravidão,
especialmente pós Ventre-Livre:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">D <i>eve-se salientar que o período a que ele se refere se
caracteriza pelas doações dos filhos de escravos realizadas pelos senhores. Em
outras palavras, dava-se a quem queria os filhos nascidos no Ventre Livre</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, se a escravidão esfacelou a família africana e a Lei do Ventre
Livre aumentou em proporções alarmantes a adoção de filhos de escravos, o
Candomblé, ao representar a continuidade da tradição, recria a família-de-santo
através dos princípios da adoção e da adesão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O Candomblé representava, dessa maneira, a possibilidade de o negro não
alienar-se do seu inconsciente, não alienar-se da sua história. O inconsciente,
para Jung, é histórico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se o inconsciente coletivo para Jung é histórico, é também repleto de
símbolos. Na verdade, presenciou-se, até este momento, os princípios e as
representações femininas em todas as instâncias do Candomblé: seja na
explicação de suas origens, seja nas relações entre os seus adeptos, seja
também nas relações entre os deuses e os homens, onde, através do alimento, é a
mulher quem faz a mediação entre eles.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No entanto, neste inconsciente coletivo junguiano, repleto de símbolos,
o masculino tem também lugar de destaque.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Tanto é assim que no panteão do Candomblé, através do imaginário
religioso afro-brasileiro, emerge Exú - o orixá masculino por excelência,
muitas vezes representado com um grande pênis em posição ereta. É ele que no
plano do invisível, do mágico-religioso, introduz o acaso, a sorte no destino
dos homens, acrescentando a desordem, a transgressão, a possibilidade de
mudança. É também ele quem transporta o axé. Ao realizar esta ação, torna-se o
mediador entre os deuses e os homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Salienta-se que o axé é a força mágica sagrada. Ter axé é ter o poder de
viver plenamente a vida. Sem axé, ninguém faz nada.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Desta forma, encontra-se no bojo do Candomblé o par de oposição: no
plano do real e do imaginário mitológico, o princípio feminino é a mãe, a
mulher, o alimento, a tradição que fará a mediação entre os deuses e os homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No plano do imaginário religioso, tem-se o princípio masculino
representado por Exú, que simboliza o acaso, a mudança. Ao transportar o axé, é
o mediador entre os deuses e os homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O par de oposição <i>princípio feminino - masculino</i>,
representa, em última instância, a continuidade e a mudança. São, simultaneamente,
antagônicos e complementares. O jogo entre a tradição e a ruptura é tenso e
complexo, implicando causas que, de um lado, desejam a continuidade, e, de
outro, a existência de fatores que clamam pela ruptura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Neste caminhar através do tempo no final do século XX, encontro
concentrados em São Paulo pedaços-de-fé afro-brasileiros, que já haviam se
mostrado, especialmente, no decorrer do século XIX, em regiões diferenciadas do
Brasil. No espaço paulista, percebe-se a presença de terreiros de Xangô, Tambor
de Minas, Candomblé e Umbanda.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O fato de existirem estas expressões religiosas na cidade parece estar
referido aos processos interativos já vislumbrados por Darcy Ribeiro nos anos
60. Neste contexto metropolitano, percebe-se que o jogo entre a continuidade e
a ruptura, já existente no interior do Candomblé, torna-se mais tenso ainda e
nesse movimento, ocorre a invenção. As tradições se fragmentam, as rupturas são
infindáveis. No entanto, as invenções não emergem no vazio, no sentido de serem
arbitrárias.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, o Candomblé caminha na Metrópole paulista na tensão entre a
tradição e a ruptura, mas um dos seus traços mais marcantes é a arte de
inventar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Encontramos nesta cidade alguns Candomblés de influência africanista,
outros com especificidades baianas e, ainda, terreiros que surgiram da Umbanda.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O povo-de-santo paulista reinventa através dos seus rituais a sua
religião, introduzindo elementos da modernidade no seu interior.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O tempo se transforma: o tempo reversível próprio do mito, da música, da
poesia é também o da religião que impregnava os templos do Candomblé em
Salvador. No entanto, parece que esse tempo não tem lugar na metrópole. Aqui, o
tempo se torna linear, é o tempo do relógio, o tempo da produção. O tempo passa
a ser organizado de acordo com os critérios capitalistas como produtividade e
eficiência: o tempo é cronometrado. Nas festas que celebram os orixás,
percebe-se a inversão do tempo: da noite para o dia, e para o dia do
não-trabalho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Em oposição, surpreende perceber na festa, através da música e da dança,
a existência de um outro tempo do tempo reversível. Pela audição dos sons e
pela percepção do movimento dos corpos no espaço atesta-se a existência desta
outra temporalidade que reintegra o tempo linear da produção e da eficiência ao
tempo que não envelhece característico dos deuses.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ao som dos atabaques, vai-se ao passado imemorial e volta-se à
atualidade do presente. Simultaneamente os corpos realizam movimentos
circulares representando o passado, que chega ao presente: é o encontro entre os
deuses e os homens. Nesta relação de reciprocidade onde a intimidade é intensa, <i>os
deuses transmite aos homens um pouco de sua natureza divina e os homens um
pouco de sua humanidade</i>. Vislumbra-se o transe. Para participar deste fato
inusitado, os orixás vêm do passado, e tudo aquilo que eles foram não
desapareceu, existe, ainda agora, continua vivo. O tempo antológico dos deuses
convive tensamente com o tempo linear da modernidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se o Candomblé foi fundado por mulheres no limite porque representava a Terra-Mãe,
hoje as comunidades-terreiros na Metrópole são chefiadas tanto por mulheres
quanto por homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Salienta-se, contudo, que a existência do pai-de-santo não é um fenômeno
específico desta cidade, como também não é uma particularidade do final deste
século.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Contudo, nesta cidade, a mãe-de-santo como o pai-de-santo parecem ter a
mesma visibilidade<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, a vida metropolitana com a fragmentação das relações que lhe é
inerente, provavelmente, influiu nesta ruptura que, por sua vez, é interna ao
próprio Candomblé, fazendo com que a mudança fosse a privilegiada no jogo
tradição ruptura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Não obstante, deve-se assinalar que, para Jung, a função simbólica tem
referência direta com a emergência simbólica da criação contínua através da
incessante metamorfose da libido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">As famílias-de-santo também se transformam. Anteriormente, ao
representarem a família extensa africana, eram um dos elementos fundamentais da
Terra-Mãe e, por isto mesmo, um <i>locus</i> <i>privilegiado</i> para
que o processo de formação de identidade étnico-racial ocorresse. Em outras
palavras, o Candomblé era percebido como um foco de resistência da cultura
afro-brasileira. Pode-se dizer, atualmente, que no lugar da identidade étnica
emergem subjetividades como substâncias fundamentais da sociabilidade entre os
membros que constituem as famílias-de-santo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">É importante, contudo, reiterar que o fato de esta religião ter sido
constituída a partir da diáspora africana, ter sido fundada por mulheres e por
negras possibilitou a constituição de um espaço na Metrópole para que as
subjetividades possam se encontrar.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A sociabilidade desenvolvida entre os membros que constituem a
família-de-santo não é homogeneizadora, pelo contrário assegura o
desenvolvimento de subjetividades. Por isto mesmo existem entre as pessoas
zonas de transparência que colocam em contato diferenças, <i>constelações
singulares de fluxos sociais, materiais e de signos - criando uma área de
intimidade e desejo onde um e outro se metamorfoseiam</i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">* Agradeço: Babalorixá Armando de Ogum que ao adotar-me como sua
filha-de-santo em São Paulo, possibilitou que eu me tornasse membro de sua
família-de-santo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Prof. Dr. Reginaldo Prandi que, com sua generosidade de sempre, ofereceu
parte dos originais de seu livro sobre os mitos afro-brasileiros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Este processo de transformação que ocorre no espaço da intimidade e do
fluxo do desejo no Candomblé é vivido pela circulação do axé possibilitando que
as pessoas ou grupos vivam à vida.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A circulação do axé deve ser entendida como fluxos de energia que
circulam trazendo a possibilidade de devires: negro, mulher, homossexual, e
outras subjetividades que possam vir a se constituir.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O jogo tenso entre a continuidade e a ruptura se faz presente nesta
metamorfose que leva a devires.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%; mso-margin-bottom-alt: auto; mso-margin-top-alt: auto;">
<span style="background-color: black; font-size: 12pt; line-height: 150%;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Se de um lado a transformação implica em rupturas, a emergência de novas
subjetividades, neste espaço, só se torna possível na continuidade do Candomblé.</span><o:p></o:p></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="line-height: 150%;">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-84528564977242495742013-09-09T17:26:00.001-03:002013-09-09T17:27:18.831-03:00A ritualização dos mitos...<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="background-color: black; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 16pt;"><span style="color: white;">Religião
E Migração: Os Cultos Afro Brasileiros A Viagem Do Corpo Dançante O Significado
Das Danças Sagradas No Candomblé<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Por:Rosamaria Susanna Barbára<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; background-position: initial initial; background-repeat: initial initial; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Resumo:</span></b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O paper relata a importância do
corpo e da dança no ritual do candomblé, dança que é experienciada num tempo e
num espaço particular, aquele do mito. Através do corpo dançante o fiel alcança
o transe e relata a memória e a história daquela comunidade, em quanto o corpo
simbólico é o centro da união com o divino e o espelho das energias cósmicas.
Sendo a dança uma arte, que vive em direta junção com a música, discutem-se
também a estética africana e o aspecto fundamental dela: a dinâmica do
movimento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">A VIAGEM DO
CORPO DANÇANTE<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">"Je danse l'autre donque jé sui"<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Leopold Sendar Senghor<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Esse paper é o resultado de uma pesquisa de campo
de três anos, realizada em Salvador, Bahia, finalizada ao Mestrado em
Sociologia e Antropologia da Universidade Federal da Bahia e dos workshops em
Expression Primitive, efetuados em Milão em 1996-1997.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Ao longo da pesquisa de campo tornou-se evidente a
importância do corpo no caso na dança que não pode ser separada da música, no
ritual. Essa preponderância da dança e da música relatada também na mitologia
revela a sua função de criadora da ordem e da estabilidade a nível macrocósmico
e a nível microcósmico nas culturas africanas, afro brasileiras e também no
candomblé. Retomando Eliade (1969:33), cada ameaça à saúde e à vida do
indivíduo que pertence às culturas tradicionais é enfrentada com uma:
"...repetição do ato cosmogônico e não consiste tanto numa repetição dos
processos vitais, mas numa verdadeira e própria recriação dos mesmos processos
através da repetição ritual daquele acontecimento primordial, arquetípico, que
em illo tempore gerou a mesma vida. Existe um tempo mítico e primordial no qual
tudo já aconteceu, um tempo puro que se identifica com o instante da criação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Tambia O candomblé é uma religião fundamentada
sobre a crenças em divindade chamadas orixás e sobre a procura do encontro com
o sagrado via o fenômeno da possessão. O transe no candomblé, como diz Prandi
(1991): "...pelos menos em suas primeiras etapas iniciaticas, é
experiência religiosa intensa e profunda, pessoal e intransferível. Como a dor
e as paixões não-religiosas experimentadas, não pode ser mensurado nem
descrito, a não ser metafórica e indiretamente". Durante o fenômeno do
transe o corpo da <i>filha </i>ou <i>filho-de-santo </i>torna -se
o próprio orixá superando a dicotomia corpo/espirito, forma/conteúdo. Tambiah
(1981:121) procurando superar esta dualidade forma/conteúdo, argumenta: a
integração entre relato cultural e análise formal é revelada nesta mutualidade:
se os principais rituais de uma sociedade estão fortemente associados com sua
cosmologia, então podemos legitimamente perguntar o que a sociedade busca
transmitir aos seus aderentes em suas principais performances, o que nos leva a
perguntar por que certas formas de comunicação são escolhidas e usadas em
preferência a outras, como sendo mais apropriadas e adequadas para essa
transmissão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O corpo é assim, como diz Turner (1967:31) um
símbolo dominante tendo a propriedade dá polarização do sentido. Num polo
encontra-se um agregado de significados, que referem-se aos componentes da
ordem social e moral da sociedade, a princípio da organização social, esse
chama-se de "polo ideológico". No outro polo, o sensorial, o conteúdo
é relacionado com a forma externa do símbolo; nesse se concentram significados
que suscitam desejos e sentimentos. No contexto do ritual há uma contaminação
de sentido: as ideias e valores morais expressos no polo ideológico se veem
penetrados do conteúdo emotivo presente no polo sensorial. Os processos
naturais e fisiológicos, expressos no polo emotivo, por sua vez, são elevados
por referência aos valores. Na dança ritual, esse processo é facilmente
compreendido: os movimentos do corpo transmitem representações e valores
impregnados de emoção e não como mera cognição fria.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Outro aspecto que evidencia-se no ritual, é o
cuidado com a estética seja na preparação da festa, seja nos trajes litúrgicos,
estética padronizada em modelos fixos e transmitidos no tempo. A arte ritual
funciona como representação do invisível, sendo o seu objetivo aquilo de chamar
as forças imateriais. Como relata Huyghe (1967): "A arte é essencialmente
um meio material de atingir, de mostrar e mesmo de introduzir no mundo dos
sentidos as forças espirituais".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O candomblé por ser uma religião de raiz africana
tem a ver com a afirmação de Jahn no que diz respeito a característica
holística e simbólica da cultura africana onde cada elemento refere-se a um
outro. Assim para compreender a dança torna-se necessário conhecer o contexto,
a cosmologia, a crença religiosa, a estética e a visão de mundo da comunidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A dança como viagem simbólica tem duas funções: um
lado invisível, a mudança interior quando a <i>filha </i>ou <i>filho-de-santo </i>incorpora
o orixá e um lado visível onde o possuído dançando conta e testemunha a memória
da comunidade, restabelecendo o "antigo equilíbrio”.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">A ESTÉTICA
AFRICANA E AFRO-BRASILEIRA<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A arte africana é ligada especialmente a religião,
aspecto que permaneceu também entre os afro-brasileiros, junto com a forte
união com o mundo místico. Assim não existe o conceito da " <i>art
pour l'art" </i>(claramente existe um valor estético), mas
qualquer tipo de arte é algo de instrumental para os poetas ou músicos ou
dançarinos-sacerdotes, sendo todo o processo de criação inspirado a realização
da comunicação com o mundo sobrenatural e a criação daquilo que estão
representando. A sacerdotisa-dançarina, por exemplo no transe de Oxum ao dançar
cria a fonte d'água doce, cria a onda da agua, transmitindo a imagem, a
vibração da natureza.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Estudiosos da arte africana, como a historiadora e
dançarina Keriamu Welsh Asante (1985:72) e Thompson (1974:30) reconhecem na
dinâmica do movimento o aspecto mais importante e profundo da estética dessas
culturas, seja na dança, seja na arte visível e gráfica. Na arte plástica,
observar-se figuras de homens ou de mulheres no ato de dobrar-se de joelhos,
talvez para sentar-se ou levantar-se, mas sempre em perfeito equilíbrio.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A centralidade da dinâmica na cultura africana
contrasta com a ênfase na postura fixa, característica da cultura ocidental, de
facto a dinâmica do movimento faz parte do conceito de beleza africana, que é
de grande complexidade, tendo que expressar vários aspectos simbólicos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Segundo ela são sete as dimensões estéticas
subjacentes à arte e sobretudo à dança e a música: a polirritmia, o
policentrismo, a curvilinearidade, a dimensionalidade, a memória épica, a
repetição e o holismo que expressam o universo místico total, seja o lado
visível, o cotidiano, seja o invisível, o universo dos espíritos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As danças africanas, como qualquer outro aspecto
das culturas e das civilizações africanas, não podem ser consideradas em si,
mas como elemento de uma unidade. É importante sublinhar esse aspecto holístico
da cultura, porque ele está em nítido contraste com a cultura ocidental. Uma
dança realizada para uma simples diversão, pode também remeter a outra coisa,
numa corrente simbólica infinita. Portanto os movimentos, a parte do corpo
utilizada, as roupas vestidas, a música possuem um sentido próprio, mas,
juntos, simbolizam algo outro.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A característica mais impregnante na dança africana
é a da polirritmia. Movimento e ritmo não podem ser separado. O ritmo tem um
padrão fixo, na polirritmia tem a junção de vários ritmos. Cada parte do corpo
movimenta-se seguindo um ritmo e uma forma diferente de movimento. Por isso o
corpo pode ser comparado a uma orquestra, que, tocando vários instrumentos, harmoniza-os
numa única sinfonia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O policentrismo indica que o movimento não é a sua
deslocação no espaço, mas a ocupação de uma estrutura-tempo. Como explica
Waterman: " O africano apreende a ser consciente de cada instrumento
empregado na orquestra e isso tem uma grande influência sobre a dança. Cada
músculo do corpo atua seguindo os diferentes ritmos da música. Um dos termos no
idioma Twi quando falam da música é "dança multi-metrica". Para
Thompson a dança africana é determinada por várias interelações, construída
através de vários movimentos sobrepostos. Para o estudioso o principal fim
desta característica é a representação do cosmo no corpo, a com mais
estrutura-tempo. Todas as possibilidades do universo existem só no corpo
humano. Os dançarinos interpretam movimentos que veem de várias direções, mas
na mesma "estrutura-tempo".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Outro aspecto com um claro significado mágico-religioso
é a forma curvilínea. As danças africanas, como em geral as danças populares em
muitos lugares do mundo desenvolvem um movimento circular, anti-horário e, nas
coreografias, se destaca a forma curvilínea, porque, como contam as lendas, ao
círculo é atribuído um poder sobrenatural, uma vez que a ausência de limite
implica que não pode quebrar-se e que permanece ao infinito, numa estabilidade
e espacialidade fora do tempo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A dança africana é uma textura de várias camadas de
sentidos, a dimensionalidade é entendida como a possibilidade de exprimi-las: o
olhar, o ouvir, o sentir, o vibrar, que seriam o lado visível dos movimentos,
expressos em outra dimensão, a espiritual. No momento da dança do transe não é
mais a <i>filha </i>ou o <i>filho-de-santo, </i>mas a
própria vibração do orixá, que movimentam-se.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Outro aspecto, muito salientado ao longo da
pesquisa de campo, é aquele da imitação e da harmonia; o primeiro é percebido
como reflexo e eco da natureza, mas em um sentido sensual e não material,
enquanto a harmonia é vivenciada pelo artista como a sua colocação no cosmo sem
causar distúrbios ou destruir o seu equilíbrio.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A memória é o aspeto ontológico da estética
africana. É a memória da tradição, da ancestralidade e da lembrança da antiga
harmonia da natureza, da época na qual não existiam diferenças, nem separação e
que tem que ser lembrada e fortalecida num ciclo eterno. A relevância da obra
artística é dada pela transmissão da harmonia, que liga algo dentro e algo
fora, o corpo e o espírito, a natureza e o homem. Mas sem a inspiração divina o
escultor, o dançarino, o musico não poderiam criar o "momento artístico-religioso".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A repetição, entendida como uma reciclagem do
momento criativo, o movimento produz o efeito de intensificação que leva ao
encontro com a divindade, facilmente observado nos rituais. O mesmo ato ou
gesto é praticado num número infinito de vezes, para dar à ação um caráter de
atemporalidade, de continuação e de criação continua.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Outra característica é a ligação com a terra,
vivenciada como elemento materno, é ela que nos originou, em vários mitos
africanos e no candomblé e a onde voltaremos. Nas danças africanas o contato continuo
do pé nu com a terra é fundamental para absorver as energias que se propagam.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">TEMPO E
ESPAÇO NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Evans-Pritchard (1976) distingue as duas categorias
de tempo relativas aos Nuer (uma das tribos da África Oriental): o tempo
ecológico e o tempo estrutural; sendo o primeiro o tempo das estações, dos
ciclos anuais; enquanto o segundo revela não um <i>continuum</i> ,
mas uma constante entre dois pólos: a primeira e a última pessoa na linhagem
familiar. Edward Hall (1984:96), observa que: "os Nuer, se dão conta, de
certo modo, que o tempo passa, mas que é necessário para o funcionamento de
suas estruturas culturais tratá-lo como um elemento imóvel - eles consideram
que somente as gerações passam.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Tomando um outro exemplo, ainda na interpretação de
Hall, (1984:96): para os Tiv (um povo da Nigéria) o tempo é como um conjunto de
espaços fechados, cada um contendo um atividade diferente. Esses espaços
fechados, assim como os canais dos Nuer, parecem ser relativamente fixos: não
se pode deslocá-los ou reorganizá-los, nem mudar ou interromper uma atividade
em curso no interior desses espaços, como se pode fá-lo na cultura ocidental.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">No candomblé, também o tempo-pensamento para de
fluir, porque cada ação, cada cantiga, cada dança tem que ser vivenciada no
tempo reversível próprio do mito. Segundo a antropóloga Bernardo: "...Surpreende
perceber na festa, através da música e da dança, a existência de um outro tempo
- do tempo reversível. Pela audição dos sons e pela percepção dos movimentos
dos corpos no espaço atesta-se a existência desta outra temporalidade que
reintegra o tempo linear - da produção e da eficiência - ao tempo que não
envelhece - característicos dos deuses".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Esse é um tempo circular que começa e acaba no
mesmo ponto, ciclicamente e ritmicamente seguindo os ritmos da natureza. O
tempo, nesse sentido é movimento, é a materialização do movimento, como diz
Duplan (1987): "para marcar o tempo, temos que agir, batendo sobre um
tambor com a mão ou sobre o chão com os pés. Criando o tempo, criamos o
movimento."<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O espaço sagrado é o campo do culto, o lugar no
qual o caos transforma-se em cosmo, tornando possível a vida humana, por isso é
polissêmico. Segundo Neumann(1981:34), "... O lugar da revelação primária
transforma-se em lugar de culto, caverna sagrada, modelo de qualquer templo, e
o mesmo caminho percorrido transforma-se numa estrada misteriosa
conscientemente repetível, estrada que conduz à sabedoria com o caminho
iniciático .<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Toda a <i>roça </i>do candomblé é
considerada um lugar sagrado. No momento em que o fiel deixa a rua e entra
na <i>roça</i>, ele entra num lugar mágico-sagrado. O mundo de fora é
perigoso e cheio de dificuldades. Dentro existem várias provas a superar, mas
as filhas de santo encontram aliados na luta pela a sobrevivência e também no
caminho místico-religioso. Já na entrada, os fiéis colocam ou assentam
espíritos, através de rituais apropriados para defendê-los das energias
negativas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Tanto a rua, quanto o próprio terreiro poderiam
simbolizar uma peregrinação, um caminho iniciático, lugar de passagem para
alcançar o <i>barracão</i>, o lugar sagrado por excelência, onde, nas
cerimônias públicas, as divindades se manifestam.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Existem dois espaços, um interior, o próprio corpo
da <i>filha-de-santo, </i>receptáculo do sagrado, sagrado ele mesmo e
um externo o <i>barracão. </i>Esses dois lugares são o teatro da
transformação ritual. Neles o fiel deixa o mundo cotidiano e alcança o encontro
tão assustador, mas tão desejado, com o divino. É só no espaço sagrado que ele
pode voltar à totalidade e comunicar-se com a divindade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A dança desenha não só o percurso do corpo no
espaço para chegar ao divino, mas também percorre a planta arquitetônica do
lugar sagrado, desenhando o caminho para alcançar o espaço mágico-sagrado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O fiel dança, segundo (Wheatley,1983), ao redor do
centro sagrado, um ponto da terra ligado ao céu por um invisível raio
energético, o <i>axis mundi</i> . Este é um simbolismo em quase todas
as religiões do mundo. Nesse ponto e na entrada estão enterrados os fundamentos
da casa. Cada terreiro tem seu próprio <i>fundamento</i>. O centro de um
lugar é fundamental nas religiões africanas porque é o lugar, onde, através da
"coluna sagrada", o céu se liga com a terra, segundo relata Davidson
(1972). É talvez por isso que, nesse lugar, está colocado o <i>fundamento </i>da
casa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A criação, em toda a sua extensão, se efetuou a
partir de um centro. Por isso, tudo aquilo que é fundado, está no centro do
mundo. Do centro passam dois eixos, um vertical, o outro horizontal, tempo e
espaço. Desse centro, originam-se círculos sempre maiores, que vão ao infinito,
à semelhança de uma pedra jogada na água. Mas o caminho é árduo, semeado de
perigos, porque é, efetivamente, um rito de passagem do profano ao sagrado; do
efêmero e do ilusório à realidade e à eternidade; da morte à vida; do homem à
divindade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O espaço sagrado, o <i>barracão, </i>durante
a dança, é preenchido com os corpos em movimento. As direções são os caminhos
do corpo no espaço. Simbolicamente expressam as várias possibilidades no espaço
do divino e do homem se movimentar. A divindade pode utilizar uma estrada
curvilínea, ou um caminho que prevê várias mudanças de direções. Come sugere
Hall um movimento curvilíneo que segue um caminho direto-circular, como aquilo
de Oxum ou Iemanjá mostra o pertencer a uma etnia de agricultores, parados num
lugar de onde irradiavam-se. Enquanto os caminhos de Oiá e de Ogum relatam o
pertencer a uma etnia nômade, que mudava a direção seguindo a trajetória dos
animais. O corpo em movimento assume um significado simbólico, segundo os
níveis de verticalidade, alto-médio-baixo. O nível alto relaciona a pessoa com
o elemento ar; o nível baixo relaciona o corpo com a energia da terra, que,
segundo Oliveira (1994): tem que dar o apoio necessário para sustentar-se; o
nível médio inter-relaciona os outros dois. O corpo movimenta-se também na
horizontal, ampliando os movimentos semelhantes a uma bola hipotética, como nas
danças de Iemanjá, ou desenhando com os braços, uma forma redonda, como na
dança de afastamento de Oiá-Iansã. Assim as danças podem desenvolver-se tanto
ampliando os movimentos, quanto dançando na vertical, subindo e descendo ao
longo de uma linha imaginária, como na dança das ondas de Iemanjá.
Frequentemente os orixás jovens pulam, dançando, e interrompem os movimentos
com paradas repentinas e nervosas, como Oiá-Iansã ou Ogum, demostrando mais
energia, enquanto os orixás mais velhos dançam com mais calma e com movimentos
mais contínuos, como Oxalá ou Nanã Buruku.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Os orixás guerreiros dançam com uma postura mais
ereta, com pulos nos momentos mais dramáticos e alcançando com o corpo mais
espaço seja na linha vertical que na horizontal, enquanto as divindades mais
velhas dançam curvadas na direção do chão. É o caso de Omolu ou de Nanã Buruku,
cuja gestualidade expressa sua ligação com os ancestrais e com o retorno à terra, <i>aiyé,
ao</i> <i>orum</i>, o não conhecivel.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">O CORPO E A
SUA SIMBOLOGIA NO CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O homem está em contato continuo e harmônico com a
natureza, que fala com os mortais através das suas vibrações, captadas do
corpo, por isso o corpo não é negado, mas vive o seu compromisso com o mundo. Os
seus ritmos são acompanhados de uma experiência sensual contínua. Eis por que o
corpo é decorado para mostrar a sua importância e resguardá-lo dos ataques
mágicos externos, protegendo as aberturas com decorações ou jóias, como os
brincos cheios de pendentes, para indicar aos outros quem a pessoa é e como os
outros devem-se comportar-se na sua frente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O corpo sagrado é o templo por excelência, é
simbolicamente o "trono" e, por isso, o das divindades (típica é a
representação de Iside sentada) é sempre representado (Newman, 1981:101) como:
um trono em si, é característico que o ventre feminino não seja só a parte dos
genitais, mas também as largas coxas da mulher sentada, sobre as quais fica o
menino nascido daquele ventre. Portanto as cadeiras são uma área sagrada do
corpo humano, onde a bacia e as nádegas representam a fertilidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Centro da irradiação simbólica portanto é o corpo,
expressão das energias da natureza e em unidade com o mundo natural que o
abrange. Daí a sua função de busca das energias cósmica e de expressão delas,
vivenciando-as.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Sendo o corpo humano uma cópia das formas e das
energias do cosmo, os próprios elementos (fogo, ar, água e terra) juntam-se
segundo arquétipos diferentes. As palavras do biólogo Pelosini (1994:94)
aplicam-se bem à concepção africana do corpo humano : ...o universo
(macrocosmo) e o homen (microcosmo) são criaturas similares, que obedecem às
mesmas leis como um tipo de fantástico e perfeito relógio cósmico que escande
harmoniosamente os ritmos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Tendo como base o contexto cultural holistico do
candomblé, o corpo encontra-se diretamente relacionado a uma divindade e, por
extensão, a um dos elementos naturais primordiais e aos demais elementos a ele
associados, como relatam Barros e Teixeira (1992:43). É percebido como
manifestação da ação sobrenatural. A partir da predominância de um dado
elemento na composição do corpo, é determinado o principal orixá da pessoa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As divindades femininas, as <i>iabás, </i>Nanã
Buruku, Iemanjá, Oxum, Euá e Obá estão associadas ao elemento água; Oxalá
(masculino) e Oiá-Iansã (feminina) ao elemento ar; Ogum, Oxóssi, Omolu, Iroko e
Ossâim (masculino) ao elemento terra e por isso ao mato; Exu e Xangô
(masculinos) e também Oiá-Iansã (feminino) ao fogo. Os orixás Oxumaré e Logunedé
são considerados metá-metá" e estão associados tanto à água como à terra.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">No corpo está inscrita a história da familiar, dos
ancestrais <i>Esa</i>, numa sofisticada composição de formas, matérias e
energias opostas, que devem equilibrar-se e complementar-se. Como relataram-me
na pesquisa, simbolicamente a parte frontal do corpo é relacionada ao futuro; a
parte posterior, sobretudo a nuca, ao passado. As pernas estão relacionadas aos
ancestrais, porque são a base do corpo humano, quer dizer, aquilo ao qual refere-se
sempre e que é o sustento, quer dizer a hereditariedade, os antepassados.
Também as mãos são consideradas como um dos pontos onde é possível receber
energia, de fato quando um orixá passa perto dos fieis botam-se as mãos abertas
frente à divindade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O corpo, <i>ara </i>foi modelado com uma
porção de lama, porque a terra é a mãe de tudo e o lugar ao qual todos
voltaremos, sendo um outro dos lugares simbolizantes o <i>orum, </i>o
não conhecido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As partes consideradas mais sagradas são: a cabeça,
sede do <i>ori </i>é consagrada a Iemanjá. Ela é a senhora das
energias negativas e positivas. É ela que consegue equilibrá-las nas cabeças.
Por isso, como me foi explicado pela Ialorixá Mãe Beata de Logunedé, Iemanjá
dança botando as mãos na frente e atrás da cabeça, a simbolizar a possibilidade
das misturas das energias. Iemanjá como mãe de todos os orixás, tem a função de
orientar e cuidar de todo mundo, não só dos filhos dela. Os seios simbolos da
nutrição e fonte de vida para o genro humano. O ventre, sede dos órgãos sexuais,
é protegido por Oxum, porque ela é a dona do fluxo menstrual, enquanto o útero,
como órgão reprodutivo, é protegido por Iemanjá. Dono dos pés é Ogum, símbolo
do movimento, também do desenvolvimento, porque indica a capacidade de procurar
novos caminhos. O pé direito é relacionado com o ancestral masculino e o pé
esquerdo com o ancestral feminino, sendo, como explicado acima, a base do corpo
e a herança ancestral que reside na terra. A voz do orixá é o <i>ke</i> ou <i>ila</i> ,
um grito que às vezes a possuída dá durante a possessão. O <i>ila </i>é
o símbolo da individualidade, é a energia pura daquela pessoa, é o som criador
e individual que, concentrando-se no interior, testemunha a personalidade mais
profunda. Mais que o olhar, é a voz que indica a individualidade.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As aberturas do corpo são também sagradas porque,
através delas, através da alimentação penetram no corpo os alimentos e as
energias. O orixá que cuida das aberturas do corpo assim como das entradas do
terreiro é Exu, o guardião que, se bem homenageado, traz boas energias,
enquanto que, se deixado solto na rua, procura confusões e dificuldades.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Os olhos são importantes porque falam, são os
espelhos da alma, ao longo da pesquisa percebi o diferente olhar das <i>Maes-de-santo</i> em
circunstancia particulares, como por exemplo na divinação. E também merece
ressaltar o fato que ao longo do transe, os olhos fechados parecem indicar que
os sentidos estão voltados para o interior do corpo, para uma outra dimensão. A
coluna humana simboliza a coluna sagrada, com ela relaciona-se o mundo dos
espíritos com os dos mortais, assim é através da coluna que liga-se a cabeça e
os pés, o <i>ori </i>com o sua base que é a possibilidade de se mover
no espaço e no mundo, como a dizer que sem um equilíbrio energético na cabeça o
fiel não pode escolher o seu caminho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Através do corpo em movimento percebem-se os
problemas espirituais, porque, quanto mais um fiel conseguir ficar em harmonia
consigo mesmo e com o seu orixá, com mais fluidez ele conseguirá soltar-se na
dança, expressando a própria natureza profunda.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">A DANÇA
CÓSMICA<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Shiva criou o universo dançando, assim como nos
mitos gregos Eurinone, Deusa de Todas as Coisas, emergiu nua do Caos, mas não
vendo substancia em redor onde firmar os pés, apartou do céu o mar, dançando
solitária por sobre as suas ondas. (Graves, 1990:31). Nas lendas dos Iorubás,
os orixás também gostavam muito de dançar durante as festas ou para atrair
alguém.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Entendem-se assim que não só no pensamento
africano, mas também no oriental e grego o universo é percebido em continuo
movimento, formado por ondas vibratórias organizadas no "verbo" da
Divindade Suprema que expressa-se na respiração com os dois movimentos básicos
da natureza viva: expansão e contração. Movimentos fundamentais da vida do
cosmo, das plantas, dos animais e do homem. Belinga diz (1993:11): "Nas
nossas tradições o "verbo" possuí três elementos que o determinam e
que permitem a sua colocação seja entre as formas artísticas, seja na
comunicação interpessoal. Três são as formas nas quais o "verbo"
manifesta-se: a palavra, que caracteriza a expressão interior e exterior do
pensamento; a música que expressa a beleza; e pôr fim a dança, que é em função
seja dos ritmos dos instrumentos seja do ritmo interior do "verbo".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Segundo os africanos a vida faz parte de um
processo rítmico e dinâmico de criação e destruição, de morte e renascimento,
onde as danças dos orixás expressam esse eterno e alternado ritmo, que
desenvolve-se em ciclos infinitos expressados pelo homens.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Através da dança, o corpo sai da sua
individualidade física e insere-se num movimento mais amplo que interessa à
coletividade, à divindade e ao cosmo. O fiel, através do rito alcança o
infinito. Move-se com atos ou gestos corporais, que permitem realizar aquela
identidade substancial que liga o som individual aos ritmos do universo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Assim as danças das divindades tornam-se como um
espelho que reflete o ritmo humano, do nascimento, da morte e dos ciclos
cósmicos da criação e da destruição. As culturas não ocidentais sabem que a
natureza vibra numa onda invisível-rítmica perceptível só através do corpo e da
arte.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Por isso Morin coloca que: "a sensibilidade
estética é, sem dúvida, uma aptidão para entrar em ressonância, em
"harmonia", em sincronia com sons, aromas, formas, imagens, cores
produzidos em profusão não só pelo universo, mas também, já então pelo <i>sapiens</i> ".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Por isso a religião usa as formas estéticas como
comunicação não verbal, porque consegue exprimir sensualmente mensagens
profundas que seriam impossíveis expressar com palavras. Daí a importância da
arte ritual como linguagem de transmissão para a alma humana. Langer explica
este fato (1953:40) quando diz: a arte é a criação de formas que simbolizam os
sentimentos humanos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O homem é levado pela música expressa na dança para
o caminho indicativo da metamorfose, necessária para encontrar o sagrado,
experiência dificilmente exprimível com palavras, posto que ela é interna,
preciosa e resumível apenas com as imagens simbólicas dos sonhos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Existe uma estrutura fixa e organizada e uma
linguagem específica, seja para a música, seja para a dança. A aprendizagem das
danças e da terminologia é lenta e envolve uma longa vivência nos terreiros e
uma longa observação. Nas palavras de Langer (1980:178): o movimento corporal é
bem real, mas o que torna o gesto emotivo é a sua origem espontânea, no que
Laban chama de movimento-pensamento-sentimento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Percebe-se, assim, a importância não dos gestos
mecânicos, mas da força do sentimento, do pensar apaixonado que a dança
expressa, que seria a essência daquele orixá particular. Mas o homem só pode
encontrar o sagrado através de uma iniciação progressiva: a força da divindade
sem uma adequada preparação seria de fato forte demais para o comum mortal,
como disseram meus informantes. Por isso o ritual desenrola preparando o fiel
para encontro com o divino.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O homem dançando, ritualiza a confiança numa
vitória sobre o heracliteo "eterno fluir" e a celebra para revivê-la
e para continuar, ele mesmo, a viver eternamente, consagrando-se, assim, um dia
como antepassado na memória dos familiares.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A angústia de não sobreviver à caducidade da vida e
à passagem do tempo é antiga como o mundo e todos os povos tentaram
exorcizá-la. O homem, através da dança ritual, acredita sair do tempo e entrar
em contato com a essência primordial, na qual não existe o fluxo do tempo.
Lévi-Strauss (1971:590-659) e Durand (1972:35) salientam a necessidade do homem
de parar o tempo no ritual e de celebrá-lo dançando, de não deixá-lo decorrer
em sua passagem, acalmando, desse modo, a angústia existencial.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">No ritual, os fiéis do candomblé vivem de novo o
momento atemporal do mito da criação, dançando ao contrario voltam a origem e,
ao antigo equilíbrio, agindo assim, exorcizam a morte, o tédio e o sofrimento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">A MÚSICA NO
CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Segundo Mukuna (1996), a música africana tem a
função de fazer socializar a comunidade, de passar o conhecimento sobre o grupo
étnico desde uma geração á outra e de abrir um canal de comunicação entre o
mundo físico e o espiritual. O som é o resultado de uma interação dinâmica, som
que sendo condutor de <i>axé, </i>poder de realização, aparece em
todo seu conteúdo simbólico nos instrumentos musicais. Por isso os <i>atabaques </i>são
instrumentos sagrados e recebem todos os anos rituais apropriados, assim como
são tocados só por sacerdotes-musicos, os <i>alabés. </i>.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Segundo o músico Carneiro(1994), a música africana
está caracterizada por uma ciclicidade da frase musical. Quer dizer que o
padrão rítmico repete-se ao infinito. Não é como na música ocidental, em que se
cria uma história temporal. Aqui não: a frase musical é repetida sem um começo
ou um final. A repetição da frase anula a expectativa do acontecimento de algo
de novo, de imprevisto, mas recria todas as vez a frase musical. Existe a
tentativa de parar o tempo e o seu fluxo na busca de um centro único, fixo e
eterno. A música é dividida em unidade de tempo que organizam-se num
"modelo-padrão", repetido numa nova re-ciclagem. No ritual cada <i>atabaque </i>tem
seu "modelo-padrão" que liga-se àquele dos outros tambores num
"ensamble thematic cycle" (Meki Nzewi) que levam os vários
instrumentos num mesmo momento de início ou de fim. A música simbolicamente
expressa o andamento circular do tempo e do espaço do mito.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O atabaque maior, <i>rum</i> <b>,</b> que
é a base rítmica e é o único que permita-se variações, toma conta da cabeça,
porque e o "som-identidade" e a nível simbólico, manda sobre o resto
do corpo. Seria o fundamento religioso, a parte mais sagrada. A nível corporal,
manda sobre os pés, que são a base do corpo e em direta ligação com a cabeça
através do canal energético representado pela coluna humana. Os braços contam a
mitologia e estão dirigidos pelo ritmo do <i>rumpi</i> . Enquanto a
última percussão, o <i>lé</i> , dirige o movimento dos ombros, que é
continuo e o mais solto possível, talvez para ajudar a passagem da energia através
da coluna.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Tanto a música, quanto a dança que a acompanha
expressam o caráter do orixá e os acontecimentos da sua vida. As histórias
míticas, as qualidades, as virtudes e as falhas dos orixás são passadas aos
fiéis através das letras das cantigas. A concentração e a busca interior
permitem expressar a própria música e a própria gestualidade, que é única e
pessoal e que corresponde à "qualidade" de cada orixá.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Assim, por exemplo a música de Oiá é caracterizada
por grande rapidez, agressividade, determinação e grande variabilidade, porque
o <i>rum </i>nunca repete os mesmos esquemas rítmicos, percebe-se
assim a personalidade da deusa que expressa o elemento ar em movimento. O uso
da <i>sincope </i>no brano de Oiá tira a possibilidade de encontrar
uma isocronia no ritmo e dá ao ritmo musical a impossibilidade de botar os pés
no chão. Enquanto a música de Iemanjá é caracterizada por movimentos lentos e
amplos, que expressam o movimento das ondas do mar. Por sendo em ritmo binário
a sensação é aquela de um movimento circular, expressado na dança.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Como a música é tão importante, assim é a função
dos sacerdotes-musicos, os <i>alabés </i>que aprendem o repertório
durante muito tempo. São eles que podem chamar a comunidade e sobretudo os
orixás a descer na festa, são eles que ajudam os fiéis a 'cair no santo'
acelerando os ritmos e que encerram a festa com um toque especial.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Como mostra Luhning (1990:197), a música, na sua
maior parte, está direta e inseparavelmente ligada com a dança das <i>filhas-de-santo </i>ou
dos orixás manifestados nelas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">AS DANÇAS NO
CANDOMBLÉ<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Nos rituais de candomblé, a função da dança é
múltipla: por um lado, é expressão do sagrado e cria o próprio orixá, por
outro, é o meio e o conteúdo entre a divindade e os fiéis, entre o <i>aiyé</i> ,
a terra e o <i>orum</i> <b>,.</b> Como já foi observado acima, a
dança sagrada expressa a própria energia da natureza, materializada no corpo da
filha-de- santo em transe.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Na festa pública do candomblé são reconhecíveis
dois tipos de dança:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">a) um primeiro tipo, no começo da festa, o <i>xirê</i> (literalmente
brincar), onde se canta para todos os orixás um mínimo de três cantigas,
acompanhadas pelas danças. Cada orixá possui cantigas e gestualidades
particulares, pertencentes só a ele. Essas danças são previsíveis, porque são
executadas ainda em estado consciente e seguem um padrão fixo, a depender do
orixá dono da festa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Todas as filhas e os filhos-de-santo participam
dessas danças, formando, no início, um grande círculo sagrado, que é um símbolo
encontrado em várias religiões. Essa primeira parte da festa pode ser
considerada uma cosmovisão: todas as energias da natureza são chamadas a descer
para restabelecer o antigo equilíbrio entre as energias da natureza e os
homens. Em geral, os fiéis dançam um atrás do outro, em sentido anti-horário,
exceto nas rodas de Xangô, de Oxóssi, de Obá ou de Oxalá", onde as filhas
olham para o centro do barracão, concentrando-se nessa direção. Nesse lugar,
está colocado o fundamento da casa, a raiz material da casa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Quando se dança o <i>xirê</i>, segundo
Oliveira(1995): os movimentos são de dimensão pequena e chamam-se dançar
pequenino, porque são movimentos de dimensão pequena e servem para concentrar
as energias, mas também para as pessoas se centrarem e para prepararem-se a
receber o orixá;<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">b) um segundo tipo, são danças realizadas durante o
transe; é o próprio orixá que dança nesse momento, seguindo o ritmo sagrado dos
tambores. Nessa segunda parte, o andamento da festa é imprevisível porque,
apesar de existir um esquema fixo, não se sabem exatamente quais serão as
coreografias, porque isso depende das cantigas entoadas pelos fiéis presentes,
da memória para lembrar as antigas cantigas e também da presença das <i>Iá-tebexê </i>ou
das <i>Baba-tebexê</i> quer dizer, das filhas ou filhos que têm a
tarefa de entoar as cantigas e de continuá-las, quando os outros não se lembram
mais delas. Além disso, o desenvolvimento da festa depende de outros elementos
complicadíssimos, como a relação entre o orixá dono da festa e o da
mãe-de-santo, ou de outras relações entre os orixás.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Assim, por exemplo, numa cerimônia para Oyá-Iansã,
assistem-se às danças típicas dela: da guerra, como mãe ou rainha dos Eguns, e
a coreografias ligadas a outros orixás, como Ogum, Xangô, Oxóssi, seus maridos.
Nessa segunda parte da festa, a energia é chamada a manifestar-se em todas as suas
formas possíveis e também junto com as outras forças da natureza. Quando Oyá-Iansã
dança com Xangô, sua dança é a manifestação do movimento do ar, que gera o
fogo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">O orixá mostra ao público a sua história
mitológica, redistribuindo a energia vital, <i>axé</i> e trazendo o
mundo sagrado de volta ao cotidiano. Quando os orixás apresentam-se nesse
momento, entram no barracão em fila, seguindo a hierarquia dos <i>mais
velhos no santo, </i>quer dizer que as filhas mais velhas vêm na frente,
seguidas daquelas com menos tempo de iniciação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As danças dos orixás são muito diferente. Por
exemplo nas coreografias de Oiá, os passos são pequenos e rápidos, como se os
pés não pudessem posar-se no chão, ela representa o elemento ar em movimento,
enquanto os braços movimenta-se com força afastando qualquer da sua frente. O
corpo pode ser dobrado para o chão, com uma carga muito ameaçadora, mais
frequentemente é direcionado para o alto.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As danças de Iemanjá são constituídas por
movimentos amplos, os pés posam no chão, a demostrar o equilíbrio, enquanto os
braços movimenta-se com grande fluidez. O corpo está levemente dobrado para o
chão em uma forma redonda a lembrar a forma materna da deusa e a sua
disponibilidade em acolher e em conduzir, o corpo todo expressa o movimento das
ondas, a ritmicidade continua, mas também o mistério a água que está em baixo
sobe por cima levando as coisas que encontra por baixo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Existem algumas danças que são parecidas, como as
chamadas <i>primeira de dar rum</i> , primeira coreografia dos
orixás, que funciona como uma apresentação através da qual os orixás, se
apresentam ao público. Nas danças executadas em transe o corpo e o rosto
juntam-se numa única plasticidade como se o corpo tornasse uma estadua e
adquirisse uma nova qualidade de movimento.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Cada orixá dançando transmite a própria vibração
interna: Ogum, nervoso anda no espaço todo abrindo o caminho com as mãos que já
viraram espadas. Oxossi, o caçador dança com o <i>aguere, </i>tranquilo,
esperando os animais e movimentando-se com muita atenção no mato, ele tem na mãos
arco e flechas. Xangô, com o ritmo <i>avanija, </i>toma posse do
barracão, mostra ser o vaidoso rei de Oio, mexendo o corpo todo e ampliando a
largura das costas. Omolu dança dobrado para o chão, o seu ritmo<i>opanijé, </i>tremendo
pela sua doença. Oiá nervosa, voa com o <i>ilú, </i>enchendo todo o
barracão, Iemanjá mais calma expressa a grandeza do mar e o seu lado maternal,
enquanto a Oxum com o <i>ijexá, </i>captura os olhares dos fiéis,
mostrando todo o seu lado coquete. Nanã também dança dobrada, tendo na mão uma
bengala com a qual bate o milho, ela é a mais velha e a mais ligada ao mundo
dos ancestrais, Oxalá, o pai de todos dança com dignidade, com a sua ferramenta
na mão.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">No final, existe uma coreografia de despedida, em
geral igual para todos os orixás. Estes saúdam o público, a mãe de santo e os
atabaques, restabelecendo a ordem inicial. Então as forças da natureza,
chamadas a concentrar-se no espaço sagrado, são espalhadas novamente e
repartidas no seu lócus originário.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;">OS DESENHOS
DAS DANÇAS<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 10.5pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As danças são estruturadas em coreografias
executadas no <i>xirê</i> , ou durante a incorporação. As danças são
muitos e diferentes e só uma longa convivência permite reconhece-las. Como pude
observar, os movimentos são os mesmos que repetem as características dos
orixás. A mudança da coreografia acontece porque mudam as cantigas. A forma
coreografica de algumas repetem-se, por isso tentarei encontrar o sentido
simbólico delas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Primeira entre todas, é a forma do círculo, a
antiga roda sagrada, que pode ser encontrada em várias culturas; de fato, em
todas as danças extáticas, os dançarinos rodam em torno de um centro, ao tempo
em que rodam também sobre si mesmos num duplo movimento de rotação e
translação.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A forma do círculo tem uma grande importância na
África, Neumann (1981:214), simbolizando a Grande Mãe, que em si contém os
elementos masculinos e femininos. Por isso as coreografias referentes as
divindades da Água: Oxum e Iemanjá possuem um movimento circular.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">É interessante observar que as danças extáticas
rodam em sentido anti-horário, mas é difícil dar uma interpretação desse fato,
porque, nas entrevistas as <i>filhas </i>só diziam que é bom para o
espirito. Este movimento ao contrário, é feito no mundo inteiro, talvez porque
abre a brecha entre sagrado e profano, simbolizando a volta a origem.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As danças começam em um grande e lento círculo que
vai diminuindo ao longo do ritual com giros sobre si, feitos durante as
incorporações, a simbolizar uma direção para si mesmo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Como o círculo, a espiral é um símbolo
antiquíssimo, encontrado em todas as culturas, e também na natureza, incluindo
a molécula do DNA, a espiral aparece nas rotações que as <i>filhas-de-santo</i> fazem
sobre si mesmas, quando incorporam ao longo da performance. Esse mesmo
movimento é repetido em várias danças. Assim fazendo uma analogia com a
proibição do incesto para Levi-Strauss, pode-se dizer que a espiral possui um caráter
universal que é o próprio DNA da espécie-sapiens e um caráter particular que
possui significados diversos dependendo da cultura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A espiral é símbolo da comunicação (Santos:1977;
Pelosini:1994). Assim, quando o orixá possui o corpo da <i>filha-de-santo</i> ,
realiza-se uma comunicação entre o homem e a divindade. Enquanto o corpo
material vira sobre si mesmo, a energia do orixá penetra, virando do outro lado
e entra no corpo, formando uma dupla espiral, como me foi explicado por uma mãe
de santo, Mãe Teresinha da Liberdade. Não é por acaso que Exu, a divindade da
comunicação, roda sobre si mesmo desse modo, quando se transforma num ciclone e
acaba com tudo que está em sua volta, porque ele é a própria comunicação,
simbolizada pela espiral, que expressa o movimento circular que, saindo do
ponto da origem, movimenta-se ao infinito. Ela expressa a evolução a partir de
um centro; simboliza a vida, porque indica o movimento numa unidade de ordem
ou, ao inverso, a permanência do ser na mobilidade. Durand (1972) sugere que,
simboliza a permanência do ser, através das flutuações da mudança da vida.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Segundo Pelosini (1994:181): a função simbólica das
rotações helicoidais seria a de aproximar, por etapas, o homem ao infinito e
juntar a terra ao céu. Essas inter-relações, entre o corpo humano (microcosmo)
e o universo (macrocosmo), entre o infinitamente pequeno (microcosmo) e o
espaço interstelar infinitamente grande (macrocosmo), já eram, em muitos casos,
conhecidas ou percebidas por civilizações do passado, que as tinham codificadas
em mitos e símbolos de espiral.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A espiral poderia simbolizar a procura do próprio
espírito ao longo do difícil caminho espiritual. Partindo de um ponto firme,
alcança, com voltas ao mundo do sagrado. A mesma forma encontra-se na dupla
hélice do DNA, que é responsável não só pela programação da atividade celular,
mas também pela hereditariedade das características genéticas e da própria
evolução das especies: é a verdadeira quintessência da vida, é o eterno que
sempre se transmite. Essa molécula é o mensageiro da hereditariedade biológica
e das características hereditárias, assim como Exu é o mensageiro entre os
homens e as divindades. Não é por acaso que, no candomblé, a espiral
encontra-se no <i>okoto</i> , associado a Exu, orixá que expressa a
dinâmica da vida, o movimento interno na criação e na expansão do mundo.
Segundo Santos (1977:133), o <i>okóto</i> é uma espécie de caracol e
aparece nos motivos das esculturas e como emblema entre os que fazem parte do
culto de Exu. Ele consiste numa concha cônica cuja base é aberta, utilizada
como um pião. O <i>okóto </i>representa a história ossificada do
desenvolvimento do caracol e reflete a regra, segundo a qual, se deu o processo
de crescimento espiritual; um crescimento constante e proporcional, uma continuidade
evolutiva de ritmo regular. O <i>okóto</i> simboliza um processo de
crescimento. É o pião que, apoiado na ponta do cone um só pé, um único ponto de
apoio rola, espiraladamente, abre-se a cada revolução mais e mais, até
converter-se numa circunferência aberta para o infinito.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Assim como o DNA é o significante e o significado
da vida - todas as funções vitais da célula dependem dele, sobretudo a
reprodução, ou seja, o perpetuar-se da vida. Exu é o princípio dinâmico da
evolução e o mensageiro entre o homem e a divindade, sem ele, nada pode ser
comprido.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">CONCLUSÕES</span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Os versos de Senghor esclarecem a importância da
dança, a dança é a possibilidade de conhecer o outro, dançando exprimem-se o
lado mais profundo do ser e também liga-se na essência do outro. Um outro que
pode ser preso dentro de nós dançando-o ou pode ser olhado como um espelho. Eis
o conceito do "duplo", a sacerdotisa-dançarina está criando o outro e
também neste processo de criação-incorporação o vivência intensamente em si
mesma e adquire a sua pulsação-ritmo interno.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A arte africana está ligada profundamente á
religião. O belo não é só prazer estético, mas é percebido como uma
participação a um sistema dinâmico de comunicação entre o mundo visível e o
invisível. A arte não existe como conceito para se, mas adquire sentido só na
determinação da visão dinâmica do mundo africano. Uma das muitas palavras
ioruba para dizer "arte" é <i>ogbon, </i>"sabedoria",
para indicar que o artista é um sábio que escuta as mensagens da natureza. Os
artistas-sacerdotes tem a tarefa de perceber e transmitir as comunicações das
divindades com a criação simbólica no ritual.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A dança tem um sentido particular porque é a
expressão da divindade e da identidade mais verdadeira da <i>filha </i>ou
do <i>filho-de-santo. </i>Cada um possui a própria "identidade-sonora",
o próprio duplo no O<i>run</i>, que o fiel encontra no momento da possessão e
que aprende a reconhecer e a conhecer através da dança e da música. Em várias
culturas é pelo corpo que o homem começa o caminho do conhecimento e o papel
por ele desempenhado no cosmo e na sociedade. Sendo no corpo que o homem
vivência a própria experiência da vida e junta as várias informações simbólicas
sobre o mundo, é no corpo divino, que vivenciando as energias sagradas, ele
pode se comunicar com o sagrado, pode juntar o lado sensível com aquele
material, porque não dados cognitivos, mas as cores, as formas, os sentimentos
internos dão forma á matéria. Os ritmos dos <i>atabaques </i>levam o
fiel numa viagem simbólica que o-transforma, porque toma posse do tempo que
flui e do espaço que não tem mais lugar definido, o fiel volta ao tempo da
origem. A percussão dos <i>atabaques, </i>como sustenta Duplan é a
materialização do tempo e tomar consciência do tempo é conhecer a nossa
linhagem, é saber de ser um aneu de uma corrente infinita que originou-se com
nosso ancestral-mitico. O corpo age no mundo sagrado através dos movimentos da
dança e interagindo com o espaço simbólico e com o tempo da origem. Espaço que
refere-se a uma tipografia sagrada onde cada objeto, cada planta remetem a
outros planos da existência. Assim como a coluna sagrada representa a ligação
entre o mundo sobrenatural, o <i>orum </i>e o mundo da terra, o <i>aiyé, </i>os <i>fundamentos</i> remetem
ao tempo da origem, na mesma forma a coluna humana liga a cabeça, o <i>ori, </i>o <i>orum,
com</i> os pés, nossos fundamento pessoal, nossa ancestralidade, voltando
durante a possessão ao tempo do mito quando ainda não existia a interrupção
entre o mundo dos homens e aquele dos deuses. Depois do momento do
"chamado do orixá", o orixá se apossa da materialidade do corpo e
transforma o fiel em divindade, o fiel torna-se o seu duplo divino. As danças
afirmam assim a presenca da divindade entre os homens. A dança e a música
expressam a identidade sonora e corporal da divindade numa única imagem de
conteúdo e forma. Essa unidade adquirida só naquele momento a-temporal e
a-espacial, pelo corpo atravessado pelas energias divinas, energias que
encontram-se tanto no macrocosmo como no microcosmo. Unidade construída e
expressada só através um simbolismo corporal, porque os conteúdos são tão
profundos que não poderiam ser comunicados através das palavras, o corpo tem
que vivenciar a "origem" e não conhece-la como meros conceitos frios.
Os sinais não-verbais remetem a imagens e sentimentos e por isso eles possuem
um grande poder. Como afirma Firth (1970): " os gestos tem um significado,
uma faculdade, um efeito restaurador, um tipo de forca creativa que só as
palavras não podem dar".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Retomando Prandi (1991): "As religiões do
transe também operam de modo a integrar as dimensões íntimas e públicas do eu
social, podendo se valer, como no candomblé, do uso de papeis referidos
religiosamente, eus sagrados, que aparecem como se fossem independentes do eu
social da pessoa".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">As danças dos orixás tem todas as características
das danças africanas, reconhecidas através da importância do grupo, que
fortifica a ligação entre os fiéis e tem a função de um espelho que reflete a
própria imagem-identidade; a relação com o elemento terra, a mãe terra que
sustenta seus filhos e e manda energias por eles sendo também o lugar dos
ancestrais; a importância do ritmo, que tem a função de chamar a divindade e de
organizar a desordem a nível macrocósmico e a nível microcósmico; a
simplicidade dos movimentos que permitem as suas repetições cíclicas que ajudam
a incorporação dos do deus e a sua fixação no corpo do fiel <i>.</i><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Bibliografia<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">La notion de la person e en Afrique Noire, </span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Cnrs, Paris.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">ASANTE, K. Welsh. Commonalities in African Dance:
an aesthetic foundation. Rithms of unity, Wesport, Connecticut:Greenwoad Press,
1985.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">BARBARA, Rosamaria. <i>A dança do vento e da
tempestade, </i>tesi di Mestrado, Ufba, 1995<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">BARROS, José Flávio de & TEIXEIRA, Maria Lina
Leao, O Código do corpo: Inscrições dos Orixás, in MOURA, Carlos Eugênio
Marcondes de, <i>Meu sinal está no seu corpo</i> , São Paulo:
Edicon/Edusi, 1992, pp. 36-61.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">BASTIDE, Roger. <i>Les Amériques Noires, </i>Paris:
Payot, 1967.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O Candomblé da Bahia (Rito nagô)</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> , São Paulo: Nacional, 1978. Trad. Maria Isaura Pereira de Queiroz
.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As religiões africanas no Brasil</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> , São Paulo: Pioneira, 1985. Trad. Maria Luisa Capellato e Olivia
Krahenbuhl.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">BEHAGUE, Gerard.Correntes regionais e nacionais na
música do candomblé bahiano, in: <i>Afro-Asia 12</i>. Salvador, CEAO,
1976, pp.129-140.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Some liturgical functions of afro-brazilian
religious music in Salvador, Bahia, in <i>World of music. </i>vol.19/3
e 4, Berlin, 1978, pp.4-23.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Pattern of Candomblé Music Performance an
Afro-Brazilian Religious Setting, in: <i>Performance practice,
contributions in interculture and comparative studies,</i> n.12. Westport,
1984, pp.223-54.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Músical change: a case study from South America,
in: <i>World of Music</i>, vol.28/1. Berlin, 1986, pp.16-28.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">BELINGA SAMUEL-MARTIN ENO, 1994, <i>Música e
letteratura nellAfrica Nera</i> , Milano, Jaca Book, trad. Silvia Orsi.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">BOAS, Franz. Dance and Music in the Life of the
Northwest Coast Indians of North America, in BOAS, Franziska. <i>The
Function of Dance in Human Society</i> , New York: The Boas school, 1944.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">BRAGA, Julio. <i>Contos Afro-Brasileiros</i>,
Salvador: Empresa Gráfica da Bahia, 1989.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">CAPONE, Stefania, <i>A dança dos deuses: uma
analise da dança de possessão no Candomblé da Angola Kassanje, </i>Museo
Nacional-Ufrj, tesi de Mestardo, Rio de Janeiro, 1991<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">CARYBÉ Iconografia dos deuses Africanos no
candomblé da Bahia, São Paolo: Raizes Artes Graficas, 1980.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">CARNEIRO, Edison. <i>Candomblés da Bahia,</i> Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1977.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Religiões Negras</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> , Rio
de Janeiro: Civilização Brasileira, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">COSTA LIMA, Vivaldo da <i>A familia de santo
nos candomblés jêje-nagôs da Bahia: um estudo de relações intra-grupais</i> ,
Salvador, Ufba, dissertação de Mestrado, 1977.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Os Obás de Xangô, in: Moura, Carlos Eugênio
Marcondes de, <i>Olóòrìsa: Escritos sobre a religião dos orixás,</i> São
Paulo: Ágora, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">COSSARD-BINON, Giséle <i>Contribuition a
letude des candomblés au Brésil: Le candomblé angola. </i>Doctorat de
Troisième cycle (mimeo), Paris: Faculte des Letres et Sciencies Humaines, s.d.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A filha-de-santo, in MOURA, Carlos Eugênio
Marcondes de, <i>Olóòrisa: Escritos sobre a religião dos orixás</i>, São
Paulo: Ágora, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">CUNHA <i>, </i>Marlene. <i>Em busca
de um espaço,</i> dissertação de Mestrado, São Paulo: Usp, 1986.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">DAVIDSON, Basil. <i>La civiltá africana</i> ,
Torino: Einaudi, 1972. (or. The Africans. An Entry to Cultural History, London:
Longmans, Green and Co. Ltd, 1969).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">DE MARTINO, Ernesto. <i>La Terra del Rimorso</i> ,
Milano: Il Saggiatore, 1994.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">DURAND, Gerard. Le strutture antropologiche
dellimmaginario, Bari: Dedalo, 1972.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">DURKHEIM, Emile. <i>As Formas elementares da
Vida Religiosa</i> , São Paulo: Paulinas, 1989.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">ELIADE, Mircea. <i>O mito do eterno ritorno</i> ,
Lisbõa: Edições 70, 1969.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">FALDINI, Luisa. Umanitá e Animalitá tra i Carajá
del Mato Grosso <i>,</i> in CERULLI, <i>Tra uomo e animale</i> ,
Bari: Laterza, 1991.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">GALIMBERTI, Umberto. <i>Il corpo,</i> Milano:
Feltrinelli, 1993.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">HALL, T. Edward. <i>Au-delá de la culture</i> ,
Paris: Seuil, 1979. (Tit.orig. Beyond Culture, New York: Doubleday, 1976).Trad.
Marie-Hélène Hatchuel.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">La danse de la vie, temps culturel, temps vécu</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> , Paris: Seuil, 1984. (tit.orig. The Dance of Life, New York:
Doubleday, 1983). Trad. Anne-Lise Hacker.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">JANH, John. <i>Muntu, La civiltá africana
moderna</i> , Torino: Einaudi, 1975. (Tit.orig. Umrisse der
neoafrikanischen Kultur, Eugen Diederichs Verlag, Dusseldorf, 1958).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">JUNG, Carl Gustav. <i>L uomo e i suoi simboli</i> ,
Milano: Mondadori, 1988. (Tit. orig. Man and his symbols).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">JUNG, Carl Gustav e KERÉNYI, Karl. <i>Prolegomeni
allo studio della mitologia</i> , Torino: Einaudi, 1948.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">KAEPPLER, Adrienne. Folclore as Expressed,
in: The Dance in Tonga. <i>JAF </i>80 (316): 160-68, 1967a.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">The Structure of Tongan dance</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> . University of Hawaii: Ph.D. Dissertation (antropology), 1967b.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">KAZADI wa MUKUNA. Aspectos Panorâmicos de Musica no
Zaire, in: <i>Africa: Revista do Centro de Estudos Africanos da
Universidade de São Paulo </i>, 8 (1985): 77-87<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">KEALIINOHOMOKU, Joann. A Comparative Study of dance
as a Constellation of Motor Behaviors among African and United States Negroes.
Northwest University: M.A. thesis (anthropology), 1965.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">LABAN, Rudolf. <i>Dominio do Movimento, </i>São
Paulo: Summus, 1980. ( <i>Language of the Movement</i> , A guide book
to Choreology).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">LANGER, Suzanne. <i>Sentimento e Forma</i> ,
São Paulo: Perspectiva, 1980. (Tit.orig. Feeling and Form, 1953). Trad. M.
Goldberger.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;"><b><i>LÉVI-STRAUSS, Claude.
Mythologiques IV, </i></b>face=Arial <b>L Homme Nu</b> face=Arial <b><i>,
Paris: PUF, 1967</i></b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">LORENZETTI, Loredano. <i>La dimensione
estetica dellesperienza,</i> Milano: Angeli, 1995.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">LUNHING, Angela. Die Musik im candomblé nagô-ketu.
Studien zur afrobrasilianischen Musik in Salvador, Bahia, in <i>Beitrage
zur Ethnomusikologe</i> , n.24, Hrsg.J.Kuckertz Musikverlag Karl Dieter
Wagner, Hamburg, 1990 a.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Música: coração do candomblé, in <i>Rivista
USP</i>, n.7, São Paulo, 9-11, 1990b, pp.115-125.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">MARTINS, Suzanna. <i>A study of the dance of
Iemanjá,</i> Dissertation to the Temple University, 1995.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">NEUMANN, Erich. <i>La grande madre</i>, Roma:
Astrolabio, 1981. (Tit.orig. Die Grosse Mutter, Zurich: Verlag, 1991).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">NKETIA, Kwabena. <i>The Music of Africa. </i>New
York: WW. Norton & Company, 1974<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">OMARI, Michelle, S. <i>From the inside to the
outside: the Art of Candomblé</i> , Monograph Series (Number 24), Los
Angeles: University of California, 1990.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">PELOSINI, Gaetano. <i>La magia della spirale.
L equilibrio totale in un ordine cosmico</i> , Roma: Esoterica, 1994.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">PRANDI, Reginaldo <i>. Os Candomblés de São
Paulo,</i> São Paulo Hucitec: Editora da universidade de<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Sao Paulo, 1991.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">A Religião e a multiplicação do eu, in <i>Revista</i> <i>USP, </i>1991<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">Mitos dos poemas de Ifa, in: MOURA, Carlos Eugênio
Marcondes de, <i>As senhoras do pássaros da noite, </i>São Paulo:
USP, 1994,<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">RAMOS, Artur. <i>O folclore negro do Brasil</i> ,
Rio de Janeiro: Casa do estudante do Brasil, 1935.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Introdução à antropologia brasileira, </span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">2 vol., Rio de Janeiro: Edições da C.e B., 1943.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">ROYCE ANNYA P., Field Guide for the Collection of
Ethnic Dance, MS, 1969 b.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">The Antropology of Dance</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> , Bloomington: Indiana Unversity Prees, 1980.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">ROUGET, Gilbert. <i>Musica e transe</i> ,
Torino:Einaudi, 1985.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">SACHS, Curt. <i>World History of the Dance</i> ,
New York: W.W. Norton & Co., Inc., 1937.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">SANTOS, Juana Elbein dos <i>Os Nagô e a morte,</i> Petropolis:
Vozes, 1977.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">SANTOS, Maria Stella de Azevedo <i>Meu Tempo é
agora,</i> São Paulo: Oduduwa, 1993.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">SENGHOR LEOPOLD-SEDAR, 1956, Lesprit de la
civilization ou les lois de la culture Negro- Africaine. <i>Présence
Africaine, n.</i> VIII/X, Paris, 1956, pp.60.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">TAMBIAH, Stanley. The Magic Power of words,
in <i>Man 3 (2),</i> 1968, A performative approch to Ritual,
Proceeding , the British Academy, v.LXV: pp.113-169, 1979.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">THOMPSON, Robert Farris. <i>African Art in
Motion</i>, Nacional Gallery of Washington DC, 1974.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">TURNER, Victor. <i>The forest of symbols,</i> Ithaca:
Cornell University Press, 1967.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 9pt;"><span style="color: white;">VERGER, Pierre. <i>Note sur le culte des Orisa
et Vodun,</i> Ifan-Dakar, Memorie de LInstitut Francais dAfrique Noir,
1957.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="background-color: black; color: white;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Orixás</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> ,
Salvador: corrupio, 1981.<o:p></o:p></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 9.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="background-color: black; color: white;">WHEATLEY, Joan <i>La cittá come simbolo.,</i> Saggi
sullordinamento e sulla percezione dello spazio urbano nelle societá
tradizionali, Brescia: Marcelliana, 1983.</span><o:p></o:p></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-66911098721126179472013-08-12T15:10:00.002-03:002013-08-12T15:12:12.215-03:00O culto ao Caboclo<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheBJ4VT-pUlp8aKp8plDpD4pZW3zg3jpvvkB50RhAFp8Ryq5_7kNh4rskX0iKa3aqrhUfcLLy6vyYVsMv65JJK9ppHXQUiWQWmTWYmXJKFw6xfHn5HAE8S9fur3li8MBOvuv5XuaNkzqE/s1600/Mandingas+h.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEheBJ4VT-pUlp8aKp8plDpD4pZW3zg3jpvvkB50RhAFp8Ryq5_7kNh4rskX0iKa3aqrhUfcLLy6vyYVsMv65JJK9ppHXQUiWQWmTWYmXJKFw6xfHn5HAE8S9fur3li8MBOvuv5XuaNkzqE/s1600/Mandingas+h.jpg" /></a></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><span style="font-size: large;">Candomblé de
caboclo</span><span style="font-size: small;"><o:p></o:p></span></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Divindades cultuadas pelos indígenas foram
incorporadas a outras práticas religiosas<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">`Noé, Noé / Noé, sua barca é-vem / Vem cheia de
caboclo / sozinha sem mais ninguém´</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">(Autor desconhecido)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No imaginário que envolve a religiosidade popular
da Bahia, as divindades cultuadas pelos indígenas, pelos legítimos "donos
da terra", logo seriam incorporadas às mais diversas práticas religiosas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Tudo começou com a associação entre a religião
católica e a mítica dos tupinambás, índios que habitavam a Bahia nos tempos de
Cabral.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mais tarde, viriam as divindades trazidas pelos
escravos e, em seguida, a doutrina kardecista. Assim, santos,
espíritos e orixás passaram a ocupar um grande panteão e a serem cultuados em
um único espaço religioso na Bahia, dando origem aos chamados candomblés de
caboclo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Antes mesmo de Thomé de Sousa ancorar sua
embarcação nas águas santas da Baía, já existia, no atual bairro da Graça, uma
pequena capela. O templo religioso foi erguido a pedido da índia Catarina
Paraguaçu, convertida ao catolicismo pelo marido, Diogo Álvares de Souza - o
Caramuru.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A história do sincretismo religioso com divindades
indígenas despertou logo no início da colonização portuguesa na Bahia, mais
precisamente durante a criação da Aldeia de São Tomé, nas praias de Paripe,
pelos padres jesuítas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Tudo teria começado com uma grande confusão de
nomes. Em uma pedra próxima à foz do Rio Matoim, na enseada da Barra de Aratu,
se mostravam pegadas semelhantes às de pés humanos, que os tupinambás atribuíam
a Zumé, o seu deus civilizador.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Quando os portugueses lá chegaram e conheceram a
lenda indígena, acreditaram na semelhança fonética entre Zumé e Tomé, o
apóstolo das Índias.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A Aldeia de São Tomé, outrora localizada onde hoje
se encontra a antiga igreja que também leva seu nome, foi uma das 16 aldeias
tupinambás criadas pelos jesuítas na primeira capital do país.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Legado Bantu<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Após a aproximação entre santos católicos e
divindades indígenas, a receita que deu origem aos candomblés de
caboclo recebeu um ingrediente fundamental: a chegada dos negros bantos,
sobretudo do Congo e Angola.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Com eles vieram o imaginário criado a partir dos
inquices, ancestrais ligados ao chão. Na Bahia, os bantos conheceram os novos
"donos da terra", e a aproximação entre as duas manifestações foi
logo constituída.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas, embora haja semelhanças, existem também muitas
diferenças reservadas no culto aos orixás e caboclos, de acordo com Jocélio
Teles dos Santos, principal pesquisador dos candomblés de caboclo baianos, e
atual diretor do Centro de Estudos Afro-Orientais (Ceao/Ufba).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, a distinção estaria marcada pelo fato de o
caboclo ser uma entidade mais "firme, ligada ao chão", enquanto o
orixá seria "o dono da cabeça, a energia que rege, que dirige o
corpo".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A união das duas etnias, ambas oprimidas,
significou não só a necessidade de proteção, mas o conhecimento das ervas e
raízes, de domínio dos pajés, e que eram absolutamente necessários para os
rituais dos negros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Os primeiros contatos entre os africanos bantos e
os índios ocorreram, provavelmente, ainda no tempo dos quilombos. Mas, de
acordo com Edison Carneiro, em sua pesquisa sobre o sincretismo religioso na
Bahia, ele próprio chegou a observar danças e cânticos de caboclos também nos
terreiros mais tradicionais de origem iorubá, como o Gantois, a Casa Branca e o
Ilê Axé Opô Afonjá.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O fato é que nos candomblés da Bahia os caboclos
são considerados como os primordiais donos da terra, e por isso detêm um lugar
de destaque nas celebrações religiosas. Nas casas específicas ou assumidas como
"de caboclo", as palavras do universo mágico-religioso misturam
também o português a palavras africanas e a algumas expressões tidas como de
origem tupi-guarani.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A maior representação pública da crença dos baianos
no poder do caboclo se dá durante os festejos em comemoração ao Dois de Julho -
data da Independência da Bahia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Contrariando as elites baianas do século XIX, que
pretendiam manter um clima solene durante os festejos cívicos, negros, índios e
mestiços adoravam a imagem do caboclo e faziam seus batuques em locais
públicos, o que era considerado, pela imprensa da época, um ultraje à
"Augusta Pessoa de Sua Majestade o Imperador".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Durante o batuque, realizado onde os carros da
Independência ficavam expostos ao público, na Praça da Sé, era feito o chamado
"samba de caboclo", com o mesmo toque dos candomblés que cultuam as
entidades de origem indígena.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">É significativa a participação de parte dos adeptos
do candomblé de caboclo na ala de frente, representada pelos
"índios", que na verdade são populares que se vestem com cocar,
tangas de palha, colares e braçadeiras, para desfilar logo atrás dos
"carros triunfais".<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Isso era bem tolerado, mas o que sempre causou
repulsa à ideologia oficial era a colocação de oferendas - os ebós - aos pés do
caboclo, o que tem desaparecido devido à presença ostensiva de policiais
durante o cortejo cívico.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Quando os carros ficam estacionados, os devotos do
candomblé geralmente se colocam em frente ao caboclo, encostam os dedos médio e
indicador no carro e, em seguida, tocam a própria cabeça na frente, do lado
direito e na nuca. Alguns tocam a fita que enfeita o carro e rezam. Outros
jogam flores e há ainda aqueles que tentam levá-las para casa, acreditando em
seus poderes especiais.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">"Eu sempre venho. Tem mais de dez anos que eu
venho sempre agradecer, rezar e pedir as coisas para o caboclo. E ele tem me
atendido. O caboclo trabalha pesado", revelou o ambulante Firmino Bispo
dos Santos, encontrado no momento em que fazia orações, durante os festejos que
marcam o retorno do caboclo do Campo Grande à Lapinha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na Bahia, os caboclos são tidos como senhores
soberanos da terra, adorados como heróis míticos da libertação. Seja em uma
festa cívica, nas celebrações em sua homenagem na igreja, ou no culto maciço
realizado pelo povo-de-santo, o caboclo talvez seja o principal exemplo da
mistura de crenças que reúne elementos sagrados e profanos no cenário religioso
que compõe as festas populares da Bahia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Caboclos e
divindades africanas<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Orixás Encantados<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Oxalá Maçangana, Kaigonga<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Oxossi Jecó Edé<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ogum Unicombe Rouxo Uricombe<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Obaluaê Hiponga Amatomba<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Nanã Min Naná Kaolokai<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Oxum Janaína, Kicimbá<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Xangô Zazi Omano<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Iansã Oiá Quitanba<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Iemanjá Maré Ici Maré<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Fonte: O Dono da Terra - O caboclo nos candomblés
da Bahia. Livro de Jocélio Teles dos SantosO <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Caboclo na
Religião Afro-Brasileira<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">As entidades espirituais não africanas cultuadas em
terreiros brasileiros (de Candomblé, Xangô, Mina, Batuque e Umbanda) têm sido
classificadas, em conformidade com a fábula das "três raças formadoras da
sociedade nacional" de quem fala Roberto da MATA (1981:59-63), nas
seguintes categorias:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">1) caboclos (representantes da população
nativa/indígena ou de segmentos populares da sociedade brasileira ligados a
área rural);<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">2) pretos-velhos (representantes dos escravos
africanos);<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">3) e senhores ou "gente fina"
(representantes do colonizador europeu - branco).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Os caboclos parecem mais antigos e surgiram, tanto
na Bahia como no Maranhão (Nordeste do Brasil), em terreiros nagôs (iorubanos)
e bantus (congo, angola, cambinda) .<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas, desde o final do século passado, existiam,
tanto no Estado da Bahia quanto no do Maranhão, terreiros de caboclo, como o da
Turquia, em São Luís (capital do Maranhão). Os pretos-velhos são mais ligados à
Umbanda (BROWN, D.1994; GREENFIELD, S.M.1995) e mais cultuados no Sudeste
(principalmente no Rio de Janeiro e em São Paulo) do que no Nordeste.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No Maranhão são geralmente homenageados no dia 13
de Maio, data em que se comemora a abolição da escravidão africana no Brasil.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Os brancos/senhores são também conhecidos na
Umbanda e muito antigos na religião afro-brasileira do Maranhão, onde foram
relacionados a orixás (divindades africanas), como o Rei Sebastião, associado a
Xapanã.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Existem ainda na religião afro-brasileira, como um
subtipo de caboclo ou constituindo outra categoria de entidade espiritual
surgida no Brasil, os boiadeiros.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Estes, mais conhecidos em terreiros de Umbanda
africanizados (influenciados por Candomblé). São, às vezes, também chamados de
"capangueiros", para distingui-los dos "flecheiros" (de
origem indígena, também chamados caboclos "de pena").<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Essas denominações especiais têm relação com as
diferenças de sua caracterização por eles apresentadas nos rituais religiosos -
os médiuns incorporando os primeiros usam capanga (bolsa de couro de boi) e os
segundos usam flecha e/ou tanga de penas (LODY, 1977).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Os boiadeiros, apesar de ligados a atividades
rurais, como são no Brasil muitos descendentes de índio, parece que geralmente
não têm origem indígena e, às vezes, são apresentados em letras de músicas
cantadas em rituais como sendo de Angola ou da Hungria.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A sua representação como angolanos reforça a idéia
de que o surgimento das entidades espirituais não africanas nos terreiros
brasileiros tem muito a ver com a cultura bantu ou com os Candomblés bantu.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Já a sua representação como provenientes da Hungria
sugere sua associação a ciganos - povos nômades oriundos, provavelmente, do
Egito, Índia e Caldéia, que foram escravizados ou perseguidos na Hungria e em
diversos países da Europa, e que foram muito numerosos na Hungria, onde, em
1761, houve uma frustrada tentativa para a sua sedentarização (SANT'ANA,
1983:30).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">São conhecidos no Brasil desde o Século XVI
(SANT'ANA, 1983:33) e aparecem em São Luís, nas representações natalinas dos
terreiros, como tendo vindo do Egito, e em rituais por eles realizados para
entidades femininas, como provenientes da Espanha.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"Boa noite prá quem é de boa noite,</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">bom dia prá quem é de bom dia,</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A benção, meu pai, a benção</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Sou boiadeiro, filho da Hungria".</span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">(Samba Angola - Casa Fanti-Ashanti).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na religião afro-brasileira do Maranhão o termo
caboclo designa não apenas entidades espirituais indígenas, como a Cabocla
Jurema e o Caboclo Velho, ou ligadas à criação de gado, como as entidades da
família de Légua-Boji-Buá - entidade que comanda a Mata de Codó (manifestação
religiosa afro-brasileira típica do interior do Estado do Maranhão, de grande
influência nos terreiros da capital e do Norte do Brasil) - e os boiadeiros
recebidos a partir dos anos oitenta na Casa Fanti-Ashanti, quando esta
introduziu o Candomblé.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No Maranhão o termo caboclo designa também turcos
(como a Cabocla Mariana), europeus de origem nobre (como Antônio Luiz, vulgo
Corre-Beirada - filho de Dom Luís, Rei de França) e encantados das matas
(florestas), como os Surrupiras, sem ligação com a pecuária e de origem indígena
discutível. Além do nome Surrupira lembrar Curupira (ser da mitologia tupi que
protege a mata e assusta os caçadores), em algumas casas os Surrupiras são
denominados Curupiro, ou mesmo, Curupira.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Contudo, nos terreiros de São Luís, os Surrupiras
são conhecidos como entidades da mata do "Gangá" e classificados, por
Mãe Elzita, como "Fulupa", termos que parecem remeter à África - aos
Felupe (povo da Guiné Bissau, de quem fala SILVA/1983) e a uma
"nação" africana muito conhecida em Cuba - Gangá (GUANCHE, 1983).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;"><i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">"Eu sou Caboclo Guerreiro, Guerreiro de
Alexandria, Guerreiro é homem nobre, filho do Rei da Turquia </span></i><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">(Terreiro de Iemanjá - Pai Jorge)<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O Turco no
Tambor de Mina: Sincretismo Afro-Ameríndio?<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No Tambor de Mina os turcos são numerosos e muito
conhecidos (FERRETTI,M. 1989:202; 1992:56; 2000:128). Pertencem á família do
Rei da Turquia - o Ferrabrás de Alexandria, da "História do Imperador
Carlos Magno e os Doze Pares de França", trazida para o Brasil pelos
portugueses, depois de muito difundida na Península Ibérica, e representada em
danças folclóricas que representam batalhas entre mouros e cristãos, como as
Cheganças (CASCUDO, 1962:184-185).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Apesar dos turcos adotarem na Mina, freqüentemente,
nomes indígenas, não têm origem ameríndia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Segundo Pai Euclides, o Terreiro da Turquia foi
fundado em 1889, por Anastácia Lúcia dos Santos, negra maranhense de Codó.
Anastácia tinha como orixás de cabeça: Xangô e Vó Missã (Nanã) e foi preparada
na Mina por um africano ou descendente de africano conhecido por Manoel Teus
Santos, que tinha terreiro em São Luís.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Apesar de cultuar orixás, abriu seu terreiro para a
entidade espiritual denominada Rei da Turquia, que veio a se tornar ali chefe
de uma grande família de entidades caboclas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Não obstante, o Terreiro da Turquia ficou conhecido
como de "nação" taipa (tapa?) e os turcos tiveram ali, como padrinho,
o vodum Averequete.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Antes da abertura da Turquia os turcos já eram
conhecidos em terreiros maranhenses e, há muito, como personagens da popular
História do Imperador Carlos Magno e os doze Pares de França e de
representações folclóricas nela inspiradas, como as Cheganças.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O exemplar daquela obra literária que encontramos
no Terreiro da Turquia em 1969, com Dona Zeca, filha da fundadora, foi a ela
presenteado por sua madrinha, em 1934.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Conforme ela nos informou, sua madrinha, além de
organizar Cheganças, recebia Dom João - rei português, conhecido na Mina como
primo do Rei da Turquia. Na Mina a história dos turcos contada no terreiro é
uma versão atualizada daquela narrativa.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">De acordo com a mitologia da Mina maranhense, o Rei
da Turquia, depois de uma batalha contra os cristãos, veio para o Brasil no
navio de seu primo Dom João.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Afastando-se dele, entrou na aldeia de Caboclo
Velho, o índio Sapequara (o primeiro caboclo a "bradar" nos terreiros
de Mina), onde foi bem recebido e terminou ficando. Como misturou depois sua
família à dele (cada um adotou filhos do outro), passou a vir nos rituais de
Mina com o grupo dele (como caboclo, e não como nobre). Por essa razão, apesar
de serem nobres e de não terem origem indígena, os turcos são recebidos na Mina
como caboclos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Embora as histórias de batalhas entre mouros (ou
turcos) e cristãos tenham sido encenadas com índio na catequese dos jesuítas, e
seja provável que descendentes de índios tenham aberto terreiros em São Luís, a
família do Rei da Turquia se expandiu Dentro do processo sucessório, coube à
sua neta, Maria Lúcia Santana Neves, sentar na cadeira que pertenceu à velha
senhora.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Apesar de muito nova ainda, "Mãe Lúcia"
tem demonstrado competência na difícil tarefa de administrar tão rica herança
religiosa e cultural, cujo imóvel foi tombado pelo IPAC - Instituto do
Patrimônio Artístico e Cultural, no dia 15 de abril do corrente ano, em
cerimônia presidida no local, pelo Governador Paulo Souto. É o primeiro
terreiro tombado pelo Governo do Estado.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A festa maior é para Gomgombira (o dono da casa) e
Quissambo, realizada sempre num final de semana próximo a 23 de abril, dia
dedicado ao Orixá Guerreiro. No sábado, os atabaques batem em louvor ao caçador
guerreiro, ocasião em que são feitas as confirmações.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No domingo é a vez da Rainha das Águas Doces que
tem direito a cortejo à tarde com oferendas no Abaeté.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Obedecendo a tradição da antecessora, outras festas
são realizadas: em agosto, no dia 10, para o tempo, dia 16, para Obaluaiê, em
dezembro é a vez de Bamburucema (Yansã), que tem caruru no dia 04.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Sendo também candomblé de caboclo, há festas por
ocasião dos festejos de 02 de julho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na Mina a partir de um terreiro definido como de
"nação taipa", fundado no final do século passado por uma mulher
negra, ligada por laços de compadrio ao vodum Averequete e iniciada na religião
afro-brasileira por africano, ou descendente de africano.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Os turcos do Tambor de Mina são caboclos, mas não
são índios aculturados ("civilizados"), descendentes de índios, e,
muito menos, ancestrais ou seres da mitologia indígena, como se pensava que
fossem todos os caboclos (BASTIDE, 1974:19-28).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O Terreiro da Turquia não foi fundado por curador
ou pajé (chefe de culto afro-ameríndio, sem "fundamento" na religião
afro-brasileira). Foi aberto por uma descendente de africanos, iniciada na
religião afro-brasileira que, sendo amiga particular da conhecida Mãe Andreza,
chegou a morar na Casa das Minas-Jeje (dahomeana).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A idéia da origem indígena (generalizada) das
entidades não africanas ou classificadas como caboclo, tão recorrente na obra
de pesquisadores e no discurso de pais-de-santo, tem sido, às vezes, reforçada
pela interpretação apressada de elementos de rituais observados, onde elas são
recebidas em transe mediúnico e onde podem aparecer com nomes e, ás vezes até,
com trajes indígenas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Um exame mais aprofundado do perfil daquelas
entidades, uma análise das letras de músicas cantadas por elas ou para elas, e
uma leitura atenta de relatos míticos recolhidos naqueles terreiros, podem
levar o pesquisador a encara-las de modo bastante diferente.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na Mina maranhense o nome das entidades espirituais
e o uso por elas, nos rituais, de peças de indumentária indígena, não são
suficientes para atestar sua origem ameríndia, embora falem da valorização do
índio no Tambor de Mina e sugiram alguma conexão com ele.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Assim, a explicação da adoção de nomes indígenas
por turcos não deve ser buscada em sua origem étnica ou em um possível
empréstimo cultural indígena, e sim, no contexto histórico em que surgiram no
Tambor de Mina enquanto entidades espirituais. A atribuição de nomes indígenas
a vários filhos do Rei da Turquia pode ser interpretada:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">1) como estratégia utilizada no Brasil por
descendentes de africanos, para desviar a atenção da classe dominante
(católica) de sua origem pagã, que deve ter sido responsável por sua associação
no folclore brasileiro ao demônio (especialmente Ferrabrás);<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">2) como decorrente da necessidade de afirmação de
sua identidade brasileira - de encantados que começaram a ser recebidos no
Brasil, o que deve ter facilitado a aceitação da abertura de mais um terreiro de
Mina em São Luís, procedimento ainda hoje proibido na Casa das Minas-Jeje e
sempre desencorajado na Casa de Nagô.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A adoção pelos turcos de nomes de índios
brasileiros (muitos deles, ainda hoje, pagãos como eles) deve ter muito a ver
com a idealização da população nativa ocorrida após a independência do Brasil
do jugo português que, segundo Bastide, foi também observada em outros países
da América do Sul (BASTIDE, 1974).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Pode ser também explicada pela abertura do Terreiro
da Turquia, um ano após a abolição da escravatura no Brasil (1889), quando é
possível que os ex-escravos e seus descendentes tenham sido mais motivados a se
afirmarem como brasileiros do que como africanos.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A identidade brasileira da família do Rei da
Turquia aparece nas cores escolhidas para simboliza-los no Tambor de Mina:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">1) o vermelho (que, há muito, representava os
turcos nas danças mouriscas e que, certamente, tem a ver com o seu caráter
belicoso), e que era também associado a índios americanos ("peles
vermelhas");<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">2) o verde e o amarelo (cores que representam o
Brasil, desde que deixou de ser colônia portuguesa).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A associação dos turcos à nação brasileira e ao
índio (nativo) aparece também no discurso de Pai Euclides quando trata do mito
de Tabajara - herói da guerra contra o Paraguai (1865-1870), da qual
participaram muitos negros na esperança de obterem alforria.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Casado com a índia Bartira que, encontrando-o no
campo de batalha, cuidou de seus ferimentos, o turco Tabajara tornou-se chefe
de muitas aldeias indígenas e contribuiu para sua pacificação e civilização.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Ao serem apresentados na Mina como encantados da
"nação taipa" (africana) associados a Caboclo Velho (índio), os
turcos foram vinculados tanto à África quanto ao Brasil, desviando as atenções
de sua origem pagã e permitindo ao Terreiro da Turquia a conquista de um espaço
no meio religioso afro-maranhense, dominado pela Casa das Minas-Jeje
(consagrada a Zomadonu) e pela Casa de Nagô (consagrada a Xangô).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Como naqueles terreiros abertos por africanos os
turcos não eram "donos da casa" e nem "donos da terra"
(nativos do Brasil), só puderam se expandir na Mina após a abertura de um
terreiro para eles.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas, no Tambor de Mina do Maranhão existem outros
caboclos que podem ser mais associados do que os turcos à cultura indígena,
como os Surrupiras do Gangá, menos aceitos do que eles nos terreiros antigos da
capital, mas também muito conhecidos nos terreiros de Mina.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O nome Surrupira do Gangá fala também de sua
vinculação à África (Gangá) e à cultura indígena. O Surrupira é, ou tem a ver,
com o Curupira do folclore de origem indígena - negrinho da floresta, sem
origem humana, que tem os pés voltados para trás, que protege a mata e a caça,
e que é temido pelos povos da floresta (CASCUDO, 1962: 262).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O Surrupira do Tambor de Mina, tal como o Curupira
do folclore brasileiro, apresenta características da entidade espiritual
indígena da floresta, de mesmo nome, temido pelos índios, de quem falou no
século XVI o Padre José de Anchieta, em suas cartas (LEITE, 1954):<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Perigoso e temido, responsável por rumores
inexplicáveis, pavores súbitos, morte, desaparecimento, e perda de caminho por
caçadores na floresta. É sobre essa complexa entidade que pretendemos centrar
nossa atenção em próximo trabalho.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<b><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Conclusão<o:p></o:p></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">O caso dos turcos no Tambor de Mina demonstra a
dificuldade de se fazer grandes generalizações na religião afro-brasileira e os
riscos de se interpretar a existência de todas as entidades caboclas em termo
de sincretismo afro-ameríndio. Levando-se em conta os dados aqui apresentados,
dificilmente se poderia considerar aquelas entidades como seres da mitologia ou
ancestrais indígenas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A mitologia dos turcos no Tambor de Mina tem como
matriz principal gestas (estórias) de Carlos Magno e não mitos de índios
brasileiros, como o do Curupira que, certamente, tem relação com o do Surrupira
encontrado do Tambor de Mina.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Os turcos não poderiam ser também encarados como
entidades espirituais introduzidas do Tambor de Mina por curador (pajé), uma
vez que a fundadora do Terreiro da Turquia, além de negra, foi preparada em
casa de "fundamento" africano ("taipa").<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Mas, é preciso lembrar que o mito dos turcos na
Mina não é mera reprodução da "História do Imperador Carlos Magno e os
Doze Pares de França", que continua a ser narrada em folhetos de Cordel,
vendidos em São Luís e nas feiras de nordestinos, e em representações
folclóricas (como as Cheganças).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">No Tambor de Mina do Maranhão, Almirante Balão,
Ferrabrás de Alexandria, Princesa Floripes não são apenas personagens literários
ou de representações folclóricas, são encantados que entraram na aldeia do
índio Sapequara, que lutaram na Guerra do Paraguai (episódios alheios àquele
texto literário, que foram acrescentados a ele no Brasil, provavelmente, no
Terreiro da Turquia).<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Na Mina aquela narrativa pode ser também
enriquecida por episódios ocorridos nos terreiros, com os filhos-de-santo em
transe com eles, como a relação deles com o vodum Averequete, padrinho de todos
os turcos no Terreiro da Turquia.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">A presença da cultura indígena na Mina aparece mais
claramente nos rituais de Cura ou Pajelança realizados em vários terreiros de
São Luís. Mas a existência da Cura nos terreiros, geralmente, só é considerada
sincretismo afro-ameríndio se o ritual apresentar elementos do Tambor de Mina e
for considerado uma mistura de mina e Cura.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif;"><br /></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">fonte:<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Odudua: A Presença de Entidades Espirituais não
Africanas na Religião Afro-Brasileira<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="line-height: 22.95pt; margin-bottom: .0001pt; margin-bottom: 0cm;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Por: Mundicarmo Ferretti<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-67485984918244650072013-07-26T19:25:00.000-03:002013-07-26T19:25:35.489-03:00Texto muito bom, vale a pena ver...<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><br /></b></span></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtaQ_0jGdkXp_SuDR1Qqm-GXBuQHckMaYj4_gauFUFKMhrV1TNVZuF2XQzDTXOzody2kP2Knda9u2IeUTqbWby-oGlmiPh8FHgkiTFcSE_y2qzhxBPwudVk7d2TuW1ch1Dp9bdNXlePhc/s1600/Dion%C3%ADsio2.JPG" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="240" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEhtaQ_0jGdkXp_SuDR1Qqm-GXBuQHckMaYj4_gauFUFKMhrV1TNVZuF2XQzDTXOzody2kP2Knda9u2IeUTqbWby-oGlmiPh8FHgkiTFcSE_y2qzhxBPwudVk7d2TuW1ch1Dp9bdNXlePhc/s320/Dion%C3%ADsio2.JPG" width="320" /></a></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><br /></b></span></div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><b><span style="color: white;">VIVER
DIONISO<o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
</div>
<div align="center" class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><b>- UMA
EXPERIÊNCIA ARQUETÍPICA -</b><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="text-align: center;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Mônica Helena
Weirich de Santana <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Psicóloga Clínica,
Arteterapeuta, Especialista em Dependência Química, Especialista em Psicologia
Junguiana pelo IBMR, Analista Trainee do Instituto Junguiano do Rio de Janeiro.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 10.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">RESUMO <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"> O presente texto
apresenta uma visão do deus grego Dioniso como uma força arquetípica presente
na psique humana desde a antiguidade até a atualidade. Esta força, quando
vivenciada pelas pessoas na época presente, assim como era na Grécia antiga,
pode trazer benefícios psicológicos através da compensação entre a atitude da
consciência e os conteúdos do inconsciente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">INTRODUÇÃO <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Dioniso é realmente um deus misterioso, complexo,
múltiplo e paradoxal. Quanto mais se estuda sobre ele, mais há a descobrir e
estudar, num paralelo com seus mistérios sobre a morte e renascimento, sobre a
vida que sempre se renova. Ele é o estranho estrangeiro, que simplesmente surge
e impõe sua força arrebatadora, que Kerényi (2002) denomina zoé, a vida
infinita, de todos os seres viventes, energia coletiva que não admite a
experiência de aniquilação. Esta é a essência dos rituais da religião
dionisíaca, que expressavam a alternância das estações e ciclos da natureza,
assim como a trama estrutural do deus morto e ressuscitado, que simboliza,
segundo Chevalier e Gheerbrant, "o esforço de espiritualização da criatura
viva, desde a planta até o êxtase: Deus da árvore, do bode, do fervor e da
união mística, ele sintetiza, em seu mito, toda a história de uma
evolução". (1994:341). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Dioniso possui vários nomes e inúmeros epítetos, como
menção aos locais de seu culto, a seus atributos e às variações de seu mito.
São mais conhecidos os nomes Dioniso e Baco. Segundo Junito Brandão (1995), o
teônimo Diónysos não apresenta etimologia definida, sendo possivelmente
composto por Dio, céu em trácio e Nysa, filho, significando então "filho
do céu". Baco, ou Bákkhos, aparece na literatura grega a partir do século
V a.C. com Heródoto e Sófocles, em Édipo Rei, significando "ser tomado de
um delírio sagrado", de onde deriva a palavra Bacante. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Outros nomes que freqüentemente aparecem na literatura
são Iaco, Brômio e Zagreu. Iaco, em grego Íakkhos, "grande grito", é
considerado um introdutor dos mistérios dionisíacos no cortejo dos Iniciados,
que antecedia a multidão de peregrinos a Elêusis. Brômio, etimologicamente
ligado a brómos, estremecimento, frêmito, ruido, traz a denominação de "ruidoso,
fremente, palpitante" que se associava ao transe dos ritos dionisíacos.
Zagreu é o nome cretense de Dioniso, significando "o grande caçador",
em sua mitologia mais arcaica, que os Órficos consideram o primeiro Dioniso.
Zagreu é comparado em Creta a Zeus ctoniano ou subterrâneo ou ainda a Hades, o
senhor dos mundos inferiores, por sua ligação com a morte e o reino dos mortos<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Entre os epítetos de Dioniso estão o jovem deus, o deus
nascido duas vezes, o deus triturador de homens, o louco, o Delirante, o
Fremente, o Murmurante, Bakkheîos (o que pratica loucura), Lýsios (libertador),
Meilíkhios (suave e doce como o mel), Bougenés (filho da vaca ou boi honrado),
Kissós (florente de hera), Oínopos (cor de vinho), Eleútheros (filho de Zeus),
Diòs phós (luz de Zeus), Kretogenés (nascido em Creta), Melanáigis (o da negra
pele de cabra), Omádio (comedor de carne crua), Pyrísporos (nascido do fogo),
Évio e ainda Ditirambo, identificando-o com seus cantos rituais. De acordo com
alguns rituais, recebia também a denominação de Diónysos Orthós, o
"Dioniso Ereto", cuja representação era um falo e Diónysos Pélekys,
"Bipene", a machadinha de dois gumes utilizada nos rituais de
sacrifício. Homero o chama de mainómenos Diónysos, o delirante Dioniso, mesmo
adjetivo que Platão utiliza para o vinho, pois a embriaguez dionisíaca parecia
comparável à bebedeira. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Estes diversos nomes e atributos tornam mais evidente a
natureza paradoxal de Dioniso, com seus aspectos luminosos e sombrios
simultâneos. Segundo Kerényi (2002), em Leis, Platão menciona duas dádivas da
estação da vindima, da segunda metade de julho ao começo de setembro: os frutos
e algo mais sublime, o júbilo dionisíaco. A pura luz do fim do verão é considerada
pelos gregos dionisíaca ou o próprio Dioniso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Otto, em citação de Kerényi (2002), sustenta que o
divino ser de Dioniso, sua natureza básica, é a loucura, mas uma loucura
inerente ao próprio mundo, não um estado degenerativo, mas algo que acompanha a
perfeita saúde, isto é, a própria vida em oposição e contato permanente com a
possibilidade da morte. São as profundezas primitivas onde moram as forças da
vida, cujo contato pode tanto destruir quanto beneficiar. É a fusão de
consciente e inconsciente num único transbordamento, estado em que é possível
contemplar a visão de Dioniso.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">DIONISO, IMAGEM ARQUETÍPICA DA TRANSCENDÊNCIA <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Vem, Dioniso Herói <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Ao templo à
beira-mar <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Vem com as Graças
ao puro templo <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Vem raivando, com
os pés de touro <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Cântico das
Dezesseis Mulheres de Élis (Plutarco)<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Junito Brandão narra da seguinte maneira o mito de
Dioniso: "Dos amores de Zeus e Perséfone nasceu o primeiro Dioniso,
chamado mais comumente de Zagreu. Preferido do pai dos deuses e dos homens,
estava destinado a sucedê-lo no governo do mundo, mas o destino decidiu o
contrário. Para proteger o filho dos ciúmes de sua esposa Hera, Zeus confiou-o
aos cuidados de Apolo e dos Curetes, que o esconderam nas florestas do Parnaso.
Hera, mesmo assim, descobriu o paradeiro do jovem deus e encarregou os Titãs de
raptá-lo e matá-lo. Com o rosto polvilhado de gesso, a fim de não se darem a
conhecer, os Titãs atraíram o pequenino Zagreu com brinquedos místicos:
ossinhos, pião, carrapeta, "crepundia" e espelho. De posse do filho
de Zeus, os enviados de Hera fizeram-no em pedaços; cozinharam-lhe as carnes
num caldeirão e as devoraram. Zeus fulminou os Titãs e de suas cinzas nasceram
os homens, o que explica no ser humano os dois lados: o bem e o mal. A nossa
parte titânica é a matriz do mal, mas, como os Titãs haviam devorado Dioniso, a
este se deve o que há de bom em cada um de nós. [...] Atená, outros dizem que
Deméter, salvou-lhe o coração que ainda palpitava. Engolindo-o, a princesa
tebana Sêmele tornou-se grávida do segundo Dioniso. O mito possui muitas
variantes, principalmente aquela segundo a qual fora Zeus quem engolira o coração
do filho, antes de fecundar Sêmele. [...] Tendo, pois, engolido o coração de Zagreu
ou fecundada por Zeus, Sêmele ficou grávida do segundo Dioniso. Hera, no entanto,
estava vigilante. Ao ter conhecimento das relações amorosas de Sêmele com o
esposo, resolveu eliminá-la. Transformando-se na ama da princesa tebana, aconselhou-a
a pedir ao amante que se lhe apresentasse em todo o seu esplendor. O deus
advertiu Sêmele de que semelhante pedido lhe seria funesto, uma vez que um mortal,
revestido da matéria, não tem estrutura para suportar a epifania de um deus imortal.
Mas, como havia jurado pelas águas do rio Estige jamais contrariar-lhe os desejos,
Zeus apresentou-se-lhe com seus raios e trovões. O palácio da princesa se incendiou
e esta morreu carbonizada. O feto, o futuro Dioniso, foi salvo por gesto dramático
do pai dos deuses e dos homens: Zeus recolheu apressadamente do ventre da
amante o fruto inacabado de seus amores e colocou-o em sua coxa, até que se completasse
a gestação normal. Tão logo nasceu o filho de Zeus, Hermes o recolheu e levou-o
às escondidas para a corte de Átamas, rei beócio de Queronéia, casado com a
irmã de Sêmele, Ino, a quem o menino foi entregue. Irritada com a acolhida ao
filho adulterino do esposo, Hera enlouqueceu o casal. Ino lançou seu filho caçula,
Melicertes, num caldeirão de água fervendo, enquanto Átamas, com um venábulo,
matava o mais velho, Learco, tendo-o confundido com um veado. Ino, em seguida,
atirou-se ao mar com o cadáver de Melicertes e Átamas foi banido da Beócia.
Temendo novo estratagema de Hera, Zeus transformou o filho em bode e mandou que
Hermes o levasse, dessa feita, para o monte Nisa, onde foi confiado aos cuidados
das Ninfas e dos Sátiros, que lá habitavam numa gruta profunda". <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">(1995:117-20). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Há variações em torno do mito do duplo nascimento de
Dioniso, sendo que seu segundo nascimento, a partir da união de Zeus e Sêmele,
com o término da gestação na coxa de Zeus é o mais célebre. Também para o
mitologema do nascimento a partir da coxa há uma variação importante, citada
por Eurípedes em As Bacantes: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">"Quando Zeus extinguiu o fogo de seu raio e
transportou para o Olimpo o deus-menino, Hera tentou precipitá-lo das alturas
celestiais; Zeus, como grande deus que é, opôs à intenção da deusa um artifício
condizente com sua condição divina: tirou do éter sobreposto à terra-mãe uma
porção suficiente e fez com ela um simulacro igual à imagem de Dioniso e o
entregou a Hera como seu refém, suavizando assim o ciúme da esposa. Mais tarde
pensou-se que o deus recém nascido tinha sido enxertado na coxa de Zeus por
causa de um mal-entendido com palavras". (s/d: 220). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">O autor continua o verso explicando que a circunstância
do deus ter sido refém de Hera, embora somente em aparência, é a origem da
versão mais divulgada do mito. Isto se deveu ao jogo de palavras que, em grego,
são semelhantes, ou seja, hômeros (refém) e mêros (coxa). O simbolismo contido
nos principais mitologemas é muito rico, dando origem aos ritos religiosos do
dionisismo, a religião ou seita que veio revolucionar espiritualmente a
história religiosa da Grécia. Kerényi (2002), coloca que, na genealogia dos
deuses, Dioniso assumiu seu lugar depois de Cronos e Zeus, num paralelo com os
estágios da alimentação dos deuses, pois com Cronos
e Zeus foi criado o hidromel e, com Dioniso, a dádiva do vinho. Como um deus da
vegetação, Dioniso mantém estreita relação com o sofrimento, a morte, a
ressurreição e a iniciação, sendo dinâmico e soteriológico, isto é, trata da
salvação humana. Além disso, como uma
criança abandonada após o nascimento, Dioniso representa a criança primordial,
em sua absoluta e invulnerável solidão cósmica e em sua unicidade. O
aparecimento de tal criança coincide com um momento de criação de um mundo
novo, de uma nova época histórica. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">M. Eliade, em seu Tratado de História das Religiões,
comenta que: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"> "Tanto as
grandes correntes da religiosidade popular como as sociedades secretas dos
mistérios egeo-orientais se cristalizaram em volta das chamadas divindades da vegetação,
que são primordialmente divindades dramáticas, responsáveis pelo destino do
homem, conhecendo, como ele, as paixões, o sofrimento e a morte. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Jamais a divindade se aproximou tanto dos homens. [...]
As divindades soteriológicas partilham os sofrimentos desta humanidade, morrem
e ressuscitam para resgatá-la. Esta mesma 'sede de concreto' que sempre
empurrou para segundo plano as divindades celestes - longínquas, impassíveis,
indiferentes ao drama cotidiano - manifesta-se na importância concedida ao
filho do deus celeste (Dioniso, Osíris, Alein, etc.). Na maior parte das vezes
o filho reclama sua paternidade celeste; todavia, não é essa descendência que
justifica o papel capital que ele desempenha na história das religiões, mas a
sua 'humanidade', o fato de se ter integrado definitivamente na condição
humana, ainda que consiga ultrapassá-la pela ressurreição periódica".
(1993:89-90). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Na primeira parte do mito há o sincretismo com o
orfismo, seita que valorizava os ritos de morte e renascimento de
Dioniso-Zagreu, proveniente de mitos mais antigos, que remontam ao período
minóico e anterior. Kerényi (2002) menciona que foi encontrada uma plaqueta em Pilos,
localidade situada na esfera da cultura minóica, com o nome do deus,
di-wo-nu-so-jo (Dionysoio) na escrita Linear B, anterior ao grego. Nesta mesma
localidade também foi encontrado um documento sobre o deus Eleuthér, filho de
Zeus, a quem eram sacrificados os touros, identificado com Dioniso. Este texto
do século XIII a.C. já documenta o culto dionisíaco, a linhagem do deus e seus
rituais. Em Creta, uma placa encontrada no palácio de Cnossos traz o nome
pe-te-u (Pentheús), que significa "cheio de sofrimento". Nas versões
do mito que chegaram até nós, especialmente a tragédia As Bacantes, Penteu é um
adversário do deus, a quem faz sofrer e é punido com sofrimento.
Originariamente, o sofredor, "Penteu", era o próprio Dioniso e estas
alterações ou adaptações aconteceram por causa da relação entre o homem e os deuses,
pois no período histórico os gregos não davam a um homem um nome que o
relacionasse tão intimamente com o deus quanto no período minóico. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Os ritos minóicos e gregos na época da vindima evocam a
morte e renascimento de Dioniso. Homero menciona os apanhadores de uvas que
entoavam cantos de lamentação e Hesíodo indica o tempo da vindima e a
fabricação do vinho, mas ambos os poetas excluem de suas obras a etapa do
lagar, o espremer das uvas, fato que se repete por toda a literatura do período
clássico. Os espremedores de vinho cantavam o mélos epilénion, uma canção camponesa
dedicada ao lagar, que envolvia a morte de Dioniso. Estes cantos eram muito
tristes, pois invocavam a dilaceração do deus, assim como a própria vinha, que
"morre" no inverno para renascer no início da primavera. Dioniso
representa esta força de vida que faz brotar novamente Publicado em a vinha,
como uma manifestação da realidade viva, da vida que se regenera
periodicamente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">M. Eliade (1993), menciona a concepção primitiva da
vinha como árvore cósmica do conhecimento e da redenção. O vinho seria a
incorporação da luz, da sabedoria e da pureza, que os textos clássicos trazem
como a "dádiva" de Dioniso. Em As Bacantes, Tirésias, o velho sábio, canta
o vinho como aquele que cura as amarguras da triste raça humana, dá paz e
esquecimento dos males cotidianos, sendo Dioniso um profeta cujo dom
divinatório é revelado aos homens em seus delírios, quando ele penetra nos
corpos humanos e, embriagando-os, revela o que está por vir. Aqui há uma idéia
de que a "embriaguez" dionisíaca seria induzida por outros fatores presentes
nos rituais, como o transe, que leva ao êxtase e ao entusiasmo, seguindo-se a
liberação e, por fim, a purificação. A "embriaguez" sagrada permitia
participar, ainda que de maneira imperfeita, da natureza divina. Ela realizava
o paradoxo de viver uma existência plena e, ao mesmo tempo, se tornar; de ser
força e equilíbrio. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Junito Brandão (1995), denomina Dioniso deus do êxtase
e entusiasmo, dois estados próprios da religião dionisíaca que levavam os
humanos a estarem mais próximos do deus. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Êxtase, do grego ekstasis, é um estado da alma em que
os sentidos se desprendem das coisas materiais, absorvendo-se no enlevo e na
contemplação interior; um arrebatamento dos sentidos causado por uma grande
admiração ou por um vivíssimo prazer que absorve todo e qualquer sentimento, um
estado de inspiração absoluta. Entusiasmo, do grego enthousiasmos, é a excitação
da alma quando admira excessivamente, paixão viva, arrebatamento, dedicação e exaltação
criadora. Entusiasmo significa, além disso, "estar pleno de deus", de
acordo com sua origem etimológica a partir da palavra grega theos, deus. Por
isso os mais importantes filósofos, poetas e artistas da Grécia cantam a
importância de Dioniso e de seu culto. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Não é possível afirmar que a religião dionisíaca
pregasse a crença na reencarnação, mas é certo que continha a mensagem de
salvação após a morte, com a possibilidade de transcendência, o que era não só
uma revolução em relação à antiga religião homérica, mas também algo muito confortador
para o homem. Dioniso é mais do que o deus sofredor, é o deus trágico como nenhum
outro. Seus ritos religiosos garantiam que a morte não é o fim de tudo, pois o
fato de morrer e renascer levava seus fiéis seguidores a crer que a alma vive
para sempre. Dioniso, mais do que Perséfone, representa aquele que venceu a
morte e, em sua ressurreição, ele simboliza a Publicado em encarnação da vida,
por isso tornou-se o centro da crença na imortalidade. M. Eliade (1993) menciona
que todas as estatuetas de Dioniso encontradas nos túmulos beócios possuem um
ovo na mão, sinal de regresso à vida. Edith Hamilton cita que o escritor grego
Plutarco, por volta do ano 80 d.C. escreveu a seguinte carta à sua mulher a
respeito da morte de uma filha de ambos, ainda criança: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">"Quanto àquilo que ouviste, querida esposa, no
sentido de que, uma vez separado do corpo, o espírito se transforma em nada e
nada sente, sei que não acreditas em tais afirmações, em nome das promessas
sagradas e fiéis contidas nos Mistérios de Baco, que conhecemos pelo fato de
pertencermos a esta irmandade religiosa. Temos a firme certeza de uma verdade
inquestionável: nossa alma é incorruptível e imortal. Para nós, os mortos vão
para um lugar melhor, onde viverão mais felizes do que foram aqui.
Comportemo-nos de acordo com essa crença, ordenando em função dela nossa vida
exterior, ao mesmo tempo em que, no íntimo, tudo deve ser mais puro, mais
sábio, incorruptível". (1995:76). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Rituais de sacrifício e desmembramento de animais
também eram realizados para lembrar a morte trágica do deus, que aparecem nos
mitos e, posteriormente, nas tragédias. O nome Dioniso-Zagreu está relacionado
com a caça da presa viva, para que fosse posteriormente dilacerada e sua carne
comida crua pelos participantes do ritual, revivendo assim a faceta da vida selvagem
que Dioniso também representa. Kerényi (2002), menciona que, em tempos muito arcaicos,
uma criança, filha de uma das mulheres dedicadas a Dioniso, era sacrificada
nestes rituais de desmembramento, o que passou a ser feito posteriormente com
animais ou então sacrifícios simbólicos, com a evolução cultural do povo grego.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Vários outros mitos estão relacionados com a chegada de
Dioniso aos locais onde ele desejava que seu culto fosse instituído. Já adulto,
Dioniso viajava pelo mundo então conhecido para levar os mistérios da nova
devoção, ensinar o cultivo da vinha e a preparação do vinho. Os mitos relatam
que, ao voltar para a Grécia, encontra oposição em várias regiões além de
Tebas, conforme é narrado na tragédia As Bacantes. Licurgo, rei da Trácia,
Perseu, rei de Argos e Mínias, rei de Orcômeno, na região da Beócia, opuseram-se
ao chamado de Dioniso às Bacantes e foram cruelmente punidos. Estas histórias
de chegada e resistência ajudaram a estruturar o culto dionisíaco fora da
Ática, pois isto faz parte da experiência religiosa que o deus suscitava, colocando
em risco a antiga religião olímpica. Atenas tornou-se, posteriormente, o mais
Publicado em importante local de festejos dionisíacos da Grécia, mas também aí
demorou a chegar, pois tais festejos ficaram bastante tempo restritos às áreas
camponesas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Dioniso é o deus da epifania, da chegada repentina, o
que, na Grécia, era conhecido também como epidemia, a incursão de algo
avassalador, o aflorar imprevisível de uma nova experiência. O culto dionisíaco
pode ser considerado também como uma religião missionária, precursora do
Cristianismo, pelas inúmeras histórias de chegada e peregrinação. Graças à riqueza
cultural de Atenas, assim como por sua democracia, o ano festivo dionisíaco da
cidade foi o mais importante da Grécia. As comunidades vinicultoras da Ática
preservavam a memória do fato de que tiveram que aprender a fazer vinho, mas
não aprenderam de modo profano, mas de acordo com os mistérios, pois não
poderiam ter inventado nem compreendido por si mesmas estas técnicas. Kerényi
(2002), menciona que o mito segundo o qual Dioniso veio à Ática trazendo a
vinicultura é mais antigo que o de Dioniso nascido em Tebas. Dioniso, trazendo
para a Ática a vinicultura, foi recebido como hóspede na casa do herói Sêmaco,
onde foi cuidado pelas mulheres. O relato mítico está de acordo com os usos consagrados
pelos quais as mulheres desempenhavam o papel principal no culto de Dioniso e todas
as sacerdotisas do deus eram consideradas sucessoras das filhas de Sêmaco.
Outra versão deste mito é a recepção de Dioniso pela filha de Icário, Erígone,
que se tornou a primeira mulher de Dioniso. Estes mitos e outras versões tornam
verossímil que Dioniso tenha sido levado a Atenas por mulheres, sendo as
mulheres de Atenas as guardiãs do culto dionisíaco na cidade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Elas tomavam posse do deus por meio da cerimônia de sua
união com a rainha, que representava a união de Dioniso e Erígone e, assim, a
cidade participava desta posse. Em Atenas as mulheres eram as senhoras do
vinho, sendo ativas no Lénaion, o santuário de Dioniso, que também servia de
lagar público e era sagrado. Elas eram identificadas como aquelas a quem,
depois do deus, o vinho era devido. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Os festivais dionisíacos eram variados e complexos, de
acordo com a região em que se realizavam. Junito Brandão (1995), destaca as
Dionísias Rurais, Lenéias, Dionísias Urbanas ou Grandes Dionísias e
Antestérias. As Dionísias Rurais eram celebradas na segunda metade de dezembro
aproximadamente, nos demos da Ática. A cerimônia central constituía-se numa
alegre e barulhenta procissão com cantos e danças, em que se transportava um
enorme falo e cujos Publicado em participantes usavam máscaras ou disfarçavam-se
de animais, em alusão à fertilidade dos campos. No século V, estas falofórias,
como eram chamadas, foram enriquecidas com concursos de tragédias e comédias,
pois em vários demos havia bons teatros. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">As Lenéias eram celebradas no inverno, correspondendo
ao final de janeiro e início de fevereiro. Este nome alude ao Lénaion,
santuário de Dioniso, onde havia também um teatro. A respeito desta festa
sabe-se muito pouco, apenas que Dioniso era invocado por meio do daduco, o
"condutor de tochas"; o sacerdote e os participantes também gritavam
para provocar a epifania do deus, que deveria presidir as festividades. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">As Dionísias Urbanas celebravam-se na primavera, no
final de março e duravam seis dias. No primeiro dia havia uma grande procissão
com a participação de toda a cidade, em que se transportava a estátua do deus
de seu templo até um antigo templo de Baco. Nos dois dias seguintes
realizavam-se concursos de Coros Ditirâmbicos e, nos três últimos dias, havia concursos
dramáticos numa tetralogia, isto é, três tragédias e um drama satírico. Junito
Brandão (1995), cita Aristóteles, informando que a tragédia teve origem nos
solistas do ditirambo, num processo de transformação dos dramas satíricos, que
passaram de fábulas curtas com tom jocoso a assuntos mais elevados e trágicos.
O ato sacrificial da morte de Dioniso, que representa a indestrutibilidade da
vida em meio à destruição deu origem à tragédia grega, sendo o mais universal
dos ritos dionisíacos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">As Antestérias marcavam o elemento fundamental da
religião dionisíaca, a transformação, a que seus adoradores eram transportados
pelo êxtase e entusiasmo, rompendo as barreiras sociais cotidianas. As danças
vertiginosas faziam com que os participantes saíssem de si para que o deus os
tomasse, o "estar pleno de deus" e, assim, superassem a condição
humana. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">As Antestérias eram denominadas de "festa das
flores", pois se realizavam na primavera, com o rejuvenescimento da
natureza. Em seu primeiro dia, denominado Pithoiguía, abriam-se os tonéis de
terracota em que se guardava o vinho, transportando-os ao santuário de Dioniso
para serem dessacralizados e bebidos pela população. O segundo dia
denominava-se Khóes, consagrado aos concursos de beberrões. Também se realizava
uma procissão para comemorar a chegada do deus à pólis, em que Dioniso era
representado chegando em uma embarcação, de acordo com seus mitos de chegada.
Nesta embarcação era levado também um touro destinado ao sacrifício e, ao
Publicado em chegar ao santuário, consumava-se a união da rainha com o
sacerdote, que representava o deus e simbolizava a união deste com toda a
pólis. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">O terceiro dia recebia o nome de Khýtroi, vasos de
terracota consagrados aos mortos e às Queres. Era um dia nefasto, em que todos
oravam pelos mortos e pela Queres, que vagavam pela cidade. Oferecia-se a
Hermes, deus psicopompo, uma sopa com todas as espécies de sementes, pois os
mortos estavam ligados à fertilidade da terra e subiam ao mundo em busca de agradecimento
pelas riquezas que proporcionavam aos vivos. Quando a noite chegava todos gritavam:
"Retirai-vos, Queres, as Antestérias terminaram". <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">A liberdade concedida pelos festejos dionisíacos
favorecia a adesão das mulheres, dos pobres, camponeses e escravos aos cultos.
De fato, Dioniso é o deus das mulheres e as Antestérias simbolizavam sua
libertação e valorização, um momento em que saíam da condição de repressão e
humilhação a que estavam atreladas. As mulheres representavam as nutrizes míticas
do deus. Seu culto também exigia a presença do thíaso, o grupo de pessoas que celebrava
o sacrifício em honra do deus, na esperança de renovação espiritual. Em suas
festas, muitas vezes o aspecto sombrio do deus precedia o aspecto luminoso,
catártico e purificador, de crença na imortalidade. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Kerényi reproduz em sua obra uma citação de Otto sobre
a importância das mulheres nos ritos dionisíacos: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">"Nunca devemos esquecer que o mundo dionisíaco é,
acima de tudo, um mundo de mulheres. As mulheres aviventam e nutrem Dioniso.
Mulheres o acompanham onde quer que ele esteja. Mulheres o assistem e são as
primeiras a ser dominadas por sua loucura. E isso explica por que o
genuinamente erótico se encontra apenas na periferia da paixão e da
libertinagem reveladas com tanto atrevimento nas bem conhecidas esculturas.
Muito mais importantes que o ato sexual são os atos de dar à luz e criar a
criança. O terrível trauma do parto, a selvageria que pertence à maternidade em
sua forma primal, selvageria essa que pode irromper de forma alarmante não
apenas nos animais - tudo isso manifesta a natureza íntima da loucura
dionisíaca: o encrespar-se da essência da vida cercada pelas tempestades da
morte. Desde quando esse tumulto latente no mais fundo das profundezas se dá a
conhecer, a plenitude do êxtase da vida, tocada pela agitação da loucura
dionisíaca, é capaz de romper todos os limites do arrebato em perigosa selvageria.
A condição dionisíaca é o fenômeno primal da vida, de que mesmo o homem pode
participar, em todos os momentos de nascimento de sua existência criativa".
(2002:116). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Nesta combinação de elementos sensuais, imanentes e
transcendentes, chegamos à união de Dioniso com aquela que foi eleita sua
esposa divina, a Senhora do Labirinto: Ariadne. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Em plaquetas de argila encontradas em Cnossos, vê-se
uma deusa e a seguinte inscrição: pa-si-te-o-i / me-ri / da-pu-ri-to-jo /
po-ti-ni-ja me-ri, "para todos os deuses, mel... para a senhora do
labirinto, mel...". Isto indica que ela foi uma grande deusa, pois recebe
tanto mel quanto os outros deuses. Vê-se também uma representação do labirinto,
que simbolizava a descida aos mundos inferiores e a volta para a luz. Em
Cnossos, um grande corredor com afrescos labirínticos em meandros leva para a
mais importante fonte de luz do palácio: um pátio com sete colunas, informando
o que o vocábulo da-pu-ri-to-jo significava para os minóicos: " um caminho
para a luz". Na cultura minóica eram oferecidos mel e danças em honra da
Senhora do Labirinto, sendo este traçado em forma de labirinto também uma pista
de danças rituais, que de fato existia e foi encontrada nas escavações
arqueológicas. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Na versão mítica mais conhecida, a Odisséia de Homero,
Ariadne era mortal e filha do maligno Minos, sendo o labirinto um lugar de
morte. Teseu foi salvo graças ao famoso fio que Ariadne lhe deu e esta,
apaixonada, acompanhou o príncipe estrangeiro. Isto foi um pecado e Ariadne foi
morta de parto por Ártemis. Esta história mostra uma relação muito próxima de Ariadne
com a Senhora do Labirinto, embora tenha sido humanizada. No período grego de Creta,
a deusa recebeu o nome de Arihágne, a "toda pura", sendo Ariadne uma
forma dialetal do idioma lá utilizado. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Kerényi (2002) sustenta que Ariadne não só representava
grandes deusas como Ártemis, Afrodite e Perséfone, mas que ela seria realmente
Ariadne e Perséfone em uma só pessoa, que deu à luz no mundo subterrâneo seu
filho Dioniso. Ariadne pertencia a Dioniso, como donzela e esposa e sua fuga
com Teseu foi não só uma traição ao deus como também um pecado contra o princípio
feminino, por isso foi punida por Ártemis. No porto marítimo de Falero há uma
festa em ação de graças por Ariadne ter sido "abandonada" por Teseu e
se unido a Dioniso, mas conta o mito que fora o próprio Dioniso, com auxílio de
Atená, que livrou o herói do risco de dominar completamente Ariadne e levá-la
para casa como sua esposa. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Em Argos há um altar onde eram feitas oferendas a
Ariadne como uma rainha do mundo subterrâneo, que os habitantes dizem ser seu
túmulo. Este mesmo local é um santuário Publicado em subterrâneo de Diónysos
Krésios, indicando que pertence à esfera da religião dionisíaca de Creta. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Nos mitos de Creta, o falecimento de Ariadne durante o
parto tem paralelismo com o parto prematuro de Sêmele, sendo que Ariadne não
deu à luz, mas foi enterrada em uma gruta sagrada com o filho no ventre,
levando consigo seu filho para o mundo subterrâneo e identificando-se com
Perséfone. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Dentre todos os deuses, Dioniso é o único que veio ao
mundo ainda como um feto, e um nascimento na morte é algo realmente místico.
Segundo Kerényi (2002), os Mistérios de Elêusis giravam em torno deste
nascimento e seu valor místico seria ainda maior se, como Sêmele, Ariadne tiver
dado à luz Dioniso. Em Cnossos, a dança ritual em homenagem à Senhora do Labirinto
era executada numa pista de danças e a Senhora localizava-se no centro deste
labirinto, que representava o mundo subterrâneo. A Senhora dava à luz um menino
misterioso que trazia a esperança de um retorno à luz. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Ariadne foi sem dúvida uma grande deusa lunar do mundo
Egeu e sua associação com Dioniso mostra sua grandeza. Tanto o fato de ter
vencido o Minotauro quanto a união com Dioniso em Naxos após o abandono por
Teseu demonstram a superação de estágios inferiores para atingir a
transcendência. Em Naxos acontece a ascenção aos céus de Ariadne, levada por Dioniso,
que lhe deu uma tiara de estrelas, a corona borealis. Kerényi relata assim esta
união transcendental: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">"Assim como Dioniso é a realidade arquetípica de
zoé, Ariadne é a realidade arquetípica do dom da alma, do que faz de um vivente
um indivíduo. A alma é um elemento essencial de zoé, que dela carece para
transcender o estágio seminal. Zoéexige alma e toda concepção é psicogonia. Em
cada concepção nasce uma alma. A imagem deste evento é a mulher como
concebedora, que dá alma a viventes, e o reflexo desta imagem é a lua, sede
mitológica da alma. Em imagem e em reflexo, a fonte feminina de almas, para a
Creta Minóica, era a grande deusa, Réia e Perséfone - uma díade só em aparência,
fundamentalmente uma unidade. A imagem em questão é arquetípica, expressiva da
mesma unidade e continuidade que, em Elêusis, exprimem Deméter e Perséfone. Na
união das duas imagens arquetípicas, o casal divino, Dioniso e Ariadne,
representa a eterna passagem de zoé na, e pela, gênese dos viventes. Isso
acontece de contínuo, e sempre está a acontecer, de modo idêntico sempre e de
forma ininterrupta. Não apenas na religião grega, mas também no culto e na
mitologia minóica, zoé assume a forma masculina e a gênese das almas reveste a
feminina". (2002:108-9). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">VIVENDO DIONISO - UMA VIAGEM AO MUNDO DO INCONSCIENTE <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">A ele clamai: <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Cantaremos Dioniso <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Nestes dias santos
- <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">O por doze meses
ausente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Agora é o tempo,
agora as flores chegam. <o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Ditirambo - Canto
dionisíaco de triunfo.<o:p></o:p></span></span></div>
<div align="right" class="MsoNormal" style="text-align: right;">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Viver Dioniso em nosso mundo atual pode ser uma tarefa
difícil. Não são muitas as expressões genuínas da cultura dionisíaca na
sociedade atual e, muitas vezes, quando elas acontecem, evidencia-se o lado
negativo, sombrio, que não deixa margem para a purificação e transcendência
finais, mas somente para vivências de desmembramento ou dissociação. As festas
rave de que os jovens atualmente participam exemplificam bem esta questão, pois
duram dias, há uma dança frenética ao som de músicas hipnóticas e o consumo,
entre outras, de uma droga com nome sugestivo: ecstasy. Talvez seja possível
falar em um desejo de transcendência que seria atingido através das fortes
emoções e do transe, que não se completa, pois não há a profundidade de uma
experiência religiosa, no sentido amplo da palavra. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">López-Pedraza (2002), enfatiza que atualmente predomina
nossa natureza titânica, permanecendo nossa parte dionisíaca extremamente
reprimida. Em algumas versões do mito, a parte recebida por nós de Dioniso é
justamente o coração, motivo simbólico muito rico para que se compreendam as
implicações que tal repressão traz ao homem moderno. O modelo socialmente
aceito e procurado por todos é titânico, ou seja, uma energia desproporcional e
desenfreada que se manifesta nas várias esferas de nossa vida: na política, nos
estudos, nos negócios, na religião, na ciência, na tecnologia, nas
comunicações, na arte, na sexualidade, na criminalidade, etc. A característica
titânica é a insolência agressiva e sem limites e sua presença na sociedade
contemporânea é opressiva. Para este autor, o titanismo aparece em teorias pré-concebidas,
atitudes missionárias, técnicas e fantasias de manipulação, estratégias astutas
e na destrutividade tão comum à natureza humana. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">A sombra humana estaria então mais ligada ao titanismo
e à repressão do dionisíaco, o que é verdadeiro levando-se em consideração a
hýbris, o descomedimento e a soberba, próprios da natureza titânica. A manía
dionisíaca é de natureza diferente; pode ser violenta como é a força da vida e
do inconsciente, mas é também a fonte de criatividade, cultura, emotividade, sentimento,
consciência e transcendência. Dioniso é um deus humilde e sua experiência emocional
intensa pode ser purificadora. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">A experiência dionisíaca pode nos conectar com os
níveis mais profundos da psique, com os complexos mais arcaicos da humanidade,
onde cenas de desmembramento ou dissociação podem ser vislumbradas. É
necessário ter o devido cuidado à aproximação destas imagens ou vivências, mas
a importância de experimentá-las num nível simbólico pode ser benéfica, como o faziam
os gregos em suas festas e cerimônias anuais em honra a Dioniso, em que todas as
atividades cotidianas eram interrompidas e até quem estivesse preso era
libertado para participar. A vivência do sofrimento e o contato com os níveis mais
profundos da psique podem prevenir o indivíduo de tornar-se alguém presunçoso e
vazio de emoções, embora possa parecer brilhante. Dioniso sofreu a morte por
desmembramento e a loucura para mostrar aos seres humanos que eles não precisam
passar por isso, assim como mostrar os meios para evitar ou curar a loucura.
Nos relatos mitológicos quem sofre e enlouquece é Dioniso e as tragédias gregas,
como As Bacantes, apontam para o fato de que, quando não atenta para isso, é o
homem quem se torna louco. Aos que se entregam, o milagre; aos que se defendem,
a loucura. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Há uma versão mitológica contando que Dioniso, ainda
adolescente e acometido de manía, é auxiliado por Réia, que o instrui a refazer
todos os passos que havia dado antes de sua crise, terminando por curá-lo. É
também Réia, a sábia Grande Mãe, que recompõe o menino Dioniso cortado em
pedaços pelos Titãs. Estas imagens evocam não só o princípio da cura pelo semelhante,
já que Dioniso, para ser curado, precisa percorrer o caminho anteriormente
feito, mas também princípio feminino, ou Anima, como intermediária entre
consciente e inconsciente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Desta maneira, Dioniso pode ser visto como um grande
xamã, que passou por uma experiência extrema para ensinar e guiar os homens. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Jung (1974), discorrendo sobre os tipos apolíneo e dionisíaco,
coloca que os gregos tiveram que criar os deuses olímpicos para enfrentar o
medo enorme ante as forças titânicas da natureza e para poderem viver
serenamente sobre uma sombra profunda, a grande questão da Publicado em existência
humana. Para Jung, há sempre uma relação de compensação entre a religião de um povo
e seu comportamento vital, sendo os deuses olímpicos tão luminosos por causa da
obscuridade da alma grega. Haveria uma violenta discórdia na essência grega,
uma essência bárbara, também titânica. Daí a ânsia de redenção que dava aos
Mistérios do Elêusis extrema importância para a vida popular grega. Mediante
uma evolução gradual, a cultura grega pôde conjugar o dionisíaco e o apolíneo
no âmbito religioso, o que é algo raro para o homem moderno experimentar. No
homem civilizado, as forças instintivas, quando exteriorizadas, são muito mais
perigosas e destrutivas que os instintos do homem primitivo, que os pode viver continuamente
através de seus ritos religiosos. Isto era também função das celebrações e
ritos dionisíacos, pois, através deles, poderia vivenciar sua essência bárbara,
integrado na coletividade e unificado ao próprio inconsciente coletivo,
exercendo a dýnamis criadora, uma expansão máxima que une a todos, trazendo
poderosa compreensão universal que embriaga os sentidos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Jung (1974), destaca a participação da função
percepção, sensível ou afetiva, e uma extroversão de sentimentos ligada à
percepção nas vivências dionisíacas. Elas detêm-se na percepção extrovertida e
desenvolvem os sentidos, os instintos e a afetividade, em contraposição à introversão,
que se detém na intuição de idéias, desenvolvendo a visão íntima. Hillman
(1997), tratando de Dioniso na obra de Jung, comenta que a consciência
analítica favorece o princípio masculino em detrimento do feminino, ou seja, a
luz, a ordem e a distância em lugar do envolvimento emocional. Este autor
sugere uma retificação no modo de entender a estrutura arquetípica dionisíaca,
que tem sido vista pela psiquiatria e psicologia tradicionais como inferior,
histérica, efeminada, desenfreada e perigosa, por ser considerada dissociativa
e enfatiza que a psicoterapia não pode trabalhar baseada em noções enganosas
sobre Dioniso, por ser ele o Senhor das Almas.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Dioniso pode ser comparado às profundezas do inconsciente
e desempenha papel central na tragédia, nos mistérios transformadores, nos
níveis instintivos e comunais da alma e na psique feminina. Para Hillman
(1997), interpretar mal sua manifestação poderia comprometer seriamente os
processos de cura, por ser Dioniso a imagem arquetípica da vida que sempre se renova.
<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">De acordo com Hillman (1997), Jung lembra que Dioniso
era chamado de "o dividido", processo que pode ser vivenciado nos
sintomas psicossomáticos e aditivos, conversões histéricas, no câncer, no medo
de envelhecer e todas as condições desintegradoras incoerentes que possuem um
foco corporal, proporcionando, por outro lado, o despertar da consciência do corpo,
como sendo composto de elementos distintos: "nossos dilaceramentos podem
ser compreendidos como o tipo especial de renovação apresentado por
Dioniso". (1997:186). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">López-Pedraza (2002), destaca a dança e a música
flamencas como uma manifestação do dionisíaco ainda vistas na atualidade. O
jazz também pode ser considerado assim. Há uma interessantíssima passagem do
filme Nelson Freire, de João Moreira Salles, em que o pianista genial vê uma
antiga fita de um dos astros do jazz e exclama que gostaria de saber tocar como
ele, de improviso. Esta imagem revela a necessidade do tipo apolíneo em
compensar sua vivência com algo de dionisíaco. Também o carnaval de rua, com
seus blocos ruidosos, sua irreverência, arrebatamento e intensidade de que
todos participam, numa explosão de alegria em que tudo é permitido durante
quatro dias. Os festejos do carnaval parecem-se bastante com as Antestérias,
pois há muita bebida, um Rei Momo e suas acompanhantes, concursos de fantasias
e tudo termina na quarta-feira de cinzas, que evoca a imagem da morte. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">No âmbito terapêutico há uma técnica que evoca o dionisíaco
para integrá-lo à nossa vida: Os Cinco Ritmos. Os Cinco Ritmos fazem parte de
um método transpessoal de movimento expressivo que permite a movimentação
corporal de sensações, emoções, sentimentos e imagens, proporcionando maior
harmonia e criatividade. O método utiliza música, especialmente o ritmo e o
movimento como instrumentos de estimulação para cinco movimentos corporais, que
correspondem a determinadas etapas de nossa vida e retratam nossas principais
emoções, percepções a arquétipos importantes, efetuando uma passagem simbólica
por estas cinco etapas de nosso desenvolvimento emocional, visando o contato
com o inconsciente. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">A criadora deste método, a dançarina e coreógrafa
americana Gabrielle Roth, o denomina também de "dança extasiante" e
"dança tribal", o que permite vislumbrar mais claramente sua ligação
com o aspecto dionisíaco. Tal ligação também se evidencia no caminho percorrido
por ela até chegar a esta técnica, pois sofria de uma grave anorexia que
refletia sua dificuldade em aceitar seu corpo, sua sexualidade e sua vida.
Passou também pela experiência de um acidente que a deixou impossibilitada de
dançar, mas descobriu que poderia ainda movimentar-se e isto Publicado em lhe
deu mais ânimo na busca pelo movimento como meio de atingir uma dimensão mais extasiante
de transformação e cura. Prestando atenção em seus movimentos e naqueles das pessoas
de quem tratava, descobriu os ritmos por onde flui a energia, através da
improvisação, das trocas repentinas de intensidade e do estilo próprio de cada
um. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Estes ritmos relacionam-se com os movimentos cíclicos da
vida, a manifestação do princípio criativo do universo. O ritmo é o elemento da
música que mais se aproxima dos movimentos do corpo e seus padrões simples,
quando repetidos sucessivamente, podem ter efeito hipnótico sobre os seres
humanos, provocando emoções e satisfação. A dança possui a qualidade de unir o
ritmo do corpo, as emoções e a música numa só expressão que se completa para a manifestação
da alma. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Os Cinco Ritmos são iniciados após um aquecimento onde
as várias partes do corpo são movimentadas livremente, ao som de músicas
intensamente rítmicas, percussivas ou instrumentais. Assim toma-se consciência
e prepara-se o corpo para a prática dos Cinco Ritmos, permitindo uma vivência
mais intensa e profunda. O primeiro ritmo é denominado fluir e é feito através
de movimentos circulares, calmos, fluidos, contínuos, focalizados no inalar da
respiração. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Este ritmo relaciona-se ao medo, à sensação de inércia,
ao ciclo de vida relativo ao nascimento, à auto-estima e ao nosso dançarino
interno. O segundo ritmo é denominado staccato, sendo curto, afiado,
percussivo, pausado e com movimentos em ângulos retos, estando relacionado à raiva,
ao ciclo da infância, à amizade, à experimentação da imitação e ao nosso cantor
interno. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">O terceiro ritmo é o caos, definido como uma passagem
para o êxtase, num estado próximo ao transe. Os movimentos são desorganizados,
com um intenso chacoalhar do corpo em que somente os pés devem manter contato
com a terra. Este ritmo relaciona-se à tristeza, ao ciclo da puberdade, aos
amores, à intuição e ao nosso poeta interno. O quarto ritmo denomina-se lírico
e seus movimentos são leves, numa busca pela dimensão etérea, pelo vôo, pela
faceta lúdica e luminosa do ser. O lírico relaciona-se à alegria, ao ciclo da
maturidade, ao companheirismo, à imaginação e ao nosso ator interno. Finalmente,
o quinto ritmo é a quietude, onde o foco será acalmar o corpo, centrando e revitalizando
a mente através de movimentos lentos e pausados. Este ritmo relaciona-se à
compaixão, ao ciclo da morte e à inspiração, suscitando nosso curador interno. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Para a criadora dos Cinco Ritmos, precisamos encontrar
todos estes ritmos em nós, para podermos nos relacionar com a possibilidade de
uma cura mais profunda. Após a prática dos Cinco Ritmos, que é realizada em
silêncio, todos podem expressar suas vivências de diversas maneiras e a
expressão artística é uma delas. Esta técnica terapêutica tem sido utilizada no
âmbito da Musicoterapia, por unir música e movimento, destinando-se ao trabalho
com vários tipos de populações em centros de terapias. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Kerényi (2002), conta que, no dia de Khoés, na
celebração ateniense das Antestérias, era costume das meninas balançarem-se em
cadeiras suspensas em árvores, sendo permitido aos meninos imitá-las, mas a
Festa dos Balanços, como era chamada, era uma festa de virgens. O ato de
balançar-se está entre os elementos fundamentais da natureza humana e animal, exprimindo
a intensa alegria de viver. É a primeira brincadeira que se faz com os bebês e realiza-se
nos momentos felizes da infância ou por toda a vida. O ato de balançar-se
inaugura espontaneamente uma festa e, no caso das festas dionisíacas, era um ato
mítico e mágico, pois possibilita alcançar um estado extraordinário, uma
espécie de êxtase. Este não era um ato comum, pois o dia dos balanços, Aióra,
precedia a união da rainha com o sacerdote que representava Dioniso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Cerimônias dionisíacas como a Festa dos Balanços, as
danças extáticas e as danças rituais em homenagem à Senhora do Labirinto,
Ariadne, permitem fazer a ligação destes atos míticos com a prática dos Cinco
Ritmos, uma vivência atual que possibilita a conexão com tais atos arquetípicos,
revivê-los e integrá-los à consciência. Na análise esta é uma condição
fundamental, pois Dioniso é chamado de lýsios, aquele que liberta, que afrouxa,
palavra esta relacionada a lysis, sílabas finais de analysis, que rompe antigos
laços para atingir um novo e mais pleno estado de consciência. Segundo as
palavras de Hillman: <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">"Por outro lado, a luz pode significar a luz da
natureza e a mudança da consciência através de semelhanças, onde o semelhante
atua sobre o semelhante. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Neste caso, a fragmentação seria imaginada, não a partir
do interior do ponto de vista do centramento, mas a partir do interior da própria
consciência dionisíaca que atua dentro da dissolução. O pneuma disperso do
segundo Dioniso que emerge através da dissolução seria a luz exigida pela voz,
implicando a lysis da experiência dionisíaca". (1997:189). <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<br /></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">CONCLUSÃO <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Quem conduz o tíaso torna-se Dioniso. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">As Bacantes - Eurípedes.<o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Dos mundos subterrâneos surgiram três plaquetas de
argila sem inscrições, somente com imagens. A primeira traz o deus de pele
branca, olhos e longos cabelos negros, com uma coroa de heras na cabeça, o
tirso na mão direita e vestes brancas. Cachos de uva pendem em volta dele e, em
sua frente está uma mulher alta e esbelta, com um longo vestido também branco.
Ele a convida a participar das danças sagradas em sua honra. A mulher e o deus
sorriem um para o outro, numa expressão de cumplicidade. O deus sabe que o
caráter emotivo da mulher é o veículo para a sua transcendência e, por isso,
revela-se a ela em toda a sua glória. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">A segunda traz o deus sentado num trono, com seus
cabelos e vestes resplandecentes, seu tirso na mão direita e a coroa de heras
sobre a cabeça, circundado por folhas da vinha e cachos de uvas. Ele foi
conduzido ao triunfo pelas mulheres, propagadoras de seu culto e de suas
verdades. O deus aparece como um rei e seu carisma e presença são de uma
grandiosidade jamais vista. A terceira mostra uma parede feita de pedras, muito
antiga, talvez do início dos tempos. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">Esta parede está levemente entreaberta e deixa
transparecer que há algo atrás dela, um caminho para aqueles que lá quiserem
penetrar. Na parte da frente da parede de pedras há uma fonte esculpida na
pedra, da qual jorra eternamente água fresca e, logo acima da fonte, há uma
pira eternamente acesa, com fogo muito vermelho, para nos lembrar que Dioniso é
fogo e água, calor e umidade, como a vinha que nasce da terra úmida sob a luz
do sol. O que há atrás desta parede não se sabe, mas ela permanece sempre
entreaberta para aqueles que quiserem ver e penetrar no mistério. Para aqueles
que não vêem, ela está para sempre fechada. EVOÉ BAKKHÓS ! <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">BRANDÃO, Junito de Souza. Mitologia Grega. Petrópolis:
Vozes, 1995. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">CHEVALIER, Jean e GHEERBRANT, Alain. Dicionário de
Símbolos. Rio de Janeiro: José </span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">Olympio, 1994.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">DICIONÁRIO BRASILEIRO DA LÍNGUA PORTUGUESA. São Paulo:
Mirador Internacional, 1975. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">ELIADE, Mircea. Tratado de História das Religiões. São
Paulo: Martins Fontes, 1993. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">EURÍPEDES. As Bacantes. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,
s/d. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">HAMILTON, Edith. Mitologia. São Paulo: Martins Fontes,
1995. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">HILLMAN, James (org.). Encarando os Deuses. São Paulo:
Cultrix/Pensamento, 1997. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">JUNG, C. G. Tipos Psicológicos. Rio de Janeiro: Zahar,
1974. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="color: white;"><span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;">KERÉNYI, Carl. Dioniso - Imagem arquetípica da vida
indestrutível. São Paulo: Odysseus.</span><span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;">2002.</span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: Verdana, sans-serif; font-size: 12pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">LÓPEZ-PEDRAZA, Rafael. Dioniso no Exílio: sobre a repressão
da emoção e do corpo. São Paulo: Paulus, 2002. <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;"><br /></span></span></div>
<br />
<div class="MsoNormal">
<span style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; line-height: 115%;"><span style="color: white;">NEUMEISTER, Maria Eliane C. O Potencial Terapêutico do
Método dos Cinco Ritmos Aplicado à Musicoterapia. Rio de Janeiro: Monografia
final para conclusão da Graduação no Curso de Musicoterapia do Conservatório
Brasileiro de Música, 1998</span><o:p></o:p></span></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-40868378966207755902013-07-23T09:17:00.001-03:002013-07-23T09:17:11.538-03:00Mais uma realização para as religiões afro brasileiras.<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQBwtjpUQwOcqE6mS1DDSATnRImrv1uBfeWqvNsesAm4DRU80MXen4CFgfcn34nyXFc2z7f-6jAlG2bs82-T_H4PNxb8EQdU4EwkoPelRq3SfRNCajJC7kboyVZeyRDafuWdfH9OwNdsA/s1600/certificado+SOTER.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="282" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgQBwtjpUQwOcqE6mS1DDSATnRImrv1uBfeWqvNsesAm4DRU80MXen4CFgfcn34nyXFc2z7f-6jAlG2bs82-T_H4PNxb8EQdU4EwkoPelRq3SfRNCajJC7kboyVZeyRDafuWdfH9OwNdsA/s400/certificado+SOTER.jpg" width="400" /></a></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Com muita alegria e satisfação que realizamos na academia mais uma apresentação dos saberes das religiões afro brasileiras, ofereço esta realização para meu mestre Arhapiagha e a FTU - faculdade de Teologia Umbandista que embasou meus conhecimentos teóricos e </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">com isso pude elaborar a pesquisa em si. </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">Estamos agora seguindo para a próxima etapa que </span></div>
<div style="text-align: center;">
<span style="color: white; font-family: Verdana, sans-serif;">é a ABHR - USP à realizar-se em outubro de 2013.</span></div>
<div style="text-align: center;">
<br /></div>
Ygbere - Abaarahttp://www.blogger.com/profile/12195667036802195367noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-6161494671427745825.post-64204163678319648642013-07-10T09:23:00.000-03:002013-07-10T09:28:55.237-03:00A noção de pessoa entre os fula e os bambara.<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="separator" style="clear: both; text-align: center;">
<a href="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCU_pwpF36Ky16UjMDpZ4LORjQHFwC6nxUI9USmWe6PqUc4QeIh26onNP0bu84HdSXxBbSzj3g6ObH91Tc-1JLr6uZtXnyFJOj_nwJVh8i8pO4lwTCvXt2j_chP9kD9ujfK6wxo0Fd6hg/s1600/negros.jpg" imageanchor="1" style="margin-left: 1em; margin-right: 1em;"><img border="0" height="245" src="https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEgCU_pwpF36Ky16UjMDpZ4LORjQHFwC6nxUI9USmWe6PqUc4QeIh26onNP0bu84HdSXxBbSzj3g6ObH91Tc-1JLr6uZtXnyFJOj_nwJVh8i8pO4lwTCvXt2j_chP9kD9ujfK6wxo0Fd6hg/s400/negros.jpg" width="400" /></a></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 18.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><br />
</span></b><span style="color: white;"><b><span lang="PT" style="font-family: Verdana, sans-serif;">Amadou Hampâté Bâ</span></b><b><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></b></span></div>
<div class="MsoNormal">
<b><span lang="PT" style="font-family: Verdana, sans-serif;"><span style="color: white;"><br /></span></span></b></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Nas
tradições fula e bambara dois termos servem para designar a pessoa. Para os
fulas, são eles <i>Neddo</i> e <i><u>Neddaaku</u></i>. Para os bambaras, <i>Maa</i> e <i>Maaya</i>. As primeiras palavras significam "a Pessoa" e, as
segundas, "as pessoas da pessoa".</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"> <o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
tradição ensina que existe antes <i>Maa</i>,
a "Pessoa receptáculo", e depois <i>Maaya</i>,
ou seja, os diversos aspectos de <i>Maa</i>
contidos no <i>Maa</i>-receptáculo. Como diz
a expressão bambara <i>Maa ka Maaya ka ca a
yere kono</i>: "As pessoas da pessoa são múltiplas na pessoa".
Encontramos exatamente a mesma noção entre os fulas.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
noção de pessoa é, portanto, a princípio, muito complexa. Implica uma
multiplicidade interior de planos de existência concêntricos e superpostos
(físicos, psíquicos e espirituais, em diferentes níveis), bem como uma dinâmica
constante. A existência, que se inicia com a concepção, é precedida por uma
pré-existência cósmica onde o homem residiria no reinado do amor e da harmonia,
denominado <i>Benke-so</i>.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O
nascimento de uma criança é considerado a prova palpável de que uma parcela da
existência anônima se destacou e encarnou sobre nossa terra, para desempenhar
uma missão. Uma importância muito particular será concedida à cerimônia do
batismo, no curso da qual será dado um <i>togo</i>,
ou nome, ao recém-nascido. O <i>togo</i>
define o pequeno indivíduo. Ele situa-o na grande comunidade.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Três
tipos de nascimento podem ocorrer. O aborto ou <i>ji-bon</i>, literalmente "água derramada", é considerado
maléfico. O nascimento no prazo correto, chamado <i>banngi</i>, é um fato feliz não somente para os pais, mas para a
aldeia, a sociedade e, num plano mais vasto, para a humanidade inteira. O
nascimento após o prazo normal, chamado <i>menkono</i>
ou <i>nyanguan</i>, literalmente
"ventre de muito tempo", é o prelúdio ao nascimento de um ser
extraordinário, o <i>nyanguan</i>, o
proto-feiticeiro, que vem ao mundo imbuído de um poder potencial. </span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O
desenvolvimento da pessoa vai realizar-se no ritmo dos grandes períodos de
crescimento do corpo, a cada qual correspondendo um grau de iniciação. A
iniciação tem por objetivo dar à pessoa física um poder moral e mental que
condiciona e ajuda a realização perfeita e total do indivíduo. A tradição
considera que a vida de um homem normal comporta duas grandes fases. Uma
ascendente, até os sessenta e três anos, outra descendente, até os cento e
vinte e seis. Por sua vez, cada uma dessas fases comporta três grandes seções
de vinte e um anos, compostas de três períodos de sete anos. Cada seção de
vinte e um anos marca um grau na iniciação. Cada período de sete anos marca um
limiar na evolução da pessoa humana.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim,
durante os sete primeiros anos de sua existência, quando a pessoa em formação
requer o máximo de cuidados possível, a criança ficará intimamente unida a sua
mãe, de quem ela dependerá em todos os aspectos de sua vida. De sete a catorze
anos, ela se confronta com o meio exterior do qual recebe as influências, mas
sente ainda a necessidade de referir-se a sua mãe, que permanece sendo seu
critério. Dos quatorze aos vinte e um anos, está na escola da vida e de seus
mestres, distanciando-se progressivamente da influência materna.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
idade de vinte e um anos marca o importante momento da circuncisão ritual e da
iniciação às cerimônias dos deuses. Durante o segundo bloco de vinte e um anos,
o homem vai elaborar os ensinamentos que recebeu no período anterior. Ele é
então considerado como estando à escuta dos sábios, e se ocorre que lhe dêem a
palavra, é por um favor ou para colocá-lo à prova, não por direito. Aos
quarenta e três anos, entretanto, considera-se que atingiu virtualmente a
maturidade e figura entre os mestres. Tendo o direito à palavra, ele tem que
ensinar aos outros aquilo que aprendeu e sobre o que meditou durante os dois
primeiros períodos de sua vida. Aos sessenta e três anos, término da grande
fase ascendente, ele é considerado como tendo concluído sua vida ativa. Não é
mais compelido a nenhuma obrigação, o que não o impede, eventualmente, de
continuar a ensinar, se esta é sua vocação ou capacidade.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Em
nenhum momento a pessoa humana é considerada como uma unidade monolítica,
limitada a seu corpo físico, mas sim como um ser complexo, habitado por uma
multiplicidade em movimento permanente. Não se trata, portanto, de um ser
estático ou acabado. A pessoa humana, como a semente vegetal, é evolutiva a
partir de um capital inicial que é seu próprio potencial. Este vai
desenvolver-se ao longo de toda a fase ascendente de sua vida, em função do
terreno e das circunstâncias encontradas. As forças liberadas por essa
potencialidade estão em perpétuo movimento, assim como o próprio cosmos.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para
ilustrar esta idéia, lembremos brevemente o mito de criação do homem na
tradição bambara:</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Maa-Ngala
(ou Deus-Mestre) autocriou-se. Depois criou vinte seres, que constituiriam o
conjunto do universo. Mas ele apercebeu-se de que, dentre essas vinte primeiras
criaturas, nenhuma estava apta a tornar-se seu <i>kumanyon</i>, isto é, seu interlocutor. Então, recolheu um pedaço de
cada uma das vinte criaturas existentes. Misturou tudo, o que serviu para criar
um vigésimo primeiro ser híbrido, o homem, ao qual deu o nome de <i>maa</i>, ou seja, o primeiro nome que compõe
seu próprio nome divino.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para
conter <i>maa</i>, o ser todo-em-um,
Maa-Ngala concebeu um corpo especial, vertical e simétrico, capaz de abarcar ao
mesmo tempo um pouco de cada um dos seres existentes. Este corpo, chamado <i>fari</i>, simboliza um santuário onde todos
os seres se encontram em circundução (1). É por isso que a tradição considera o
corpo do homem como o mundo em miniatura, conforme a expressão <i>Maa ye dinye merenin de ye</i>, isto é:
"O homem é o universo em miniatura". </span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O
corpo inteiro corresponde a um simbolismo bem preciso. A cabeça, por exemplo,
representa o estágio superior do ser, perfurada por sete grandes aberturas.
Cada uma delas é a porta de entrada de um estado de ser, ou mundo, e é guardada
por uma divindade. Cada porta dá acesso a uma nova porta interior, e esta, ao
infinito. O rosto é considerado como a fachada principal da morada das pessoas
profundas de <i>Maa</i>. Sinais exteriores
permitem decifrar as características dessas pessoas. "Mostre-me seu rosto,
e eu lhe direi a maneira de ser de suas pessoas interiores", diz o adágio.
Cada ser interior corresponde a um mundo que gira em torno a um eixo ou ponto
central.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">O
psiquismo do homem é, portanto, um conjunto complexo. Como um vasto oceano, sua
parte conhecida não é nada comparada à ainda por conhecer. O ditado malinês é
eloqüente a esse respeito: "Nunca se acaba de conhecer <i>Maa</i>..."</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Por
que esta complexidade?</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">De
um lado, o nome divino do qual <i>Maa</i> é
investido confere-lhe o espírito, e o faz participar da Força Suprema. Esta
chama-o à sua vocação essencial: tornar-se o interlocutor de Maa-Ngala. De
outro, os diversos elementos que estão nele o tornam depositário de todas as
forças cósmicas, tanto as mais elevadas como as mais baixas. A grandeza e o
drama de <i>Maa</i> consistem em ser ele o
lugar de encontro de forças contraditórias em perpétuo movimento, que somente
uma evolução bem realizada no caminho da iniciação lhe permitirá ordenar, ao
longo das fases de sua vida. </span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">As
forças múltiplas e variadas que se movem no universo dissimulado de <i>Maa</i> constituem os estados, ou pessoas
psíquicas, emanadas do espírito do próprio <i>Maa</i>.
O Espírito, princípio imaterial e imortal, não é um ser imaginário. Ele existe.
É ele que dá nascimento à Imaginação, faculdade bem real (não confundir com o
imaginário), graças à qual <i>Maa</i>
torna-se capaz de visões e de relacionamento com espíritos ou seres que habitam
fora dele ou fora do mundo visível. Para retomar uma expressão de meu amigo
Boubou Hama, ele "concretiza o abstrato", que assume imagem e forma.
O espírito de <i>Maa</i> permite-lhe
conhecer, compreender e reforçar sua atenção. Desenvolvendo essas aptidões, <i>Maa</i> torna-se capaz de julgar.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
pessoa, assim, não está encerrada sobre si mesma, como uma caixa bem fechada.
Ela se abre em diversas direções, diversas dimensões, poderíamos dizer, ao
mesmo tempo interiores e exteriores. Os diversos seres, ou estados, que estão
nela, correspondem aos mundos que se escalonam entre o homem e seu Criador.
Eles estão em relação entre si e, através do homem, em relação com os mundos
exteriores. Antes de tudo, a pessoa está ligada a seus semelhantes. Não se
saberia concebê-la isolada ou independente. Assim como a vida é unidade, a
comunidade humana é uma, e interdependente.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Devido
a esse sentimento profundo de unidade da vida, a pessoa humana não é destacada
do mundo natural que a cerca. Mantém com ele relações de dependência e
equilíbrio, codificadas por regras de comportamento ensinadas pela doutrina
tradicional <i>Bembaw-sira</i>. Leis
precisas determinam a conduta do homem face a todos os seres que povoam a parte
vital da terra: minerais, vegetais e animais. Essas leis não podem ser
violadas, sob pena de provocarem, no seio do equilíbrio da natureza e das
forças que a sustentam, uma perturbação que se voltaria contra ele. </span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">A
noção de unidade da vida é acompanhada pela noção fundamental de equilíbrio, de
troca e de interdependência. <i>Maa</i>, que
contém em si um elemento de todas as coisas existentes, é chamado a tornar-se o
fiador do equilíbrio do mundo exterior, e até mesmo do cosmos. Na medida em que
reintegra sua verdadeira natureza (a do <i>Maa</i>
primordial), o homem surge, no mundo, como o eixo convocado a preservar a
multiplicidade exterior de cair no caos.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Assim,
da boa ou má conduta dos reis ou chefes religiosos tradicionais, dependerá a
prosperidade do solo, o regime das chuvas, o equilíbrio das forças da natureza
etc.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Enquanto
o homem não tiver ordenado os mundos, as forças e as pessoas que estão nele,
ele é o <i>Maa-nin</i>. Ou seja, um tipo de
homúnculo, o homem ordinário, o homem não realizado. A tradição diz: <i>Maa kakan ka sé i yere Ia naate a be to Maa
ni yala. </i>Isto é: "Não podemos sair do estado de <i>Maa-nin</i>, para reintegrar o estado de <i>Maa</i>, se não formos o mestre de nós mesmos".</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Para
concluir, chamarei a atenção sobre o fato de que a tradição se ocupa da pessoa
humana enquanto multiplicidade interior, inacabada no princípio, chamada a
ordenar-se e a unificar-se, como a buscar seu justo lugar no seio das unidades
mais vastas, que são a comunidade humana e o conjunto do cosmos.</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Síntese
do universo e confluência das forças de vida, o homem é assim chamado a
tornar-se o ponto de equilíbrio onde poderão reunir-se, através dele, as
diversas dimensões das quais é portador. Então ele merecerá verdadeiramente o
nome de <i>Maa</i>, interlocutor de
Maa-Ngala, e fiador do equilíbrio da criação. .... </span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify; text-indent: 35.45pt;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">Notas:</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;">1.Rotação de um membro
em torno de sua inserção no tronco, conforme um cone, do qual a articulação
forma o vértice</span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin: 0cm 0cm 0.0001pt 18pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span style="color: white;"><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: PMingLiU; mso-fareast-language: ZH-TW;">Tradução de Daniela
Moreau<br />
<!--[if !supportLineBreakNewLine]--><br />
<!--[endif]--></span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: Arial; mso-fareast-font-family: PMingLiU; mso-fareast-language: ZH-TW;"><span style="color: white;">(texto originalmente
editado em francês como capítulo do livro <i>Aspects de la Civilization
Africaine</i>, Paris, Présence Africaine, 197</span></span><span lang="PT" style="font-family: "Verdana","sans-serif"; font-size: 12.0pt; mso-ansi-language: PT; mso-bidi-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-font-family: "Times New Roman"; mso-fareast-language: PT-BR;"><o:p></o:p></span></div>
<div class="MsoNormal" style="margin-bottom: 0.0001pt; text-align: justify;">
<br /></div>
<br />
<div class="MsoNormal" style="text-align: justify;">
<br /></div>
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