Olavo Solera
Em
busca de imagens que simbolizasse os
aspectos relativos e absolutos, monistas e panteístas, pessoais e impessoais,
lineares e cíclicos, deparei-me com a imagem da "Arvore da Vida",e em
especial aqui, neste trabalho, nas religiões afro brasileiras e na religião
judaica. A simbologia das mesmas, atendiam ao estudos pretendidos e mais ainda,
constatei que esta simbologia da Arvore existe na maioria das religiões dos
livros e nas religiões de tradição oral.
Vários
estudiosos do homem como um todo, seja
ele espiritual, social, político e
cultural, notaram que existia uma ponte entre o imaterial (céu) e o material
(terra),e que agia como eixo do homem, ora separando, ora juntando estes seus
aspectos. Mircea Eliade vai chamá-la de "Árvore do Mundo", "Axis
Mundi", "Árvore Cósmica", cuja função é a de elidir as diversas
regiões do cosmo.
Para
boa parte das tradições místicas e religiosas, os "mundos" dividem-se
nos espaços inferiores ou infernais, intermediários ou terrestres e superiores
ou celestes.
Em
todas elas, o aspecto Absoluto e
dividido e manifesta-se, ora como um atributo, ora como um arquétipo, sempre
demonstrando aspectos Cósmicos, do Homem e da Divindade.
Existe
simbolicamente relações entre raiz, tronco,frutos e folhas, e em todas as
situações existe dualidade, no gênero (feminino e masculino), no Caos e Ordem e
no som; tensão e relaxamento.
A Árvore da Vida Judaica
Árvore da Vida judaica é um diagrama
extremamente conhecido no estudo da Cabala. A Árvore da Vida é uma entre muitas
ferramentas utilizadas pela Cabala para a correta compreensão das forças que
regem o universo.
É um mapa para entendermos a
manifestação de Deus. O Deus que saiu de si, se desdobrou para criar o universo
onde a realidade se apresenta em 10 dimensões - representada pelas 10 esferas
(sefiras). Elas funcionam como canais através dos quais a Luz do Mundo Infinito
chega ao Mundo Físico, alimentando tudo o que existe, incluindo as nossas
almas.
No esquema da árvore da vida também
existe a representação de uma 11° esfera chamada DAAT, porém pouco se fala dela
e em muitos relatos literários é ignorada.
Cada sefira, tal qual um filtro, reduz
sucessivamente a emanação da Luz, diminuindo gradativamente o seu brilho para
um nível quase imperceptível no mundo físico.
Cada sefira por onde passa a Luz se
manifesta de forma diferente, sem perder em momento algum a sua essência. No
estudo das sefiras, encontraremos diferentes associações, como atributos
divinos e partes do corpo, entre tantas outras referências, de modo a
estabelecer uma relação de interdependência entre todos estes elementos.
Cada sefira é um aspecto da natureza de
Deus. Elas nos ajudam a entender o mapa de como Deus atua no universo e no
homem. O micro imita o macro. Através da compreensão das sefirot, podemos
entender as características humanas nos relacionamentos inter pessoais e como
esses aspectos influenciam nossas interações com o outro.
A Árvore da Vida em Detalhes
A fonte motriz de toda criação vem do mundo das infinidades que, em
conjunto a criação, representa a totalidade de DEUS. Porém pouco se sabe sobre
esta força motriz, para a cabala este mundo se divide em três partes AIN
(DEUS), AIN SOPH (infinidade) e AIN SOPH AUR (luz sem limite).
Portanto DEUS (AIN SOPH) em sua
infinidade cria, alimenta e se transforma sucessivamente como um relâmpago de
Kether (primeira esfera) até chegar à última esfera chamada Malkut (Reino).
Conforme a energia desce como um raio, 4 mundos ou
planos hierárquicos são formados e
considerado pela Cabala como “universos particulares”.
Portando percebemos que cada mundo é
formado pelo relacionamento das emanações das esferas que as compõem e que por
sua vez os mundos se relacionam entre si considerando as hierarquias. Desta
forma chegamos ao modelo clássico da Árvore da Vida que é composta por 10 ou 11
sefiras (manifestações) e 22 caminhos (palavras).
É importante frisar
que este esquema representa o entendimento de como DEUS atua no universo, mas
principalmente de como DEUS atua no homem, seu principio imanifesto,
manifesta-se através de seus frutos...
A Arvore da Vida das religiões afro brasileiras
A
árvore é um dos símbolos fundamentais das culturas africanas tradicionais. Os
velhos baobás africanos de troncos enormes suscitam a impressão de serem
testemunhas dos tempos imemoriais. Os mitos e o pensamento mágico-religioso
yoruba têm na simbologia da árvore um de seus temas recorrentes. Na sua
cosmogonia, a árvore surge como o princípio da conexão entre o mundo
sobrenatural e o mundo material. As árvores "(...) estão associadas a ìgbá
ì wà ñû – o tempo quando a existência sobreveio – e numerosos mitos começam
pela fórmula 'numa época em que o homem adorava árvores'...".
Uma
das versões do mito cosmogônico relata que foi através do Òpó-orun-oún-àiyé – o
pilar que une o mundo transcendente ao imanente – que os deuses primordiais
chegaram ao local aonde deveriam proceder o início do processo de criação do
espaço material. Este pilar muitas vezes
simbolizado pela árvore ou por seu tronco é uma figura de origem, é um signo do
fundamento, do princípio de todas as coisas, elemento de conexão entre a multiplicidade
dos "mundos".
A
tradição yorubá fala na existência de nove espaços – orun mýsûûsán -, estando
quatro deles localizados sob a superfície da Terra – îrun isalû mýrûûrin. Uma
das divindades de origem yorubá de culto amplamente disseminado no Brasil – Oya
Ìgbàlû, mais conhecida como Yánsan, cujo nome deriva da contração da expressão
ì yá-mesan-orun, a mãe dos nove orun – possui forte relação com a origem do
orun e com a árvore que liga os "mundos". Esta deusa num de seus
epítetos é chamada de Alákòko, a senhora do òpákòko, demonstrando a sua relação
com a árvore-mundo yorubá.
Um
dos mitos da criação conta que para cada ser humano modelado (a matéria
primordial era o barro) por Orisala criava-se simultaneamente uma árvore. Òrì
ñàlá é o grande pai da criação yorubá. Como divindade primordial, está ligada a
cor branca, e por isso é conhecido como um òrì ñà-funfun (literalmente òrì ñà
do branco).
Um
outro mito relata a origem das árvores sagradas, especialmente o Iròkò. O Iròkò
é uma das espécies vegetais mais imponentes da terra yorubá. O ì tan coloca uma
interessante questão ontológica, propondo igualmente a possibilidade de se
pensar numa ontologia do sagrado na perspectiva das expressões religiosas
arcaicas. O mito, ao afirmar que "na mais velha das árvores de Iroco,
morava seu espírito", coloca uma nítida distinção entre ser e ente.
Finalizando...
Entre
uma essência transcendente do sagrado e a sua presença material no mundo, na
mesma medida em que na mais antigas das árvores moram o espírito da Divindade,
em toda a descendência destas velhas árvores habitam o princípio dela mesma:
não só geneticamente, mas principalmente a sua sacralidade.
Seu
simbolismo de ancestralidade, de permanência, de troca com o meio, nos leva
contemplativamente a rever conceitos, a exercer a reflexão, sobre nós e o
outro, sobre nós e o meio que vivemos e desejar melhorias internas e externas
para todos.