Sem erva não tem Axé. Se a mata
possui uma alma além do mistério esta é a folha, que a mantém viva pela
respiração, que a caracteriza pela cor e aparência, que sombreia seu solo
permitindo, através do frescor, a propensão à semeadura. “Kosi Ewe, kosi
Orisa”, diz um velho provérbio nagô: “sem folha não há Orixá”, que pode ser
traduzida por “não se pode cultuar orixás sem usar as folhas”, define bem o
papel das plantas nos ritos.
O termo folha (Ewe) tem aqui um
duplo sentido, o literal, que se refere àquela parte dos vegetais que todos nós
conhecemos, e o figurado, que se refere aos mistérios e encantamentos mais
íntimos dos Orixás.
Mas o que isto tem a ver com o
Orixá?
É que o culto aos deuses nagôs se
ergue a partir de três Ewes:
o conhecimento, o trabalho e o
prazer, um amálgama de concentração e descontração passível apenas de ser
vivido, jamais de ser entendido em sua largueza e profundidade.
O Ewe do conhecimento é aquele
que manipula os vegetais, conhece suas propriedades e as reações que produzem
quando se juntam, é também aquele que conhece os encantamentos, sem os quais as
energias, para além da química, não se desprendem dos vegetais. O Ewe do
trabalho é aquele que, na disciplina e aparente banalidade do cotidiano da
comunidade de terreiro, vai “catando as folhas” lançadas aqui e ali, pela
observação silenciosa e astuciosa, com as quais vai construindo seu próprio
conhecimento; sem o mínimo de “folhas” necessárias não se caminha sozinho. Só
se dá “folha” a quem é digno e sabe guardar, a quem trabalha, a quem é
presente. Só cata “folha” quem tem a sagacidade de entender a linguagem dos
olhares.
O Ewe do prazer é aquele que
produz boa comida, boa conversa, boa música e boa dança, todas quatro povoadas
de folhas e “folhas” para quem tem olhos de ver. O Orixá só vive se for
alimentado, só agradece pela comunhão, só se mostra pela dança, só se apresenta
pela alegria da música e só fala por Ewe. Sem Ewe não se entende os Orixás.
NÃO EXISTE ORIXÁ SEM FORÇA DA
NATUREZA.
Falar das folhas no culto
afro-brasileiro é muito complexo, pois nas diversas nações que existem dentro
do culto, as folhas recebem nomes e funções diferentes.
As folhas de determinado orixá
entram também no culto de outro, pois existem combinações de folhas de um orixá
para o outro.
A nomenclatura das folhas, tanto
em português quanto em yoruba, varia muito, mas vamos destacar os nomes mais
populares.
Os pajés utilizavam ervas
medicinais e rezas para afastar maus espíritos, esta prática tornou-se cada vez
mais usual, porém com o aumento da população, os Portugueses começaram a enviar
mais missionários e médicos para interromper estas práticas, e a população
começou a procurar os pajés em menor frequência e as escondidas. Muitas
mulheres desta época se interessaram pelas ervas medicinais que os pajés
utilizavam, e por não conhecer as rezas que eles faziam misturavam rezas de
santos Católicos com estas ervas criando-se assim as famosas rezadeiras e
curandeiras do Brasil.
Por isso que a influência
indígena é tão forte na Umbanda, com seus Caboclos, entidades representantes
destes índios que aqui estavam quando os colonizadores chegaram.
Existem diversas folhas com
diversas finalidades e combinações, nomes e considerações dos nomes, fato que
muito impressiona a quem as manipulam dentro de Axé.
Temos que ter muita consciência
de como usá-las para que não sejamos pegos de surpresa por energias que são
invocadas quando a maceramos, quando colocamos o sumo da erva em contato com
nosso corpo, quando a colhemos.
Porém folha é para trazer
energias boas e positivadas, tirar energias ruins e maléficas em muitos casos,
trazer resposta de algo se é necessário para o individuo que a usa.
As plantas são usadas para lavar
e sacralizar os objetos rituais, para purificar a cabeça e o corpo dos
sacerdotes nas etapas iniciáticas, para curar as doenças e afastar males de
todas as origens.
Mas a folha ritual não é
simplesmente a que está na natureza, mas aquela que sofre o poder transformador
operado pela intervenção de Ossaim, cujas rezas e encantamentos proferidos pelo
devoto propiciam a liberação do axé nelas contido.
Há algumas décadas a floresta
fazia parte do cenário e as folhas estavam todas disponíveis para colheita e
sacralização.
Com a urbanização, o mato rareou
nas cidades, obrigando os devotos a manter pequenos jardins e hortas para o
cultivo das ervas sagradas ou então se deslocar para sítios afastados, onde as
plantas podem crescer livremente.
Com o passar do tempo, novas
especializações foram surgindo no âmbito da religião e hoje as plantas rituais
podem ser adquiridas em feiras comuns de abastecimento e nos estabelecimentos
que comercializam material de culto. Exemplo maior, no Mercadão de Madureira,
no subúrbio do Rio de Janeiro, pródigo na oferta de objetos rituais, vestimentas
e ingredientes para o culto dos orixás, mais de vinte estabelecimentos vendem,
exclusivamente, toda e qualquer folha necessária aos ritos. Bem longe da
natureza.
O elemento vegetal é muito
importante para a manutenção e equilíbrio dos seres vivos. Através de processos
variados os vegetais retiram o Prana da natureza, seja através do Sol, da Lua,
dos planetas, da terra, da água, etc. São, portanto, grandes reservas de éter
vital e que através dos tempos, o ser humano, descobriu estas propriedades. Usamos
os vegetais, desde a alimentação até a magia, sempre transformando a energia
vital, através de processos e rituais.
EFEITO DA LUA: Os vegetais são
diretamente influenciados pela natureza.
A lua e o sol são os astros que
muito influenciam a absorção do Prana e devemos conhecer estas influências.
Dentre as quatro fases lunares, que tem duração de sete dias cada, temos duas
fases que chamamos de quinzena positiva, propícia para a colheita de ervas para
rituais diversos na Umbanda (banhos, defumações, etc.) e nas outras duas temos
a quinzena negativa, pois a concentração de éter, nas folhas, frutos e flores,
é muito baixa.
Os vegetais são de maneira geral,
condensadores das energias solares e cósmicas.
Há ervas que recebem influxos
mais diretos de certos planetas ou luminares, sendo, portanto, ervas
particulares desses planetas Os corpos celestes são a concretização de certas
Linhas de Forças de um determinado Orixá, assim, por extensão, temos ervas de
determinado Orixá.
Lua Nova:
Esta fase lunar caracteriza-se
pela “ausência” da lua. É a primeira fase da quinzena positiva, pois o éter
vital concentra-se na parte superior do vegetal, isto é, nas folhas, frutos,
flores e caules superiores. Assim, é uma das fases propícias para a colheita de
elementos vegetais.
Lua Crescente:
É a fase complementar, ou segunda
fase da quinzena positiva. O éter vital, ou corrente Prânica, ainda está nas
folhas, flores e frutos. Está se dirigindo das extremidades das plantas para o
seu centro.
Lua Cheia:
É a fase que está na quinzena
negativa, não sendo o melhor ciclo para a colheita de ervas, para efeitos
ritualísticos, pois o Prana ou éter vital está no caule principal e dirige-se
às raízes, para completar o ciclo.
Lua Minguante:
Nesta fase lunar, o Prana
concentra-se na raiz, vitalizando-a, permitindo que ela extraia os nutrientes
necessários do solo. Não é uma fase propícia para a colheita de ervas, pois
está na quinzena negativa. COLETA: Se for possível coletar pessoalmente as
ervas, o melhor horário será logo ao amanhecer. Pede-se licença ao Orixá Ossaim
e Oxossi, pois esses são, respectivamente, os Orixás das plantas e ervas
medicinais e ritualísticas e o Senhor das matas e florestas em geral. É
importante, que no instante em que forem retirar as ervas, mentalizem e peçam
para que, na finalidade desejada, possam usufruir todas as energias, que estão
contidas nestes vegetais.
O BANHO DE ERVAS:
O banho de ervas, até como
tratamento, não é de religião alguma, é da própria natureza. Se na Umbanda o
utilizam, é porque os próprios espíritos desencarnados que se apresentam como
pretos-velhos, caboclos, crianças etc., conhecem esses princípios e os utilizam
largamente. Seus princípios iniciáticos estão relacionados a eles, mas não pode
ser esse o motivo da não utilização correta e digna da energia vegetal também
pelos espíritas.
As ervas detêm grande quantidade
de Axé (Energia mágico-universal, sagrada) quem bem combinadas entre si, detém
forte poder de limpeza da aura e produzem energia positiva.
Um banho, com o Axé das ervas dos
Orixás, age sobre a aura eliminando energias negativas, produzindo energias
positivas.
Um banho de ervas reúne as ervas
adequadas a cada caso, agindo diretamente sobre esses distúrbios, eliminando os
sintomas provocados pelo acúmulo de energias negativas. Medicinas como a
Ayurvédica (hindu), a chinesa, a tibetana, o xamanismo, a medicina alopática e
a homeopatia fazem uso desses recursos naturais há tempos.
O uso correto e ético opera
verdadeiros “milagres da natureza”.
Podemos usar a energia da
natureza como auxílio no tratamento de depressões, insônia, ansiedade, angústia
e uma série de doenças crônicas.
Com bom senso e é claro, com o
acompanhamento médico necessário, tratando o espírito e o corpo (já que as
doenças se propagam do corpo astral para
o corpo físico), nós todos podemos crescer como médiuns e espíritos mais
conscientes, e por isso mesmo, mais abertos e livres.
A DEFUMAÇÃO:
No dicionário, defumar significa
“queima, esp. sobre brasas, de ervas, resinas e raízes aromáticas (alecrim,
benjoim, alfazema etc.) para perfumar ambientes; 2.1 essa mesma queima usada
para espantar malefícios e atrair boa sorte”.
O que o dicionário não diz é que
a Ciência está em se utilizar dos princípios ativos das plantas e de suas
correlações energéticas para transformar padrões e registros densos em sutis,
alterando toda a vibração do ar e da energia do ambiente. O fogo também tem seu
aspecto eólico que fica impregnado pelos vegetais colocados sobre a brasa. Esse
conhecimento é muito antigo e até hoje é utilizado pela Igreja, pelos
umbandistas, rosa-cruzes, taoístas, tibetanos etc. Na Grécia Antiga, os
sacerdotes tinham predileção pelas folhas de louro e no Antigo Egito pela
Artemísia, entre outras. As ervas utilizadas ordenam as novas energias.
SACUDIMENTOS E DESCARREGOS:
As ervas também são usadas na
forma de ramas e galhos que são “batidos” nas pessoas, residências e até mesmo
objetos, com o objetivo de desprender as cargas negativas e larvas astrais que
possam estar aderidas a estes.
Quando feito numa residência deve
ser feito batendo as folhas nos cantos opostos de cada cômodo, fazendo um “X”
no cômodo. Começa-se do cômodo mais interno para o mais externo do imóvel.
Quando feito em uma pessoa ou
objeto, faz-se em cruz na ordem: frente, costas, lado direito e lado esquerdo.
As folhas depois de usadas devem ser partidas e despachadas junto a algum lugar
de vibração da natureza, de preferência direto sobre o solo.
ERVAS DOS ORIXÁS:
De uma forma geral, toda erva,
toda folha, pertence à Ossãe, Ossaniyn, Ossaim, Ossain (como se escreve
habitualmente), ou Ossanha! Segundo a mitologia africana, Yansã achando isso
injusto, usou seus ventos para espalhar as ervas e desse modo cada Orixá
poderia apanhar as que lhe interessasse. Contudo o conhecimento sobre o uso de
cada uma delas pertence somente a Ossaim!
Ossaim é a folha em si mesma,
seus mistérios, seus ingredientes que podem salvar ou matar, acalmar ou
enlouquecer, elucidar ou alucinar. Ossaim é o movimento da inteligência humana,
é o âmago das ciências médicas com suas “folhas” sintéticas, seus aparatos que
vão muito além das possibilidades dos sentidos. Por isso se canta ao se colher
folhas na mata, para propiciar nas folhas o que os olhos não veem, para lembrar
que a mistura de folhas escolhidas é fruto de um ato pensado.
A mata aos olhos do iniciado é um
convite à reflexão e a purificação e não um objeto de manipulação. Não se entra
na mata sem antes pedir licença e presenteá-la, a mata é, antes de tudo, um
deus vivo e com vontade própria, aliado com o resto da Natureza.
Só se encontra na mata aquilo que
a mata mostra, portanto é preciso conversar, dialogar, entrar num acordo. Não
se entra na mata em vão, não se pega mais folhas do que o preciso, não se caça
o desnecessário, não se acende vela, não se usa vasilha que não seja feita de
folha, não se destrói, não se suja, não se maltrata.
A importância de Ossaim é tal que
nenhuma cerimônia pode ser realizada sem sua interferência.
Autor desconhecido